Professores, não se esqueçam de si

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Somos apaixonados pelo que fazemos e fazemos muito mais do que nossas atribuições. No entanto, não podemos amar a profissão mais do que a nós mesmos. O amor pela docência não é incondicional.

Todo professor já deve ter assistido a algum filme ou lido algum livro sobre a docência.

Eu mesmo gostava de me ver representado na ficção. Gostava de ver aqueles superprofessores humilhados pelo sistema, tendo de dar aula numa escola com alunos violentos e indisciplinados, dentro de salas de aula degradadas. Então, este mesmo professor, com toda a sua perseverança, força de vontade e movido por grande paixão pela profissão, abria mão de sua vida particular, da sua vida afetiva e familiar para transformar aquela realidade. Tudo em nome do amor à docência. 

Além de todas essas adversidades, professores de escolas públicas ou privadas estão sempre devendo alguma coisa: relatórios, notas, devolução de provas, pareceres sobre aluno, ementa de projeto interdisciplinar, programa de estudo, diários de classe e outras chateações.

Um professor sempre deve alguma coisa para a direção. Mesmo quando não deve nada, ele continua em dívida, porque mesmo que você tenha entregado tudo que lhe foi solicitado, ainda assim sobrará aquele sentimento de que você não poderia estar descansando, e ainda fica com aquela sensação de domingo à tarde, em que você não relaxa por completo porque a segunda-feira está chegando, e você não pode se dar ao luxo de relaxar. 

Lembro ainda do filme Escritores da Liberdade, em que uma professora, interpretada por Hilary Swank, estimula seus alunos a escreverem diários. No entanto, como se trata de uma escola pública, não havia recursos para a compra de livros. É então que a professora resolve fazer um bico como vendedora de roupas no turno inverso para levantar dinheiro e, assim, comprar os exemplares. A atitude pode ser vista como louvável, e é; porém, isto tudo pode ser bonito na ficção, mas na vida real não é. 

Este artigo na verdade é uma carta aos professores. Me dirijo a vocês desse modo porque acho ser importante dizer que sim, somos apaixonados pelo que fazemos, que sim, fazemos muito mais do que nossas atribuições.

Não podemos amar a profissão mais do que a nós mesmos. O amor pela docência não é incondicional. Não é anulando-se como pessoa que um professor prova seu valor. Por isso, faço um apelo: professores, não se esqueçam de si.

Por mais que haja uma ligação forte entre você e a sua instituição de ensino, a escola não é sua casa. Escola é um lugar de formação social, mas não pode ser a extensão da sua vida.

Um professor não é mais professor porque não relaxa, porque está sempre em estado de alerta. Um professor é bom quando cuida de suas aulas, mas, sobretudo, quando cuida de si mesmo. 

“Acho que por abordar tema entalado na garganta de tantos profissionais da área. E também por tratá-lo de forma direta, mesclando linguagem formal e coloquial, usando emojis e até linguagem vulgar (no texto original tem um palavrão). O texto não deseja ser uma visão individual, mas uma voz daqueles que não aguentam mais serem colocados em caixas do pensamento”. (Douglas Peretto em entrevista ao site “Por que matam os professores, aos poucos”) Leia mais: https://www.neipies.com/por-que-matam-os-professores-aos-poucos/

Autor:  Jéferson Tenório

Fonte: Jornal  Zero Hora, outubro de 2022

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