“Não há educação fora da relação com os outros.” (Antônio Nóvoa)
Muitos já profetizaram o fim da profissão docente. Ocorre que a tecnologia, as novas modalidades de comunicação em tempo real propiciam acesso a informações e conhecimentos inéditos, o que considero muito positivo, uma vez que ultrapassam barreiras de diferentes espécies, nivelando saberes. Isso, entretanto, não dispensa nem substitui a presença do professor que interage, analisa, compõe e propõe a perspectiva crítica e autônoma no desenvolvimento racional, afetivo e espiritual do estudante.
O apagão de professores e os prognósticos nada animadores para os próximos anos, em decorrência da não opção por cursos de licenciatura indica que, em breve, será necessário pensar novas opções para trabalhar com os estudantes que estão chegando aos bancos escolares.
Trata-se de um problema grave a ser enfrentado não apenas por governantes, mas pela própria sociedade. Antes que se pense em privatizar a educação pública e entregá-la a corporações mais interessadas em lucrar e/ou preparar vítimas a serviço dos donos do capital, urge pensarmos alternativas de encantamento, engajamento e transformação da visão atual da profissão docente.
Visto que não há grandes esperanças de uma valorização econômica a curto prazo, muitos docentes vão desistindo da profissão e, pouco a pouco, vão partindo para outras esferas do mundo do trabalho, com alternativa de renda pessoal. Resta, então, pouco tempo para pensar a práxis docente, dedicar-se à própria especialidade e interagir com outros educadores, em busca de qualificação pessoal e coletiva.
Os pouquíssimos cursos que restam com a finalidade de preparar professores demonstram fragilidade e teimosia. A fragilidade de não conseguir encantar jovens que se decepcionam a cada estágio realizado nas escolas, sentindo já na pele as forças destruidoras de práticas que envenenam a água bebida com amargor, desrespeitados desde antes de serem efetivamente educadores. A teimosia fica por conta dos formadores que, apesar de tudo, mantêm a crença da necessária profissão, sem a qual as próximas gerações parecem estar ameaçadas a tornarem-se reféns de ideologias recheadas de anti-humanismo.
Em minha experiência em sala de aula, com futuros professores, tenho tentado apresentar-lhes as dinâmicas do ser educador, apesar e para além da noite que vivemos. Parto sempre da perspectiva do professor como uma pessoa.
É gratificante acompanhar os primeiros passos de quem está a caminho de configurar-se como profissional da educação e, na justa medida, insisto que centralizem seu agir na humanização, desenvolvendo resiliência para superar as insuficiências. Há momentos em que respondo suas perguntas com um “não sei”. O susto é grande. Imaginam que nós- que estamos velhos- saibamos tudo? Mas se a beleza consiste justamente em duvidar, repensar, recomeçar…
Vejo, com entusiasmo, surgir entre nós professores que, além de jovens têm ganas de ensinar. Inovadores, criativos, críticos, sensíveis às demandas dos estudantes preparam com esmero as aulas, preocupam-se em dar o melhor de si, quem sabe na ânsia de dizer-nos que nem tudo está perdido, que ainda vale a pena dedicar tempo em escutar suas demandas e auxiliar, na medida do possível, para que ‘peguem a manha” de ensinar.
Oxalá, somente as “manhas” boas. Na semana do (a) normalista, um pensamento aos promissores educadores do amanhã: “você é um minuto necessário no relógio de Deus”, por demais necessário. O presente e o futuro esperam por você. Não desista, não desistam. Parabéns às (aos) normalistas, logo mais, nossos colegas –e para muitos-grandes mestres.
Autor: Prof. Dr. Rogério Ferraz de Andrade. Secretário Executivo do Regional Sul 3. Este site já publicou também outra reflexão sobre a escola com o título “A máquina de resolver problemas”: www.neipies.com/a-maquina-de-resolver-problemas/
Você sabia que o estado gaúcho é o que mais concentra afrorreligiosos no país? Segue publicação com sugestões de atividades com estudantes do Ensino Médio.
Em agosto de 2021, publicamos na Plataforma Religião e Poder um conjunto de análises com base no Censo de 2010 e no Instituto Datafolha, que, em 2019, atualizou as informações do último recenseamento. Neste texto, inauguramos uma série de artigos que destacam alguns dos elementos mais interessantes encontrados nesses dados. Aqui buscamos explicar um fenômeno curioso: um maior percentual de afrorreligiosos no Rio Grande do Sul, superando os números deste grupo religioso em estados como a Bahia e o Rio de Janeiro.
Por que o Rio Grande do Sul, que tem o segundo menor percentual de população negra do país e uma forte influência das imigrações europeias, é o estado com o maior número de pertencentes a religiões de matriz africana do país?
Em território gaúcho, os habitantes autodeclarados pretos e pardos constituem cerca de 16% da população total do estado, segundo o Censo de 2010. Também na região dos pampas, os afrorreligiosos somam 1,48%. Na Bahia, onde há predominância massiva de pretos e pardos na população (76,5%), os pertencentes às religiões de matriz africana formam apenas 0,34% dos religiosos do estado. Não há, portanto, uma relação direta entre a maioria demográfica negra e a prática afrorreligiosa.
Segundo o antropólogo Norton Correa (2007), existem cerca de 30 mil terreiros em todo o Rio Grande do Sul, com maior concentração no município de Porto Alegre. O também antropólogo Ari Pedro Oro (2012), exibe dados do Censo do IBGE de 2000, em artigo, e mostra que desde essa época o estado já liderava, no país, a proporção de autodeclarantes pertencentes a essas religiões. Afrorreligiosos representavam 1,62% da população gaúcha, enquanto o Rio de Janeiro tinha 1,31% deste grupo e a Bahia, apenas 0,08% de habitantes assim autodeclarados. No Censo de 2010, eram 1,48% do Rio Grande do Sul, 0,89% do Rio de Janeiro e 0,34% da Bahia, o que mostra declínio nos dois primeiros estados e um aumento na Bahia. A média nacional, em 2000, era de 0,3% da população, já em 2010, representavam 2% de todo o país.
Entretanto, há uma controvérsia envolvendo essa questão: para Ricardo Prandi (2003), muitos seguidores de religiões afro-brasileiras se declaram católicos, o que de certa forma mascara os números verdadeiros. Oro também defende em estudo que eles são maiores.
