O Dia Internacional da Mulher não surgiu por causa de uma tragédia, mas pela luta, mobilização e engajamento político das mulheres trabalhadoras e a relevância das causas feministas que foram acontecendo ao longo dos anos, sobretudo do século XX.
O Dia Internacional da Mulher é um dia de luta histórica e mobilização das mulheres para terem seus direitos garantidos e contra todo tipo de violência, preconceito, desigualdade e discriminação de gênero. Está relacionado ao dia 8 de março de 1857, pela importância e construção política, relacionada à sequência de acontecimentos como momento de reflexão e de luta.
A data remonta a dois acontecimentos que macularam a cultura ocidental. O primeiro em 1857, com um trágico martírio de 132 operárias de uma fábrica têxtil, que foram assassinadas por um incêndio covarde e criminoso, praticado pelos donos dessa fábrica, da cidade de Nova York, EUA, onde elas trabalhavam. O segundo acontecimento, um incêndio intencional, no dia 25 de março de 1911, na Triangle Shirtwaist Company, em Nova York, vitimando 146 pessoas (125 mulheres e 21 homens), que no momento em que a Triangle pegou fogo, as portas estavam trancadas e as mulheres morreram carbonizadas. Evidenciou a precariedade do trabalho e a luta operária de movimentos organizados pelas mulheres.
Esta data só foi reconhecida, definitivamente, como um acontecimento negativo para a vida das mulheres que lutam por direitos humanos fundamentais, em 1975, quando foi oficializada pela Organização das Nações Unidas (ONU).
A escolha do calendário se deu antes do ano de 1975, e remonta ao dia 8 de março de 1917, com a greve geral das operárias russas.
O que comemorar nesta data?
Essa pergunta não é retórica, mas exige uma reflexão, porque o dia 8 de março é um dia de memória às vítimas da lógica perversa do capital, que não suportou as reivindicações dessas operárias por redução de horas de trabalho e por uma relação de trabalho digno. Essas tecelãs queriam dignificar o trabalho, como garantia da vida, gerando mais vida. Os donos dos meios de produção das fábricas estavam cobertos por um mantra ideológico, ao afirmarem que o trabalho dignifica o ser humano. O grito das tecelãs contrariou esse mantra liberal: como poderia ser digno esse trabalho da fábrica têxtil, que exigia delas 16 horas de trabalhos diários? A resposta dos donos da fábrica não foi de diálogo e muitos menos de escuta, mas foi pôr fim à fábrica e às operárias, ateando fogo na indústria têxtil.
É importante salientar que o Dia Internacional da Mulher não surgiu por causa de uma tragédia, mas pela luta, mobilização e engajamento político das mulheres trabalhadoras e a relevância das causas feministas que foram acontecendo ao longo dos anos, sobretudo do século XX. Todo este movimento feminista continua dando importância ao “8 de março”, agregando outras agendas, tornando um dia de reflexão, de luta e de reinvindicações, em prol das causas das mulheres.
É muito oportuno perguntar: dar flores para as mulheres, no dia 8 de março, é reconhecê-las como sujeito ético de direito?
Fazer festa e dar presentes, nesta data, para mulheres, esquecendo de fazer a memória histórica das suas lutas, pode ser um ato alienador que encobre a vida e a luta dessas operárias que foram queimadas vivas.
Neste dia 8 de março de 2024, é um momento histórico desafiador. Reforçamos o convite à reflexão de como as lutas das mulheres se ampliaram e, ao mesmo tempo, sofrem entraves quanto: a presença e a relação das mulheres no mercado de trabalho; como a nossa sociedade as trata e como as políticas são discriminatórias; como são as relações no campo do convívio afetivo, familiar e social; como se reproduz a violência de gênero e o silenciamento que normaliza desigualdades e injustiças sofridas pelas mulheres.
Juntemo-nos à luta de tantas mulheres, que no mundo todo, através de seu ativismo crítico, seja na arte, na cultura, na ciência, na literatura, nos sindicatos, nos movimentos sociais populares etc., continuam impulsionando a luta de tantas mulheres hoje, instaurando processos de transformações socioculturais.
Para nomear algumas mulheres que protagonizaram com seus discursos e práticas potentes iniciativas para a emancipação das mulheres, são elas: Angela Davis, Dandara, Malala, Frida Kahlo, Maria da Penha, Simone de Beauvoir, Margarida Alves, entre tantas outras. Eis o convite para ampliarmos esta lista de nomes que podem nos subsidiar com suas ferramentas de inclusão e apressar a justiça social e a construção de relações horizontais e equitativas de poder entre mulheres e homens.
Assim, libertar as forças produtivas é fazer um recorte de gênero, de raça e de classes para protocolar definitivamente a emancipação das mulheres que ainda reivindicam por justiça, respeito a sua dignidade humana. E fica o imperativo: enquanto as mulheres não forem emancipadas, os homens não serão livres!
Autora: Nilva Rosin [1] e autor: José André da Costa [2]
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[1] Professora de Filosofia e Musicoterapeuta. Tem atuação, estudos e pesquisas em Envelhecimento Humano, Feminismo, Direitos Humanos e Educação Popular. É membro da Congregação das Irmãs de São José.
[2] Professor de Ciências Sociais e Filosofia do Direito nas Faculdades Integradas da América do Sul (Integra), de Caldas Novas, GO. É membro dos Missionários da Sagrada Família.
Edição: A. R.
Infelizmente as mulheres ainda não são valorizadas como deveriam ainda sofrem assédio, violência doméstica, física e mental, a psicológica, a sexual, a patrimonial e moral mas as mulheres devem ser respeitadas e valorizadas pelas suas lutas constantes e pelas suas conquistas.