Por que boas práticas educativas não são reconhecidas como elementos potentes para melhoria da educação básica?

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Entendemos que, nas diferentes redes de ensino, em especial, nas escolas públicas, deveriam ser implementadas iniciativas de socialização, discussão, sistematização e divulgação de boas práticas de aprendizagem, feitas de professores para professores, realizadas por grupos afins ou por áreas de conhecimento.

Definitivamente, escrever sobre educação ainda não é tarefa reconhecida, nem atribuição dos professores e professoras do Brasil. Mas, deveria ser, pois possibilitaria à estes/estas maior apropriação do seu trabalho pedagógico, passando da condição de tarefeiros e aplicadores de atividades a sujeitos que induzem e promovem aprendizagem de maneira coerente, reflexiva, consistente e programada.

No Brasil, nas últimas décadas, a mídia tradicional procura valorizar e mostrar experiências educativas que levam em conta um certo heroísmo, destemor, ousadia e intuição de professores, professoras e instituições. Não se valoriza, nem se incentiva, nas diferentes redes de ensino, a prática sistemática de reflexão e escrita dos professores sobre as suas práticas. Ao contrário, buscam-se receituários prontos, propostas de atividades já projetadas ou elaboradas por “iluminados” que fazem parte de editoras ou, mais recentemente, de fundações ou institutos educacionais privados. Estes receituários não exigem muita reflexão ou planejamento, mas almejam o cumprimento de metas e objetivos alcançados, para preenchimento de formulários ou planilhas, estatísticas e números.

Nesta perspectiva, professores e professoras podem ser comparados a números e/ou máquinas que precisam comprovar suposta eficácia educacional: contam suas horas/aula, o número de estudantes por sala de aula, suas horas atividades, as burocracias e registros estéreis de planejamento, planilhas com anotações sobre aprendizagem/habilidades/competências advindos da BNCC. Neste contexto, qual é o tempo destes professores e professoras estudarem na escola? Qual é o tempo para refletirem sobre alguma de suas atividades que geraram significativas aprendizagens ou apresentaram os maiores desafios de seu trabalho junto aos estudantes?

A prioridade do trabalho dos professores e professoras deve ser o pedagógico, deve ser a relação com os estudantes, deve ser a exploração dos seus potenciais criativos, o uso de novas tecnologias e ferramentas educacionais e a mediação da construção dos conhecimentos. As quinquilharias da excessiva burocracia na educação só enchem tabelas de relatórios e os olhos dos burocratas que pouco entendem de educação. (Leia mais: https://www.neipies.com/estao-matando-a-essencia-da-educacao/ )

Os poucos professores que se preocupam com a qualidade da educação, a partir de seu protagonismo e de suas atitudes reflexivas, quando levantam perguntas sobre possibilidades e tempo para reflexão e sistematização de práticas educativas, tem seus pleitos tratados como “caso particular”, ou como atividade não condizente com o fazer docente. Definitivamente, são incompreendidos nas suas proposições, pois remam contra a maré dos tecnocratas que reservam ao professor uma única função: dar aulas.

As reflexões e ponderações, neste ensaio, surgem de leituras, observações e vivências onde o planejar, o executar e o avaliar (a partir da sistematização de práticas pedagógicas) são uma prática recorrente. Nestes processos, há ainda a socialização das aprendizagens e das escritas, como forma de trocas e enriquecimento mútuo dos envolvidos. No mesmo sentido, fazemos do site www.neipies.com um laboratório de aprendizagens onde mesclamos artigos, crônicas, textos com sugestões de atividades, como formas de enriquecer e fortalecer o trabalho docente.