De qualquer forma, o que explica esses números, maiores no Sul do país quando comparados a outros estados? Vários são os motivos explicitados por Oro.
Em primeiro lugar, há uma “aceitação da alteridade religiosa” no Rio Grande do Sul (ORO, 2012) , dado que há uma grande diversidade cultural entre os povos que formaram originalmente e compõem atualmente o estado, o que viabiliza uma convivência religiosa um pouco mais harmoniosa. Embora não seja totalmente pacífica, esta relação baseada numa certa valorização da diversidade foi, no Rio Grande do Sul, anterior às outras partes do país. Isso se deve, principalmente, ao luteranismo (vertente cristã evangélica), admitido na região em 1824, cuja doutrina deu espaço para que indivíduos de outras religiões também se manifestassem livremente
O segundo motivo para Oro é que há uma tradição dos indivíduos afirmarem socialmente as suas opções, entendendo que elas geram identidades tanto políticas, quanto religiosas ou ideológicas. Isto gera tensões na sociedade, mas também faz com que os indivíduos expressem sua identidade.
O terceiro motivo para o autor é que, no estado gaúcho, as religiões afro-brasileiras são menos estigmatizadas, quando comparado a outros lugares. Isto favorece a livre manifestação de todos os credos. Um fato que contribuiu para a legitimação dessas religiões no cenário social, até certo ponto, foi a adesão de indivíduos de origem étnica distinta, como os brancos, que atuam não só como simpatizantes ou membros, mas também como líderes religiosos. Este elemento fez com que os estigmas relativos à religião diminuíssem, permitindo assim que seus membros, nas palavras de Oro, tendam “menos a se esconder atrás do sincretismo católico e mais a expressarem socialmente este seu pertencimento religioso”.
Dessa forma, entende-se que, não necessariamente, o Rio Grande do Sul apresenta a maior concentração de pertencentes às religiões afro-brasileiras, mas sim, há maior liberdade entre sua população para afirmar seus credos, independentemente de qual seja, com menor possibilidade de sofrer estigmas ou ser alvo de preconceito.
Autores:Matheus Pestanaé cientista político, doutorando em Ciência Política (UERJ) e pesquisador no ISER. Gabrielle Abreu é historiadora, mestra em História Comparada (UFRJ) e pesquisadora no ISER.
Referências
CORREA, Norton. O batuque gaúcho. História Viva. Cultos Afro, v. 12, n. 3. . p. 56-57, 2007.
PRANDI, Reginaldo. As religiões afro-brasileiras e seus seguidores. Civitas, v. 3, n. 1, p. 15-34, jun. 2003. Disponível aqui.
ORO, Ari Pedro. O atual campo afro-religioso gaúcho. Civitas, vol. 2, n. 3, p. 556-565, set-dez 2012. Disponível aqui.
Reconhecer e promover as diversidades culturais e religiosas como elementos de convivência fraterna e dialógica.
“A escola, lugar de interação social, de representação e representatividade, de aceitação, de respeito e de pluralidade cultural e religiosa, acolhe indivíduos das mais diversas origens. Além de promover o estudo e o reconhecimento das tradições religiosas, valoriza os saberes tradicionais e a ancestralidade, colabora para melhores entendimentos sobre a diversidade religiosa, cultural e étnica do Rio Grande do Sul.
O conhecimento das diferentes religiosidades e as diferentes formas de crença contribuem para desconstruir preconceitos na âncora do conhecer para respeitar. A educação, ao almejar o pleno desenvolvimento humano, não pode omitir o conhecimento, o estudo e a pesquisa das religiosidades, dos fenômenos religiosos, como manifestações espirituais.
O acesso e a apropriação dos conhecimentos das religiões, dos saberes tradicionais, da ancestralidade e das filosofias de vida possibilita o exercício do respeito e da superação dos preconceitos e discriminações. Ao conhecer as tradições religiosas, os/as estudantes compreendem como elas implicam a formação cultural dos povos, como impregnam valores, moral e ética aos modos de vida das diferentes nações e povos.
(Recortes de texto específico do Ensino Religioso, Referencial Curricular Gaúcho do Ensino Médio aprovado pelo Conselho Estadual de Educação no dia 20 de outubro de 2021, conforme Parecer CEEd Nº 003 que, “institui o Referencial Curricular Gaúcho para o Ensino Médio – RCGEM)
Habilidades Ensino Médio RS:
(EM13CHSA207RS) Analisar e reconhecer as relevantes contribuições culturais e religiosas dos povos indígenas, africanos e afro-brasileiros para a história e a cultura.
(EM13CHS501) Analisar os fundamentos da ética em diferentes culturas, tempos e espaços, identificando processos que contribuem para a formação de sujeitos éticos que valorizem a liberdade, a cooperação, a autonomia, o empreendedorismo, a convivência democrática e a solidariedade.
Com estes propósitos, realizar estudos com estudantes sobre a Influência das religiões de Matriz Africana na história do RS. Após estes estudos, se possível, fazer palestras com acadêmicos ou estudiosos das tradições africanas, ou mesmo com pessoas praticantes destas religiosidades.
Relato breve de uma atividade realizada
Em Passo Fundo, no dia 23 de outubro de 2024, no Instituto Estadual Cecy Leite Costa, estudantes das primeiras séries do Ensino Médio puderam ouvir, em forma de palestra, Ipácio Carolino, sacerdote de Nação e pai de santo de Umbanda. Além de praticante, Ipácio também é acadêmico do Curso de História da UPF (Universidade de Passo Fundo) e ativista de direitos humanos.
Seguem registros fotográficos da atividade realizada no Instituto Estadual Cecy Leite Costa, em Passo Fundo, RS.
Cada pessoa que cruza nosso caminho traz lições. Algumas nos ensinam, outras aprendem conosco.
Com os ingratos, aprendi que o bem que fazemos é nossa recompensa, enquanto a gratidão é um bônus raro. Onde há bondade, não se cobra reconhecimento. O bem pode ser esquecido ao menor deslize, sendo tomado como dever, enquanto o erro é visto como atestado de caráter. Ainda assim, vale a pena fazer o bem, mesmo que poucos reconheçam.
Com os orgulhosos, aprendi o valor da humildade verdadeira, que não significa diminuir-se, mas reconhecer suas limitações.
Com os difamadores de plantão, percebi que justificativas são inúteis para quem deseja apenas manter sua “superioridade moral.” Na raiz da difamação, está a inveja — incomodam-se mais com nossas virtudes do que com nossas falhas.
