Que tipo de revolucionário foi Jesus?

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Se antes corríamos o risco de colocarmos vinho novo em odres velhos, hoje há muitos odres novos, estratégias, marketing, estruturas eclesiásticas para todo gosto. Porém, o vinho está em falta. Os odres estão vazios. As igrejas estão cheias de pessoas vazias.

Quando se fala de revolução, pensa-se em uma insurreição popular, rebelando-se contra autoridades constituídas, depondo governos, provocando divisões, instigando o ódio e a revolta. E não é por menos. Basta uma rápida verificada na História para constatar isso. Toda revolução política teve seus presos políticos, seus torturados, mortos e desaparecidos. A guilhotina usada na revolução francesa não nos deixa mentir.

Porém, a revolução proposta por Jesus é de outra natureza. Aliás, a expectativa dos discípulos era de que Jesus promovesse um levante contra Roma e as autoridades judaicas que haviam se promiscuído com o Império.

Jesus propunha um tipo de revolução totalmente inversa ao que eles esperavam. Não uma revolução armada, mas uma revolução de amor. Existiria algo mais subversivo que o amor?

O Evangelho é, por si só, a mais subversiva mensagem jamais pregada.

Vejamos alguns exemplos de seu conteúdo revolucionário.

Sem dúvida, o mais subversivo sermão pregado por Jesus ficou conhecido como Sermão da Montanha. Enquanto o senso comum acreditava que felizes eram os ricos arrogantes, Jesus afirma que felizes são os pobres de espírito. Se para eles felizes eram os que gargalhavam nos banquetes dos palácios, para Jesus, felizes eram os que choravam.

Neste sermão, o Mestre Galileu propõe uma ética totalmente inversa àquela disseminada pelos mestres da época.

“Ouvistes que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. Eu, porém, vos digo: Não resistais ao homem mau. Se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra. E se alguém quiser demandar contigo e tirar-te a túnica deixa-lhe também a capa. Se alguém te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.” Mateus 5:38-41

Ora, se isso não é subversivo, o que é, então?

Não se trata apenas de pacifismo panfletário, mas de amor às últimas consequências.

“Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (vv.43-44). Não se trata de fazer vista grossa aos seus abusos e desmandos, mas de insistir em amar a seus inimigos, ainda que estes sejam desprezíveis, indignos de nosso amor.

Em momento algum, Jesus endossou o estilo de vida vigente à época. Seu compromisso não era com a manutenção do status quo, mas com a introdução de uma nova ordem de coisas onde o ser humano teria mais importância do que as instituições e tradições. Onde o sábado que era uma das instituições mais prezadas pelos judeus, teria sido feito para o bem-estar do homem, e não o homem para o sábado.

Jesus ajusta o foco de modo que possamos enxergar a vida dentro de uma perspectiva que possibilite uma relação saudável entre os seres humanos e o sagrado, sem fundamentalismos engessados.

Ele denunciou através de Seus ensinamentos a inversão de valores predominante naquela sociedade. Desferiu um golpe fatal no espírito consumista, colocando a avareza como oponente de Deus. “Ninguém pode servir a dois senhores. Ou há de odiar a um e amar o outro, ou se devotará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (v.24).

Em outras passagens, Ele demonstra que no Reino de Deus as coisas funcionam de maneira inversa ao mundo. No Reino quem quiser ser o maior, tem que ser o menor. Quem amar sua própria vida, acabará desperdiçando-a, mas quem se dispuser a gastá-la por amor de Cristo e de seu semelhante, a reencontrará.

Para Jesus, o Reino de Deus não seria uma realidade distante, algo a ser esperado para depois desta vida, mas a ser buscado hoje como prioridade absoluta. Buscar o Reino de Deus é buscar a justiça, a igualdade entre os homens, desejando que a vontade divina se cumpra na terra como no céu.

Ora, não há nome mais próprio para isso que subversão.

Infelizmente, a igreja cristã tem se promiscuído com o mundo, trocando os valores eternos do reino pelas propostas indecorosas feitas por um sistema apodrecido. Pastores, em busca de fama e reconhecimento, vendem-se e negociam os votos de seu rebanho.

Cristãos ajustaram suas crenças às agendas políticas e ideológicas, demonstrando maior lealdade aos poderosos que ao próprio Cristo. A verdade foi trocada por um prato de lentilhas, e pior, lentilhas podres.

Se antes corríamos o risco de colocarmos vinho novo em odres velhos, hoje há muitos odres novos, estratégias, marketing, estruturas eclesiásticas para todo gosto. Porém, o vinho está em falta. Os odres estão vazios. As igrejas estão cheias de pessoas vazias.

Creio que assim como a Reforma Protestante só aconteceu porque a igreja redescobriu o conteúdo subversivo das epístolas de Paulo, a Revolução acontecerá quando a igreja redescobrir o teor subversivo dos Evangelhos, principalmente do Sermão da Montanha.

Em vez de gastarmos nosso tempo pregando invencionices humanas, retornemos à mensagem do Reino e do Amor de Cristo. Em vez de uma nova Reforma Protestante, necessitamos sim é de uma Revolução Reinista, isto é, centrada no Reino, e não em estruturas denominacionais.

Autor: Hermes C. Fernandes. Também publicou no site a crônica “De que lado estou, afinal”?: https://www.neipies.com/de-que-lado-estou-afinal/

Edição: A. R.

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