Confira a experiência de uma Seção específica no site para proposição e sistematização de práticas educativas: https://www.neipies.com/reflexoes-e-atividades/

Entendemos que, nas diferentes redes de ensino, em especial, nas escolas públicas, deveriam ser implementadas iniciativas de socialização, discussão, sistematização e divulgação e boas práticas de aprendizagem, feitas de professores para professores, realizadas por grupos afins ou por áreas de conhecimento. Estas iniciativas, por fim, deveriam estar disponíveis, publicadas em sites ou meios específicos, para o conjunto de professores e professoras daquela rede. Para além de valorizar as experiências individuais (de professores) ou coletivas (de escolas), a própria rede de ensino poderia ver nestas atividades uma espécie de retrato do trabalho docente, atestando-lhe qualidade e reconhecimento. Poderia, também, sugerir a multiplicação destas experiências em outras salas de aula, em outros lugares ou contextos escolares.

Esse trabalho pautado na reflexão sobre a prática docente é o melhor, se não o único meio de fazer a formação continuada coerente com as necessidades de cada contexto. Em “comunidade de investigação”, como fora bem fundamentado por pensadores como Elli Benincá, cuja concepção de formação fundamenta-se numa antropologia que considera o ser humano aberto a aprendizagem, ou no dizer de Paulo Freire “inacabado, inconcluso, vocacionado a ser mais”.  Esse fazer, longe de se tornar efetivo nas redes de ensino, requer espaço – tempo para encontro com os pares, registro das práticas, estudo das mesma e re-encaminhamento para a ação. Essa proposta não é bem acolhida por portadores de uma concepção tradicional de ensino, a qual centra-se na figura da autoridade. Em oposição a essa postura, aprendemos com Benincá que:

 … os professores que possuem uma visão dialética do mundo percebem que o saber é um processo permanente de construção. Nessa mesma perspectiva, o ser humano, por sua ação, torna-se transformador, não só dos contextos sociais como também da natureza. Como a transformação pode produzir algo de original e inédito, sua compreensão precisa de aprendizagem. Havendo transformação, supõe –se a existência de conflitos. Tal processo requer sempre nova aprendizagem. Em decorrência, pode-se dizer que as transformações na natureza e na sociedade, embora não sejam produzidas especificamente, pela escola, penetram no seu interior, construindo um espaço privilegiado de aprendizagem. (BENINCÁ, 2010).    

“As publicações de Elli Benincá (1936-2020) eram uma forma de contribuição para que outras pessoas exercessem a tarefa pedagógica e teológico-pastoral na perspectiva que sempre sonhara: formação profunda e autonomia em ser e agir. A leitura dos textos leva a pessoa a interagir com o seu contexto de vida e trabalho em uma perspectiva crítica e aberta às transformações necessárias”. (Ari Antônio dos Reis)

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Sistematização de práticas docentes e formação de professores

Sistematizar as práticas educativas, pensar sobre as intervenções cotidianas de uma sala de aula à luz das teorias e dos pensadores é parte de um desafio mais ousado de formação de professores e professoras.

Embora já sejam bastante estudadas, a sistematização e a escrita das práticas pedagógicas ainda não foram internalizadas entre os professores e professoras e nem entre os gestores educacionais como estratégia de mudança e ressignificação do “fazer docente”. Parece estar ainda restrita ao fazer pedagógico que embasa as experiências educativas sociais e populares. Ou a estudos do “pessoal da pedagogia”.

Em matéria da Revista Nova Escola, podemos reconhecer a importância de observar, registrar e refletir as práticas docentes e a parceria entre gestores escolares e professores. “Quando há parceria com colegas e gestores, o processo formativo se amplia, mas Tamara crê que o ato de escrever já contribui para seu aperfeiçoamento. “O registro faz com que o momento não fique para trás e o aprendizado se consolide.” A escuta sensível e o olhar para o que as crianças dizem e pensam têm sido o caminho para melhorar sua prática e se fortalecer como professora”. Leia mais aqui:  https://novaescola.org.br/conteudo/1882/registros-que-fazem-o-professor-refletir-sobre-a-pratica

Afirmamos, por fim, a importância da formação na vida pessoal e profissional dos docentes. Cremos, sobretudo, que são necessárias mudanças de posturas e de práticas, para melhorarmos a qualidade de nossa intervenção pedagógica, conectada com o mundo e com as necessidades dos estudantes.

