Pretexto para falar de cavalos

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Bom ladrão é aquele que rouba por necessidade. /Mau ladrão é o “peixe grande”. /Ou seja, aquele que rouba para sustentar seus luxos. (Padre Antônio Vieira)

Penso que a maioria das pessoas têm fascinação por cães. Outras por gatos, pássaros, cavalos, peixes. Prefiro cavalos, pois são paradigmas de força, beleza, virilidade e elegância. Já foram fundamentais aos transportes, guerras, jogos e instrumentos para conquistas amorosas. Hoje nem tanto, pois há outras formas de corcéis.  

Para transportar sementes aos moinhos de trigo, centeio e arroz, meu pai, adquiriu um cavalo manso para crianças e rápido o suficiente para ganhar algumas corridas entre a meninada da Vila das Borboletas. Além do mais foi barato o suficiente para suportar seu bolso. O nome dele era Petiço. Quando vencia uma corrida, era a glória. Porém, quando ia para os moinhos, envergonhava o pequeno Dom Quixote, simplesmente porque empacava nos piores momentos.

Explico. O defeito foi herdado pela mania do seu antigo dono que, conhecendo todo povoado, parava o Petiço para uma prosa de sete minutos com todos os que passavam no seu caminho. Não tinha jeito, pois o homem e seu cavalo paravam e pronto. Quando uma jovem bonita vinha, de longe ele diminuía o ritmo até parar. Sem ainda saber como falar com moça bonita, às vezes ouvia delas:

– Que piá bobo! Vai te criar!

Depois de sete minutos, descansados, cavalo e cavaleiro reiniciavam a pequena viagem. Podem não acreditar, parava até quando passava por um cachorro, boi, outro cavalo. Soube mais tarde que o Valde, o antigo dono, era um fervoroso devoto de São Francisco.

Quando ia aos moinhos os motivos do atraso sempre eram atribuídos ao pobre Petiço. Sempre algumas paradinhas para um banho nos rios Amandaú e Laranjeira. Um sorvete na vila. Não me importava se fazia calor ou frio, porque sorvete é sempre gostoso! Ah, como sorvete e Petiço combinavam!  O Petiço só não falava porque era cavalo, mas que gostava de ouvir prosas era um fato.

Outro cavalo que conheci na forma de livro, foi o famoso Cavalo de Troia. Dentro dele cabia um pequeno batalhão de soldados, inclusive, o Ulisses, o Odisseu, que lembra o título do livro ODISSEIA escrito pelo grego Homero. Na verdade, era um imenso cavalo de madeira edificado para ser dado de presente aos inimigos troianos. Por isso a expressão “presente grego”.

A guerra já durara 10 anos, sendo que os gregos/espartanos não conseguiam ultrapassar as instransponíveis muralhas de Troia. Pensando estrategicamente, eles, os gregos, simulam um acordo de paz, ofertando o “Cavalo de Troia” como símbolo de um “armistício” entre os dois reinos. A encrenca envolvia uma linda mulher, Helena, sequestrada por Páris, príncipe de Troia.

Aceito o presente grego edificado sobre 04 rodas, sem revistá-lo na Aduana, o grande e pesado Cavalo de Troia foi adentrado com facilidade na cidade inimiga. À noite, enquanto os troianos dormiam, o recheado e oculto batalhão de soldados, armados até os dentes, toma a cidade de assalto. A cidade foi destruída, sendo que finalmente o Rei Menelau resgata Helena, a mulher mais linda do mundo.

Outra história de cavalo ainda não terminada é a do Cavalo de Guarulhos. Vindo da Arábia Saudita em uma caixa de presentes a uma Primeira Dama do Brasil de Antão, nas mãos de um Ministro amigo do Presidente de Antão, deveria ir direto a Troia, digo, a Brasília. Ele, ao contrário do Cavalo de Troia, foi revistado ao ingressar no Aeroporto Internacional de Guarulhos e retido na Aduana. Nem Almirante e outros pau-mandados de Brasília conseguiram retirar o presente vindo das arábias. Devidamente desencaixotado, lá estava um cavalinho de ouro com três pernas decepadas. Dentro dele não havia soldados. Mas joias de diamante do mais alto quilate com valor estimado de R$ 16,5 milhões na moeda atual. Se fosse presente do governo saudita ao governo brasileiro deveria ser registrado na Aduana como tal. Porém, ninguém da comitiva governamental seguiu o protocolo oficial.

Algumas perguntas ainda não foram serão elucidadas: por quais motivos o registro não foi feito? Por que joias de tão alto valor?

Existem razões de Estado à doação de joias de forma tão obscura.  Shakespeare já escrevera: “Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha nossa vã filosofia”.   

–  Mertha! Diria meu vô paterno.   

Bom foi meu Petiço que parava no meio do caminho para ouvir as conversas entre o povo da Vila das Borboletas! O que mais me admirava era a atitude dele em parar por mais tempo quando as passantes eram mulheres. Nada falava. Olhava, sacodia as orelhas e se agitava todo com o perfume daquelas lindas mulheres. Aliás, as mulheres são lindas em todos os lugares e situações.

Naquela época de menino, eu já sentia as indomáveis energias de Teseu! Um tempo depois também foi entender que “sem tesão não há solução”. E isso vale para todas as coisas.

Sobre o Cavalo de Troia uma ensinagem: fica de olho em quem já te aprontou uma. Sempre um pé atrás! As conspirações estão mais vivas do que nunca, leitor(a)!   

Enfim, com exceção do Petiço, o Cavalo de Troia e o Cavalo de Guarulhos foram instrumentos para saquear nações enquanto o povo dormia o sono dos justos. Restam elogios à imprensa e à literatura pela busca da verdade, mesmo com seu jeito “gauche” de serem tão múltiplas na revelação da verdade.

Autor: Eládio V. Weschenfelder

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