Com os invejosos, entendi que minha própria ostentação pode ter alimentado o ressentimento alheio.
Com os considerados mentirosos, aprendi que, muitas vezes, a mentira surge da pressão que fazemos para que as pessoas revelem o que preferem guardar para si. Não é sempre falta de caráter, mas uma defesa.
Com os interesseiros, entendi que dizer “não” é um filtro poderoso: fica quem realmente se importa conosco, não com o que podemos oferecer.
Com os desafetos, aprendi o valor de um inimigo franco comparado a um amigo desleal.
Mas, sobretudo, aprendi com aqueles que foram leais, presentes mesmo quando eu nada mais tinha a oferecer. Aprendi que o amor supera qualquer decepção e que, apesar das desilusões, vale insistir em amar. A vida, nosso maior professor, ensina que o amor é a lição suprema.
É importante entender a docência como um trabalho real e não idealizá-la. Saiba quais os principais desafios que os educadores têm enfrentado e possíveis caminhos para superá-los. Veja matéria da NOVA ESCOLA, assinada por Carol Firmino.
A frase “nem todo herói usa capa” é um daqueles clichês que frequentemente se utiliza para definir o professor da Educação Básica no Brasil, em especial na rede pública. Peça-chave no processo de ensino e aprendizagem, sua atuação quase sempre extrapola a sala de aula, a exemplo dos anos de pandemia, quando muito se falou sobre a determinação e a resiliência desses profissionais para manter crianças e adolescentes estudando.
De fato, o trabalho dos professores nesse período pode ser comparado à jornada do herói em um filme de ação: eles se reinventaram, criaram novas rotinas e resgataram os alunos que precisavam de apoio. No entanto, interpretar o magistério como uma missão divina implica em negligenciar dificuldades presentes no dia a dia. Algumas se arrastam por décadas, como lacunas na formação inicial e continuada, baixos salários e necessidade de jornadas múltiplas, o que muitas vezes acarreta problemas de saúde mental e contribui para a baixa atratividade da carreira docente.
Para Andréa Gouvea, professora do Núcleo de Pesquisa em Políticas Educacionais (Nupe) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), esses obstáculos fogem de soluções individuais, pois representam demandas institucionais.
“Vivemos um momento de muita pressão sobre os professores. Espera-se que eles reajam no sentido de ter autonomia e resiliência para resolver as questões, mas nem sempre há condições para isso. São [problemas] estruturais que a gente conhece há muito tempo.
Para saber mais sobre esses desafios da carreira docente, NOVA ESCOLA traz as histórias de quatro professores da rede pública brasileira. Os relatos de Lígia, Roberta, Marcella e Guilherme se conectam pela necessidade e urgência de políticas que valorizem a profissão docente.
Desafios de uma novata
Lígia Veiga Santos é professora adjunta na rede pública de Santos (SP). Ela, que concluiu o curso de Biologia há cinco anos e formou-se em uma graduação semipresencial de Pedagogia em 2023, conta que o “chão da sala” tem revelado situações desafiadoras. Lígia fala do Atendimento Educacional Especializado (AEE), que, para ela, requer total envolvimento e aprendizado por parte do professor. “Não vejo que estamos preparados para proporcionar um ambiente 100% inclusivo. Então, nesse caso, considero que participar de formações continuadas é muito importante.”
Além disso, a ideia de que a escola é um organismo vivo e dinâmico, como ouvia nos relatos durante a graduação, se confirmou. “Todo dia é uma coisa diferente, é a vida acontecendo naquele espaço, independentemente dos professores e de quem mais trabalha ali”, relata. Diante disso, a professora acredita que não importa o quanto se estude sobre condições socioeconômicas, educação inclusiva e realidade das escolas no Brasil. “Cada região, cada bairro na cidade tem suas características específicas, e o educador nem sempre está preparado para o que vai encontrar.”
Na opinião dela, há no Brasil uma oferta elevada de cursos de licenciaturas e de Pedagogia que não contemplam o que se espera de um futuro professor, com horas de estágio insuficientes e pouco espaço para lidar com as questões reais da escola. “Eu acabei de entrar na rede pública e não sou professora titular ainda, então costumo substituir aulas dos meus colegas e trabalhar projetos paralelos. [Como não estou com os mesmos alunos todo dia], é um desafio ganhar a confiança deles, mas tenho adquirido um olhar mais compreensivo aos poucos”, explica.
Andréa, da UFPR, destaca que essa passagem do período de formação para o mercado de trabalho está presente em qualquer profissão, porém aqui tem um problema mais profundo, que vai ao encontro do que diz Lígia. “Atualmente, muitas licenciaturas são concluídas no formato de ensino a distância. Isso atrapalha o cumprimento de regras e diminui oportunidades de estágio, atividades formativas, extensão e outras que favorecem a formação da prática profissional. É claro que é possível fazer uma boa graduação EAD, mas não a baixo custo e com carga horária reduzida”, reforça a especialista.
Para ela, um dos caminhos é melhorar a relação entre as universidades e as escolas de Educação Básica. “O professor iniciante precisaria encontrar certa estabilidade já no início, com tutorias, diálogo com os mais experientes e [a intensificação de] programas de residência pedagógica, incluindo os novatos nos grupos de discussão, nos planejamentos etc.”
Leia também:Se resta esperança na educação é porque professores resistem e existem, inventam e reinventam a luta e a pedagogia, carregam sonhos e movem-se pela utopia do direito de todos e todas as crianças, adolescentes e jovens à educação de qualidade, à aprendizagem e desenvolvimento integrais para uma vida de direitos, sem violência. (Autora Sofia Cavedon)www.neipies.com/do-apagao-a-esperanca-viva-as-professoras-e-os-professores/
Jornadas múltiplas e exaustão
A falta de valorização da carreira docente é outro grande desafio da profissão. Torná-la mais atrativa envolve, entre outros fatores, a revisão dos salários. “Muitos colegas adotam jornadas múltiplas a fim de garantir que não trabalhem apenas para pagar boletos”, diz Roberta Duarte da Silva, professora de História dos Anos Finais do Ensino Fundamental em duas escolas da rede pública de Jaboatão dos Guararapes (PE).
