Muitas coisas referentes ao passado de nosso rio Passo Fundo são difíceis de acreditar. A começar que se dava alguns mergulhos nele e um que outro peixe se pescava. Aos poucos, os peixes começaram a não ser mais peixes. Eram coisas que nem sabíamos definir. E a velha ponte foi coberta por outra, mais larga e sem significado algum.
Na minha infância, junto com meus irmãos e mais alguns vizinhos, construímos uma tosca canoa de difícil manobrabilidade e de fácil afundamento. Por medida de segurança, fixamos dentro da canoa, amarrada por uma corrente, uma boia feita de rolha.
No primeiro dos inúmeros desastres náuticos que viriam a se repetir, quando a água começou a tomar conta, o mais afoito de nós agarrou-se à boia e jogou-se na água. Óbvio que a rolha escorreu por entre seus braços e permaneceu presa pela corrente. A canoa acabou não afundando, e o único que se salvaria acabou sendo o único a naufragar.
Era difícil andar de canoa no rio, porém, quando ele alagava, a criançada imaginava navegar num oceano. Dava inclusive para passear de canoa por baixo da ponte e, forçando bastante a imaginação, ter-se a sensação de andar no rio Sena conforme visto em desenhos e fotos.
Sim, o rio Passo Fundo já teve uma ponte construída à imagem e semelhança das pontes de Paris. Construída com pedras fixadas com cimento vindo da Inglaterra, pois aqui não havia, apresentava três arcos e quatro pilares. Em sua amurada foram colocados quatro candelabros de ferro para a iluminação.
Quando intendente do município, entre 1926 e 1928, Armando Araújo Annes promoveu sua construção com base nas recordações do período vivido em Paris no início do século XX. Ele nascera e vivera a maior parte de sua longa vida às margens do rio. Gostava dele.
Muitas coisas referentes ao passado de nosso rio são difíceis de acreditar. A começar que se dava alguns mergulhos nele e um que outro peixe se pescava. Aos poucos, os peixes começaram a não ser mais peixes. Eram coisas que nem sabíamos definir. E a velha ponte foi coberta por outra, mais larga e sem significado algum.
Continuo morando próximo ao rio. Sou um ribeirinho. E contínuo tendo no meu coração aquele rio navegável, habitado por peixes de verdade, engalanado pela ponte de pedra de três arcos e quatro candelabros.
Dia desses fiquei feliz: vi meu amigo Schneider junto ao rio. Festejava Iemanjá com uma braçada de flores: as brancas pediam a paz e as vermelhas, o amor. Amor ao nosso rio de infância.
Autor: Jorge Alberto Salton