Se depender de nós, vagabundos, o ano não vai ser perdido,
porque improvisamos, com o que temos, em nossa casa.
Do governo, só cobrança, sem contrapartida.
Aliás, faz muitos anos que isso ocorre.
Continuamos sendo atacados
por não trabalharmos.
É mister que trabalhadores em educação sejam denominados vagabundos pois, mesmo recebendo há 5 anos o mesmo salário, e ainda parcelado, recentemente, impuseram uma lei que congela o mesmo por mais 5 anos. Vagabundos porque recebem pingado seu salário todo o mês, o mesmo de quando se pagava um quilo de banana R$ 0,99 que agora custa R$ 3,99. Vagabundos porque têm de sustentar a família vendo o gás de cozinha passar de R$ 37,00 para R$ 80,00, da gasolina de R$ 2,70,00 para R$ 4,70, ver o 5 quilos de arroz pular de R$ 8,00 para R$ 20,00 e ainda ter que engolir as estatística do governo argumentando que não há inflação.
O professor deve levar a vida errante, como diz a descrição de vagabundo no dicionário Aurélio, porque perde o sono por não ter o dinheiro para honrar seus compromissos, pois recebe pingado, enquanto o governo salva a vida não errante de banqueiros. E, se não quiser receber pingado, tem uma solução que ameniza o sono: vai ao banco e financia o seu próprio salário e arca com os juros abusivos do banco do próprio governo, que lucra em cima do funcionalismo.
O professor não trabalha. O professor nunca trabalhou, pois para projetos inovadores acontecerem nas escolas corre para a lojinha mais próxima da escola e compra o famoso TNT, que nem tecido é, mas faz acontecer. Mas para fazer bonito no dia da apresentação, a tinta para o rosto tem de ser de primeira para não provocar alergia no rosto dos estudantes; ele paga com seu dinheiro, isso tudo para fazer acontecer a educação.
O professor é acomodado. Isso todo mundo sabe. Faz seleção de mestrado e se vira como pode, se precisar passa até necessidade para se qualificar, pois a educação tem de ter qualidade, tem professor até doutor, pelo seu mérito, porque no plano de carreira está assegurado a dispensa para estudo. Só na lei, na prática é trabalhar e estudar sem nenhuma “regalia”.
Realmente, o professor não leva a sério seu trabalho. Se tem um evento, até da própria mantenedora, e ele necessita levar os alunos apresentar para fazer bonito, transporta os alunos em seu próprio carro. Se precisar, faz duas viagens e paga alimentação para os estudantes do seu próprio bolso.
Professor não trabalha. Ocupa-se das 60 horas na escola e em casa, se vira vendendo Avon, Natura, potes e até esfirra. E, quando um aluno que vem para o contra turno e não tem dinheiro para o almoço, o professor paga, nem que seja, um pastel, para não deixar frágil o projeto do turno integral que o governo implantou.
Oh, categoria sem compromisso! Quando o governo decide implantar as chamadas on-line. O professor que se espiche, se não tem um aparelho de celular que comporte o Aplicativo “Escola RS Professor”. Compre, parcele em 500 vezes. A internet é de seus dados móveis ou de sua rede de internet. Aguenta “boi de carga”, porque a educação tem de acontecer. Para mais tarde, o governo dizer que implantou. Que a educação evoluiu tecnologicamente. Mas às custas de quem?
“Professores são todos de esquerda”. Quando saem de madrugada, já quase sem força. Só a esperança no olhar. Embaixo de sol e chuva, para reivindicar o que é seu de direito. É de esquerda quando acha um ninho de pomba no pátio da escola, ensina os alunos a proteger a natureza. Faz projeto para conscientização do meio ambiente, enquanto a autoridade maior não está nem aí para as queimadas na Amazônia e no Pantanal. Aliás, a indícios que seja proposital acabar com “essa terra dos índios” que nem usam.
“Ficam em casa para não trabalhar”. Ah, a pandemia! É muito cômodo ficar em casa para não fazerem nada. Se não tiver um computador bom, compre. Se estragar o notebook, vire-se. Se sua internet não suportar aulas síncronas o problema é seu, dê um jeito de contratar outra mais potente. Se não domina determinadas tecnologias, aprenda. “É inadmissível perdemos o Ano Letivo”. (Detalhe: a conjugação desse verbo é autoral do discurso que ofende o professor)
“Ficam em casa e não trabalham”. São exigidos 3 planejamentos semanais: 1 para postar na sala da Coordenação, destinado a alunos sem acesso, 1 no drive da secretaria da Educação e outro para dar aulas síncronas. De 5 em 5 minutos, mais de 50 notificações e não importa a hora, você precisa dar retorno aos alunos. O grupo do whatsapp não para. E dá uma agonia, angústia, quando não damos conta de tantas coisas que nos são cobradas.
Realmente, nos damos conta que os profissionais da educação não trabalham: eles sobrevivem. Levam a educação brasileira nas costas. Porque projeto de governo não há para a educação. Há apenas uma exigência para que a educação ande às custas do próprio professor.
Se depender de nós, vagabundos, o ano não vai ser perdido, porque improvisamos, com o que temos, em nossa casa. Do governo, só cobrança, sem contrapartida. Aliás, faz muitos anos que isso ocorre. Mas continuamos sendo atacados por não trabalharmos. Será que denominação teria alguém que sempre ganhou altos salários há mais de 30 anos dizendo que estava trabalhando?
Em matéria publicada no site, professor Douglas Peretto, defendendo sua tese de que “matam os professores, aos poucos”, escreve, sobre sucesso e aceitação de sua reflexão: “acho que por abordar tema entalado na garganta de tantos profissionais da área. E também por tratá-lo de forma direta, mesclando linguagem formal e coloquial, usando emojis e até linguagem vulgar (no texto original tem um palavrão). O texto não deseja ser uma visão individual, mas uma voz daqueles que não aguentam mais serem colocados em caixas do pensamento”. Leia mais aqui.
Professor se acha a último pacote da bolacha. Se acha mais importante que todos os demais. Você não gostam é de trabalhar, bando de comunista.
Belo texto Professor Laércio, tudo que é falado nele e verdadeiro, mas não desistiremos. Nós professores não escolhemos essa profissão, fomos escolhidos por aquele que nos conduz todos os dias, todas as horas. DEUS
Professor não pode voltar é um absurdo.
Parabéns por suas belas palavras e tão verificar em expressar a situação do professor que tanto faz por seu objetivo maior. Qualidade de ensino para todos
Uma das melhores reflexões que li. Parabéns professor por dar voz aos nossos pensamentos e sentimentos.
Excelente reflexão, Professor Laércio. Grande literato, grande professor, grande pessoa. Fortaleza na boa luta, Professor, que faz a vida acontecer.
Falou tudo colega.
Que texto hein professor Laércio?
Algo que estava engasgado, mas que agora saiu com as palavras certas, parabéns 👏🏼👏🏼👏🏼
Minha Nossa Senhora, Laércio! Que desabafo em nome de todos nós professores. PARABÉNS!
Ora Laércio que bom que temos alguém para expressar nossas angústias e verdades. Embora a esperança de algo melhor se esvanece diante de tanta indiferença!