Educar as futuras gerações para uma vida feliz e equilibrada
é também garantir a sustentabilidade do planeta, que depende,
entre outros fatores, do consumo responsável e do destino que
damos ao lixo resultante do consumo excedente da
sociedade moderna.
Toda mãe e todo pai certamente desejam que seus filhos sejam felizes e bem sucedidos, tanto na vida pessoal, como na vida profissional. E como é possível contribuir para a felicidade dos filhos em tempos onde o consumo parece ser a palavra de ordem? Será que dinheiro traz felicidade?
Muitas são as teorias a respeito dos temas dinheiro e felicidade. Há quem diga que dinheiro não traz felicidade. Outros dizem que dinheiro não traz felicidade, mas compra aquilo que poderá trazê-la. Outros, porém afirmam que é impossível ser feliz sem dinheiro…
Qual é a sua teoria?
Tendo ou não uma teoria a respeito do assunto, o fato é que vivemos num mundo globalizado e consumista. Temos hoje a disposição uma gama infinita de produtos e serviços a nossa disposição e que o acesso, a maioria deles, está diretamente ligado a condição financeira de cada indivíduo. Do que cada pessoa precisa para ser feliz, isso é muito pessoal, mas é certo que até mesmo a manutenção das necessidades básicas de cada um, dependem do dinheiro.
O assunto que quero abordar aqui, como mãe e educadora, vai além de discutir se dinheiro traz ou não felicidade. É sobre a necessidade que temos de educar nossos filhos e nossos estudantes para uma vida feliz e equilibrada.
Estudos recentes alertam que muitas doenças como estresse, depressão, ansiedade, distúrbios do sono, hipertensão, distúrbios alimentares, entre outros, têm aumentado em virtude da dificuldade que muitas famílias têm tido em pagar suas contas e por conta de endividamentos.
Sabemos que, historicamente, as famílias não possuem o hábito de conversar com os filhos, especialmente os pequenos, sobre dinheiro, porém os tempos atuais exigem tanto dos pais como dos professores que esse assunto seja colocado em pauta.
Desde os primeiros anos de vida já é possível conversar com os filhos sobre quanto custa aquilo que compramos ou, se muito pequenos, trabalhar hábitos e atitudes de consumo consciente, como por exemplo, não desperdiçar alimentos e água; desligar a luz quando sai de um ambiente. Levá-los juntos ao supermercado para compararem o preço dos produtos e, principalmente, separar os itens que são necessários dos que são desejáveis (como por exemplo as guloseimas), podem ser boas estratégias para começar a desenvolver a responsabilidade com o dinheiro e garantir que na vida adulta eles não gastem mais do que ganham.
Lembro-me que quando meu filho completou 9 anos, a pessoa que nos auxiliava e cuidava dele no turno em que não estudava comunicou que iria parar de trabalhar conosco, pois necessitava fazer estágio da faculdade. Nesta ocasião, meu filho disse a mim e ao meu esposo que não precisava contratar outra pessoa, que gostaria de ficar em casa sozinho e ganhar uma mesada. Foi uma surpresa para nós e também uma decisão difícil de tomar. Como morávamos em um condomínio e todos os vizinhos o conheciam, resolvemos fazer a experiência de atender ao seu pedido, já que era bastante desenvolto e se necessitasse saberia a quem recorrer. Começou, então, receber a primeira mesada. Nos primeiros tempos sempre sobrava dinheiro, pois suas necessidades não passavam de alguns doces. Com o passar do tempo, mesmo a mesada sendo reajustada, o seu grau de exigência e também seus desejos aumentaram e então, para “comprar seus desejos”, precisava economizar e juntar o dinheiro de duas mesadas para alcançar seu objetivo. Muitas vezes, quando saíamos para comprar roupas, por exemplo, eu dizia para ele que era caro e ele me respondia: “compra no cartão”. Para ele, com o cartão dava para comprar tudo o que se quisesse. Foi então que decidi transformar a mesada dele em mesada eletrônica e, assim, conseguiu seu primeiro cartão. Alguns dias depois, veio a frustração, pois tentou realizar uma compra e seu dinheiro não foi suficiente. Com isso, ele aprendeu que mesmo tendo um cartão precisava controlar o seu dinheiro e priorizar os seus gastos.
Quero, com isso, mostrar que no nosso dia a dia temos muitas oportunidades de mostrar aos nossos filhos que ter controle do dinheiro é importante e necessário. Que nem sempre podemos comprar o que vemos.
Da mesma forma que as famílias, as escolas também podem e devem tratar desse assunto e não precisa, necessariamente, ser a professora de matemática. Os diferentes componentes curriculares podem trabalhar esse tema, que pode ser através de jogos, brincadeiras, discussões de temas, como por exemplo, o consumo consciente e a sustentabilidade do planeta até chegar nas noções de matemática financeira.
Cabe ressaltar que o exemplo dos pais influencia bastante no modo como as crianças vão lidar com o dinheiro na vida adulta, pois de nada adianta uma boa educação financeira se os familiares não reavaliarem os seus hábitos de consumo. Fazer a criança entender a diferença entre querer, poder, precisar e merecer não é uma tarefa fácil, porém esse aprendizado fará toda a diferença em sua vida e os auxiliará, inclusive a entender os “não”, que ao mundo os dirá.
Precisamos todos entender que ser feliz requer um conjunto de ações e atitudes que vão desde uma boa alimentação, passando por atividades físicas regulares, cuidados com a saúde do corpo e da mente e que, essa última, está intimamente relacionada com a saúde financeira de cada lar. Pesquisas mostram frequentemente que quando a situação financeira de uma família entra em colapso, as relações familiares e sociais também se abalam.
Educar as futuras gerações para uma vida feliz e equilibrada é também garantir a sustentabilidade do planeta, que depende, entre outros fatores, do consumo responsável e do destino que damos ao lixo resultante do consumo excedente da sociedade moderna. Lembramos assim, que o caminho da educação é uma via de mão dupla e que tão importante, quanto deixarmos um mundo melhor para nossos jovens, é deixar jovens melhores, mais responsáveis e mais felizes para a nossa sociedade.
Em outra reflexão publicada no site, a autora já escrevia: “Quando nascemos não temos noções de ética ou valores definidos. É tarefa dos pais passar para os filhos uma boa educação que deve sim ser democrática, porém não permissiva e não perniciosa”.