Uma das mais instigantes características humanas é a busca pelo encontro. No caminho pelo qual cada um se conduz para essa busca, há o amor. E não só. Há de se saber que a perda se esconde nesse caminho, que é parte dele, que está tão presente como qualquer outro acontecimento, mesmo sendo difícil de percebê-la. É essa uma primeira ideia que surge na leitura de Amor: encantos e desencontros, de Laércio Fernandes dos Santos, uma história sobre o ato de viver a aproximação amorosa entre adolescentes e jovens. Nesse romance, despertando questionamentos e entendimentos interessantes, a perda, imperceptível por um tempo, aparece em todos os encontros das personagens, tornando-se singular em seus efeitos.
Da companhia dos pensamentos, dos sentimentos, das experiências e até mesmo de outros escritos, o livro surge daquelas coisas que, de algumas ideias, viram muitas e se organizam pela linguagem, querendo do autor um lugar de abrigo. Então, leitor, é bem possível que você, ao ler a história narrada nas páginas que seguem, encontre a ficção que faz pensar enquanto evoca memórias e lembranças e perceba que há uma imensa variedade de coisas na vida que escapam à compreensão.
Afinal, você vai viver imaginariamente uma vida que não é sua, mas que, atingido pelos efeitos de identificação, passa a ser um pouco sua também.
Recebemos do autor uma literatura que, sonhada por ele há muito tempo, toma forma concreta de uma obra em prosa longa. Em seu espaço de criação, estruturado em capítulos, a narrativa flui, envolvendo o leitor nas vivências das personagens e nos episódios que dão forma ao drama que vivem. Tudo isso é possível pela linguagem, que, instauradora da realidade ficcional, nos chega repleta de significado. Por certo, foi por mergulhar com coragem e habilidade no universo da escrita que o autor conseguiu acolher alguns fenômenos da complexidade das relações humanas permeadas pelos sentimentos.
O espaço de criação do texto também demonstra que o autor sabe transitar entre as formas literárias. Observe, leitor, que a história é contada numa estrutura narrativa que se transporta para o lugar do poético, com alguns versos que iniciam capítulos e outros que compõem o discurso da personagem, permitindo, assim, que a imaginação de quem lê se amplie. Há uma riqueza de linguagem nas palavras que se juntam pela finalidade estética e produzem, assim, o efeito de sentido.
Nessa construção de linguagem, encontramos a transposição do drama amoroso no qual as personagens mergulham, criam suas memórias e refazem o que ela fez, hesitando entre o lugar da felicidade individual e a dois e, por vezes, esquecendo-se em si. Isso leva a pensar se tudo o que passar da vida para a alma é inesperado ou é eterno. E não esquecer, leitor, que a imaginação sempre desequilibra.
Reflexões surgem com os encontros e desencontros, no eterno embate da vida a dois.
Uma delas, inerente à temática da relação amorosa de contornos juvenis, é sobre a gravidez de mulheres jovens e os dilemas que advêm do abandono. E é certo que “De muitos amores temos os encantos, mas também os desencontros.” E pensar que tudo, para todas as personagens, vem do coração. A progredir na formação dos casais que amam, as fases do amadurecimento surgem, trazendo com elas o desejo que cala no corpo e nele fica, tornando intensa a entrega na própria carne, como a criar marcas para dizer que “Aquilo era a plenitude humana.”
E os mistérios que rondam o amor? O que acontece no íntimo de cada um? Como se resolve a volubilidade? Entre outras perguntas que a narrativa suscita, essas dão uma ideia do humano que perpassa a construção das personagens. O que há, também, é uma pergunta sobre o significado de amor. Outra, forte demais, é sobre a existência do amor.
Caros leitores! Recomendar-lhes Amor: encantos e desencontros, de Laercio Fernandes dos Santos, é uma responsabilidade que assumo com tranquilidade, sentindo-me honrada, haja vista a qualidade da narrativa. E seu autor? É um aluno que se tornou meu amigo. Conheci-o quando ele fazia o curso de Letras na Universidade de Passo Fundo. Como aluno de graduação já reunia condições extremamente caras e necessárias ao desenvolvimento da formação intelectual, as quais se ampliaram na pós-graduação. Hoje, cursando o doutorado, desafia-se à escrita literária, dando os devidos traços de real ao que foi imaginação.
Como o Laercio diz, “A escrita é uma forma de organizar o discurso de quem a gente é”. Ocorre aqui, querido amigo, uma bela e instigante organização sua.
Passo Fundo, abril de 2022.
Fotos: Divulgação/arquivo pessoal Laércio Fernandes dos Santos
Autora: Ivânia Campigotto Aquino. Pós-Doutora em Letras – Estudos de Literatura. Professora do curso de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade de Passo Fundo
Edição: A. R.