És livre na luz do Sol e livre ante a estrela da noite. E és livre quando não há Sol, nem Lua ou estrelas. És livre quando fechas os olhos a tudo que existe. (Khalil Gibran)
A professora Lourdes anunciou que a primeira aula daquela primavera seria sobre as 7 cores do arco-íris: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta, mostrando-as com papéis de seda colados em um cartaz. Aos alunos deu um corte de cada cor para serem colados no caderno. Destacou que também há a cor violeta, mas que não se percebe no arco-íris.
O exercício foi pintar 7 figuras, contemplando as 7 cores em separado, isto é, apenas uma cor para cada uma delas, evitando a repetição. A galerinha achou a brincadeira muito interessante e fácil.
– Moleza! Disse um dos meninos.
A partir da ordem de largada, ouvia-se a sonoridade dos lápis de cor, fazendo seus vaivéns. Até a diretora achou a sala estranha, pois nada se ouvia. Foi xeretear, vendo que todos estavam superconcentrados.
– Tão com tudo! Disse.
Em 15min, a tarefa estava concluída.
– Vão fazendo o acabamento, pois sempre fica alguma coisa para ser ajustada.
Todos postos em círculo, iriam discutir a nova experiência com as cores.
Pâmela, que fez a tarefa com rapidez, não se conteve e, saindo do seu cantinho, correu à professora para mostrar seu trabalho. Esta achou tudo bem-feito e pediu à menina que retornasse a seu lugar.
Lourdes, então, solicitou que todos mostrassem seus desenhos. Percebendo que a maioria pintou o sol de vermelho e o céu na cor amarela, questionou autores e autoras:
– Muito bem! Todos cumpriram suas tarefas. Porém, vejo que alguns e algumas estão mostrando o sol e o céu de modo diferente. Podem explicar, por favor!
– Há semanas que vejo o sol bem estranho, assim como o céu. Um aparece vermelho e o outro, amarelado.
– É mesmo! – a maioria concordou.
– Será por quê? – provocou a professora. E uma chuva de mãozinhas pediu para responder, pois tinham a resposta na ponta da língua. Assim ficou combinado que cada um explicasse o que está acontecendo com o sol e com o céu. Foram sete as explicações, uma a uma, enquanto a professora anotava o nome, pois a participação contava muito nas avaliações.
– Deu na TV. Fala que é coisa do aquecimento global.
– São os incêndios na Amazônia Legal, no Pantanal e em São Paulo.
– É, professora, estão pichando fogo em tudo!
– Também tem uma seca grande, né prô!?
– A fumaça e a poeira sobem, fechando os olhos do sol. Até parece que ele está ficando cego!
– Minha mãe falou que a água da chuva está preta de tanta cinza.
– Eu tô com medo, professora! A vó falou que é o fim do mundo! Será verdade!?
E o silêncio voltou silencioso. A professora respirou profundamente, pensou, imaginando uma resposta para que todos saíssem animados ao fim da aula sobre as cores. Lembrou o poema O Lutador, de Drummond, e lutou com as palavras, mesmo sabendo que faz um trabalho de formiguinha.
– Gente, olhem onde fomos parar! Vocês foram excelentes! Entenderam o que está acontecendo com a natureza. São profundas mudanças que muita gente vê, mas não entende. E foi interrompida mais uma vez:
– Isso é coisa dos homens e das mulheres, ou coisa de Deus!?
Que pergunta difícil, Laura! Eu penso que é coisa dos humanos. A maioria não sabe ainda como cuidar do Planeta Terra. Assim, estão acabando com o lugar onde moramos.
Foi daí que o sinal anunciou o intervalo.
Autor: Eládio V. Weschenfelder. Também escreveu e publicou no site “Lenda de São Sepé”: www.neipies.com/lenda-de-sao-sepe-tiaraju/
Edição: A. R.
Maravilhoso e bem explicado. Infelizmente estamos sofrendo com algo que nós pouco temos o que fazer.