Como textos também dialogam, promovemos aqui uma “conversa” entre dois gêneros discursivos, de dois escritores: a crônica, de Eládio Weschenfelder; e os microcontos, de Roseméri Lorenz. Afinal, se até os textos dialogam, por que todos não podem fazer o mesmo?
Em um mundo cada vez mais polarizado, a experiência dialogal torna-se artigo raro. Entretanto, sua prática é pilar fundamental na busca por uma sociedade democrática, mais justa e fraterna. Sendo assim, em uma época do ano em que a reflexão faz-se mais presente, optamos não só por apontar os problemas que nos rodeiam, mas por “esperançar” dias melhores, em que as soluções nasçam a partir de diálogos que respeitem os múltiplos pontos de vista.
Como textos também dialogam, promovemos aqui uma “conversa” entre dois gêneros discursivos, de dois escritores: a crônica, de Eládio Weschenfelder; e os microcontos, de Roseméri Lorenz. Afinal, se até os textos dialogam, por que todos não podem fazer o mesmo?
Que mundo é este?!
Por: Eládio Vilmar Weschenfelder
Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo mais vasto é meu coração. (Drummond)
O mundo da mitologia grega era dividido por três reinos e deuses correspondentes: Zeus, que dominava o céu; Poseidon, os mares; e Hades, o inferno, isto é, o submundo da vida e da morte. Lá havia o julgamento das almas em dois grupos: os justos e os ímpios. Os primeiros iam para os Campos Ilísios, mas os ímpios, ao Tártaro, onde eram terrivelmente atormentados.
Por outro lado, o mundo ocidental moderno parece estar livre dos domínios dos deuses gregos, já que se encontra nas mãos dos humanos. Quer dizer, saímos do mundo dos deuses – teocentrismo – e entramos no mundo onde o domínio parece estar sob o controle das criaturas humanas, isto é, nos trilhos do antropocentrismo.
Quando se fala de mundo, nos referimos primeiramente ao planeta Terra e a todas as coisas que existem nele, incluindo, é claro, os seres humanos, os animais, as plantas, os ecossistemas em geral, os múltiplos países e suas culturas. É um conceito amplo e abrangente que engloba tudo o que está no entorno. Nesse sentido, por enquanto, a referência é o Planeta Terra, querendo-se dizer que estamos no foco do geocentrismo, tanto que continuamos a nos referir ao sistema solar e ao universo em que vivemos. É o lugar onde ocorrem os fenômenos naturais, como o ciclo das estações, os movimentos dos astros e a existência da vida neste útero denominado Terra.
Se existe vida tão diversificada noutros lugares, cabe aos cientistas provarem.
O problema é que os homens se julgam muito poderosos, tanto que podem acabar com a vida nesse pequeno lugar em que nascemos e vivemos. Basta que os dirigentes dessa meia dúzia de países apertem os botões do juízo final, tal é o poder de destruição das bombas atômicas e outras ainda mais letais. Dizem por aí que, se uma Terceira Guerra nuclear e mundial houver, talvez sobrem algumas baratas cegas a vagar entre os entulhos. Que barbaridade!
Poderá haver outra forma mais discreta de destruição do Planeta Terra, também causada pelas mãos do Homo que se diz Sapiens. É por meio do aquecimento global. Basta observar as oscilações de temperaturas extremas, as secas inclementes (inclusive as que atingem os rios da Bacia Amazônica), devido às derrubadas das florestas, aos incêndios devastadores verificados em todos os continentes, as enchentes diluvianas, os tornados, tufões e furacões mundo afora. Isso sem considerar o derretimento das calotas polares e do gelo das cordilheiras. Mesmo assim, dê-lhe consumir combustíveis fósseis, aumentando a quantidade de gás carbônico no ar que respiramos.
Acesse também: O homem (MAN by Steve Cutts) https://youtu.be/RbpL5xGCXx8?t=137
Soma-se a isso tudo, a poluição dos mares, rios e lagos com lixo de todas as espécies, a aplicação de herbicidas e fungicidas nas lavouras, que produzem alimentos também contaminados. Os alimentos orgânicos estão cada vez mais raros e caros, aumentando, por efeito, as doenças, a fome e a pobreza de grande parte da população mundial já tão desassistida.
Quando se imaginava que a maneira de resolver as coisas entre as nações, a volta das guerras, da fome, do genocídio contra mulheres e crianças, vemos o absurdo das guerras entre Israel contra a Palestina, entre Ucrânia e Rússia, tendo-se a impressão de que estamos voltando ao tempo da barbárie em pleno início do Terceiro Milênio.