Docente substituta no curso de História da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Roberta já atuou na rede privada, além de trabalhar com a formação de professores. Atualmente, sua carga horária é de 180 horas mensais na Educação Básico e de 40 horas mensais na UFPE. “Principalmente na Educação Básica, a gente precisa dar conta de dias muito cheios ou ter mais de um vínculo para que o salário nos proporcione uma melhor qualidade de vida. Parece até contraditório: trabalhamos muito para ganhar melhor, mas não conseguimos usufruir por falta de tempo”, observa.
Entre os seus principais desafios, a professora menciona a exaustão mental, física e psicológica: “É muito cansativo dar 12 ou 15 aulas por dia, às vezes nos três turnos. Essa é a minha realidade em dois dias da semana e eu fico esgotada”.
Ela conta que o tempo para pensar em uma aula e organizar a rotina vai para o final de semana, o que faz com que comece a segunda-feira mais cansada. Roberta soma a esse cenário a própria estrutura das escolas, lecionando em salas quentes, com “a voz disputando espaço com os ventiladores”, e a ausência de suporte psicológico, principalmente no pós-pandemia.
Andréa defende que não há uma solução individual para isso. Diante da necessidade de jornadas múltiplas, os professores deveriam encontrar nas escolas, pelo menos, espaços que valorizem o planejamento. “Existe um tempo de hora/aula para que o professor olhe a sua disciplina sozinho e de forma coletiva. Então, aquilo que meu colega começou, eu posso dar continuidade e tornar mais fluido. Mas, muitas instituições não têm locais onde esse indivíduo possa sentar e estudar”, aponta. “Às vezes, temos uma sala dos professores pequena e que precisa abrigar 15 pessoas. Como ele vai se concentrar e fazer um relatório?”, questiona.
Leia também:
Todos sabem como melhorar a educação. Todos sabem como dar uma boa aula e quais assuntos deveriam ser ensinados. Menos os professores.(Autor Aleixo da Rosa) www.neipies.com/professores-nao-sabem-nada/
Burocracias pedagógicas
A pedagoga Marcella Campos, pós-graduada em Alfabetização e Letramento, é educadora na rede pública de Santos (SP). Ela também atua com a formação de professores alfabetizadores e trabalha com mídia social em um colégio particular na mesma cidade.
Além da jornada de trabalho em mais de uma escola, e a partir de sua experiência com alfabetização, ela pontua que certas burocracias pedagógicas a que os educadores são submetidos deixam a rotina engessada. “Nós precisamos de um número x de atividades para guardar nas pastas das crianças e temos que cumprir a apostila até o fim. [Na Educação Infantil], isso tinha que acabar. Se há tempo para trabalhar apenas materiais prontos, fica mais difícil desenvolver projetos inovadores e com boa sequência didática”, argumenta.
Segundo ela, essa é uma ideia que está enraizada na nossa cultura: “[As pessoas pensam] que as atividades precisam ter aquela cara de [material de] ‘escolinha’ [a exemplo dos ditados, das listas]. Se eu coloco uma folha em branco na prancheta e peço para o aluno observar os pássaros e desenhar a cor das penas, isso também é uma produção de texto, mas tende a receber valor menor”, reflete Marcella.
“Às vezes, esbarramos na sensação de que, se não é uma atividade ‘tão escolar’, não é uma atividade, e é isso que estamos tentando quebrar. Não faz sentido a criança voltar para casa com uma pasta cheia de papéis, se a escrita não for trabalhada de maneira que tenha função social e não tiver o engajamento do aluno em sala de aula”, completa.
A especialista Andréa explica que o Brasil incorpora a perspectiva de pluralismo de concepções pedagógicas, o que possibilita múltiplas maneiras de construir o processo de ensino e aprendizagem. Ter registros do trabalho desenvolvido em sala de aula ajuda a monitorar o desempenho do estudante, orienta, mas isso não pode ser mais importante do que o aprendizado. “O problema é que [quando se trata de alfabetização] estamos falando em 5.560 redes de ensino e milhares de instituições pensando em formas de controle”, alerta. Por isso, ela diz que é necessário que o sistema [e a própria gestão] confie no professor e ofereça autonomia para que ele decida a frequência dos registros – algo que não acontece quando o foco se torna controlar o resultado e preencher burocracias.
I
Documentos em excesso e plataformização da educação
Quando se trata das escolas em tempo integral, uma série de relatórios, atas de reuniões, diário de bordo e planos de ensino estão previstos. “Além de dar as minhas aulas, eu tenho que produzir documentos. E não são poucos”, considera Guilherme Falcão Porto, professor do 6º ao 9º ano na rede pública de Santa Lúcia (SP).
“Agora que é final de bimestre, temos que fazer o plano de aulas que vai nortear o trabalho pelos dois meses seguintes. Se o aluno tem nota vermelha, fazemos um relatório individual, apontando as dificuldades dele. Há ainda um plano de nivelamento, em que olhamos para as habilidades que o aluno precisa recuperar”, conta Guilherme.
Ele também cita a Aula de Trabalho Pedagógico Coletivo Geral (ATPCG), a Aula de Trabalho Pedagógico Coletivo por Área (ATPCA) e, agora, a ATPCG da Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação do Estado de São Paulo (EFAP), com vídeos e perguntas para responder. “Tudo isso e outras coisas dentro dos nossos horários de estudo – entre 14h e 16h”, descreve.
Guilherme é responsável pelos componentes de Tecnologia, Orientação de estudo e Práticas experimentais, o que significa que ele multiplica todos esses processos por três: “É uma sobrecarga imensa, porque a gente tende a passar oito horas dentro da escola e mais quatro horas em casa preparando a aula.”
Na opinião de Andréa, é papel das equipes gestoras filtrar o que é realmente indispensável. “Há um excesso de relatórios sufocando o tempo dos professores. Então, precisamos pensar o que se deve fazer individualmente e o que é possível padronizar”, sugere a especialista.
Outro desafio relatado por Guilherme é a plataformização da educação. “Na rede pública de São Paulo, o estado cobra o uso de várias plataformas de tecnologia, com atividades e provas externas para manter o aluno aprendendo digitalmente”, pontua. O principal problema, segundo ele, é a cobrança das secretarias de ensino pelo resultado, quando, muitas vezes, o estudante não tem computador, celular ou internet em casa para realizar a tarefa.
“A escola tem uma sala de informática com 27 chromebooks funcionando. Mas as minhas turmas, por exemplo, têm 40 alunos cada”, afirma. O professor reforça que é notável a diferença do uso da tecnologia em sala. “A gamificação é uma metodologia incrível. O que falta é suporte”.
