Não podemos ter o celular apenas como um vilão. Se, por um lado, o bom uso traz vantagens que beneficiam a todos, seja na escola, no trabalho ou na vida de cada um, é preciso estar alerta ao uso indevido e eventuais prejuízos decorrentes.
É cada vez maior o número de países onde a utilização do telefone celular em sala de aula sofre restrições ou é proibida, e, no Brasil, o tema voltou à tona recentemente. E não é assunto novo, pois, desde o ano de 2015 tramita no Congresso Nacional um projeto de lei que proíbe o uso de celular e de tablet em salas de aula dos estabelecimentos de educação básica e superior.
Dados do “Relatório Global de Monitoramento da Educação 2023″, divulgado no final do mês de setembro pela Unesco, Organização da ONU para Educação, revelam que França, Itália, Finlândia, Holanda, México e Estados Unidos já proibiram o uso do celular ou de redes sociais nas escolas, e que um em cada quatro países do mundo tem leis que com igual finalidade. No Brasil, há proibições pontuais em alguns estados e municípios, mas que restringem-se às suas escolas, não atingindo, por exemplo, escolas particulares. Desta vez, uma lei em nível nacional irá normatizar para todas as escolas brasileiras, e, em todos os níveis.
Lei nº 15.100/2025 agora proíbe o uso de celulares e outros aparelhos eletrônicos em escolas públicas e privadas do Brasil. A lei foi sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 13 de janeiro de 2025. A lei proíbe uso de celulares em todo o ambiente escolar, inclusive recreio e intervalo entre as aulas. No entanto, o uso é permitido em situações excepcionais como emergências, necessidades de saúde e para fins pedagógicos.
Levantamento do SUS mostrou que, no ano passado, a incidência de níveis elevados de ansiedade entre crianças superou a de adultos pela primeira vez, e, entre as causas, está o uso excessivo dos smartphones.
Na Inglaterra, as escolas que baniram os celulares em salas de aula tiveram melhores resultados em exames nacionais de ensino, além do que, citado por professores, a perda de foco dos alunos, as distrações, a exposição a conteúdos sexuais e violentos e o aumento de casos de bullying on-line também diminuíram.
Poderíamos ampliar a gama de consequências que usos indevidos provocam: aumento de consumo de medicamentos em faixa etária muito jovem, alguns transtornos de aprendizagem, desestímulo à memorização e consequente ocorrência de “preguiça mental”, perturbações ao desenvolvimento de área motora ao substituir a escrita por fotos e prints de conteúdos escolares e muito mais.
Porém, não podemos ter o celular apenas como um vilão. Há pouco tempo, em meio à pandemia de Covid, foi por intermédio dele que milhares de alunos e de escolas puderam manter as atividades de ensino à distância. Se por um lado, o bom uso traz vantagens que beneficiam a todos, seja na escola, no trabalho ou na vida de cada um, é preciso estar alerta ao uso indevido e eventuais prejuízos decorrentes, e, para isto, há uma série de movimentos resultantes em estudos e pesquisas na internet.
Há um questionamento que diz: “Você controla a tecnologia ou a tecnologia controla você?”
Se este é um desafio para adultos, imagine para crianças em seus primeiros contatos com o mundo fascinante dos smartphones. Porém, de pouco uso e desconhecida pela maioria de usuários, é a função “Bem estar digital e controle parentais” instaladas em aparelhos com tecnologia android e acessível a partir do ícone de configurações; para o IOS vá em “ajustes”. Ali, é possível monitorar quais os aplicativos mais utilizados e por quanto tempo, verificar sobre como está o uso em redes sociais, como pausar aplicativos quando atingirmos um tempo de uso (definido pelo próprio usuário), como reduzir interrupções, configurar modo de dormir e outras funções.
A minha proposta, caro leitor, é a de que você configure por um dia seu celular limitando o acesso a alguns aplicativos e, principalmente às redes sociais, para que ao final do dia possa analisar como foi a experiência. Só então, você terá condições de responder se controla ou é controlado pela tecnologia e vivenciar sobre o quanto é difícil abster-se do celular, e o mais importante: qual o seu grau de dependência, se é que há.
Poder conviver melhor com a tecnologia mantendo o foco no que realmente importa, ser capaz de se desconectar e alcançar um equilíbrio consciente entre a conectividade e a desconexão digital, tornam-se desafios para todos. A prioridade deve ser fazer com que os dispositivos e aplicativos que usamos diariamente estejam alinhados com nossas necessidades e façam parte de rotinas mais saudáveis, não nos expondo a prejuízos sociais, de aprendizagem ou de relacionamentos.
Agora, você já ouviu falar em nomofobia? Pois bem, trata-se de uma doença cada vez mais comum e pouco conhecida por este nome e caracterizada por quando você não consegue deixar o celular ou o computador de lado. Nestes casos, cuidado, você pode estar sofrendo de dependência do seu dispositivo eletrônico e os primeiros sintomas percebidos são estresse, depressão, tristeza, falta de sono e dificuldades em se relacionar. Em assim sendo, não espere o quadro agravar-se, procure ajuda, procure um psicólogo.
Recomendamos esta outra matéria sobre o assunto publicada recentemente no site: www.neipies.com/restricoes-do-uso-de-celulares-nas-escolas-o-que-pensam-professores-e-professoras/
Autor: César Augusto de Oliveira – psicólogo. Também escreveu e publicou no site “O mundo muda quando eu mudo…”: www.neipies.com/o-mundo-muda-quando-eu-mudo/
Edição: A. R.