Na prática “se colocar no lugar do outro” permite que
você tome conhecimento de algo que vai além da sua percepção.
É se proporcionar entender o outro. Receber o que ele tem a contribuir,
mesmo que baseado na argumentação (e não em juízos de valor)
você tenha que desconsiderar quase tudo depois.

 

Sempre levo comigo um pouquinho de cada entrevistado. A profissão, assim como o diagnóstico da esclerose múltipla e a especialização em ciências sociais, abriu não só a mente, mas também os meus ouvidos. Em tempos que muito se quer falar, ter razão e impor verdades, fazer o exercício de escuta atenta é algo desafiador, mas magnífico e enriquecedor.

(Mesmo que algumas pessoas façam a gente desacreditar disso).

Ouvindo o outro você escuta o que ele disse, ao invés de escutar o que quer ouvir. Você aprende, você entende. Você discute. Tão demonizadas em períodos de bipolaridades políticas e religiosas, as discussões têm um papel fundamental na construção de novos saberes. Na construção de ideias coletivas, na construção de um mundo mais humanamente habitável e socialmente justo.

 

Saber falar, mas também saber ouvir

Setembro foi amarelo e destacamos a importância de ouvir e fazer a diferença na vida de quem tem pensamentos suicidas. Ao ser ouvinte você compartilha com a pessoa aquela vivência e se praticar a escuta de maneira empática, sem dúvidas saberá o mais adequado para falar naquele momento.

Inclusive se o mais adequado for apenas escutar.

 

Escutar faz a diferença

Não só para quem fala, mas para quem escuta. Quem fala divide posicionamentos, o que os argumenta, suas vivências, histórias, momentos felizes e até angústias. Viver nesse mundão capitalista e excludente não é nenhum pouco fácil e dividir deixa a carga mais leve. Talvez até crie laços importantes.

“E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia. Eu comecei a ouvir.”

Quando se bate um papo a ideia não é a disputa de quem sabe mais ou quem tem a razão, mas sim a construção do conhecimento. Seja ele para questões pessoais, emocionais, políticas, econômicas ou sociais. Dividir não precisa ser só com os nossos amigos pessoais, pode e deve ser também o feito com pessoas que temos menos contato.

 

Saber ouvir, mas também saber falar

Uma boa discussão, com sustentação de argumentos e de preferência sem ofensas e sarcasmo, resulta no que os filósofos chamam de Princípio da Acomodação Racional, também conhecido como Princípio da Caridade e que foi tratado por nomes como Donald Davidson e Willard Van Orman Quine. Esse princípio diz, basicamente, para tentarmos compreender o ponto de vista do nosso opositor em sua forma mais forte e persuasiva. Somente depois disso teríamos condições de examinar a sua avaliação ou posicionamento.

Você é uma dessas pessoas que está diante de alguém que fala com você, mas não presta atenção ao que ela está dizendo? Ou o contrário, você é a pessoa que fala e não te ouvem?

Na prática “se colocar no lugar do outro” permite que você tome conhecimento de algo que vai além da sua percepção. É se proporcionar entender o outro. Receber o que ele tem a contribuir, mesmo que baseado na argumentação (e não em juízos de valor) você tenha que desconsiderar quase tudo depois.

Mas não nos enganemos: saber ouvir não significa, por exemplo, acreditar nas justificativas (no mínimo) rasas dadas na votação que arquivou as denúncias contra o presidente Michel Temer.

Isso, meus amigos, nem com todo exercício de escuta atenta do mundo é possível encontrar sentido.

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