Vivendo um momento histórico, a cidade de Passo Fundo comemora a eleição de quatro mulheres para a Legislatura 2025-2028. Comemora também a reeleição de três vereadoras em um parlamento que, até então, jamais havia reeleito uma mulher. As quatro candidaturas femininas estão entre as seis mais votadas do pleito, demonstrando o fortalecimento da participação feminina na política e o reconhecimento do trabalho realizado pelas atuais parlamentares.
Foram eleitas para a nova legislatura, Eva Valéria Lorenzato (PT), Professora Regina Costa dos Santos (PDT), Ada Munaretto (PL), além de ser eleita Marina Bernardes (PT).
A criação da Procuradoria Especial da Mulher na Câmara de Vereadores é, também, uma conquista simbólica e concreta, que fortalece nossa presença e empodera as mulheres enquanto agentes de transformação.
Nesta matéria exclusiva ao site, entrevistamos Eva Valéria Lorenzato sobre os desafios de seu novo mandato. Marina Bernardes manifesta suas expectativas pelo seu mandato que começará em 2024.
Perguntamos às vereadoras eleitas: Como avalia as eleições municipais de 2024? Como seu mandato pretende contribuir com a afirmação dos direitos e conquistas feministas, bem como na busca de novos direitos? Quais serão suas prioridades? Como e por que a política é a mais autêntica e eficiente forma de resolver os problemas sociais e estruturantes das comunidades, inclusive a partir dos mandatos parlamentares? O que a comunidade de Passo Fundo pode esperar a partir da tua atuação parlamentar?
Reeleita com 2.831 votos em Passo Fundo, a vereadora Eva Valéria Lorenzato (PT) chegará, aos 51 anos, ao segundo mandato a partir de 2025. A parlamentar mais que dobrou o número de eleitores em comparação com as eleições municipais de 2020, quando arrecadou 1.310 votos.
Com a palavra Eva Valéria Lorenzato
“Momento importante da disputa de projetos para Passo Fundo. Três propostas foram apresentadas. Estive no campo que reuniu PT e sua Federação com o PDT, com apoio do PSOL e outros. Foi momento para avaliarmos os últimos 12 anos de um continuísmo que produziu uma cidade para poucos, abandonou as periferias e não cuidou das dores de nosso povo. Mesmo que tenha sido reeleito, não tem o apoio da maioria do eleitorado, visto que se dividiu entre os dois outros candidatos.
No legislativo tivemos uma mudança significativa, metade não voltou. Para o PT foi um resultado importantíssimo: dobramos os votos para vereadores e agora somos duas vereadoras. O PT passou de 4.527 votos, sendo 201 da legenda, em 2020; para 9.604 votos, com 304 na legenda, neste pleito. É a aprovação de um projeto nacional que tem representantes locais. O prefeito eleito tem maioria, mas não tão folgada.
As mulheres foram vitoriosas. Pela primeira vez três mulheres são reeleitas, sou uma delas. Metade dos seis mais votados são mulheres. As mulheres serão fundamentais no próximo mandato e trabalharemos para ampliar ainda mais a presença feminina nos espaços políticos.
Sobre seu trabalho pelos direitos e conquistas feministas na Câmara de Vereadores
Sempre defendi as mulheres. Sempre participei das organizações e das lutas das mulheres. Tenho certeza que o mandato que conquistamos é fruto deste engajamento e deste compromisso. A luta das mulheres não é a luta de uma de nós, mas de todas nós juntas. O trabalho parlamentar e parte de um conjunto de outras iniciativas.
Enfrentar a violência contra as mulheres segue sendo uma das principais lutas. Ainda muitas são as que morrem ou sofrem algum tipo de violência e são impedidas de se realizarem como pessoas. Inaceitável.
O desenvolvimento da autonomia financeira das mulheres é um desafio fundamental pois a dependência econômica é um dos fatores que as impede de sair dos ciclos de violência e de encontrar novos caminhos.
Serei incansável na cobrança de políticas públicas municiais. Mas não se pode fazer nada sem a participação das mulheres, nos conselhos, fóruns, conferências. O prefeito precisa entender que o Município não existe sem a nossa contribuição e Passo Fundo será melhor para todas as pessoas se for bom para as mulheres.
Sobre a importância da política
A vida é política não porque a gente quer, mas porque a vida acontece sempre na convivência com as outras pessoas, em comunidade. Compreender assim e colocar-se numa posição contrária ao individualismo neoliberal que insiste em nos isolar, como s cada uma e cada um de nós fosse capaz de garantir tudo sozinho, disputando e competindo com os outros.
Aprendemos desde cedo que em tudo somos interdependentes em relação uns aos outros, umas em relação às outras. Transformar estas relações em processos participativos, amorosos e solidários é o melhor caminho. Para isso necessário enfrenar todas as formas de desumanização, de ódio e de desqualificação, de discriminação de todo tipo.
