Esperançar, na visão de Paulo Freire, significa se levantar, ir atrás, levar adiante e juntar-se com os outros para fazer de outro modo o que é preciso ser feito. É não se conformar com a situação caótica ocorrida e com as consequências que se está vivendo, fazendo diferente para não ver o processo se repetir.
São verbos que precisam os gaúchos, hoje, declinar, vivenciar, primeiro na mente e depois colocar em prática para reorganizar as vidas a partir dos estragos que ocorreram diretamente em duzentos e noventa e oito municípios, dos quatrocentos e noventa e sete que compõem o Rio Grande do Sul.
É preciso não desanimar e prosseguir sempre. Erguer o moral e seguir adiante, contemplando o infinito. Não esquecer que a mente humana, na esperança de dias melhores, tonifica o corpo e fortalece a alma dando coragem para avançar, na certeza de que unidos uns com os outros, se encontrarão as condições de vencer estes percalços do caminho.
Esperançar, na visão de Paulo Freire, significa se levantar, ir atrás, levar adiante e juntar-se com os outros para fazer de outro modo o que é preciso ser feito. É ser capaz de buscar o que aparentemente é inviável e buscar fazer o inédito. É não se conformar com a situação caótica ocorrida e com as consequências que se está vivendo, fazendo diferente para não ver o processo se repetir.
O sentimento de esperança ajuda a nos mantermos comprometidos com os nossos objetivos de vida. Nos dá motivação para continuar lutando e acreditar que a situação pode melhorar, dependendo da vontade pessoal do grupo e do planejamento correto da ação a ser executada e de como se organizar para tal empreendimento.
A esperança é o ponto central do planejamento das atividades para reorganizar os estragos da catástrofe. Os objetivos a serem atingidos devem ser claros; o programa de recuperação dos lares, das instituições sociais e dos espaços naturais de cada município tem que contar com a colaboração de todos os envolvidos através de seus legítimos representantes. As fontes de recursos financeiros, humanos e materiais precisam ser conhecidas, prevendo-se sempre o tempo de execução destas ações e o seu controle.
Urge, no momento, levar em conta a emergência do atendimento médico, psicológico e espiritual e da saúde mental dos que foram diretamente atingidos pela catástrofe e tratar, também, os efeitos colaterais dos medos, das incertezas e ansiedade das crianças, adolescentes, adultos e idosos, pois todos passam por processos profundos de dor pelas perdas materiais e humanas que ocorreram. O estresse pós-traumático precisa ser tratado adequadamente. Os planos de recuperação precisam incluir esta questão de saúde mental.
Outro grande problema resultante da tragédia climática é representado pelo lixo; são toneladas de entulho colocadas em lugares específicos de muitos municípios. Estas montanhas de escombros aguardam o trabalho da reciclagem.
Reciclar é o processo de reaproveitamento do material descartado que poderá ser reintroduzido na cadeia produtiva. Além de gerar valores com uma nova utilidade, ajuda a manter a preservação dos recursos naturais e poderá melhorar a qualidade de vida das pessoas envolvidas com esta atividade. Não se pode perder de vista a questão da possibilidade de reciclagem que vai resultar em novos recursos, de acordo com o princípio do 3R: reduzir, reutilizar e reciclar. Lembremos que o grande químico e filósofo francês, Antoine Lavoisier (1742 – 1794), após inúmeras pesquisas científicas, concluiu que na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.
Não resta dúvida que essas tragédias climáticas que estão ocorrendo em vários locais do planeta são resultantes do aquecimento global, provocado pela poluição do ar, da Terra, dos rios e mares e pelo desmatamento e uso indiscriminado de agrotóxicos. Cidades que, há alguns anos, foram atingidas por situações semelhantes a que ocorreu no Rio Grande do Sul agora nos mostram como se reconstruíram de forma mais adequada em relação ao meio ambiente e que devem servir de exemplo para reconstrução dos nossos municípios.
Temos que levar em conta a necessidade de respeitar a natureza, o meio ambiente, a paisagem natural, aprender a conviver em equilíbrio com a flora e a fauna. O meio ambiente, quando agredido pela ação do ser humano, vai reagir. O rio, por exemplo, volta na época das cheias para o seu leito natural. A árvore, que é um organismo vegetal que possui as funções da vida na escala inferior, através de suas raízes embaixo da terra, se espalha longe na busca da água e dos nutrientes que precisa para frutificar e produzir, pelos seus galhos, o fenômeno da fotossíntese, oxigenando o ar. Tudo está conectado em rede na vida.
A religiosidade básica, inata no ser humano, pois estamos ligados a Deus, o criador da vida, mais do que nunca, precisa ser acessada pelas pessoas atingidas diretamente por este processo de ver seus pertences e, às vezes, até entes queridos tragados pela água. O recurso da prece, da oração é o meio de nos conectarmos com as forças transcendentais da vida. “A alma, reconhecendo a sua fragilidade e pobreza de recursos específicos, busca o núcleo de onde partem as energias superiores para a preservação da vida e tenta sintonizar, mediante a prece, com as nascentes do bem inominado.
A oração brota do pensamento enriquecido do amor e de esperança, e busca o apoio e o conforto, a diretriz e a segurança provinda das regiões sublimes da Espiritualidade… No fragor das lutas, quando as dificuldades se fazem mais graves, a mente dispara o apelo a Deus, conforme é e se encontra, na expectativa do socorro que sempre virá. Orar é o ato de comungar com Deus”. (Livro: Vidas Vazias – Joanna de Angelis, Divaldo Franco, Ed. LEAL, página 95)
Comovente é percebermos a corrente de solidariedade que se levantou no Brasil e em outras partes do mundo para auxiliar os flagelados do Rio Grande do Sul. Tem se destacado a ajuda voluntária que demonstra que a humanidade está viva em nossas almas. O retorno gradativo à rotina diária vai se fazer com muito esforço, pois dificilmente será a mesma que as pessoas atingidas estavam acostumadas. A fraternidade deverá estar presente ainda por longo tempo, dando sustentação amorosa para que todos se sintam apoiados nesta nova etapa da vida. O amor ao próximo tem reunido muitas pessoas, até de religiões diferentes, a se unirem em grupo virtual para orarem pelas pessoas e famílias que estão fragilizadas.
Esperançar é vislumbrar, num futuro breve, os lares, as escolas, as indústrias, o comércio, os postos de saúde, os hospitais, as instituições religiosas. Enfim, a vida voltar a palpitar em cada rua, bairro, cidade: nos jardins, nos pomares, nas hortas, nos animais… O gaúcho voltará a cantar: -É o meu Rio Grande do Sul, céu, sol, sul, terra e cor, onde tudo que se planta cresce e o que mais floresce é o amor!
Autora: Gladis Pedersen de Oliveira – Educadora. gladispedersen@gmail.com Também escreveu e publicou no site “Depois da tempestade vem a bonança”: https://www.neipies.com/depois-da-tempestade-vem-a-bonanca/
Edição: A. R.