Como professor de Português e de Literatura há mais de três décadas, o tempo todo momento me concentro para definir o perfil e a função fundamental do(a) professor(a) em todos os seus níveis nesse início do III Milênio.
Há apenas duas opções: manter a tradição ou inovar. Tenho certeza de que educar é ensinar e educar. Ensinar a ler, escrever, calcular, fazer as coisas em função do bem e pensar sempre. Educar para a ética, para o senso crítico, para o bem comum, para enfrentar as dificuldades e para a busca da realização pessoal e profissional. No entanto, frente aos novos desafios científicos, tecnológicos, políticos, morais, econômicos, dentre outros, ensinar implica, sobretudo inovação. As novas gerações de estudantes clamam por um ensino que implique adoção de novas metodologias, ferramentas, linguagens, tecnologias e filosofias que lhes garantam mudanças no trato das relações interpessoais, profissionais, e, sobretudo interação com as novas tecnologias de comunicação e entretenimento.
Foi-se o tempo de um ensino autoritário, sisudo, impositivo, cognitivo, intransigente, monológico e repressor. Vide o texto machadiano intitulado Conto de Escola. Por outro lado, há que se apresentar uma escola com professores bem remunerados e capacitados profissionalmente, que se apropriem, moderadamente, das novas tecnologias em suas práticas letivas. Quero dizer que todas as áreas devem dialogar entre si, buscando alcançar coletivamente alguns parâmetros que lhes garantam sabedoria, discernimento, compreensão do mundo, preparando seus aprendentes para enfrentar os desafios desta nova era.
As novas gerações de estudantes clamam por um ensino que implique adoção de novas metodologias, ferramentas, linguagens, tecnologias e filosofias que lhes garantam mudanças.
Para tanto, os professores, quer sejam da rede pública ou privada, não podem prescindir de uma boa bibliografia (biblioteca familiar), cursos continuados de qualificação e aprimoramento, leituras de textos em múltiplos suportes contidos nos livros, jornais, revistas especializadas e nos ligados à grande rede de computadores.
A ciência tem alterado a vida humana em amplos sentidos, para além do que a Internet e a convergência tecnológica já estão fazendo. Vendo os grandes temas recentes: a utilização das célula-tronco embrionárias e a fecunda discussão sobre a origem da vida feita pelos juízes do STF, que promete regenerar órgãos humanos e ampliar o tempo de vida; os desequilíbrios climáticos, que tornam nosso mundo dependente do desenvolvimento da ciência para escapar do desastre da tecnologia destruidora do meio-ambiente, a perspectiva recente de que se há água em Marte, e que, em algum momento, houve por lá vida humana na cadeia de carbono, ou seja, vida como a nossa, a vertigem da globalização que operou a impensada irrupção da China e Índia como players do comércio internacional, superando as limitações do Estado comunista e Estado teocrático, a inesperada crise de energia e de alimentos, que tornou o mundo dependente da ciência e tecnologia, o despontar do Brasil como produtor de etanol, a nova forma de energia limpa, que aponta para, num futuro não muito distante, ser ele uma potência emergente por ter energia e áreas para produção de alimentos, as doenças endêmicas da humanidade, a crise política no Congresso, no Senado e nos governos dos Estados brasileiros, as drogas modernas, dentre tantos outros, temas que devem entrar em discussão no ambiente escolar.
Não é o que nós, das artes e da cultura, gostaríamos, mas a verdade é que o mundo está mais dependente do que nunca da ciência e, cada vez mais afastado das artes, da sensibilidade humana e da cultura. Razões de sobra para discutirmos a ciência no âmbito da cultura e das artes, dentre elas, a literária.
Por tudo isso avalio que poderíamos discutir não a formação do pensamento, posto que ele já está formado pela tecnologia, que é aplicação do saber científico, e pela ciência, e que, ao mesmo tempo em que alivia a dor e prolonga a vida, instaura as crises de energia e alimentos, ameaçando destruir o planeta, nos impondo uma ainda maior dependência das saídas urgentes que só a ciência pode dar à humanidade, mas também o sentido de nossa existência finita neste planeta. Diria que o grande tema poderia ser: arte-homem-ciência: vida e morte.