Professores/as estão mudando ou estão sendo mudados?

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Diante das impactantes mudanças, convidamos algumas pessoas que tem responsabilidade direta com os professores e professoras das mais diferentes redes de ensino, sejam eles coordenadores, orientadores educacionais, dirigentes da educação a escreverem sua percepção sobre estas mudanças. Estes escritos podem subsidiar professores e professoras para que, eles mesm/as possam também se perceber e se reconhecer a partir do olhar dos outros.

Os professores e professoras, das diferentes redes de ensino, mudaram muito durante a pandemia que começou em março de 2020 e perdurará ainda, pelo menos, até o final de 2021.

Estas profundas e significativas mudanças geralmente não são e não foram percebidas pelos próprios professores e professoras, pois é natural que os outros reconheçam as nossas qualidades, os nossos limites e, neste caso, o impacto das mudanças na forma de organizar a docência e ressignificar a essência relacional na educação.

As impactantes mudanças vieram com a abrupta necessidade de mudar a forma de organizar os seus planejamentos, as maneiras de propor aos estudantes o estudo dos conhecimentos, a seleção dos conhecimentos e habilidades que agora são julgados mais essenciais mudaram também as suas concepções de vida, de mundo, de conhecimento, de perspectivas e de mudanças de abordagem com os estudantes.

Diante de tão impactantes mudanças, convidamos algumas pessoas que tem responsabilidade direta com os professores e professoras das mais diferentes redes de ensino, sejam eles coordenadores, orientadores educacionais, dirigentes da educação a escreverem sua percepção sobre estas mudanças. Estes escritos podem subsidiar professores e professoras para que, eles mesm/as possam também se perceber e se reconhecer a partir do olhar dos outros.

Mudar faz bem

Dizem que mudar é preciso, às vezes é algo detalhadamente planejado e. às vezes, é uma oportunidade inesperada. De um jeito ou de outro, por razões pessoais, profissionais ou ambas, os últimos dois anos, para nós profissionais da Educação, esse processo de mudança trouxe consigo momentos únicos, repletos de desafios, de angústias, situações de puro exercício de empatia, de resiliência e sobretudo nos ensinou a força da superação, do trabalho coletivo, resgatando o prazer de aprender, buscando novos conhecimentos, planejando diferente   e assim adquirindo novas ideias e formas de ver, pensar e agir.

Estamos findando o ano de 2021, atualmente estou na função de Orientadora Educacional Anos Iniciais e Coordenadora Pedagógica dos Anos Finais, e durante esse tempo presenciei a mudança e o crescimento gradativo dos meus colegas de escola.

Cada um construiu seu caminho de mudança, dentro do seu tempo e espaço. Tivemos choros, risos, nos conectamos, mas mudamos integralmente. Não somos mais os mesmos, a mudança aconteceu para todos, independente da função exercida.

Tenho a convicção que para cada um foi uma vitória pessoal e a certeza que novas situações e desafios nos impulsionará a novas mudanças.

Mudar é preciso. Mudar é possível. Mudar é permitido. Mudar é recomeçar.

(Adriana Severo dos Santos, Orientadora Educacional Anos Iniciais e Coordenadora Pedagógica dos Anos Finais EMEF Zeferino Demétrio Costi)

Os(As) Professores(as) estão mudando? Ou estão sendo mudados?

Em tempos de pandemia, muitas coisas mudaram. A economia, a mobilidade urbana, a saúde, os hábitos de higiene pessoal, os relacionamentos, a educação… Em todos os setores, profissionais e usuários tiveram que se adaptar, mudar procedimentos, modos de agir, de pensar, de falar. De ser! Hoje, não somos mais os mesmo que iniciaram o ano 2020 neste mundo.

Mas, em que pese todas as mudanças trazidas pela pandemia (algumas bastante necessárias, pois o ser humano havia esquecido sua capacidade de amar, de doar-se pelo bem comum, de ser solidário e fraterno), ainda há muito o que avançar, principalmente na Educação. E me refiro a todos os atores do processo educativo que, dentro ou fora da escola, exercem papel importante na formação humana dos membros da sociedade, não importa a idade que tenham. Certamente, os professores foram os mais afetados, pois a mudança de paradigma, embora anunciada há anos, só aconteceu por força das circunstâncias e da necessidade de criar novas formas de chegar aos estudantes.

Embora não pareça, os professores das escolas particulares também sofreram nesse processo de mudanças e adaptações. E ainda sofrem! O mundo não estava preparado para uma demanda de conexões incomensurável e as redes de internet ainda não suportam o número de acessos diários, necessários para o desenvolvimento do processo educativo.

A internet tem se tornado, para aqueles que ainda estão assistindo aulas online, o grande vilão das dificuldades de compreensão e de aprendizagem. E com isso, os professores sofrem… Sofrem com as mudanças, sofrem com organização dos novos currículos para o Ensino Médio, com a insegurança profissional, com a necessidade de buscar novas metodologias e práticas, de adaptar-se a novas tecnologias e de encontrar vida e esperança no regaço das instituições educativas.