Não acreditamos que projetos, metodologias ou propostas pedagógicas unilaterais que são oferecidos como receitas de melhoria da qualidade da educação por universidades, institutos ou fundações promovam as mudanças didáticas e pedagógicas que precisamos implantar em nossas escolas. Todas as iniciativas devem estar acompanhadas do protagonismo, reflexão e sistematização das práticas dos professores envolvidos.

Os professores são protagonistas da educação, mas, na medida em que estes não tem tempo para escrever, discutir e promover suas práticas educativas, dão margem para outros profissionais que, fora da educação ou das salas de aulas, dizem o que precisamos fazer na escola.  Podemos, e devemos, ousar mais!

Leia também: O professor Altair Fávero defende que “o professor se torna melhor quando consegue pensar sobre sua própria condição profissional.Nesse sentido, concordo com António Nóvoa quando diz que “a formação não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos ou de técnicas), mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente de uma identidade pessoal” (1995, p. 25). https://www.neipies.com/escola-boa-e-a-escola-onde-professores-estudam/

Iniciativas de sistematização de práticas pedagógicas

Já existem iniciativas, em âmbito estadual, do RS, que buscam valorizar as iniciativas dos professores e professoras, bem como de escolas da rede estadual. Conheça 2 experiências que procuram oportunizar a socialização de projetos e de iniciativas educativas de professores da rede estadual do RS.

2ª Mostra das Boas Práticas Pedagógicas – Assembleia Legislativa do RS

Nesta edição 2024, a Mostra abrangerá a temática “A Escola Pública e o seu compromisso com o conhecimento e a cidadania e tem como objetivos conhecer, registrar, incentivar, valorizar e compartilhar o protagonismo e a autoria de professores, estudantes e comunidade escolar, ao dar visibilidade às boas práticas pedagógicas em sala de aula. Desta vez, a mostra pretende envolver a Assembleia Legislativa com as comunidades escolares do RS.

A edição de 2024 será composta por relatos de experiências das escolas; ciclo de debates da Educação com relatos e exposição e a publicação de um livro com os relatos selecionados. A seleção dos trabalhos ficará a cargo de integrantes da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa, representantes de universidades, entidades educacionais e representativas de professores e alunos. Os relatos de experiência contemplam todos os níveis e modalidades de ensino.

A Comissão desenvolveu quatro linhas temáticas pedagógicas para esta edição: leitura e escrita como estratégia de desenvolvimento cultural e social, tanto de estudantes como de professores, servidores e a comunidade escolar; a valorização das meninas e mulheres e a prevenção da violência; o meio ambiente no contexto de preservação e garantia de desenvolvimento sustentável do planeta e a pesquisa e a tecnologia como instrumentos de construção do conhecimento, desenvolvimento e cidadania.

Para participar da Mostra é necessário ser escola pública do RS e apresentar um relato da experiência em forma de texto, observadas as temáticas pedagógicas do edital. O relato inscrito deverá apresentar práticas ou ações concluídas ou em andamento.

As inscrições para a Mostra vão até o dia 31 de maio. O período de avaliação dos trabalhos inscritos se estende entre junho e julho. A exposição e apresentação dos trabalhos acontecerá no dia 18 de outubro, nas dependências da Assembleia Legislativa, durante todo o dia.

Conforme a deputada Sofia Cavedon, é preciso valorizar o que existe de trabalho bem feito, dedicado e inovador das escolas estaduais.

Após a fala da deputada, foram relatados dois projetos de boas práticas pedagógicas. Um, da Escola Estadual de Ensino Médio Patrulhense, de Santo Antônio da Patrulha, denominado projeto Momento Literário, que, em março, destacou o Dia Internacional da Mulher. Conforme a diretora da Escola, Bianca Salazar dos Santos, os assuntos abordados nas rodas de conversas foram escolhidos a partir das leituras relacionadas ao tema abordado.

