Sobre o ódio

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O importante é que se consiga combater a retórica do ódio, cuja intenção inicial é eliminar simbolicamente o inimigo. Sem esse interdito, a retórica será substituída pela prática, pela ação eliminadora dos que se interpõem aos objetivos dos que têm sede de domínio e de poder.

A quem servem as manifestações de ódio, discriminações e preconceitos? Quem lucra com a guerra cultural? Será que as pessoas imaginam estarem auxiliando nas mudanças sociais, destilando ódio, manifestações racistas e preconceitos de gênero? Atitudes deste tipo assemelham-se às águas poluídas, que transitam pelos corredores do convívio social, produzindo doenças e destruições.

Não é produzindo discursos falsos e raivosos, detratando pessoas, desrespeitando os poderes constituídos da República, que a Democracia irá avançar. Ambas, República e Democracia precisam de pessoas envolvidas com sua afirmação e legitimidade, de modo que seja possível o convívio com as diferenças entre os protagonistas no exercício dos poderes, a partir dos parâmetros da justiça, fundamentos da liberdade ética.

O direito à crítica é fundamental e deve ser garantido, tanto quanto a liberdade de pensamento. O que não se pode confundir, no exercício da liberdade de pensamento e de expressão, é o uso de recursos violentos, traduzidos em despejo de impropérios, calúnias, difamações, chegando à elaboração de planos para eliminar adversários, uma vez que não houve êxito em vencê-los.

Qual é o limite do ódio? Da intolerância? Do preconceito? Tem limite tudo isso? Ou, chegou-se a um momento, cujo desejo de poder e de domínio tangencia o perigo vulcânico, cujas lavas queimam tudo ao redor, resultando em destruições?

Que resultará do discurso de ódio, pronunciado para mobilizar as massas, conduzidas como rebanho? Um país melhor? Uma pátria livre?  Ou, escolheu-se viver, como se a esfera pública fosse um grande ringue, em que se estuda o próximo assalto para aniquilar o adversário? Embora saiba-se que até mesmo o ringue tem suas regras e o juiz ali está para evitar excessos entre os lutadores, não permitindo aniquilamento final.

O importante é que se consiga combater a retórica do ódio, cuja intenção inicial é eliminar simbolicamente o inimigo. Sem esse interdito, a retórica será substituída pela prática, pela ação eliminadora dos que se interpõem aos objetivos dos que têm sede de domínio e de poder.

Será preciso analisar os acontecimentos com a serenidade, a lucidez e a justiça necessárias, para que se possa chegar a uma equilibrada avaliação dos personagens e de seus atos, que prejudicaram a Nação. Importa tomar decisões com base nos valores democráticos, garantidos pela Constituição.


Autora: Cecilia Pires. Escreveu e publicou no site “Questões e reflexões sobre o corpo humano”: www.neipies.com/questoes-e-reflexoes-sobre-o-corpo-feminino/

Edição: A. R.

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