Desde a campanha presidencial,
uma cultura de culto ao ódio foi desenvolvida
e, agora, se cristaliza.
Passados seis meses do (des)governo Bolsonaro me pergunto sobre o inexplicável Brasil que parece gostar de amedrontar e sabotar a si mesmo.
O que temos visto é um presidente atrabiliário e peripatético: O que diz pela manhã está sempre sujeito a mudanças repentinas à tarde.
Na demência bolsonariana não faltou até mesmo a sugestão de armar a população para fins políticos, para acuar imaginários inimigos externos e o Congresso, no melhor estilo chavista, que tanto o ex-capitão critica. Seria ele um chavista de direita?
Desde a campanha, uma cultura de culto ao ódio foi desenvolvida e, agora, se cristaliza. Ele, e seus seguidores, tratam de repor o que nós temos de pior e que não foi superado ao longo do tempo.
O bolsonarismo surge das entranhas da nossa história de opressão, de humilhação. Um passado que nós estávamos buscando superar.
“Nossa sociedade conviveu com a escravidão e preservou, mesmo na contemporaneidade, uma espécie de ritual nacional de oposição às distâncias sociais, de gênero, de religião, de raça, quando na prática e no cotidiano as reitera”, assevera a historiadora e antropóloga Lilian Schwarcz, no livro Sobre o Autoritarismo Brasileiro.
O bolsonarismo representa esta execrável reiteração. Nestes seis meses, deixou claro que quer destruir a educação, as ciências, a cultura, o meio ambiente, as reservas indígenas, os direitos trabalhistas e das minorias, as leis de trânsito, a aposentadoria dos humildes.
De janeiro a junho Bolsonaro e seus ministros mostraram-se personagens de uma mediocridade tão ostensiva que disfarçá-la tornou-se impossível. Isto ecoou até no exterior. Os patéticos personagens bolsonaristas parecem odiar a inteligência ou com ela não possuir a mínima afinidade.
O ministro da Educação, por exemplo, conseguiu confundir o escritor Franz Kafka com um prato típico árabe. Se não bastasse, ao acusar Lula e Dilma de possuírem asseclas, os chamou de “acepipes”. Uau!!
O “ilustrado ministro”, não por acaso, quer acabar com as universidades públicas. Para quem é tão medíocre, a inteligência alheia deve ser estarrecedora.
Já a ministra da Agricultura, ao longo deste semestre, autorizou a liberação de mais de 230 pesticidas, a grande maioria condenada na Europa, por prejudiciais à saúde. Na Amazônia, em maio, a devastação bateu recorde. É o paraíso do veneno e da moto-serra!
Sérgio Moro, o “herói” do bolsonarismo, está em processo de desmoralização em decorrência da comprovação do que já era sabido até pelo reino mineral, isto é, seus capciosos julgamentos com viés ideológico inegável.
A forma como a economia está sendo conduzida deixa claro que continuará em estado letárgico. Os resultados pífios dos últimos meses, mostram a incompetência da equipe do Chicago Boy Guedes, que só pensa em ferrar os aposentados. A crise na economia é, acima de tudo, uma crise de inteligência estratégica.
Enfim, o (des)governo Bolsonaro tem se caracterizado por aprofundar a crise e a separação dos brasileiros em lugar de harmonizá-los.
A construção de uma sociedade civilizada não faz parte da agenda do “mito” e de seus asseclas (acepipes?), como diria o ministro da Educação.
Sou obrigado a me valer, novamente, de José Saramago: “ Não sou pessimista; a realidade é que é péssima”.