A convivência democrática nos ensina desde os antigos gregos que o exercício do poder não é coisa para os “aritói” (os bem-nascidos), mas o que pode ser alargado para os comuns. Mas, assim como era entre os gregos onde mulheres e escravizados não podiam participar da política, temos hoje em dia ainda o desafio de efetivamente democratizar a democracia pela participação direta e o mais ampla possível.
Sobre o que a comunidade passofundense pode esperar do seu trabalho parlamentar
A comunidade tem meu agradecimento. Cada passofundense que votou em mim pode ter certeza de que terá uma representante atenta e disposta a levar adiante as lutas. Aqueles e aquelas preferiram outros candidatos e candidatas contem com minha vigilância.
Não darei descanso a quem quer que seja que não esteja disposto a garantir os direitos do povo trabalhador. Não darei descanso a quem seguir promovendo discriminação e desrespeito. Não darei descanso a quem acha que pode fazer de conta e não atender ao que o povo de fato precisa.
Serei incansável na defesa do projeto popular, na luta pela proteção das mulheres e meninas, na promoção da vida saudável, na busca da mobilidade inclusiva e na luta pelos direitos humanos para todas as pessoas. Vamos juntas e juntos. É o jeito que sei fazer para que possamos ir mais longe, sem que ninguém fique para trás.
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Estreante na política de nossa cidade, Marina Bernardes (PT) chegará à Câmara de Vereadores como a mulher mais votada da história da cidade. Aos 31 anos, a arquiteta e urbanista recebeu 3.062 votos.
Com a palavra Marina Bernardes
“O processo eleitoral se mostrou uma oportunidade de reforçar a importância do diálogo, da necessidade de se ampliar a participação social e popular na tomada de decisões da cidade e também de apresentar uma forma diferente de produzir tanto a política quanto as formas de se fazer campanha. Em um nível macro, olhamos para a reeleição do atual prefeito a partir de algumas questões que se apresentaram no cenário brasileiro. Entre elas, o uso da máquina pública para mostrar atividades e serviços feitos durante os quatro anos. Essa não foi uma exclusividade de Passo Fundo, pois quando olhamos para outros cenários no Rio Grande do Sul e também em outros municípios brasileiros podemos observar elevados índices de reeleição de prefeitos.
Entendemos que a expressiva votação das candidaturas de Oposição e o alto índice de abstenção revelam uma insatisfação da população com o formato do governo. Vamos acompanhar com muita atenção cada passo da gestão municipal. Olhando para o micro, temos a convicção de que a nossa candidatura ao Legislativo, que surgiu de forma espontânea entre a comunidade, atende a essa disposição e a necessidade que as pessoas tinham e ainda tem de se re-encantar com a política. Minha trajetória pessoal de ativismo em movimentos sociais, principalmente os ligados a arquitetura e ao direito à cidade, vinculado ao trabalho desenvolvido nas redes sociais foram bem recebidas pelo eleitorado e tem um significado importante quando olhamos para as discussões que precisamos fazer pensando em envolver mais pessoas na política partidária.
Sobre seu futuro trabalho pelos direitos e conquistas feministas na Câmara de Vereadores.
Nosso plano de trabalho é organizado em três eixos, um chama-se “Cidade das mulheres”, porque partimos do ponto de que se a cidade é boa e segura para as mulheres e crianças, então, será melhor para todo mundo. Acreditamos que muitas pautas precisam englobar a mulher, como por exemplo, a segurança pública. Não bastam apenas mais estruturas físicas, como a Cidade da Polícia, que é um projeto da atual gestão, sem políticas de prevenção e proteção às mulheres. Além disso, também defendemos a ideia de que se a cidade for mais acessível, com caminhabilidade, transporte público eficiente e boa iluminação, as mulheres terão mais condições de enfrentar as demandas diárias, tendo em vista que assistidas por boas políticas públicas também estarão mais seguras. Outra questão que assola o desenvolvimento e qualidade de vida das mulheres é a falta de vaga na educação infantil, assim como boas oportunidades oferecidas com as novas estruturas como a escola das profissões. Estaremos atentos as demandas e fiscalizando o poder público para atender a estas demandas que são de direito básico.
Sobre a importância da política
Em nosso campo político defendemos o papel do estado para a resolução de demandas que perpassam políticas e serviços públicos, diante disso, em nossa atuação parlamentar vamos trabalhar pela qualificação de todos os serviços que são de responsabilidade da prefeitura e precisam de uma câmara de vereadores atenta que fiscalize, de fato, as decisões da prefeitura e que incluam a participação social.
Sobre o que a comunidade passofundense pode esperar do seu trabalho parlamentar
Desde 2020 estou presente em territórios bastante precários da cidade defendendo a necessidade de cobrar o poder público por políticas habitacionais, planejamento urbano, redução das filas – que são fruto do sucateamento dos mais diversos serviços públicos da cidade. Seguiremos pressionando, denunciando e fiscalizando a prefeitura para que cumpra seu papel na entrega dos serviços que são de direito nosso”.
Fotos: arquivo pessoal/rede social
Edição: A. R.