Só uma aldeia inteira pode educar uma criança

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“É preciso uma aldeia inteira para se educar uma criança” (provérbio africano)

As crianças são o centro da educação. As crianças, no mundo inteiro, em diferentes culturas, países, nacionalidades e crenças, precisam da atuação direta de vários sujeitos sociais que colaboram diretamente na sua formação humana pessoal e profissional. Em grupos sociais de cultura indígena e africana, há uma compreensão mais ampliada de educação, quando se entende que todos os sujeitos da comunidade tem o direito e o dever de educar as crianças, em todos os momentos, aspectos e circunstâncias. Nestes grupos, a educação das crianças é compartilhada como responsabilidade conjunta, de todos os membros.

A aprendizagem na primeira fase da infância ocorre pela imitação. A criança aprende a andar, falar e reagir a uma provocação imitando o adulto presente na sua vida: pai, mãe, irmãos e demais pessoas a sua volta. Até por volta dos três anos é o período que mais acontecem sinapses no cérebro infantil pois a criança, com sua natural curiosidade, quer explorar e conhecer o mundo que a cerca e interagir com ele. O lar e a escola infantil exercem muita influência na formação emocional, psicológica, física e mental do infante.

É mais complexo do que se parece educar uma criança. Toda criança é envolvida desde sua tenra idade, por mãos, mentes e sabedorias de muita gente. Muita gente põe a mão na massa na vida de uma criança, mas a responsabilidade maior sempre será das famílias, que são a primeira e a maior referência educativa.

Ideal que os pais ou responsáveis se preocupem não só no desenvolvimento da dimensão intelectual da inteligência da criança, mas também da educação das dimensões emocionais, espirituais e morais, pois, é nesta fase que começa a se construir a identidade moral que estará concretizada até a adolescência. As regras devem ser simples, claras. Saber falar, no momento certo, de maneira afetuosa: Sim, sim. Não, não. Desde pequena ela já pode entender que para tudo há limites, que sofrer frustrações faz parte da vida.

SUJEITOS FAMÍLIAS: as famílias têm papel fundamental na construção do caráter e da personalidade de um indivíduo. No seio das famílias que as crianças têm o primeiro contato com a existência do outro e é onde elas desenvolvem noções de afeto e de solidariedade.  As famílias são, também, lugar de onde as crianças extraem relevantes princípios e valores éticos. Famílias acompanham a educação das crianças de forma permanente, nos diferentes estágios de desenvolvimento (crianças, adolescentes, jovens e adultos).

SUJEITOS AMIGOS E VIZINHOS DAS FAMÍLIAS: A convivência com amigos e vizinhos das famílias permite que as crianças desenvolvam a socialização, cultivem amizades, façam pequenas trocas, desenvolvam o espírito de colaboração e entendam a importância de outras pessoas na sua formação. Muitas famílias convivem com outras famílias de forma intensa, onde ocorre a colaboração e a ajuda no cuidado e na educação dos filhos e filhas. Neste caso, uma família é quase como que uma extensão de outra família, favorecendo uma educação mais ampliada e socializada das crianças.

SUJEITOS ESCOLAS:  As escolas têm destaque no processo de aprendizagem das crianças, sendo responsáveis por proporcionar conhecimentos científicos e sistematizados e permitir a convivência em coletividade, estimulando, assim, o respeito ao outro. As escolas e as famílias, nos primeiros anos de vida escolar, devem ser muito parceiras e próximas, uma vez que atuam fortemente na formação humana das crianças. Nos anos finais do Ensino Fundamental, as escolas exigem de seus estudantes uma maior autonomia e responsabilidades, tendo as famílias como alicerces da aprendizagem escolar.

SUJEITOS RELIGIÕES: Geralmente, a partir das famílias que se decide pela educação e vivência religiosa. Muitas crianças, seguindo o exemplo de seus pais, participam de vivências religiosas em templos e igrejas. As religiões, por sua vez, organizam momentos e espaços de aprendizagem e vivência da fé das crianças, seja através da catequese, de escolas dominicais, escolas de evangelização e de encontros específicos com as crianças. As religiões cuidam da educação da fé e da espiritualidade, cuja função consiste no entendimento da doutrina e dos ensinamentos religiosos seguidos por cada igreja ou cada religião.

SUJEITOS INTERNET E REDES SOCIAIS: Num mundo marcado pela tecnologia e pelo acesso livre e permanente das redes sociais, as crianças recebem influências na sua formação humana pessoal e profissional do mundo digital. Desde muito cedo, as crianças desenvolvem capacidades cognitivas importantes através dos jogos eletrônicos. Usam as tecnologias para se comunicar, fortalecem os laços de amizade através de conversas virtuais, recebem atividades educativas através de plataformas educativas.