De acordo com Andréa, a educação tem vivido uma “pandemia de plataformas”, com o mercado produzindo desenfreadamente e pressionando o sistema de ensino para adquiri-las. “A gente teve uma emergência [durante o isolamento social por causa da Covid-19] e precisou integrar as plataformas [à rotina] rapidamente. Mas precisamos dar um passo atrás e perguntar ao professor o que ele realmente está precisando [e não apenas nesse contexto]”, conclui.
Leia também:A escola pública está perdida. O perigo está anunciado para onde se envereda a educação: o precipício. A escola particular aproveita o momento para se fortalecer no seu lado positivista e conteudista. Em que ao aluno apenas cabe o papel de mero reprodutor. (Autor Laércio Fernandes)www.neipies.com/nos-nao-precisamos-mais-dar-aula/
Era uma vez a Feira do Livro mais querida que, todos juntos, pudemos fazer.
Era uma vez uma Academia de Letras, uma prefeitura e suas Secretarias de Cultura e de Educação, uma Biblioteca Municipal, uma Coordenadoria Regional de Educação, um Instituto Histórico e uma unidade do SESC, todos muito encantados com livros, letras e literatura.
Todas as pessoas desse grupo habitavam uma cidade que era Capital Nacional da Literatura e se chamava Passo Fundo.
Nesta cidade havia um espaço muito bonito chamado Roseli Doleski Pretto, onde ficavam os prédios da cultura, bem no centro da cidade.
O grupo que gostava de livros, letras, literatura, começou a montar uma feira pra mostrar quanta coisa maravilhosa estava acontecendo no mundo da literatura e resolveu chamar Roger Castro para ser o MC – o mestre de cerimônia.
Vieram os escritores Antônio Schimeneck, Luciana Marinho, Eleonora Medeiros, Pablo Morenno, Simoni Giehl, e deu uma mistura muito pop, porque veio um tal de Chiquinho Divilas, que era rapper e tinha um lado escritor, assim como os dois músicos Thedy Corrêa e Duca Leindecker, que também transitavam pelo mundo das letras, e pronto, já estava montada uma parte muito, muito importante da feira: os escritores convidados.
E aí começaram a pensar: e os escritores que tem livros pra lançar? E os contadores de histórias? Temos que chamar também. Temos que trazer para a feira o café filosófico, espetáculos teatrais, artesanato literário…
Beleza, então vamos ao check list:
– Lugar para a feira? Positivo.
– Escritores? Tá na mão.
– Contadores de histórias? Fechou.
– Lançamento de livros? Tudo belezinha.
– Espetáculos teatrais? Já é.
– Artesanato literário? Demorô.
Tá, mas e quem é que a gente vai homenagear?
A resposta parecia um jogral: tem que ser de Passo Fundo. Aqui está cheio de gente e instituições que nos enchem de orgulho.
Silêncio, silêncio, e a fumacinha branca apareceu: habemus Amigo do Livro e era a Gráfica e Editora Padre Berthier.
Mais um fumacê branco surgiu no ar e o nome era da professora Josenira Ferreira como Educadora Emérita.
Já tinha gente tossindo com tanta fumaça, quando saiu o nome do Educador Motivador: professor Aleixo da Rosa.
Faltava o Patrono. Ah, o Patrono, quem será o Patrono? E a fumacinha veio ali dos lados da Paissandú. – Que massa, a EENAV, a escola que completava 95 anos, a escola das normalistas, era a Patronesse da feira.
Ah, mas agora sim, a feira do livro estava do balacobaco! Só que, do nada, chegou uma notícia: 18 mil alunos da rede de ensino do município terão 40 Reais, cada um, para comprar livros na feira. Era o vale livro, um programa da Prefeitura de Passo Fundo. E a feira que era do balacobaco ficou do ziriguidum também.
Alguém do grupo parecia o burro do Shrek e perguntava insistente: já dá pra começar a feira? Ainda não. Tá pronta a feira? Não, ainda não. E agora, dá pra começar? Aff…
Estava faltando o tema da feira, claro! Aquela frase pra convidar, pra mostrar o espírito da coisa, e aí foi dureza. Vou contar pra vocês, bem baixinho… De um lado estavam os mano da quebrada e, do outro, aquele pessoal que fala certinho, que usa o ‘s’ quando é plural. Meuuu, que embate rolou. Mas a turma estava de boa e ajeita daqui, arruma dali, entenderam que o tema da feira tinha que ser leve, fácil, bom de dizer e assim nasceu o Bora lá, Bora lê!
Tudo montadinho no Espaço Roseli, chegou o domingo, dia 20 de outubro.
Que dia bonito foi aquele! Finalmente a 36ª Feira do Livro estava acontecendo.
Vieram as autoridades, crianças, amigos.
E quando a feira começou, quando o primeiro ônibus chegou, cheio de crianças, o livreiro fez a primeira venda de um livro, quando a primeira criança escutou uma contação de histórias, o primeiro jovem saiu feliz com o autógrafo e o primeiro adulto ouviu, atento, o escritor, todos entenderam porque feiras do livro não morrem.
Essa história é de 2024, mas poderia ser de 1997, porque tudo sempre se repetirá enquanto alguém encontrar um banco, uma mesa, um cantinho, abrir um livro e criar um mundo.
Era uma vez a Feira do Livro mais querida que, todos juntos, pudemos fazer.
Fotos:Divulgação/Feira do Livro de Passo Fundo
Autora: Miriê Tedesco, secretária municipal de Cultura de Passo Fundo, RS.
Vivendo um momento histórico, a cidade de Passo Fundo comemora a eleição de quatro mulheres para a Legislatura 2025-2028. Comemora também a reeleição de três vereadoras em um parlamento que, até então, jamais havia reeleito uma mulher. As quatro candidaturas femininas estão entre as seis mais votadas do pleito, demonstrando o fortalecimento da participação feminina na política e o reconhecimento do trabalho realizado pelas atuais parlamentares.
Foram eleitas para a nova legislatura, Eva Valéria Lorenzato (PT), Professora Regina Costa dos Santos (PDT), Ada Munaretto (PL), além de ser eleita Marina Bernardes (PT).
A criação da Procuradoria Especial da Mulher na Câmara de Vereadores é, também, uma conquista simbólica e concreta, que fortalece nossa presença e empodera as mulheres enquanto agentes de transformação.
