Os alunos têm que entender a importância de realmente ler,
porque se você lê, ninguém te faz de bobo,
porque você tem o conhecimento.

 

Desde o lançamento do seu 1º livro “Missão Fênix”, na Bienal de São Paulo, em 2016, o carazinhense Roberto Cruz tem se destacado nacionalmente pela sua escrita, que movimentou o nicho da ficção policial. O escritor, formado em geografia, divide o seu tempo entre o seu trabalho em uma transportadora, atualizações na página Conexão Geoclima, participação em palestras e feiras – e a criação de um novo livro! Nessa entrevista você vai conhecer mais sobre o trabalho do autor e sobre a sua relação com a literatura.

 

Como começou a sua relação com a leitura e a escrita?

Eu comecei com a leitura tardiamente. Eu sempre gosto de frisar isso, porque eu não era um leitor na minha infância e adolescência, eu me tornei um leitor ao entrar na fase adulta – e graças a Harry Potter!

“As escolas não oferecem o que a gente quer ler, elas têm uma listagem de livros que somos obrigados a ler e, às vezes, você não pega o gosto pela leitura, se não tem o exemplo de casa”.

A escola é muito focada na diretriz, por mais que hoje em dia, felizmente, isso venha mudando. Quando eu descobri o tipo de livro que eu gosto de ler, descobri que livros são muito bons (risos). Com relação a escrita, no colégio eu já escrevia peças de teatro e isso já era uma espécie de autoria. Eu tenho quatro livros prontos na minha carreira recente e, desses, somente um foi publicado, os outros três estão engavetados e vão permanecer assim (risos).

 

Como aconteceu a publicação desse seu primeiro livro?

A publicação é uma coisa muito engraçada, porque a gente escreve e quer ser publicado, queremos que as pessoas leiam, só que ao mesmo tempo vem o pânico de se aquilo vai ser aceito ou não. O ser humano tem medo do “não”, e isso é uma coisa que eu coloco sempre nas minhas palestras, que “o não você já tem”.

Eu já não tinha um livro publicado (risos), eu corria o risco de receber um sim. Mandei o livro para uma editora graças a alguns amigos meus que disseram que eu tinha que mandar. Fiz uma pesquisa e encontrei a Editora Novo Século, que tem um selo chamado “Talentos da Literatura Brasileira”. Esse selo é exatamente para pessoas como eu, que nunca tinham lançado um livro e que estão entrando agora no mercado nacional. No site dizia que poderia levar até 3 meses para receber uma resposta, então eu enviei o resumo da obra às 9h30 e desencanei. Ao meio-dia recebi um e-mail pedindo o original, pensei os três meses passariam a contar a partir daí, mas, no outro dia recebi o contrato da editora para assinar, eles iriam publicar o meu livro. A literatura recebeu um boom de novos autores, principalmente na literatura fantástica, mas atribuo essa rapidez na publicação ao nicho de leitura que o meu livro preencheu, que é o da ficção policial.

 

O lançamento desse seu primeiro livro aconteceu na bienal do livro em São Paulo, em 2016, esgotando todo o estoque de livros! Como foi essa experiência?

Surreal! Uma bienal é uma cidade que só respira literatura. Ter um estande para fazer o meu lançamento, com sessão de autógrafos, em uma bienal do livro foi surreal. E ter esgotado o estoque dele na bienal foi uma vitória a parte também. Na bienal do Rio de Janeiro, que eu fui no ano seguinte, também esgotei duas vezes o estoque dos livros, nos dois finais de semana!

É muito reconfortante saber que o livro está se vendendo, que as pessoas gostam e procuram. Há uns dias recebi um e-mail de uma professora de história que comprou o meu livro na Bienal, dizendo que o ela passou a usá-lo nas aulas do segundo ano do ensino médio, que estuda a Segunda Guerra Mundial. Ela propôs que os alunos lessem o livro para dizer o que é real ou ficção dentro da história. Isso não tem preço, é muito fantástico!