A internet e as redes sociais são hoje importantes ferramentas na educação de crianças, sendo um dever dos adultos ensiná-las e orientá-las para seu uso de forma ética e responsável. Entretanto a comunicação virtual deve ser usada com critério e sob a orientação dos responsáveis. Ela não deve substituir a interação pessoal, olho no olho, o encontro presencial, o ouvir a voz do outro, conversar frente a frente, juntos, o aperto de mãos, o sorriso, a gargalhada, o brincar com o outro ou outros, criar vínculos fraternos.

SUJEITOS AMIZADES DE PREFERÊNCIA: As crianças e adolescentes vão aprofundando suas amizades, desde cedo, escolhendo-as por afinidade ou preferência. Destas amizades de preferência surgem os grupos específicos de convivência e de socialização das crianças e adolescentes, fundamentais para o reforço de suas identidades e suas decisões pessoais e coletivas. Surgem daí os grupos para encontros na praça, o lazer do final de semana, o grupo de amigos para festas ou saídas para diversão.

Como podemos perceber, os diferentes sujeitos sociais cumprem diferentes finalidades na complexa função de educar crianças e adolescentes. Todos estes sujeitos são importantes na formação humana integral e cumprem, junto com a família, função de ampliar os conhecimentos e vivências necessárias para o desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças e adolescentes. Deste modo, parece-nos consistente e importante a ideia de que é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança. Todos, de uma forma ou de outra, educamos e somos educados.

JESUS – uma referência de educação

Jesus é uma referência importante na educação. Sua pedagogia (seu jeito de ensinar e aprender) revela-se uma prática que contempla a liberdade e a responsabilidade como pilares da boa educação.

Quando criança, dos poucos registros que se tem, sabe-se que crescia em sabedoria e graça, com a participação, envolvimento e suporte de sua família. Maria, sua mãe, o educou com sua amorosidade e bondade. Seu pai, José, homem austero e digno, ensinou ao filho a sua profissão, a carpintaria, e o jovem menino, desde cedo, colaborava na manutenção e harmonia do lar. Seus pais não se descuidaram de lhe dar a orientação religiosa que abraçavam, o judaísmo. Eles frequentavam a sinagoga de Nazaré todos os sábados e o menino ouvia as explicações sobre a Torá, tanto que, aos doze anos, já discutia as questões religiosas com os Doutores da Lei, no Templo em Jerusalém.

Na fase adulta, Jesus, como mestre, utilizava a cátedra da Natureza para ensinar os preceitos da boa nova, sempre com naturalidade, muitas vezes utilizando-se do recurso da contação de parábolas para passar seus ensinamentos, o que facilitava a compreensão do assunto. Ele ensinava ricas lições a respeito da ética e do comportamento humano. Nestas histórias ele usava imagens singelas com coisas que eram habituais para aquelas pessoas e que, muitas vezes, não são valorizadas para despertar a atenção e a curiosidade.

Jesus nos alerta, como educador, que a Natureza é a maior fonte de equilíbrio para o ser humano, que estimula a elaboração de bons pensamentos, da razão ativa, da consciência participativa e da vontade de mudar, melhorar. Ele nos indica que aprender com a Natureza é o mais rico processo comparativo e de identificação divina.

A linguagem simbólica da parábola, que contava com os elementos que o povo conhecia na época – rede de pescar, a moeda de circulação, as sementes, os grãos, as pérolas, as figueiras, o fermento, os peixes, os pães – permanece até hoje, rica de conteúdo moral, orientando e salvando vidas.

Jesus ensinava e exemplificava, passava a sua mensagem impregnada de ternura, com alegria e era respeitado e ouvido. Falava sempre com palavras exatas, com significados profundos. Era paciente, instigava seus seguidores a observar a Natureza: “Olhai os lírios dos campo…” “Olhai as aves dos céu… “para que pudessem comparar essas situações com as preocupações da vida cotidiana, perceber os detalhes. Jesus, como educador, evitava discursos longos, abstrações filosóficas que exigissem muito da compreensão do ouvinte. 

O mestre Jesus “fala com sabedoria e ensina com amor”. Quando ensinava (ou fazia reuniões de pregação), sempre observava se não havia ninguém que estava sendo esquecido ou ignorado no meio da multidão. Nas suas abordagens, evitava o julgamento, mas levava as pessoas a pensarem sobre seus atos, como no caso da mulher adúltera (os sumo sacerdotes e os senhores da lei queriam colocá-lo à prova por conta da lei judaica). Sempre sugeriu que quem quisesse conhecer ao Pai, o seguisse, mas nunca impôs esta condição a ninguém.

Jesus teve a prática de incluir, de aproximar-se das pessoas para compreender seus sofrimentos, mas sempre propondo soluções que partissem da realidade de cada um e cada uma.

Podemos concluir que a prática educativa de Jesus era democrática, que respeitava as individualidades e o contexto de cada pessoa. Jesus acreditava no poder e na superação de cada pessoa e se colocava ao lado das pessoas que o procuravam (nunca acima e nunca como salvador da pátria).

Autores: Gladis Pedersen e Nei Alberto Pies

Edição: Alex Rosset

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