Temos a impressão de que as futilidades e as superficialidades tomaram, definitivamente, o lugar da reflexão. Não temos tempo para nos ocupar com os pensamentos, mas temos um ingênuo orgulho em nos ocupar com as coisas que despertam o entretenimento, o descompromisso e os prazeres mais imediatos. Fomos transformados numa massa amorfa, acomodada, com poucos vestígios de indignação e questionamento. Somos bons consumidores de tudo aquilo que outros pensaram ser o melhor para a vida da gente.

[quote_box_right]”Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, não vamos à parte nenhuma.” (José Saramago, escritor e dramaturgo)[/quote_box_right]

O mais intrigante e perigoso em nossa cultura de não-reflexão é que abrimos mão das responsabilidades para com a gente e para com o mundo. Sem reflexão, não geramos conhecimentos. Sem os conhecimentos não temos compromissos senão com a nossa própria ignorância. Sem compromissos com a vida e com o planeta, parecemos mais livres e mais soltos. Será?

Sempre nos ensinaram que pensar é algo perigoso. Que o melhor é adaptar-se aos processos que organizam o mundo. Que a gente deve cuidar de si e deixar Deus cuidar de todos. Que os insatisfeitos e descontentes se retirem do lugar ou da posição em que se encontram no caso de discordância com aquilo que parece imutável.

O bom é que a democracia neste país sempre dá seu “ar de graça” por conta das eleições gerais, a cada dois ou quatro anos. Ela exige, por isso mesmo, que os desafios por ela postos sejam superados. Em vez de alienação, é o convite para definamos nossa participação e nossos votos em vista de soluções para nosso Estado e nosso País.

A real efetivação da democracia exige a participação consciente e engajada dos cidadãos e cidadãs na definição e condução de políticas e projetos, o que não se traduz apenas no voto. A democracia, neste sentido, é uma forma de convivência que exige a superação da alienação dos sujeitos. As pessoas envolvidas num processo democrático devem participar das decisões, evitando ao máximo o distanciamento entre aqueles que decidem e aqueles que executam.

Os grandes pensadores sempre são grandes incompreendidos. Saramago alertou a humanidade sobre as suas cegueiras em obra intitulada Ensaio sobre a cegueira. A partir de seu alerta, ser sem ideias pode ser a pior das cegueiras que poderemos possuir. Nesta cultura de não-reflexão, ainda há espaço para perguntar sobre as possibilidades da gente mudar o panorama da “alienação massiva” na qual estamos todos mergulhados. Somente a cidadania ativa é capaz de enfrentar a alienação política!

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