O Missão Fênix envolve temas como a 2ª Guerra Mundial, o atentado de 11 de setembro, espionagens e terrorismo… Como você chegou até essa história que mistura temas antigos e atuais?

Eu estava escrevendo um livro de fantasia antes de escrever Missão Fênix e aconteceu o acaso de eu estar assistindo televisão, no domingo a noite, e ver uma entrevista do Edward Snowden no Fantástico. Eu assisti e pensei que alguém poderia pegar uma história sobre esses temas de espionagem e fazer um livro sobre isso, eu adoraria ler essa história. Mas era para alguém escrever, não eu (risos). Terminei de ver a entrevista e troquei para o History Channel, em que estava passando um documentário sobre o terrorismo. Depois começou a passar outro sobre a 2ª Guerra mundial e pós-guerra. Eu assisti aquilo e fui dormir.

No outro dia acordei com a linha do livro na minha cabeça. Por mais que eu sentasse na frente do computador para escrever meu livro de fantasia, eu só tinha o Bernardo (protagonista de Missão Fênix) na minha cabeça. Pesquisei muito sobre a Segunda Guerra e usei muito do meu conhecimento sobre geografia. Foi um ano e meio de trabalho para chegar ao final do livro.

E agora você já está trabalhando em um novo livro! O que você pode nos contar sobre ele?

Esse segundo livro vai ter como base a Guerra Fria, porque eu me pego pensando que se a guerra fria acontecesse hoje o maior problema não seria a bomba atômica, mas sim a guerra biológica, então é esse o pano de fundo da história. A pesquisa está sendo muito maior porque biologia não é o meu forte (risos). O livro não é uma sequência, mas vai manter alguns personagens de Missão Fênix, como o protagonista Bernardo.

 

Você também tem sido convidado para dar muitas palestras em escolas da região. Como é essa experiência de contato com os jovens?

Acho muito importante essa participação nas escolas. Tenho duas palestras voltadas para literatura, outra sobre guerras, voltada para a 1ª e 2ª Guerra Mundial; e outras duas sobre geografia. Eu estou indo muito em escolas porque as escolas são o nosso futuro. No que depender de mim, no que eu puder ajudar, vou estar sempre ajudando! Os alunos precisam entender que é possível sair de uma escola pública e lançar um livro em uma bienal, por exemplo. Dá trabalho, é um caminho árduo, mas é possível. Eles têm que entender a importância de realmente ler, porque se você lê, ninguém te faz de bobo, porque você tem o conhecimento.

 

Agora Carazinho tem uma Academia de Letras! Você fez parte desse movimento de criação, como aconteceu?

Tudo começou com a Secretária Sandra Citolin (in memorian). Éramos amigos e toda vez que ela me encontrava dizia “Roberto, nós precisamos criar uma Academia em Carazinho, é uma vergonha Carazinho não ter uma academia ainda”. E ela falava isso para muitos escritores da cidade, mas ninguém tomava a frente para fazer. Até que o Lúcio e o Lorival, da Biblioteca Pública começaram esse movimento. Foi um processo longo e de muita discussão para chegarmos ao estatuto final da academia, mas agora ela já está em processo de legalização.

É de uma importância ímpar a criação da academia, porque a partir dela vamos conseguir talvez mobilizar a comunidade para uma feira do livro, eventos sobre literatura, palestras…

Esse passo dado é um ganho cultural muito grande para a cidade. Esperamos poder colaborar como entidade para que as pessoas aumentem o seu gosto pela leitura ou que ganhem esse gosto. Queremos colocar o povo dentro da Academia e colocar a Academia na rua para fomentar a leitura.

Entrevista originalmente publicada na Revista Contato Vip, mês de junho de 2018.

A Revista Contato VIP circula desde 1993 na região norte do Rio Grande do Sul, sediada em Carazinho, RS. Em 2014 foi iniciado um projeto expansão e hoje a revista circula também na região Noroeste e em Passo Fundo. Veja mais. 

 

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