Projeto Sofia: onde a leitura e a escrita iluminam os sonhos

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Não há necessidade de procurar por grandes aventuras ou feitos espetaculares. A verdade é que as coisas mais significativas da vida, como o sol interno que nos aquece, revelam-se nos cantos mais discretos da existência.

Minha jornada como professor não foi diferente. Desde o momento em que entrei em uma sala de aula pela primeira vez, senti uma afinidade pela profissão. No entanto, foi ao perceber um certo brilho que comecei a verdadeiramente amar o que faço e, de forma modesta, porém consistente, me tornei um educador.

O momento decisivo ocorreu quando comecei a lecionar na Escola Municipal de Ensino Fundamental Daniel Dipp. Logo de início, notei algo incomum: um número significativo de alunos, especialmente meninas, que tinham um apreço pela leitura. Naquele momento, ainda estava impregnado com a ideia equivocada de uma divisão entre professores e estudantes, uma barreira que nos separa em “eles” e “nós”. Muitas vezes, ouvimos discursos que perpetuam essa ideia de antagonismo entre alunos e professores.

Em uma manhã, enquanto ensinava Filosofia para uma turma do sexto ano, observei uma aluna, Lara Morussi Hoppe, folheando um livro. Curioso, como leitor e escritor, aproximei-me dela para perguntar sobre o que estava lendo. Fiquei surpreso ao descobrir que era “Meu Corpo, Minha Casa”, da renomada poetisa Rupi Kaur. Tudo naquele momento me impactou: a jovem idade da aluna, seu interesse pela poesia, sua capacidade de discutir o conteúdo do livro e seu entusiasmo ao falar sobre ele.

Atônito, senti que era meu dever valorizar aquele momento. Quantas vezes pedimos aos alunos que leiam mais? Mas quando a iniciativa parte deles, como reconhecemos e valorizamos esse esforço?

Decidi registrar aquele momento tirando uma foto. Sim, uma simples foto para compartilhar nas redes sociais. Os estudantes têm uma relação ambígua com as redes sociais – orgânica e, ao mesmo tempo, desafiadora. Postar a foto da aluna lendo era uma maneira de reconhecer seu esforço, permitindo que sua ação fosse vista e valorizada pelos outros.

Pedi permissão à aluna para fotografá-la com o livro e fazer uma postagem. Ela concordou, e esse foi o embrião do projeto.

Na semana seguinte, para minha surpresa, muitos alunos já tinham visto a foto da Lara. Além disso, mais estudantes começaram a aparecer com seus próprios livros. Percebi que não poderia perder essas oportunidades e, sempre que via um aluno com um livro, tirava uma foto e compartilhava.

Com o tempo, descobri várias outras alunas que também eram ávidas leitoras, como Lívia Bernardes Rodrigues, Nataly Moraes Pedroso e Júlia Regina Domingues. Em uma conversa com elas, surgiu a ideia de formar um grupo de leitura e escrita.

No final de 2023, a diretora Ana Delise Claich Cassol me convidou a criar um projeto para o vernissage da escola. Na mesma hora, pensei nas jovens leitoras.

Meu desejo era transformar as fotos em uma exposição. Dessa vez, porém, queria que elas se vissem lendo através das lentes de um profissional. Foi então que conheci o fotógrafo Diogo Zanatta, que generosamente concordou em fotografar as alunas sem custos. Assim nasceu o grupo “SOFIA – Leitura e Escrita Criativa”

Vejo a escola como um palco artístico, onde professores e alunos colaboram para um espetáculo harmonioso. Para que tudo funcione, é crucial que os professores inspirem os alunos e estes, por sua vez, inspirem os professores.

Acredito que todo projeto precisa crescer organicamente, como uma árvore que germina lentamente. Não pode ser imposto, mas deve atender a uma necessidade coletiva. Assim tem crescido o SOFIA.

Desde a primeira reunião, os estudantes mergulham em leituras, participam de bate-papos literários, tanto entre si como com autores, competem em concursos de contos e frequentam eventos literários. Para as leituras coletivas, utilizamos os livros das sacolas literárias da Biblioteca Pública Municipal Arno Viuniski. Tudo isso é possível graças ao desejo de crescimento dos estudantes, suas famílias, dos professores e da administração escolar. Se um desses elos falhar, a corrente se quebra.

Sobre as parcerias e conquistas do grupo, contarei mais na próxima crônica, semana que vem. Seguimos, banhados pelo sol dos nossos sonhos, energizados pela luz que emana da literatura.

Viva a educação! Viva a literatura! Viva a EMEF Daniel Dipp!                                     

Fotos: Diogo Zanatta                                     

Autor: Aleixo da Rosa. Também escreveu e publicou no site “O curioso caso dos alunos que preferiram os livros”: https://www.neipies.com/o-curioso-caso-dos-alunos-que-preferiram-os-livros/

Edição: A. R.

2 COMENTÁRIOS

  1. Certamente, Aleixo, a sua iniciativa deve servir de inspiração a todos nós. O resultado é simples: um educador satisfeito por ser movido pelo seu propósito e alunos e alunas mais criativos, independentes e plenos da leitura e suas descobertas.
    Quanto tempo vamos esperar para que a sociedade e as Secretarias de Educação despertem para este movimento?
    Centenas de páginas de parabéns!

  2. Certamente, Aleixo, a sua iniciativa deve servir de inspiração a todos nós. O resultado é simples: um educador satisfeito por ser movido pelo seu propósito e alunos e alunas mais criativos, independentes e plenos da leitura e suas descobertas.
    Quanto tempo vamos esperar para que a sociedade e as Secretarias de Educação despertem para este movimento?
    Parabéns! Centenas de páginas de parabéns!

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