Ao invés de muros, construamos pontes. Pontes de professores para professores. Pontes comunicam e interligam. Muros separam e nos dividem.
Necessitamos acreditar mais na gente, nas nossas possibilidades, nas nossas energias e nas nossas forças.
Em tempos em que tudo conspira para que a gente se divida, se enfraqueça, fazemos um modesto esforço, através desta publicação, de reunir diferentes desejos e pontos de vista de professores e professoras do Rio Grande do Sul.
Somamos na diversidade. Cada um se faz professor a partir de suas experiências e de suas trajetórias profissionais. Mas, juntos, construímos identidade e irmanamos lutas em defesa da dignidade de nossa profissão e da escola pública, de qualidade social.
Convidamos alguns professores para afirmar e renovar seus desejos para 2020. Além de desejos, professores apontam desafios da organização e resistência dos professores e professoras neste ano que recém inicia.
“Este foi um ano maravilhoso para nós, da New Life Educação! Fica aqui a gratidão a todos vocês!!!
Esperamos que seus dias tenham sido tão bons quanto foram os nossos. Se você pensar e não encontrar motivos tão claros, lembre-se; se está lendo este post, é porque ainda há muito a ser grato. Desejamos que os dias do próximo ano sejam maravilhosos para você, que consiga conhecer e se conectar a pessoas que só te retribuam sentimentos bons, bem como os que estão dentro de você. Além disso, desejamos ainda, que consiga se conectar consigo mesmo, com sua melhor versão, para que atinja um grau satisfatório de plenitude”.
Jairo e Danieli Oliveira, Escola New Life
O que eu gostaria de renovar junto a meus colegas professores em 2020?
Uma pergunta difícil, de múltiplas respostas. Mas o primeiro desejo de renovação que me chegou durante o questionamento foi aquele sentimento de quando ainda me preparava, como aluna, para ser professora. O sentimento de ser e ver renovação diária em sala de aula. De fazer a diferença, de acreditar e lutar por uma educação mais humana, compartilhada, inclusiva e plural. A rotina, a desvalorização e o descaso com o professor e com o sistema educacional não podem apagar esse sentimento na prática da docência. Colegas, em 2020, que nosso desejo de ser e ver a renovação na educação sejam renovados, de mãos dadas, diariamente!
Lígia Dalchiavon, professora Universidade Federal do Rio Grande, Campus de Santa Vitória do Palmar, RS
O desejo mobiliza. Sem desejo não há propósito de renovação e nem a própria renovação. Assim, meu desejo é que 2020 seja de qualificação da resistência ao modo de “reExistência”. O desafio é recompor as bases de um projeto de vida em abundância para todas e todos. A educação pode ajudar nisso, pois pode enfrentar as subjugacões totalizantes e fortalecer processos de subjetivação abertos, alteritários, alternativos e alterativos. Renovo o compromisso com a responsabilidade que há de se fazer organizando e luta popular por meio da educação popular qua formação para a transgressão. Educadores-educandos e educandos-educadores seguiremos nos fortalecendo na solidariedade que promove e potencializa alegrias.
Paulo César Carbonari, professor universitário e militante de direitos humanos desde Passo Fundo
Eu desejo para 2020 fortalecer minha luta pela retomada da Democracia de Estado de Direito no meu País, denunciando e me somando aos movimentos de combate à intolerância e perseguição à diversidade. Os brasileiros correm sérios riscos por conta do ódio reprimido da elite econômica e “religiosa” conservadora contra os pobres, negros, estrangeiros, mulheres LGTBs e minorias. Dedicarei minha humanidade e espiritualidade à luta incessante pela justiça e respeito ao que é mais sagrado – a humanidade. Assim como disse Nelson Mandela, eu creio também que quem aprende a odiar, pode aprender a amar. Creio no meu desejo de ter às liberdades de volta. O ano de 2020 será o tempo de continuar a ponte da travessia em busca da felicidade roubada. Um dia ela vai voltar com um largo sorriso nos lábios. Então, direi que este sorriso fui eu e os que amam liberdade que o colocamos lá.
Francisco Machado, professor da rede estadual e pastor da Igreja Anglicana
“Não tem como falar em perspectivas para 2020 sem avaliar o retrocesso histórico, pelo qual nosso País vem passando, onde os direitos já conquistados da classe trabalhadora, serviços públicos e as políticas sociais sofrem mudanças avassaladoras que precarizam ainda mais as condições de vida do povo brasileiro, onde ataques institucionais foram protagonizados (congelamentos dos gastos, privatizações, decretos, reforma da CLT, reforma da previdência, sucateamento, corte de verbas para serviços básicos…) e muitos outros estão arquitetados.
