“Não há educação fora da relação com os outros.” (Antônio Nóvoa)
Muitos já profetizaram o fim da profissão docente. Ocorre que a tecnologia, as novas modalidades de comunicação em tempo real propiciam acesso a informações e conhecimentos inéditos, o que considero muito positivo, uma vez que ultrapassam barreiras de diferentes espécies, nivelando saberes. Isso, entretanto, não dispensa nem substitui a presença do professor que interage, analisa, compõe e propõe a perspectiva crítica e autônoma no desenvolvimento racional, afetivo e espiritual do estudante.
O apagão de professores e os prognósticos nada animadores para os próximos anos, em decorrência da não opção por cursos de licenciatura indica que, em breve, será necessário pensar novas opções para trabalhar com os estudantes que estão chegando aos bancos escolares.
Trata-se de um problema grave a ser enfrentado não apenas por governantes, mas pela própria sociedade. Antes que se pense em privatizar a educação pública e entregá-la a corporações mais interessadas em lucrar e/ou preparar vítimas a serviço dos donos do capital, urge pensarmos alternativas de encantamento, engajamento e transformação da visão atual da profissão docente.
Visto que não há grandes esperanças de uma valorização econômica a curto prazo, muitos docentes vão desistindo da profissão e, pouco a pouco, vão partindo para outras esferas do mundo do trabalho, com alternativa de renda pessoal. Resta, então, pouco tempo para pensar a práxis docente, dedicar-se à própria especialidade e interagir com outros educadores, em busca de qualificação pessoal e coletiva.
Os pouquíssimos cursos que restam com a finalidade de preparar professores demonstram fragilidade e teimosia. A fragilidade de não conseguir encantar jovens que se decepcionam a cada estágio realizado nas escolas, sentindo já na pele as forças destruidoras de práticas que envenenam a água bebida com amargor, desrespeitados desde antes de serem efetivamente educadores. A teimosia fica por conta dos formadores que, apesar de tudo, mantêm a crença da necessária profissão, sem a qual as próximas gerações parecem estar ameaçadas a tornarem-se reféns de ideologias recheadas de anti-humanismo.
Em minha experiência em sala de aula, com futuros professores, tenho tentado apresentar-lhes as dinâmicas do ser educador, apesar e para além da noite que vivemos. Parto sempre da perspectiva do professor como uma pessoa.
É gratificante acompanhar os primeiros passos de quem está a caminho de configurar-se como profissional da educação e, na justa medida, insisto que centralizem seu agir na humanização, desenvolvendo resiliência para superar as insuficiências. Há momentos em que respondo suas perguntas com um “não sei”. O susto é grande. Imaginam que nós- que estamos velhos- saibamos tudo? Mas se a beleza consiste justamente em duvidar, repensar, recomeçar…
Vejo, com entusiasmo, surgir entre nós professores que, além de jovens têm ganas de ensinar. Inovadores, criativos, críticos, sensíveis às demandas dos estudantes preparam com esmero as aulas, preocupam-se em dar o melhor de si, quem sabe na ânsia de dizer-nos que nem tudo está perdido, que ainda vale a pena dedicar tempo em escutar suas demandas e auxiliar, na medida do possível, para que ‘peguem a manha” de ensinar.
Oxalá, somente as “manhas” boas. Na semana do (a) normalista, um pensamento aos promissores educadores do amanhã: “você é um minuto necessário no relógio de Deus”, por demais necessário. O presente e o futuro esperam por você. Não desista, não desistam. Parabéns às (aos) normalistas, logo mais, nossos colegas –e para muitos-grandes mestres.
FONTE: https://cnbbsul3.org.br/preparar-professores/
Autor: Prof. Dr. Rogério Ferraz de Andrade. Secretário Executivo do Regional Sul 3. Este site já publicou também outra reflexão sobre a escola com o título “A máquina de resolver problemas”: www.neipies.com/a-maquina-de-resolver-problemas/
Edição: A. R.