Nesta matéria exclusiva ao site, entrevistamos Eva Valéria Lorenzato sobre os desafios de seu novo mandato. Marina Bernardes manifesta suas expectativas pelo seu mandato que começará em 2024.
Perguntamos às vereadoras eleitas: Como avalia as eleições municipais de 2024? Como seu mandato pretende contribuir com a afirmação dos direitos e conquistas feministas, bem como na busca de novos direitos? Quais serão suas prioridades? Como e por que a política é a mais autêntica e eficiente forma de resolver os problemas sociais e estruturantes das comunidades, inclusive a partir dos mandatos parlamentares? O que a comunidade de Passo Fundo pode esperar a partir da tua atuação parlamentar?
Reeleita com 2.831 votos em Passo Fundo, a vereadora Eva Valéria Lorenzato (PT) chegará, aos 51 anos, ao segundo mandato a partir de 2025. A parlamentar mais que dobrou o número de eleitores em comparação com as eleições municipais de 2020, quando arrecadou 1.310 votos.
Com a palavra Eva Valéria Lorenzato
“Momento importante da disputa de projetos para Passo Fundo. Três propostas foram apresentadas. Estive no campo que reuniu PT e sua Federação com o PDT, com apoio do PSOL e outros. Foi momento para avaliarmos os últimos 12 anos de um continuísmo que produziu uma cidade para poucos, abandonou as periferias e não cuidou das dores de nosso povo. Mesmo que tenha sido reeleito, não tem o apoio da maioria do eleitorado, visto que se dividiu entre os dois outros candidatos.
No legislativo tivemos uma mudança significativa, metade não voltou. Para o PT foi um resultado importantíssimo: dobramos os votos para vereadores e agora somos duas vereadoras. O PT passou de 4.527 votos, sendo 201 da legenda, em 2020; para 9.604 votos, com 304 na legenda, neste pleito. É a aprovação de um projeto nacional que tem representantes locais. O prefeito eleito tem maioria, mas não tão folgada.
As mulheres foram vitoriosas. Pela primeira vez três mulheres são reeleitas, sou uma delas. Metade dos seis mais votados são mulheres. As mulheres serão fundamentais no próximo mandato e trabalharemos para ampliar ainda mais a presença feminina nos espaços políticos.
Sobre seu trabalho pelos direitos e conquistas feministas na Câmara de Vereadores
Sempre defendi as mulheres. Sempre participei das organizações e das lutas das mulheres. Tenho certeza que o mandato que conquistamos é fruto deste engajamento e deste compromisso. A luta das mulheres não é a luta de uma de nós, mas de todas nós juntas. O trabalho parlamentar e parte de um conjunto de outras iniciativas.
Enfrentar a violência contra as mulheres segue sendo uma das principais lutas. Ainda muitas são as que morrem ou sofrem algum tipo de violência e são impedidas de se realizarem como pessoas. Inaceitável.
O desenvolvimento da autonomia financeira das mulheres é um desafio fundamental pois a dependência econômica é um dos fatores que as impede de sair dos ciclos de violência e de encontrar novos caminhos.
Serei incansável na cobrança de políticas públicas municiais. Mas não se pode fazer nada sem a participação das mulheres, nos conselhos, fóruns, conferências. O prefeito precisa entender que o Município não existe sem a nossa contribuição e Passo Fundo será melhor para todas as pessoas se for bom para as mulheres.
Sobre a importância da política
A vida é política não porque a gente quer, mas porque a vida acontece sempre na convivência com as outras pessoas, em comunidade. Compreender assim e colocar-se numa posição contrária ao individualismo neoliberal que insiste em nos isolar, como s cada uma e cada um de nós fosse capaz de garantir tudo sozinho, disputando e competindo com os outros.
Aprendemos desde cedo que em tudo somos interdependentes em relação uns aos outros, umas em relação às outras. Transformar estas relações em processos participativos, amorosos e solidários é o melhor caminho. Para isso necessário enfrenar todas as formas de desumanização, de ódio e de desqualificação, de discriminação de todo tipo.
A convivência democrática nos ensina desde os antigos gregos que o exercício do poder não é coisa para os “aritói” (os bem-nascidos), mas o que pode ser alargado para os comuns. Mas, assim como era entre os gregos onde mulheres e escravizados não podiam participar da política, temos hoje em dia ainda o desafio de efetivamente democratizar a democracia pela participação direta e o mais ampla possível.
Sobre o que a comunidade passofundense pode esperar do seu trabalho parlamentar
A comunidade tem meu agradecimento. Cada passofundense que votou em mim pode ter certeza de que terá uma representante atenta e disposta a levar adiante as lutas. Aqueles e aquelas preferiram outros candidatos e candidatas contem com minha vigilância.
Não darei descanso a quem quer que seja que não esteja disposto a garantir os direitos do povo trabalhador. Não darei descanso a quem seguir promovendo discriminação e desrespeito. Não darei descanso a quem acha que pode fazer de conta e não atender ao que o povo de fato precisa.
Serei incansável na defesa do projeto popular, na luta pela proteção das mulheres e meninas, na promoção da vida saudável, na busca da mobilidade inclusiva e na luta pelos direitos humanos para todas as pessoas. Vamos juntas e juntos. É o jeito que sei fazer para que possamos ir mais longe, sem que ninguém fique para trás.
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Estreante na política de nossa cidade, Marina Bernardes (PT) chegará à Câmara de Vereadores como a mulher mais votada da história da cidade. Aos 31 anos, a arquiteta e urbanista recebeu 3.062 votos.
Com a palavra Marina Bernardes
“O processo eleitoral se mostrou uma oportunidade de reforçar a importância do diálogo, da necessidade de se ampliar a participação social e popular na tomada de decisões da cidade e também de apresentar uma forma diferente de produzir tanto a política quanto as formas de se fazer campanha. Em um nível macro, olhamos para a reeleição do atual prefeito a partir de algumas questões que se apresentaram no cenário brasileiro. Entre elas, o uso da máquina pública para mostrar atividades e serviços feitos durante os quatro anos. Essa não foi uma exclusividade de Passo Fundo, pois quando olhamos para outros cenários no Rio Grande do Sul e também em outros municípios brasileiros podemos observar elevados índices de reeleição de prefeitos.
