Quais respostas a sociedade pode esperar da educação pública?

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“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda.” (Paulo Freire)

Os novos gestores municipais, que serão eleitos em outubro, herdarão grandes desafios para seus mandatos, especialmente para a educação básica, num momento histórico no qual enfrentamos uma pandemia e, mais recentemente, no RS, uma tragédia humana e ambiental a partir de enchentes. Na condição de professor de uma rede municipal de ensino, ousamos “palpitar” sobre aspectos que consideramos fundamentais para alavancar uma educação de qualidade.

Os desafios para uma boa gestão em educação pública precisam dar conta de aspectos estruturais, funcionais e pedagógicos.

Muito se fala e se discute a respeito do papel da educação no desenvolvimento cultural e econômico de uma nação. Se é verdade que a “educação precisa dar respostas”, tão verdadeiro é que as mudanças que esperamos a partir da educação não se farão sozinhas. Mudanças de postura, comportamento, inovação e criatividade virão se forem acompanhadas de outras políticas públicas capazes de elevar a condição social de nossa gente e das condições objetivas para fazermos uma educação de qualidade. Neste sentido, não podemos afirmar que “tudo passa pela educação”, embora, sem ela, nenhuma grande mudança terá condições de acontecer e/ou prosperar.

A criatividade, a inovação e a ousadia sempre foram bases para os grandes avanços da humanidade. Mas, antes, os gestores precisam conhecer e reconhecer a realidade de sua rede municipal de ensino, as expectativas da comunidade e os “pensamentos” que movem os seus professores e suas professoras. Após este reconhecimento, devem traçar metas e “marcas” que estejam alicerçadas nos potenciais e nas fragilidades da rede de ensino.  Estas, por sua vez, devem constituir o rumo do trabalho político e pedagógico de cada escola e da rede de ensino, como um todo, sempre preservando as peculiaridades e singularidades das realidades nas quais se inserem as comunidades escolares.

Os aspectos estruturais envolvem o cuidado, a preservação e o “embelezamento físico” dos prédios e salas de aula. Os ambientes escolares precisam uma boa pintura, uma boa organização e distribuição de espaços, um ambiente agradável e aconchegante, um mobiliário bom e adequado. Nossos estudantes merecem e precisam sentir-se bem, e bem acomodados, para o pleno envolvimento com as aprendizagens.

Os aspectos funcionais referem-se ao bom e respeitoso tratamento que será dispensado aos funcionários e professores das escolas. O trabalho árduo e cotidiano dos professores precisa ser reconhecido em sua dignidade humana e profissional.

Os aspectos pedagógicos, tão importantes quanto os demais, devem levar em conta a gestão democrática e a experiência acumulada de cada educandário e de cada professor e professora, apresentando aos mesmos/as novos desafios para dinamizar as metodologias e aprendizagens, em cada momento histórico. Deve incorporar novas tecnologias, como um meio e não como um fim em si mesmas. A formação continuada dos professores precisa ser combinada e dialogada com o corpo docente, antes de ser executada, para que ocorra verdadeiro envolvimento. Deve-se, ainda, propiciar a sistematização e discussão das práticas pedagógicas. Estas, sim, poderão fomentar novas posturas e compreensões para intervenções nas salas de aula.

As respostas que dependem da educação nunca estarão plenamente definidas. O que sabemos é que uma educação que leva em conta os desejos da comunidade, dos professores e dos estudantes colabora, substancialmente, no desenvolvimento de habilidades, atitudes, conceitos e conhecimentos que farão diferença para o futuro do Brasil e de cada cidade.

Ademais, nossa educação precisa colaborar para o exercício e a prática da cidadania, esta sim, capaz de operar as grandes mudanças de que o nosso país precisa. Nossas escolas devem ser “o primeiro e maior lugar de vivência de direitos”. Os gestores municipais que entenderem isto farão uma grande diferença na educação brasileira.

Leia também: é possível trabalhar cultura de direitos humanos na escola formal? https://www.neipies.com/cultura-de-direitos-humanos-na-escola-formal/

Autor: Nei Alberto Pies, professor, escritor e editor do site. Também escreveu e publicou “O que aprender e ensinar nas escolas a partir de tragédias ambientais como a do RS?”:  https://www.neipies.com/o-que-aprender-e-ensinar-nas-escolas-a-partir-de-tragedias-ambientais-como-a-do-rs/

Edição: A. R.

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