Sabe-se que todo o ser humano reflete; é isso que o diferencia das demais espécies animais. A reflexão é inerente à natureza humana. Ora, os professores como seres humanos têm capacidade para refletir. Desde o início dos anos 1990, a expressão professor reflexivo começa a aparecer no cenário educacional. A origem desta expressão disseminou confusão na compreensão de muitas pessoas, pois se todo o ser humano reflete porque falar em professor reflexivo? Esclarecemos que a reflexão aqui discutida não pode ser entendida como atributo natural da natureza humana, mas como um movimento teórico que busca a construção de uma identidade para o professor e de ressignificação do trabalho docente.
O conceito professor reflexivo emergiu nos EUA como reação à concepção tecnicista de educação, que tem reduzido a profissão docente a um conjunto de competências técnicas sem sentido personalizado, estabelecendo uma separação entre o eu pessoal e o eu profissional e gerando nos professores uma crise de identidade.
Este conceito induz à valorização do professor não só enquanto dotado de conhecimentos técnicos elaborados pela ciência, mas prima pela experiência e a reflexão na experiência. A reflexão não é um processo pessoal, implica a inserção do homem num mundo de valores, interesses sociais e políticos. A reflexão deve estar aliada ao contexto coletivo em que o professor encontra-se para não incorrer em uma individualização do pensamento docente. A mera reflexão pessoal na ação é insuficiente para a prática profissional. Por isso, o processo emancipatório constitui-se na libertação das consciências individuais a partir do sentido grupal. Esse movimento teórico de compreensão da prática docente coloca-o numa perspectiva emancipatória e de diminuição das desigualdades sociais, através do ensino e aprendizagem impedindo a apropriação banalizada do entendimento técnico da reflexão.
A reflexão do professor é um mecanismo de reestruturação da escola e de intervenção no cotidiano, que pode contribuir para a busca do aprimoramento da prática e da emancipação social. Pensar reflexivamente não é tão simples assim, pois abrange um estado de dúvida, perplexidade, dificuldade mental e principalmente um ato de pesquisa, busca da solução ou resolução da dúvida.
Refletir para agir autonomamente é o elemento fundamental deste século. O homem subjugado pela pobreza, desemprego, individualismo, drogas e espírito consumista procura encontrar-se a si mesmo a fim de recuperar sua identidade perdida. Diante desta situação interroga-se sobre sua condição no mundo. A esperança perdida, talvez, pela exacerbação da racionalidade técnica, questiona e discute os rumos da educação e da formação de professores. Percebe-se que o homem deste século é um inquieto questionador e aspira conquistar a liberdade e a emancipação próprias, parece querer reaprender a pensar.
A reflexão baseia-se no pensamento, nas atitudes de questionamentos e curiosidades em busca da verdade e da justiça, é uma lógica investigativa do sujeito pensante. A atitude reflexiva permite que nos sintamos mais sujeitos e menos objetos do sistema, proporciona a revalorização dos processos cognitivos e atende à dimensão humana de aprendizagem. A reflexão prima pela formação do sujeito, quer seja o professor ou o aluno, como pessoa que pensa e possibilita o direito de construir o seu saber, valoriza-se a experiência como fonte de aprendizagem, como processo de conhecer o próprio modo de conhecer e possibilita avaliar a capacidade de interagir, reconhecendo assim a capacidade de tomar às mãos a própria gestão da aprendizagem.
A escola não se configura como homogeneidade e os professores não são passivos às mudanças. Por isso, é necessário analisar e demonstrar as efetivas contribuições que a reflexão crítica pode proporcionar para a comunidade escolar. Pois, ela produz um discurso de preparar os educandos para a vida adulta com capacidade crítica em uma sociedade plural e, em contrapartida, essas finalidades são negadas pelo sistema tecnicista atual. Diante desse paradoxo os professores se sentem confusos e reduzem suas preocupações a problemas internos de sala de aula.
Na esteira da busca de novos olhares e pensares para a educação, vislumbra-se a contribuição teórica que prima pela postura e ação do professor como prático reflexivo, ou seja, como alguém que seja capaz de, na dinâmica de seu trabalho, sustentar uma postura de reflexão, que seja o fundamento da prática docente. Ela envolve a problematização das situações vividas em sala de aula e o pensar sobre elas, evitando o desempenho das atividades docentes como simples rotina. Pois, a postura diferenciada do professor, por meio da prática reflexiva pode gerar novas dinâmicas pedagógicas e suscitar novos mecanismos de mudança no trabalho da escola e no seio da sociedade.