Todo racismo é abominável

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Não basta não ser racista. É preciso ser antirracista. Não é suficiente não ser violento. É necessário lutar pela construção da paz como sinônimo de justiça e equidade social.

O racismo é histórico e vigora intenso na sociedade brasileira. Ele se multiplica de muitas formas, desde as mais veladas e dissimuladas até as mais escancaradas e violentas, que asfixiam, sufocam e matam. Nos últimos anos, esta prática parece ter se evidenciado ainda mais. O racismo é um vírus perigoso e abominável que precisa ser estudado com profundidade e combatido pela raiz. 

A pessoa racista discrimina, segrega, exclui e barbariza as relações sociais. Ela vê o diferente como ameaça ou incômodo, como incapaz, sem valor, sem direito ou sem dignidade. O racismo faz mal não só para quem é atingido por ele, mas também para quem o pratica, embora o racista nem sempre o perceba. Toda expressão de racismo vem acompanhada de algum grau de perversidade.

Segundo Jessé Souza, “o aspecto principal de todo racismo é a separação ontológica entre seres humanos de primeira classe e seres humanos de segunda classe”[1]. Para o autor, no Brasil o racismo está associado à escravidão, questão essa que nos caracteriza enquanto nação e explica a existência de muitas mazelas, desigualdades e violências. Escravidão e racismo são dois lados da mesma moeda que ainda seguem impactando diretamente no funcionamento da nossa sociedade.

O racismo nega a identidade e fere a integridade do outro e o seu direito de ser do jeito que é. Não se trata de um acontecimento ocasional, mas de um fenômeno estrutural. É um problema social que se manifesta também por meio da indiferença diante do sofrimento do outro, da naturalização da miséria e da exclusão pelo fato desse outro ser de outra cor ou de outra origem étnica.

Não há racismo ingênuo ou de brincadeira. O que efetivamente acontece é que, muitas vezes, pela via da brincadeira ele também se consolida como se fosse algo natural. O racismo se sustenta na ideologia da supremacia racial, no mito da raça pura, nas tendências nazistas e neonazistas, na política de branqueamento e em outras expressões higienistas.

Existe o racismo ambiental, científico, cultural, institucional, pré-moderno, pós-moderno, neoliberal e com várias outras configurações. 

O racismo não é um assunto a ser tratado de forma isolada, mas como um problema sistêmico. Não adianta usar máscara e fazer isolamento social para enfrentar o racismo. Igualmente, não há medida mágica ou vacina pronta para imunizar-se contra ele. A questão é muito mais complexa.

Não basta não ser racista. É preciso ser antirracista. Não é suficiente não ser violento. É necessário lutar pela construção da paz como sinônimo de justiça e equidade social. A luta para superar o racismo precisa ser diária por parte de todas as culturas, etnias, credos, idades, gêneros, línguas, classes, enfim da sociedade em geral.

O avanço para um estágio em que haja respeito efetivo às diversidades identitárias requer o combate constante ao racismo e a promoção das políticas de igualdade racial. Para tanto, a educação é o principal caminho. As Leis nº 10.639/03 e 11.645/08 assim o exigem, estabelecendo diretrizes de uma educação para o respeito às relações étnico-raciais.

Ademais, é preciso também garantir que os racistas sejam responsabilizados por suas práticas, segundo a lei, em qualquer situação que o racismo venha a ocorrer. Se é possível aprender a ser racista, pode-se do mesmo modo aprender a ser antirracista. Mais que uma possibilidade, esta é uma necessidade, pois o racismo é abominável sob todos os aspectos!

A sociedade racista desenvolve mecanismos diversos – uns mais sutis, outros nem tanto – de restrição, limitação e exclusão social. Sujeita o indivíduo negro a barreiras que limitam ou bloqueiam suas condições de mobilidade social. Leia mais: https://www.neipies.com/racismo/

Autor: Dirceu Benincá


[1]. SOUZA, Jessé. A elite do atraso: da escravidão a Bolsonaro. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2019, p. 19.

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