Entendemos que a expressiva votação das candidaturas de Oposição e o alto índice de abstenção revelam uma insatisfação da população com o formato do governo. Vamos acompanhar com muita atenção cada passo da gestão municipal. Olhando para o micro, temos a convicção de que a nossa candidatura ao Legislativo, que surgiu de forma espontânea entre a comunidade, atende a essa disposição e a necessidade que as pessoas tinham e ainda tem de se re-encantar com a política. Minha trajetória pessoal de ativismo em movimentos sociais, principalmente os ligados a arquitetura e ao direito à cidade, vinculado ao trabalho desenvolvido nas redes sociais foram bem recebidas pelo eleitorado e tem um significado importante quando olhamos para as discussões que precisamos fazer pensando em envolver mais pessoas na política partidária.
Sobre seu futuro trabalho pelos direitos e conquistas feministas na Câmara de Vereadores.
Nosso plano de trabalho é organizado em três eixos, um chama-se “Cidade das mulheres”, porque partimos do ponto de que se a cidade é boa e segura para as mulheres e crianças, então, será melhor para todo mundo. Acreditamos que muitas pautas precisam englobar a mulher, como por exemplo, a segurança pública. Não bastam apenas mais estruturas físicas, como a Cidade da Polícia, que é um projeto da atual gestão, sem políticas de prevenção e proteção às mulheres. Além disso, também defendemos a ideia de que se a cidade for mais acessível, com caminhabilidade, transporte público eficiente e boa iluminação, as mulheres terão mais condições de enfrentar as demandas diárias, tendo em vista que assistidas por boas políticas públicas também estarão mais seguras. Outra questão que assola o desenvolvimento e qualidade de vida das mulheres é a falta de vaga na educação infantil, assim como boas oportunidades oferecidas com as novas estruturas como a escola das profissões. Estaremos atentos as demandas e fiscalizando o poder público para atender a estas demandas que são de direito básico.
Sobre a importância da política
Em nosso campo político defendemos o papel do estado para a resolução de demandas que perpassam políticas e serviços públicos, diante disso, em nossa atuação parlamentar vamos trabalhar pela qualificação de todos os serviços que são de responsabilidade da prefeitura e precisam de uma câmara de vereadores atenta que fiscalize, de fato, as decisões da prefeitura e que incluam a participação social.
Sobre o que a comunidade passofundense pode esperar do seu trabalho parlamentar
Desde 2020 estou presente em territórios bastante precários da cidade defendendo a necessidade de cobrar o poder público por políticas habitacionais, planejamento urbano, redução das filas – que são fruto do sucateamento dos mais diversos serviços públicos da cidade. Seguiremos pressionando, denunciando e fiscalizando a prefeitura para que cumpra seu papel na entrega dos serviços que são de direito nosso”.
Cada detalhe da festa é um fragmento da rica tapeçaria cultural que compõe Campina das Missões, unindo passado e presente, Brasil, Rússia e a cultura gaúcha, em um diálogo sereno, construindo um futuro lindo para a cidade e seus habitantes.
No último domingo, dia 13 de outubro, a pitoresca Campina das Missões se encheu de alegria e devoção em sua festa patronal, dedicada a São João Evangelista, também chamado de o Teólogo pela Igreja Ortodoxa. A comunidade, unida por um propósito claro, mostrou-se engajada não apenas em suas tradições religiosas, mas também em um compromisso palpável com o desenvolvimento consciente de seu passado cultural, econômico e social.
Ruas sendo aprimoradas com os pavimentos intertravados que adornam as ruas da cidade são um símbolo eloquente dessa harmonia, permitindo que a água da chuva penetre no solo, respeitando a natureza que nos abriga. Esse cuidado com o meio ambiente, bem enfatizado por mim, uma arquiteta urbanista, reflete uma consciência coletiva, que se estende ao dinamismo econômico evidente na feira rural, que também conhecemos e visitamos. Ali, o empreendedorismo floresce, promovendo produtos locais e resgatando a essência da produção familiar.
A Casa do Agricultor Rural, uma iniciativa que busca conservar tanto a tradição alemã quanto a tradição russa, por meio de sua indústria e artesanatos típicos, demonstra esse fio de ouro que move boa parte da cidade, em constante desenvolvimento numa busca pelo tempo perdido, reatando seus laços com o passado, para honrá-lo e torná-lo sempre presente.
A festa em si, ocorrida ao lado da Igreja dedicada a São João, é de grande vitalidade para esses veios da tradição local. A missa, celebrada em um ambiente de reverência, uniu os presentes em um só espírito. O aroma da Slavianka, uma cerveja preta tipicamente russa, recentemente criada, encantava os paladares, enquanto convidava à celebração da vida e à partilha de histórias que ecoam de geração em geração.
E assim, como uma ponte entre três culturas, o dicionário russo-gaúcho-brasileiro, criado pelo Dr. Jacinto Zabolotsky, um dos responsáveis pela organização de todo o evento e cônsul honorário da Rússia no Brasil, serve de metáfora para a interseção de identidades – o encontro de culturas em um só lugar.
Cada detalhe da festa é um fragmento da rica tapeçaria cultural que compõe Campina das Missões, unindo passado e presente, Brasil, Rússia e a cultura gaúcha, em um diálogo sereno, construindo um futuro lindo para a cidade e seus habitantes.
Concluindo com as palavras de Sêneca, “que a virtude ecoa no silêncio”, presenciamos em Campina não apenas a celebração de um ritual rubricado, mas a perpetuação de tradições vivas, onde uma comunidade, mesmo diante dos reveses do tempo, consegue se manter crescente e coerente com seu passado, apesar do correr desses mesmos dias – cortando a distância do tempo pela ponte do presente. A festa é uma manifestação dessa mesma virtude, que se faz ouvir desde dentro do coração da comunidade, ecoando em cada risada, em cada prece, em cada copo levantado em homenagem ao que é sagrado e ao que nos une. Assim, Campina das Missões se reafirma como um modelo de respeito e tradição, onde tradição e modernidade caminham lado a lado.
Obrigado, Airton Dipp! Tua trajetória política marcou profundamente a história de Passo Fundo!
As eleições de 2024 foram oportunidade única de conhecimento e reconhecimento dos mandatos do prefeito Airton Lângaro Dipp na sua cidade Passo Fundo, como também um momento ímpar para reconhecer sua postura política e suas qualidades como pessoa e como governante.