Não há como escapar da mudança de época que vivemos. Precisamos estar abertos ao novo e olhar para o futuro com esperança e serenidade. Dessa forma, a mudança não será um sofrimento e uma tortura, mas momento de crescimento pessoal e profissional.

(José Adilson Santos Antunes, professor das redes estadual e privada no RS)

Estamos distantes, e agora?

A relação pedagógica é, essencialmente, uma relação humana, uma relação de proximidade, de diálogo, de corpo a corpo, ou pelo menos é assim que a desenvolvemos, é assim que os mais variados cursos de licenciatura nos ensinaram a desenvolver os processos de ensino e de aprendizagem.

Com a chegada da pandemia de Covid-19 ao Brasil foi necessário nos distanciarmos, mas estes processos didático-pedagógico-acadêmicos não podiam parar. Era necessário buscar alternativas para dar continuidade à escolarização das crianças, dos jovens e dos adultos. Coube aos professores e professoras buscar metodologias de uso digital enquanto as redes de ensino buscavam estratégias para oferecer acesso à internet e, em alguns casos, equipamentos aos estudantes para continuar as aulas de forma remota.

Em um primeiro momento, o desafio aos professores e professoras era se apropriar das novas tecnologias digitais e aprender a usá-las com fins pedagógicos. As redes de ensino ofereceram formações (e muitas!), desde os conhecimentos mais básicos de uso do computador até o domínio de ferramentas destinadas para fins educacionais. Aqui está a primeira mudança vivida por todos e todas: tornar-se um operador de tecnologias de informação e comunicação. No entanto, o maior desafio viria na sequência.

Como ressignificar aquela prática pedagógica de presença? Como estabelecer vínculo pessoal sem proximidade física? Como ensinar sem saber o quanto os estudantes estão aprendendo? Como avaliar à distância?

Diante de tantas dúvidas, incertezas, angústias, vê-se um movimento dos professores e professoras na busca pelo apoio dos seus pares, a troca de experiências passa a ser uma necessidade para acalmar a aflição, motivando até mesmo a realização de seminários internos nas instituições.

A anormalidade, nunca vivida anteriormente, faz surgir ideias, talentos, criatividade, superação e constante busca por dar o seu melhor. Em meio a toda essa preocupação de ordem pedagógica ganha destaque a sensibilização dos professores e professoras com as famílias enlutadas, com os problemas emocionais decorrentes do isolamento social, com os casos de ansiedade que aumentam a cada dia, agravado com a situação socioeconômica de desemprego, vulnerabilidade e insegurança alimentar vivida por muitas famílias. A empatia mobiliza o engajamento em ações sociais emergenciais.

A vacina traz de volta a esperança do encontro, do abraço, das relações interpessoais e pedagógicas, porém, não mais como antes, todos diferentes em alguma medida e, quiçá, melhores, mais humanizados nos coletivos do mundo acadêmico. 

(Ionara Soveral Scalabrin, pedagoga do IFSul e orientadora educacional da EEEM Maria Dolores Freitas Barros)

 

Construir e reconstruir-movimento da vida

Nesta navegação chamada VIDA, por vezes nos vemos em terra segura, por vezes nos vemos em tempestades, em mares bravios. Com a vinda deste tempo de pandemia passamos por tempestade com ventanias e muitos percalços. Foi necessário muito equilíbrio em momentos que quase nada vislumbrávamos a frente. Certezas muito poucas. Tateando, olhando esmiuçadamente, com cuidado, avançamos. Na escola, não foi diferente.

Durante um ano e meio colocamos adormecidas habilidades de convívio, de raciocínio, de exercício de memória, de trocas e agilidades reflexivas. O medo paralisa. A saúde em primeiro lugar, nos fez ter maiores cuidados consigo e com os outros. Queira Deus que a consciência desta fragilidade e das consequências de nossos atos que tem relação direta com os outros nos faça crescer. Que sejamos cuidadosos sempre, pelo valor do bem comum. Aprendizagens feitas, vividas em tempos de escassez.

Hoje trabalhamos para retomar um caminho interrompido. Com calma, com algumas ferramentas a mais, como o uso da tecnologia, mas, dando um valor muito maior para o contato, o convívio da reciprocidade, da brincadeira, do desafio, do exercitar, do viver. Do ir e Vir com liberdade para respirar. O valor do professor, do orientador, do olhar para outra alma e nela depositar esperança foram incontestavelmente reconhecidos. Que este recriar a vida na ESCOLA VIVA, nunca se apague. Que este reconstruir faça parte de nossas vidas, com o exercício da criatividade, das peculiaridades de cada um, um laço forte de movimento pela VIDA. Conviver e aprender com seus pares é um dos movimentos mais saudáveis que o ser humano pode se propiciar. Ferramentas necessárias para atravessarmos tempos bravios e tempos de navegação mansa. Navegar é preciso.

(Márcia Bandeira Vargas Muccini, professora e Diretora da Escola Redentorista Instituto Menino Deus em Passo Fundo, RS)

Edição: Alex Rosset

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