A educação é uma atividade maravilhosa, mas pede uma entrega. Nós temos que arriscar. Não podemos ficar esperando que a iniciativa venha do aluno. A iniciativa primeira tem de ser nossa. Há uma alegria enorme. No entanto, só é vivida por quem se entrega.
O Magistério propicia o prazer de ensinar, de ver o outro aprender com nossa mediação. Sabemos que é o outro quem aprende, cresce —por mais que goste de um aluno, não posso conhecer por ele- mas cresce com nossa ajuda. Isto traz uma enorme realização.
Preparamo-nos a vida toda para ser o profissional que somos hoje; dedicamo-nos a estudar, pesquisar, sistematizar determinada área do conhecimento humano, traduzí-la em plano de ação. Agora, na atividade de ensino, percebemos que aquilo que faz tanto sentido para nós, faz sentido também para outras pessoas, com as quais talvez nunca tenhamos nos encontrado antes.
Nada se compara com a satisfação de encontrar um antigo aluno e ouvir aquela carinhosa e significativa saudação: “Professor!…”. Neste momento, temos a certeza de que deixamos uma marca (ensino vem do latim insignare, pôr um sinal —signum—, marcar com sinal, dar a conhecer). Dessa forma, o magistério favorece a experiência radical de ser coautor da criação. O professor, assim, não morre jamais (Rubem Alves), exorcizando um dos medos do ser humano que é o anonimato, a insignificância.
Esta alegria só pode ser experimentada por quem se dedica, se entrega efetivamente ao ensino. Infelizmente, há professores esperando que primeiro os alunos se disponham, para que daí ele “faça sua parte”. Nós somos os adultos da relação, temos de tomar iniciativa, dar o primeiro passo.
Martin Buber (1878-1965), no livro Histórias do Rabi, tem uma colocação muito interessante: “O mestre orienta os discípulos e, nos momentos de depressão, os discípulos reorientam o mestre”. Isto é fantástico. Quem já foi resgatado por seus alunos em momentos difíceis de sua vida sabe o quanto esta afirmação é verdadeira. Todavia, isso só pode acontecer se houve uma entrega primeiro, se vínculos profundos foram criados com os alunos.
Como nos diz Fernando Pessoa (1888-1935): Para ser grande, sê inteiro: nada/Teu exagera ou exclui/Sê todo em cada coisa. Põe quanto és/No mínimo que fazes./Assim em cada lago a lua toda/Brilha, porque alta vive. Este poema remete à necessidade mergulhar, de se entregar àquilo que estamos fazendo.
A educação é uma atividade maravilhosa, mas pede uma entrega. Nós temos que arriscar. Não podemos ficar esperando que a iniciativa venha do aluno. A iniciativa primeira tem de ser nossa. Há uma alegria enorme. No entanto, só é vivida por quem se entrega.
VASCONCELLOS, Celso dos S. Alegria de Educar numa Perspectiva Crítica e Emancipadora. São Paulo: Libertad, 2023 (mimeo).
Autor: Celso Vasconcellos. Também escreveu e publicou no site “Sobre a potência da docência”: www.neipies.com/sobre-a-potencia-da-docencia/
Edição: A. R.