Quando criança, saudosamente lembro meus pais e professores, médicos e autoridades incentivando a vacina aos filhos, alunos e à população em geral, a favor da saúde e da alegria. Hoje muita gente desacredita do efeito benéfico das vacinas, acreditando nas pajelanças apregoadas e reproduzidas pelas fake news. Assim, velhas e erradicadas doenças voltaram a ceifar vidas de inocentes e incautos. Dá a impressão de que voltamos à Idade da Pedra, acreditando mais em falsos profetas do que nos cientistas e pesquisadores.
Colocando os pés no chão, os modernos meios de comunicação e entretenimento, por mais imparciais que desejem ser, não conseguem ocultar esse mundo contraditório dos conflitos militares com milhares de vítimas inocentes em pleno berço do Cristianismo, a derrubada das florestas, o aquecimento global e a destruição do Planeta Terra, que é a casa dos Homo Sapiens e das demais formas de vida.
Com certeza, isso não é um plano dos deuses. É um desatino dos Homo Sapiens inconsequentes.
Mas nem tudo está perdido, caros leitores, pois há movimentos como a COP20: Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que foi realizada em Baku (Azerbaijão) em novembro de 2024. Se a COP não alcançar os objetivos propostos, isso colocará ainda mais pressão sobre a próxima conferência, a COP30, que ocorrerá no Brasil. Após anos de discussões difíceis e tímidos avanços, será necessário um compromisso mais firme, com metas claras e uma implementação mais efetiva em defesa da natureza e, por efeito, da vida humana no Planeta Terra.
Lamentavelmente, o resultado da Rio+20 não foi o esperado. Os impasses, principalmente entre os interesses dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, acabaram por frustrar as expectativas para o desenvolvimento sustentável do planeta. O documento final apresentou várias intenções e jogou para os próximos anos a definição de medidas práticas para garantir a proteção do meio ambiente.
Belém, capital do Pará, sediará a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), em 2025. A COP é uma conferência global com representantes de centenas de países. O evento tem como principal objetivo conter as consequências da crise climática causada pelo ser humano.
Enfim, a COP constitui mais uma oportunidade valiosa de colocar a Amazônia como ponto de debate, bem como uma janela aberta para mudar a perspectiva conjunta de salvar os homens do planeta Terra da fome e da insensatez. Quem sabe, pensando e agindo assim, estaremos enveredando mais pelo caminho do antropocentrismo panteísta, pois em tudo está a obra de Deus, especialmente naquele que é feito à sua imagem e semelhança.
Acesse também: Panteísmo Como é?: https://youtu.be/79hdRfQnCjo?t=570
Autor: Eládio Vilmar Weschenfelder. Também escreveu e publicou no site “Da caverna à primavera”: www.neipies.com/da-caverna-a-primavera/
MICROCONTOS
Por: Roseméri Lorenz
Equívoco monoteísta
– Pai, onde está Deus?
– Deus mora no céu, neste imenso vale, no rio, nas árvores, em cada pedra desta montanha!
O menino cresce, derruba as árvores, aterra o vale, polui o rio, implode a montanha e, com a madeira e as pedras, constrói, no centro do vale, um imenso templo, tão alto que quase toca o céu. Tudo para honrar a Deus.
Cena natalina 1
Na Terra Santa, um casal foge. Uma criança nasce. Uma luz brilha no céu. Não, míssil não é estrela-guia!
Cena natalina 2
Na Amazônia brasileira, um casal Yanomani foge de garimpeiros armados. O demasiado esforço antecipa o parto. A criança chora. A mãe também, mas de fome. Estrela-guia?
Como seria possível vê-la em um céu coberto de fumaça?
Cena natalina 3
No subúrbio de uma grande metrópole, a chuva cai torrencialmente e a água vai levando tudo morro abaixo. Nos escombros da casa, um bebê nasce. Três homens aproximam-se.
Reis magos? Não, bombeiros.
A defesa de Pandora
– Se não me quisessem curiosa, por que me dotaram de tal dom? Em vez de me proibirem de abrir a caixa, tivessem me informado o que nela havia! – bradava Pandora, furiosa.
– Mas, pensando bem, isso será até benéfico à humanidade. Afinal, a busca por soluções para os males levará os homens à evolução. E ainda lhes restará sempre a esperança!
Autora: Roseméri Lorenz. Mestre e doutora em Letras pela UPF-RS. Atua como professora de Língua Portuguesa e Literatura nos ensinos médio e superior. Também já escreveu e publicou no site outras quatro publicações. Segue link de uma publicação sua no site: www.neipies.com/um-desafio-ao-escritor-e-ao-leitor/
Edição: A. R.
Bom dia, mestres Eladio e Rosemeri!
Obrigado pela síntese sobre a vida e os desafios, para a caminhada na terra!!
Excelentes reflexões nobres colegas.