Sobre furacões

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Viver a experiência de furacões como força da natureza, como episódio violento na vida psíquica ou como resultado de decisões prepotentes de lideranças públicas irresponsáveis traz consequências maiores, menores ou irreparáveis. Não ficamos imunes ao surgimento de furacões em nossas vidas.

Há furacões físicos, nas previsões metereológicas, que assolam cidades e países, deixando atrás de si sinais de mortes. Há, também, outros tipos de furacões emocionais, que produzem desastres violentos, na vida psíquica das pessoas, tornando-as quase incapazes de cuidar de si.

E há uma terceira ordem de furacões assoladores na vida política das sociedades, povos e nações, cujas consequências podem ser imprevisíveis e desoladoras. Viveu-se essa experiência, desde as origens da vida civil organizada, passando por todos os descalabros de poder e de extermínio escravista, até o tempo das guerras modernas, culminando com a explosão da bomba atômica.

Na atualidade, quando imaginávamos que pudéssemos ter atingido um patamar superior, pelas conquistas dos avanços republicanos e democráticos, aliados às conquistas científicas e tecnológicas, presenciamos o espetáculo trágico de atitudes e ações discriminatórias e preconceituosas de diversos tipos raciais, religiosos, econômicos e políticos, de parte de governos, líderes partidários e supremacistas que desejam impor sua vontade por se sentirem privilegiados pela riqueza e a cor da pele que possuem. Esse cenário vulcânico é atroz!  E não tem Inteligência Artificial que resolva, uma vez que a inteligência natural é a responsável por guerras e genocídios, numa expressão refinada da maldade humana.

Como avaliar, qual desses tipos é o mais aniquilador, uma vez que todos resultam de ações e descuidos da humanidade, que destrói o planeta em que vive e mata com soberania os que julga inimigos e seres inferiores?!

Em suas diferentes escalas cíclicas, os furacões são temidos, por suas características e pela própria fragilidade do ser humano, que se depara com seus limites.

Tanto os furacões físicos, quanto os emocionais e os que atingem o ordenamento político são vertiginosos, enfurecidos, rompem obstáculos, produzem inundações, destruindo resistências e barreiras físicas, emocionais e morais.

Quais experiências e consequências podem produzir a passagem de um furacão por nossas vidas? Sabemos ou saberemos, verdadeiramente, quais serão nossas reações?

Ainda que possamos nos prevenir contra os furacões físicos, porque anunciados, tomando diversas medidas de proteção e cuidado, há pessoas e famílias que nem sempre conseguem chegar aos melhores locais, por absoluta falta de condições materiais. 

Em relação ao furacão emocional, que pode surgir de forma intempestiva, inusitada, imprevisível, ocasiona perplexidade nas pessoas atingidas, cuja perplexidade é robusta, diante do inesperado.

No que se refere aos furacões na vida civil, na ordem política, o mais grave é que se trata de escolhas e decisões dos mais fortes em riquezas e poder e que melhor sabem manipular o imaginário popular com mentiras e ameaças de toda ordem.

Viver a experiência de furacões como força da natureza, como episódio violento na vida psíquica ou como resultado de decisões prepotentes de lideranças públicas irresponsáveis traz consequências maiores, menores ou irreparáveis. Não ficamos imunes ao surgimento de furacões em nossas vidas.

Autora: Cecilia Pires. Este artigo foi escrito, quando estive fora do Brasil, em Miami, na Flórida, nos meses de setembro e outubro e resultaram essas reflexões. Também escreveu e publicou no site “A fala das águas”: www.neipies.com/a-fala-das-aguas/

Edição: A. R.

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