Mas, o que é a vaidade? Como ela se manifesta na vida das pessoas? Por que constitui-se uma das principais características da sociedade pós-moderna? Como age o vaidoso?
A vaidade é considerada um dos sete pecados capitais ao lado da preguiça, luxúria, avareza, gula, inveja e ira. Certamente é uma das características que marcam o modo de ser de muitas pessoas na nossa sociedade considerada pós-moderna, por alguns autores.
O homem pós-moderno, segundo esses autores, vagueia pela vida de fragmento em fragmento, tem dificuldade de encontrar uma identidade duradoura, vive como um “eterno turista”, fica indiferente perante os problemas sociais, é alheio com as injustiças e maldades que cruzam sua existência, possui escassa formação humanística, tornou-se entusiasta da superficialidade, do consumo, da diversão sem limites e da permissividade.
Na expressão muito bem cunhada pelo pensador francês Gilles Lipovetsky, o homem pós-moderno vive acometido pelo crepúsculo do dever. No entanto, uma das suas principais características que marcam o modo de ser do homem pós-moderno é a cultura da vaidade.
Mas, o que é a vaidade? Como ela se manifesta na vida das pessoas? Por que constitui-se uma das principais características da sociedade pós-moderna? Como age o vaidoso? Onde reside sua perversidade que causa um desalento moral contemporâneo? Que escolhas e atitudes alimentam a vaidade? Enfim, por que a vaidade é a escolha do caminho invertido na escolha de uma vida ética?
Se formos ao Aurélio, encontraremos a seguinte definição de vaidade: “qualidade do que é vão, ilusório, instável e pouco duradouro; desejo imoderado de atrair admiração ou homenagens; coisa fútil ou insignificante, frivolidade, futilidade, tolice”. Pela definição do dicionário encontramos de imediato diversos traços que levam a indicar a vaidade como característica do nosso tempo e identificá-la como algo negativo que deturpa a busca de um comportamento moralmente aceitável.
Alguém pode objetar dizendo que vaidade é algo positivo, pois significa amor próprio, gostar de si, valorizar suas qualidades, cuidar da aparência, buscar a auto-afirmação. Mas é exatamente aqui que reside o grande problema: o senso comum confunde vício com virtude.
Para Yves de La Taille, reconhecido estudioso da psicologia do comportamento moral da Universidade de São Paulo (USP), “o conceito de vaidade é estranho à dimensão moral, pois não faz sentido dizer que alguém é generoso ou justo por vaidade”.
Uma pessoa vaidosa costuma atribuir valor a aparências, não a virtudes. Por isso, o vaidoso cuida de forma excessiva do espetáculo de si mesmo, pois para ele é “essencial” convergir para si o olhar e a admiração dos outros, exibir e ostentar uma suposta imagem mesmo que temporária e ilusória.
Há uma moral heterônoma no comportamento do vaidoso porque reduz o juízo do outro a uma dependência unilateral. O outro, não é reconhecido pela alteridade e sim pela possibilidade de ser um adulador capaz de expressar elogios, um subserviente espectador que aplaude e reconhece a identidade superficial do vaidoso.
Exagero! Nem tanto. Se prestarmos atenção aos constantes apelos publicitários que diariamente invadem nossas vidas, se vasculharmos os diversos conteúdos implícitos que comandam o império do consumo, se analisarmos as razões que levam milhões de homens e mulheres realizarem intervenções cirúrgicas em seus corpos por motivos puramente estéticos, então compreenderemos que a vaidade se traduz na grande marca de nosso tempo.
A escola também pode se tornar um dos tantos espaços em que a vaidade pode ser caprichosamente alimentada e inflamada. Não estar atento a este fenômeno hodierno é perder uma rica oportunidade de pensar filosoficamente sobre essa importante temática que caracteriza fortemente nosso cotidiano, inclusive escolar.
Certamente é por isso que numa das cenas derradeiras do famoso filme O advogado do diabo, quando Kevin Lomax (principal protagonista do filme) pergunta a John Milton (interpreta o diabo) sobre as razões que o levaram a tomar decisões moralmente tortas, Milton responde que foi por causa da vaidade, e que esta é um dos seus pecados prediletos.
Autor: Altair Alberto Fávero
Hoje vive-se o mundo da aparencia e não da essência do ser. Aparência impecável, sorriso largo mas uma profunda frustração consigo mesmo, apesar do simulacro de felicidade. Muitos não encontram o verdadeiro sentido da vida. Tudo eh superficial e imediato. Nos educadores enfrentamos grandes desafios para enfrentar este mundo de ilusão.
E angustiante perceber que a vaidade humana rasteja contraditoriamente entre o vazio e o excesso, entre a busca e a fuga, um paradoxo num eterno looping . Excelente texto professor Altair para pensarmos as relações escolares.