Durante o período eleitoral, Dipp cumpriu importantes tarefas políticas: pode defender suas realizações e seus legados para a cidade, uniu partidos importantes em torno de um novo e renovado projeto de desenvolvimento econômico com inclusão social e, ainda, mostrou caminhos alternativos para a gestão municipal, propondo ações e políticas de enfrentamento dos problemas sociais da maioria da população, sobretudo dos bairros e periferias pobres.
Caminhar ao lado de Dipp oportunizou-nos perceber sua inteligência e visão de futuro do Município. Permitiu, ainda, reconhecer sua integridade e postura de homem público; a importância da realização de obras estruturantes; uma melhor interlocução com a comunidade; valorização dos serviços públicos; defesa e implementação de políticas e estratégias de saúde básica; estruturação de políticas habitacionais numa cidade onde milhares de pessoas vivem em ocupações (por falta de melhores condições para o exercício do seu direito de moradia digna); valorização da educação pública municipal.
Em democracia, não se lamenta resultado de eleições, respeita-se! A escolha dos passo-fundenses foi outra, Paciência! Os caminhos apontados pela candidatura de Airton Dipp e Doutor Júlio podem servir, esperamos, como sugestões aos governantes e legisladores escolhidos pelo povo de Passo Fundo.
O candidato Dipp, de alguma forma, foi vítima de etarismo, ou seja, discriminação, preconceito e estereótipos direcionados a pessoas com base na sua idade. Sofreu tal discriminação de forma velada e de forma expressa, perfectibilizada até em peça publicitária. Cabe a reflexão sobre como lidamos com os mais velhos e qual seu papel na sociedade, bem como qual é a prerrogativa dos prefeitos e prefeitas (que já foram considerados pais ou mães de uma cidade). Ao que comprovamos, o candidato Dipp goza de boa saúde física, emocional e intelectual e poderia fazer, novamente, uma grande administração municipal.
Airton Lângaro Dipp, a partir de sua experiência e de suas proposições nesta campanha de 2024, apontou caminhos republicanos de política, com visão de futuro e ousadia na forma de governar.
Embora sem resultado eleitoral favorável, o estadista saiu satisfeito desta experiência, despedindo-se da vida pública, definitivamente. Assim ele próprio afirmou: “fiquei muito satisfeito porque tive a oportunidade de falar das minhas gestões e do quanto elas foram importantes para o desenvolvimento de Passo Fundo”. Resta-nos agradecer por tudo e por tanto que este homem público realizou por nossa querida Passo Fundo.
Obrigado, Airton Dipp! Tua trajetória política marcou profundamente a nossa história!
Me dou conta de que o título da crônica deveria ser outro: “Até onde algo que você julga que errou irá te seguir?” No meu caso, até hoje. Caso contrário, não teria me lembrado dele. E quem sabe não teria feito o roteiro do filme que tem como título: “Por uma alegre meia tarde”. E como subtítulo: “Até onde você iria para reparar um erro?”
Há muitos anos, quando o tratamento da esquizofrenia não tivera os avanços que tem hoje, me telefonou alguém se apresentando como delegado na cidade de São Paulo. Por azar, minha secretária havia faltado, na sala de espera havia pacientes e familiares de pacientes que vieram à minha procura sem marcar hora, e eu atendia uma paciente com risco grave de suicídio. Tinha tudo para dar errado – e deu.
O telefone tocou com insistência e eu tive que interromper a consulta para fazer silenciar aquele som estridente que me impedia de manter a atenção no relato da paciente. “Eu sou delegado e estou com um rapaz na minha frente que estava com comportamento maluco na rua. Ele tem seu telefone num papel amassado no bolso. Diz se chamar… O senhor o conhece?”
Eu pensei rapidamente, meus olhos estavam na paciente sentada a minha frente, não me veio nada. Minha atenção não estava no telefone. “Não estou lembrando”. O Delegado desligou.
A mãe do rapaz levou uma semana para localizá-lo, preso em São Paulo, e liberá-lo mediante um atestado meu. Na época, pacientes com esquizofrenia tendiam a abandonar a medicação, elas tinham muitos efeitos colaterais, pioravam, e a família custava a fazê-los voltar ao tratamento. Não era incomum, em surtos, o paciente sumir. Fugir de casa, ir embora sem saber para onde ia. Eu insistia para que eles andassem com um papel com o meu telefone.
Não via o rapaz há muito, e isso ajudou a eu não me lembrar dele. Mais o atrapalho do momento… Não importa, o fato é que, se eu tivesse me concentrado na fala do delegado e pedido mais detalhes, eu lembraria. Ele, provavelmente, não ficaria na cadeia, e a mãe não teria de procurá-lo numa cidade enorme e desconhecida para ela por uma semana. Colegas me disseram que talvez fosse pior se eu dissesse que o conhecia, que havia sido meu paciente e que sofria de esquizofrenia: seria internado num manicômio judiciário e custaria muito mais tempo para voltar para casa. Não importa. O fato é que tenho a convicção de que errei. Errei mesmo.
Tentei reparar atendendo-o de graça até o momento em que a família mudou de cidade. E mais: passei a atender a todos os telefonemas com bastante atenção. Na época, não havia celular. Na minha casa, por exemplo, havia um telefone fixo que tocava para mim, para minha mulher e para meus dois filhos adolescentes. Sabe aquele jogo de empurra? Sempre alguém meio brincando afirmava: “Não é pra mim!” Era necessário largar o que se estava fazendo e correr até o telefone. Ele já estava quase parando de tocar…
Bem, a partir daquele dia, para satisfação da família, tocava o telefone e eu corria a atender. E mais ainda: dava muita atenção ao que falavam do “outro lado da linha”, inclusive para os trotes. Na época, havia muitos trotes.
Me dou conta de que o título da crônica deveria ser outro: “Até onde algo que você julga que errou irá te seguir?” No meu caso, até hoje. Caso contrário, não teria me lembrado dele. E quem sabe não teria feito o roteiro do filme que tem como título: “Por uma alegre meia tarde”. E como subtítulo: “Até onde você iria para reparar um erro?”
Trata-se de DRAMA: “Para reparar erro, principio que sempre defendeu, médico teria de abrir mão de outro: sempre agir dentro da lei e da ética”. De 21 a 26 outubro de 2024, 19:30 Passo Fundo Shopping. Ingressos na bilheteria ou pelo site do CINELASER:https://lasercinemas.com.br/programacao/