Tempo contado ou tempo bem aproveitado?

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Se há o tempo contado (Chronos), o do relógio, que nos impõe prazos que nos cobra e por vezes escraviza, há o tempo da oportunidade (Kairós), o tempo em que desfrutamos de qualidade.

Todo início de novo ano é oportuno que falemos de tempo. Todavia, não pretendo cair na vala comum daqueles que se limitam a queixar-se da falta de tempo, e vou explicar o porquê.

A mitologia influente no ocidente é a Greco-Romana, e é nela que encontramos o mito do deus Chronos, o qual, segundo uma profecia, um dia seria tirado do poder por um de seus filhos. Temendo isso, cada vez que um filho nascia ele o engolia. Quando o sexto filho (Zeus) nasceu a mãe enganou Chronos dando-lhe um pano para que engolisse. Uma vez adulto, Zeus – o sobrevivente –  deu uma poção ao seu pai e este vomitou todos os outros filhos, libertando-os e perdendo seu poder, cumprindo-se assim a profecia. Mais tarde Zeus teve um filho chamado Kairós.

Você já reparou que o instrumento chamado cronômetro (o qual serve para a medição do tempo) tem, na etimologia o nome do deus Chronos? Sempre que falamos em tempo somos compelidos a pensar neste contado em segundos, minutos, horas, dias, anos… como se fosse a única possibilidade.

Pergunto: se Chronos representa o tempo implacável – aquele que não perdoava os próprios filhos- então, por que se compadeceria de nós pobres mortais? É aqui que proponho a reflexão, pois os gregos tinham também outra definição de tempo. Para eles, o tempo Kairós era aquele que referia-se a um momento indeterminado em que algo de especial acontece, o tempo da oportunidade.

Veja a animação: Tempo Kairós x Chronos

Então, se há o tempo contado (Chronos), o do relógio, que nos impõe prazos que nos cobra e por vezes escraviza, há o tempo da oportunidade (Kairós), o tempo em que desfrutamos de qualidade.

Quem já não percebeu que, em situações desconfortáveis, de sofrimento ou de tédio, o tempo parece não passar nunca? E, do contrário, quando estamos em momentos agradáveis tudo parece passar tão rapidamente? O que precisamos aprender é como equilibrá-los, ou, em linguagem burocrática, como administrar o (s) tempo (s).

O homem filosofa sobre o tempo desde a antiguidade, basta lermos Sêneca (4 a.C) em sua obra ‘Sobre a brevidade da vida’ ou Cícero (106 a.C) em ‘Saber envelhecer’ que veremos tamanha sabedoria que parecem ter sido escritas nos dias atuais.

Também da antiguidade temos esta pérola bíblica em Eclesiastes: “Para tudo há uma ocasião, e um tempo para cada propósito debaixo do céu: tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou, tempo de matar e tempo de curar, tempo de derrubar e tempo de construir, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar, tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las, tempo de abraçar e tempo de se conter,
tempo de procurar e tempo de desistir, tempo de guardar e tempo de lançar fora, tempo de rasgar e tempo de costurar, tempo de calar e tempo de falar, tempo de amar e tempo de odiar, tempo de lutar e tempo de viver em paz”.

É com esta mensagem que deixo meu desejo de que em 2021 possamos valorizar mais nosso tempo e aproveitar as oportunidades que se nos apresentem. Feliz Ano de 2021!

Chronos é o tempo do relógio, linear, que se vive no dia a dia. Kairós é o tempo próprio, totalmente presente, um momento de plenitude. Kairós é o tempo vivido com entrega, que afasta o caos atrai a felicidade. Assista e descubra em qual tempo você vive.

Também pode ver as Três Percepções sobre o Tempo (Cronos, Kairós e Aion)

Autor: César A. R. de Oliveira

Edição: Alex Rosset

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