Porque não devemos chamar palavrões na frente das criancinhas?

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Todos os nossos gestos, palavras e atitudes são imitadas pelas crianças mesmo que as digamos para não fazerem aquilo. Quando estiverem longe da nossa convivência vão xingar o coleguinha e chamar aquele palavrão bem feio com a professora ou com o amigo do jogo de bola.

Sempre que estou escrevendo um poema ou um pequeno ensaio como este, gosto de citar alguma letra de canção ou poesia para trazer bonitezas ao nosso viver tão carente de amor e cuidados.

Hoje eu trago o poema de Vinícius de Moraes na voz intitulado “Valsa para uma menininha” com os seguintes versos:

“…Menininha, que graça é você / Uma coisinha assim / Começando a viver / Fique assim, meu amor / Sem crescer…”

Ah, como eu queria que as crianças não crescessem jamais e pudessem viver sempre no mundo do faz de conta e da imaginação vindo para o real só para sentirem o cheiro da terra a ser molhada pela chuva ou tomarem um belo banho de mar! Todavia, as coisas nem sempre são como a gente gostaria que fossem, e as crianças precisam crescer.

Enquanto criancinhas, devem experimentar as mais lindas aventuras e os mais belos momentos que puderem ao lado de quem as ama, ao lado de pessoas responsáveis e que lhes passem a segurança e o cuidado necessários para crescerem saudáveis emocionalmente e fisicamente. Sem o cuidado dos pais ou de responsáveis que saibam como lidar com as suas birras e peraltices talvez não tenham tantas alegrias nos seus mundinhos e vez ou outra necessitem fugir da realidade criando monstros dentro de si. Triste isso, mas é a verdade, e ela dói, eu sei.

Hoje, nós vamos falar de uma coisa que passa meio despercebida pelos adultos quando estão rodeadas pelas suas criancinhas: os palavrões e xingamentos falados a outros que elas escutam e ficam sem entender o que significam aquelas palavras que fazem a gente ficar nervosos por demais, gritarmos, sairmos de si, explodirmos de raiva e até mesmo descontarmos em cima delas coitadinhas que não têm nada a ver com os nossos estresses e confusões com pessoas alheias.

As crianças tendem a imitar os pais e responsáveis em tudo.

Elas têm orgulho das pessoas com as quais convivem, somos seus heróis e heroínas de carne e osso, porque os outros nunca apareceram para elas vestidos iguais a nós, nunca choraram ou nunca tiveram dores de cabeça ou dores de barriga, por isso elas nos têm tão próximas de si que são capazes de adoecerem de saudades se ficarmos muito tempo distantes delas.

Todos os nossos gestos, palavras e atitudes são imitadas pelas crianças mesmo que as digamos para não fazerem aquilo. Quando estiverem longe da nossa convivência vão xingar o coleguinha e chamar aquele palavrão bem feio com a professora ou com o amigo do jogo de bola.

É preciso cuidado e respeito também. As crianças não devem escutar certas coisas, é por isso que existe horário para crianças assistirem alguns filmes e novelas na televisão como também horário de ir para cama.

Alguns pais e responsáveis nos causam vergonha xingando outros pais nos semáforos e filas de supermercados de frente as suas crianças que ficam perdidas no meio da confusão ouvindo tudo aquilo e absorvendo nos seus pensamentos e espírito. No dia seguinte, o que ocorre é que na primeira confusão que tiver na sala de aula a criancinha vai achar que se disser o mesmo palavrão que o pai ou a mão disse àquela pessoa estranha no semáforo resolverá seu problema quando não é verdade.

Criança que chama palavrões e xinga as outras são consideradas rebeldes e malcriadas pelos seus professores que não entendem ser aquilo reprodução do que vivem em casa, porque uma criança que tem um lar com harmonia, amor e paz jamais vai ser agressiva com outra a não ser que sofra de alguma doença ou coisa especial e mesmo assim ainda não se comportará de forma malcriada.