O ano de 2019 teve muita luta, várias mobilizações da classe trabalhadora, fechando greve dos professores da rede Estadual do Rio Grande do Sul, que lutam permanentemente pela manutenção de seus direitos conquistados, pela profissão docente e educação de qualidade.
Final do ano foi marcado pelo desrespeito dos nossos governantes que desconsideram as vozes das ruas e as reivindicações do povo que os elegeram. O que esperar para 2020? Não será um ano fácil, teremos muitos desafios, onde nossa única alternativa é manter a esperança viva, pois é uma forma de resistir diante de tantos ataques e descaso com a classe trabalhadora.
Que o exemplo dos professores do Estado, seja alimento para organização dos demais Trabalhadores(as) e que possamos somar forças da luta em defesa de condições dignas de vida e de trabalho para todos(as). Por ser um ano eleitoral espero que todos(as) utilizem da melhor forma seu direito de voto e que tenhamos mais representatividade dos(as) trabalhadores(as).
Como professora Municipal espero que a Educação Pública seja pautada como prioridade e que nossos professores(as) sejam ouvidos, respeitados e que suas reivindicações sejam atendidas. Que nossa luta seja abraçada pela sociedade, onde possamos estar lado a lado na defesa da educação pública, gratuita, democrática, laica e de qualidade. Obrigada a tod@s que estiveram ao nosso lado e que 2020 nossas energias se renovem e que a nossa Esperança se mantenha viva!
Regina Costa dos Santos, professora de educação infantil e dirigente CMP Sindicato
“Renovo minha esperança na escola pública universal, de qualidade e laica,no respeito e dignidade que merecemos e principalmente, na consciência de classe dos trabalhadores em educação, que sem ela não é possível empreendermos as mudanças tão necessárias em nossa sociedade”.
Marli Schaule, professora aposentada e dirigente CPERS
2020, o ano que nuca será.
2020 se encerra em primeiro de Janeiro de 2020. Este será um ano que nunca terá existido para a educação. Desta forma, desde já desejo um venturoso 2021 a todos e todas.
A tradição de desejar um belo e próspero ano novo vem da simples e ilusória perspectiva de mudança que o final de um ano e o início do seguinte, proporciona às pessoas. A tradição também está calcada no fato de que o limiar de um novo ano, é uma porta de entrada para mudanças de cunho pessoal, profissional, afetivo e de que tudo realmente é possível, uma vez que o futuro de fato sempre é uma incógnita e absolutamente tudo, ou quase tudo, pode acontecer. Pois, nossas variáveis para uma previsão, são quase que ilimitadas.
Infelizmente isso não ocorre com a educação. Não precisa ser um astrólogo, tarólogo, quiromante, bruxo ou até mesmo cientista político para prever que nada de novo acontecerá na educação além daquilo que já presenciamos nos últimos anos e além daquilo que temos de variáveis presentes e que nos apontam para o nada, o vazio absoluto.
Nossas variáveis atuais mostram um ministro da educação que ainda está na pré-adolescência, um presidente e seus seguidores que abominam a ciência, a cultura, o estudo e a pesquisa e que tem como referência intelectual um astrólogo. Temos também um projeto maior de desmonte da educação patrocinado por grandes grupos econômicos nacionais e internacionais, além é claro, de não termos, passado um ano de governo, uma página, quiçá uma linha de uma proposta a curto, médio, longo ou bem longo prazo de algo que se pareça com educação de qualidade.
A educação pública se tornou a barca de Caronte, o ser mitológico Grego e filho de Hades, que carregava as almas para o mundo dos mortos. Cabe lembrar que Caronte era filho de Nix (a Noite) e Érebo (a Escuridão). Era também irmão de Hipnos (o Sono) e Tânatos (a Morte), algo tão funesto e muito parecido com a educação do Brasil de hoje no que diz respeito ao barqueiro e suas relações familiares e ao destino que nos aguarda.
Eduardo de Albuquerque, professor rede municipal de Passo Fundo e dirigente CMP Sindicato
“Meu compromisso absoluto com a recuperação da dignidade da profissão de professor, de professora, de sua valorização e autonomia pedagógica, de seu salário e condições de trabalho. Renovo a convocação para fazermos uma escola cidadã, que construa homens e mulheres democráticos, igualitários e justos!”