Pobreza menstrual, uma questão de saúde pública

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A pobreza menstrual é uma realidade que atinge uma em cada quatro mulheres e meninas. A falta de dinheiro para comprar absorventes higiênicos, a falta de acesso a água e banheiro para se lavar ou se trocar são fatores que comprometem a igualdade entre homens e mulheres.

Em Passo Fundo, visando quebrar o tabu que ainda existe quando falamos em menstruação, um grupo de profissionais se juntou para realizar uma campanha, amplamente divulgada pela mídia, chamada “Pobreza menstrual: isso também é problema seu”.

Durante o período de realização da campanha foram arrecadados cerca de dez mil itens de higiene menstrual. Os itens foram entregues para o Projeto Transformação que atende aproximadamente cem mulheres e meninas e que atuam junto as cooperativas de reciclagem do município. Para além delas, também foram beneficiadas as mulheres atendidas pela Pastoral Carcerária de Passo Fundo e algumas alunas da rede municipal de ensino da cidade.

O absorvente que para muitas de nós pode ser um item básico e de fácil acesso, torna-se um luxo para as mulheres em situação de vulnerabilidade social. Todas as pesquisas demonstram que a falta de higiene menstrual, faz com que as meninas e mulheres percam dias letivos, sofram adoecimento físico e mental e percam a possibilidade de participação na sociedade. O problema é tão relevante que a Organização das Nações Unidas (ONU) considera o acesso à higiene menstrual um direito que precisa ser tratado como uma questão de saúde pública e de direitos humanos.

Conforme a Agência Senado, no Brasil, de acordo com o estudo “Pobreza Menstrual no Brasil: desigualdade e violações de direitos”, divulgado pelo Unicef e pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) em 28 de maio, Dia Internacional da Dignidade Menstrual, 713 mil meninas não têm acesso a nenhum banheiro (com chuveiro e sanitário) em suas casas. E outras 632 mil meninas vivem sem sequer um banheiro de uso comum no terreno ou propriedade.

Quando não há o acesso adequado ao absorvente higiênico, muitas mulheres improvisam permanecendo com o mesmo absorvente por muitas horas ou utilizando pedaços de pano, roupas velhas, jornal, resultando em problemas que variam desde alergia e candidíase até a síndrome do choque tóxico, doença potencialmente fatal causada por toxinas produzidas por bactérias.

Com o propósito de nos somarmos a essa luta pela dignidade menstrual, protocolamos junto à Câmara de Vereadores uma indicação que sugere ao Executivo a distribuição gratuita de absorventes higiênicos para as mulheres e meninas de baixa renda e estamos no aguardo da sua efetivação.

Apresentamos a proposição porque acreditamos que a pobreza menstrual é mais um mecanismo presente na sociedade patriarcal que interfere no desenvolvimento da autonomia e da igualdade das mulheres. Afinal, quantos homens já deixaram de cumprir suas tarefas ou ocupar espaços por conta de uma questão inerente ao corpo como é a menstruação?

No entanto, para além das questões em nível prático, é preciso pensar e construir intervenções de acesso a bens materiais sem deixar de lado a educação menstrual e a quebra do tabu. A menstruação é uma questão fisiológica, relacionada à saúde reprodutiva da mulher e, portanto, primordial para a manutenção da vida da espécie humana. Por que ainda existem tabus sobre esse tema?

Pesquisadoras que se dedicam a estudar alternativas para superarmos a pobreza menstrual em nossa sociedade apontam que o fornecimento de produtos menstruais em locais públicos; banheiros escolares com água, papel higiênico, produtos menstruais e privacidade; projetos de educação menstrual que pautem tanto os aspectos biológicos, quanto o gerenciamento da higiene menstrual, inclusão de absorventes na cesta básica; instalação de banheiros para a população em situação de rua, desoneração do ICMS ( tributo estadual) sobre absorventes, entre outras ações, podem garantir a dignidade das pessoas que menstruam proporcionando a autonomia de decidir e cuidar de seus corpos. Pensemos nisso.

Por fim, a dignidade das meninas e mulheres que menstruam é um importante requisito para a efetivação da igualdade e da democracia e deve ser tratada com respeito e seriedade, devendo ainda ser objeto orçamentário do PPA, LDO e LOA de todas as esferas de poder.

Já imaginou se afastar da escola por falta de acesso a higiene básica? Uma em cada quatro meninas já passou por isso durante o período menstrual. Veja a matéria: https://www.facebook.com/watch/?v=831298131138029

Crédito Fotos: Vanessa Lazzaretti, Jornalista

Autora: Eva Valéria Lorenzato

Edição: Alex Rosset

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