Somos manipulados nas redes sociais

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Adoecer por manipulação só é factível a quem estiver cego para a realidade, e a cura lhes custará um alto preço. Mantenha-se saudável, converse mais e pessoalmente, brinque, caminhe, desligue-se um pouco da tecnologia.

Você já percebeu quantos aplicativos ao serem baixados pedem para acessar seu arquivo de fotos ou para ter sua localização? Ou então, que após pesquisar preços de webcam pelo google, estará recebendo nos próximos dias uma overdose de imagens e de preços desses produtos nos baners das telas que abrir?

Dia destes, um amigo indicou-me para assistir pelo Netflix o documentário “O dilema das redes”, onde engenheiros, programadores, e ex-colaboradores de Facebook, Google, Instagram, Twiter & Cia fazem relatos de suas criações para tais redes, a maioria em tom de arrependimento. A unanimidade é a de que estas ferramentas vieram para ficar, mesmo que após seu apogeu venham a ser substituídas, o que já aconteceu com Orkut, Friendster, iTunes Ping e outras redes pioneiras.

É estarrecedor ouvir no documentário que aqueles que pensam estar utilizando a rede (os usuários) são na verdade os “usados”, vendidos por centavos como mercadoria para o comércio virtual.

Fiz um teste: pedi para um adolescente buscar no Google a palavra “anime” – desenho animado japonês – enquanto que ao seu lado eu buscava a mesma palavra no mesmo Google. O resultado foi que, enquanto que para mim os sites referidos eram mais didáticos sobre o tema, para o adolescente (fã em assistir tais desenhos), o que mais apareciam eram sites vendendo animes. O Google reconheceu o perfil da conta do adolescente e colocou à sua frente o que lhe interessava, vender. Se você fizer o mesmo no Facebook, o feed que aparecerá em seu aparelho não será o mesmo de quem estiver ao seu lado pesquisando o mesmo assunto.

Voltando ao documentário, nele, o tema gira sobre o quanto tais redes – que paradoxalmente serviriam para reunir – acabam por dividir e polarizar desde condomínios a nações! Também sobre o quanto em tempos de pandemia estas serviram-se para espalhar e polemizar mentiras e desinformações, chegando ao ponto de, no Twiter, uma fake news espalhar-se seis vezes mais rapidamente do que uma verdadeira notícia.

Trazendo para o contexto da psicologia, muito mal estar é gerado a partir do uso desmedido destas ferramentas.

Discursos de ódio, de preconceitos, de ameaças, de soberba, de pessoas que vivem um mundo de aparências e que sofrem para sustenta-las, histórias de inveja, de concorrências injustas e absurdas que terminam por levar a esvair-se em lágrimas aqueles que conseguem chegar a um consultório de psicoterapia.

Refiro-me aos que conseguem pois há outros tantos que sequer percebem que estão adoecidos e em sofrimento! Levando uma vida por indução, consomem daquilo que não precisam, senão para tentar preencher um vazio, que de natureza existencial, não irá terminar por isso. São tristemente induzidos.

Há, é claro, muita coisa boa a ser acessada na internet; nossos critérios de escolhas é que devem estar voltados para o que nos possa ser construtivo, prazeroso ou mesmo de entretenimento saudável. Adoecer por manipulação só é factível a quem estiver cego para a realidade, e a cura lhes custará um alto preço. Mantenha-se saudável, converse mais e pessoalmente, brinque, caminhe, desligue-se um pouco da tecnologia. Simplesmente, viva!

Em outra reflexão, publicada no site, já escrevemos: “vamos com calma, pois dados estatísticos se prestam a interpretações. A verdade é que a procura pelo termo “divórcio online gratuito” cresceu 9900% no período de 13 a 29 de abril e a busca “Como dar entrada em um divórcio” teve aumento de 82% segundo dados divulgados pelo Google Brasil. Isso não quer dizer que o número de divórcios aumentou de forma absurda, mas sim, que há muitos casais insatisfeitos com seus relacionamentos e que tal procura por informações reflete apenas a realidade”. Leia mais aqui.

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