Os professores com os quais as criancinhas passam a maior parte do tempo devem educá-las com paciência e cuidados básicos dizendo para elas que aquilo é feio, que aquele palavrão não pode ser dito, que vai machucar o coração do amiguinho e vai fazer dela uma criança não querida pelas outras. É preciso saber conversar e o diálogo neste momento é muito importante para que a criança assimile o seu erro e peça perdão a quem xingou ou chamou um palavrão.

Nunca devemos bater nas criancinhas por elas falarem palavrões ou xingarem alguém mais velho do que elas como os vovôs e vovós. Se não querem ir para os seus colos ou não querem as suas companhias respeitemos e mostremos para elas que os idosos têm muito a nos ensinar. Eles não gostam de xingamentos ou palavrões. Eles só querem que digamos palavras bonitas como amor, carinho, felicidade, bonito e por aí segue.

Somos os responsáveis pelos comportamentos das nossas criancinhas em sala de aula e em casa.

Vi outro dia uma criança que foi mordida pelo seu amiguinho da creche e quando chegou em casa que o pai viu aquilo xingou a professora e a escola. A criancinha começou a chorar porque no seu pequeno mundo teve medo de nunca mais poder reencontrar aquelas pessoas queridas já que o pai dizia a todo momento que ia tirá-la daquele lugar para um outro melhor.

A criancinha não sabe o que é o melhor para ela. Até mesmo já passou a dor da mordida e não vai revidar coisa nenhuma, papai ou mamãe. Crianças não são vingativas iguais aos adultos. Crianças não guardam mágoas e não planejam maldades.

Evite perder o controle das suas emoções na frente da sua criancinha. Comporte-se diante dela. Você passa cada vez menos tempo ao seu lado. Seja para ela um adulto amável e cuidadoso.

Respeite as suas poucas palavras que já aprendeu a falar, e não permita que no seu pequeno vocabulário emocional sejam escritos palavrões e xingamentos. Queira o bem para quem precisa aprender a amar e chegou agora neste mundo cruel e difícil de viver e ser compreendido, pois somos o tempo todo julgados pelas nossas palavras e ações.

Faça a sua criancinha crescer aprendendo a respeitar a todos independente de quem seja. Que ela aprenda a cumprimentar as pessoas, a se comportar como um príncipe ou princesa dizendo sempre palavras doces e cheias de ternura. Sabemos que as crianças são inocentes e quando chamam um palavrão não sabem nem o que aquilo significa, porém se permitirmos, se sorrirmos, se fizermos pouco caso daquilo, a cena que hoje gostamos de ver só porque ela é pequenina e não merece ser castigada vai se repetindo até a idade adulta.

É verdade que criança nenhuma deve ser castigada por reproduzir os palavrões e xingamentos que os pais dizem quando estressados, mas conversemos com elas dando-lhes orientações respeitosas e cuidadosas de que aquilo é feio e não fica bom para uma criança dizer. Uma criança deve dizer palavrinhas bonitas e as ensinemos algumas palavrinhas pequeninas que podem ser delicadas, ternas e carinhosas para aprenderem antes que o mundo lhes ensine coisas terríveis porque para isso não faltam quem lhes ensine.

E para concluir deixo vocês com mais um pouco de Vinícius de Moraes na sua “Valsa para uma menininha” que indico para todo os gêneros com os quais a criança se identifique e os pais a respeitem.

Sigamos com os seguintes versos que tanto gosto de Vinícius que nos diz:

 “…Menininha, não cresça mais não / Fique pequenininha na minha canção / Senhorinha levada / Batendo palminha / Fingindo assustada / Do bicho-papão…”

Que possamos ser fadas, reis e rainhas engraçados às nossas criancinhas, mas nunca bicho-papão xingando pessoas estranhas e dizendo palavrões aos gritos por aí a fora, mas sendo carinhosos e respeitando a presença deste ser inocente que está crescendo ao nosso lado e nos ensinando que para ser gente grande é preciso amar com gente pequena e que o bicho-papão fique apenas nos contos de fadas.

Autora: Rosângela Trajano

Edição: A. R.

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