Outro, da escola André Leão Puente, de Canoas, relata a criação, em 2019, de um Podcast com o finalidade de trazer para a comunidade escolar assuntos de interesse geral, relacionados com cultura, educação, leitura, literatura, cinema e conteúdos abordados em sala de aula. “A nossa intenção é ampliar e transformar os canais digitais e redes sociais da escola em meios agregadores, fomentando alunos e ex-alunos a produzirem conteúdo”, relatou à Comissão o diretor da Escola, idealizador do projeto e âncora de vários episódios, Felipi Fraga.

Presenças
Participaram da reunião as deputadas Eliana Bayer (Republicanos) e Sofia Cavedon (PT), presidente, e os deputados Carlos Búrigo (MDB), Elizandro Sabino (PDR), Kaká D Ávila (PSDB) e Leonel Radde (PT).

FONTE: https://ww4.al.rs.gov.br/noticia/335886

Edição Estadual da 4ª Mostra Pedagógica do CPERS (2023)

A Mostra Pedagógica do CPERS é uma oportunidade para compartilhar iniciativas e experiências bem-sucedidas de todo o estado e é também uma chance de fortalecer ainda mais a nossa comunidade escolar e promover o intercâmbio de ideias e conhecimentos.

Ao inscrever seu projeto, você estará contribuindo para a construção de um ambiente de aprendizagem cada vez mais inclusivo, dinâmico e enriquecedor. Sua participação é fundamental para inspirar outros educadores(as) a inovarem suas práticas e alcançarem melhores resultados.

Rosane Zan, da Comissão de Educação do CPERS, destaca que todas as iniciativas são bem-vindas. “Acreditamos que todas as escolas têm experiências valiosas para compartilhar, independentemente do tamanho ou localização. Não importa se você atua no interior do estado ou na capital, em uma escola pequena ou em uma grande instituição. Cada projeto inscrito terá a oportunidade de ser reconhecido e valorizado”.

Os 42 núcleos do CPERS realizarão mostras regionais de agosto a novembro, e educadores(as) devem se inscrever com até cinco dias de antecedência ao evento na sua região. Os projetos e trabalhos mais significativos terão lugar na etapa estadual da Mostra, que ocorrerá em Porto Alegre em data a ser definida. As experiências selecionadas também serão compiladas em uma publicação especial.

Participe e não perca a chance de mostrar ao nosso estado a excelência da educação que construímos juntos, apesar da desvalorização e descaso do governo Eduardo Leite (PSDB) com a educação e os educadores(as). 

Inscreva seu projeto e faça parte dessa grande celebração do conhecimento e da dedicação dos profissionais da educação. Juntos(as), podemos construir uma escola pública cada vez mais inclusiva, transformadora e presente na vida de nossos estudantes.

FONTE: https://cpers.com.br/inscricoes-abertas-participe-da-5a-mostra-pedagogica-do-cpers/

REFERÊNCIAS:

1. https://vivescer.org.br/dicas-sistematizacao-praticas-pedagogicas/

2.https://profuturo.education/pt-br/observatorio/solucoes-inovadoras/boas-praticas-educacionais-o-que-sao-e-como-conta-las/

3. https://novaescola.org.br/conteudo/1882/registros-que-fazem-o-professor-refletir-sobre-a-pratica

4.https://www.enfoc.org.br/system/arquivos/documentos/90/f1289sistematizacaouminstrumentopedagogiconospdsjoaofrancisco.pdf

* Esta publicação teve participação do professor Marciano Pereira, um dos convidados do site que produz sistematicamente reflexões sobre educação e religiosidade.

Autor: Nei Alberto Pies, professor, escritor e editor do site. Também escreveu e publicou no site a matéria “O que aprender e o que ensinar nas escolas a partir de tragédias ambientais como a do RS”:  https://www.neipies.com/o-que-aprender-e-ensinar-nas-escolas-a-partir-de-tragedias-ambientais-como-a-do-rs/

Edição: A. R.

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