Afinal, todos sabem: o grande problema da educação é o professor! Questões genéticas, sociais e estruturais da própria escola? Irrelevantes! Um bom educador supera tudo isso — e sempre com um sorriso no rosto. Ou melhor, fazendo palhaçadas!
Já mencionei, em outro texto, que cada época tem seus modismos na educação. Por modismo, refiro-me a essas ideias que surgem como soluções “revolucionárias”, métodos que prometem resolver todos os desafios educacionais, trazendo dignidade e respeito ao ensino.
Leia aqui: www.neipies.com/o-curioso-caso-dos-alunos-que-preferiram-os-livros/
Não critico os métodos em si — eles são necessários e, em muitos contextos, bem-vindos. O que questiono é a ênfase excessiva que se dá a eles, a idealização que os transforma em respostas definitivas, como se, sozinhos, pudessem reformar toda a educação.
Nenhuma educação autêntica acontece por meio da idealização, que rejeita a realidade em favor de imagens inalcançáveis ou artificiais. Toda educação genuína nasce do encontro entre professor e aluno, e do confronto de cada um consigo mesmo. Esse processo não é isento de conflitos — pelo contrário, envolve embates tanto subjetivos quanto objetivos, pois aprender exige esforço, questionamento e transformação.
A tendência atual são as metodologias ativas. E, antes que me acusem de rejeitá-las, ressalto que possuo formação específica na área. Entre as abordagens que mais aprecio e aplico, destaco a sala de aula invertida e o storytelling.
O problema é que as metodologias ativas têm sido reduzidas a uma ferramenta de facilitação — ou, pior, de aceleração — do aprendizado. Fala-se em educação como se ela devesse ser, obrigatoriamente, leve e divertida. Nessa perspectiva, o professor deixa de ser um mediador do conhecimento e se transforma em um mero facilitador de um aprendizado dinâmico e, claro, sempre divertido.
Como se resolver equações de segundo grau fosse uma experiência empolgante para todos. Como se ensinar Sêneca e o estoicismo não exigisse um esforço cognitivo que, inevitavelmente, causa certo desgaste. Como se aprender sobre sujeito e verbo fosse tão natural e prazeroso quanto pular em uma piscina numa tarde de verão.
Nesse cenário de aprendizado supostamente irresistível, onde todos estão sempre motivados, sedentos por conhecimento e incrivelmente felizes, a escola se transforma em um grande circo.
Os prédios e o pátio fazem as vezes de lona, e cada sala de aula vira um picadeiro — com seu palhaço particular: o professor.
— Venham, venham, crianças! Estudar é pura diversão! Aprender nunca foi tão fácil e emocionante!
Nesse contexto, aula expositiva? Nem por um minuto! Deus me livre! Poderia destruir, irreversivelmente, a sagrada motivação das pobres crianças.
Afinal, todos sabem: o grande problema da educação é o professor! Questões genéticas, sociais e estruturais da própria escola? Irrelevantes! Um bom educador supera tudo isso — e sempre com um sorriso no rosto. Ou melhor, fazendo palhaçadas!
Se antes aprender exigia foco, paciência e perseverança, hoje o que realmente importa são ambientes coloridos e a postura do professor. Questões estruturais relacionadas ao ensino? Irrelevantes. O aspecto político da educação? Simplesmente inexistente!
O agente transformador, capaz de minimizar todo o resto — problemas familiares, cognitivos e emocionais — de fato, é o professor. No entanto, para que isso aconteça, não basta adotar “metodologias ativas”. A verdadeira valorização da educação vai muito além disso.
Nós, educadores, precisamos sempre lembrar: professor não é palhaço e escola não é circo! Não devemos aceitar o papel medíocre que o mercado da educação muitas vezes tenta nos impor. A educação pode ser divertida, às vezes, mas, acima de tudo, é coisa séria!
Autor: Aleixo da Rosa. Também escreveu e publicou no site “Professores não sabem nada”: www.neipies.com/professores-nao-sabem-nada/
Edição: A. R.