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Depois da tempestade vem a bonança

A reflexão sobre o dito popular que afirma: “depois da tempestade vem a bonança”, de certa forma, nos ajuda a enfrentar com mais coragem a tragédia ambiental que está sendo vivida no Rio Grande do Sul e mostra pequena luz de esperança no fundo do túnel.

Em nenhuma outra época, nas regiões atingidas pelas chuvas intermitentes no mês de maio de 2024, a luz do sol e o céu azul foram tão esperados. Os olhos dos gaúchos, olhando para cima, buscavam   enxergar, entre as nuvens cinzas, nem que fosse uma pequena nesga de luz de ouro, vinda de um humilde raio de sol no fundo de um pequeno espaço de azul celeste, todo o esforço era em vão por dias e dias, enquanto os problemas da tragédia se avolumavam.

Refletindo sobre esta situação e buscando encontrar  novos caminhos para percorrer os espaços alagados e enlameados para chegar onde era necessário a ajuda, acabamos percorrendo as lembranças de nossa longínqua infância, quando, aos sete anos  de idade, na sala de aula da primeiro ano do Colégio São Luís, no bairro Teresópolis, em Porto  Alegre, a professora, uma jovem e querida freira nos contava as histórias da Bíblia,  do Velho Testamento sobre o dilúvio ( Gênesis, cap. 6 e 7) de Noé e sua arca, sua família e animais e os quarenta dias  e noites de chuvas e o dia glorioso da bonança quando a arca ficou firme, sobre um lindo monte.

Na plasticidade de minha mente infantil as cenas se desenrolavam como num filme. E a professora explicou que Deus usava dois processos para acabar com o mundo e os pecadores: era por dilúvio, água ou fogo. Para ilustrar a narrativa mostrou um quadro pintado que retratava os pecadores, após a morte, no inferno, eternamente entre as chamas do fogo.  Fiquei preocupada com o fim do mundo. Neste dia, já em casa, durante a sesta obrigatória da tarde, após o almoço, deitada na cama, passei a refletir sobre as informações recebidas.

Como o mundo poderia acabar?  Como tudo ficaria? Resolvi, com o pensamento concreto característico da idade, ir acabando com tudo que conhecia e comecei pelo que estava mais distante: o colégio, a praça, as ruas, a minha casa, a minha família, tudo consumido, primeiro pelo fogo e depois pela água, mas sempre restava alguma coisa e concluí, aos sete anos, que o nada não existe e fiquei aliviada, pois a informação recebida estava equivocada, confiando ainda mais no “Papai do Céu”. 

Nesta época, em casa, eu era responsável por acender o fogão à lenha, era perita nesta atividade e ficava alimentando o fogo com a lenha para não apagar e, por conhecimento empírico, percebia que o fogo consumia a lenha em cinza, era impossível as pessoas ficarem queimando eternamente no inferno. Lembrei também das histórias contadas sobre a enchente de Porto Alegre, em 1941, que, na época havia ocorrido fazia 11 ou 12 anos, e o mundo não tinha acabado…

O que está passando na mente das crianças e adolescentes que estão vivenciando a tragédia real?  

Para muitos, tudo foi por água abaixo, casa, escola, igreja, roupas, utensílios domésticos, material escolar, foram-se as coisas materiais e para alguns, pessoas queridas também partiram.  Agora o futuro é incerto. Como será o retorno à rotina?  Ao lar, a escola, a vida de relação, com tantas perdas?

A escola e os mestres, muitos também atingidos pela tragédia, como se reorganizarão para recomeçar a atividade pedagógica?

Agora vai ser preciso  investir  no planejamento pedagógico dentro de uma  proposta de educação ambiental com o objetivo de formar o sujeito ecológico, que deve ter um olhar sobre as relações entre indivíduo, sociedade e natureza numa visão multidisciplinar que favoreça  a  compreensão diversa e multifacetada das inter-relações  que  constituem o mundo e a vida, ou seja, perceber que os seres vivos interagem entre si, sempre  relacionados  e interconectados, formando  complexo  sistema de trocas.

Na escola torna-se necessário abrir espaço interdisciplinar para organizar campos de conhecimento teóricos e práticos para propiciar a rearticulação das relações ser humano, sociedade e natureza.

A educação ambiental tem que transitar entre os múltiplos saberes científicos, populares (empíricos) e tradicionais.

Os educadores precisam buscar novos modos de compreender, ensinar e aprender, rompendo com a organização estanque, disciplinar, levando em consideração a devida problematização do contexto histórico, de produção, dos interesses econômicos e das condições ambientais do seu município, do Estado e da nação.  A construção de práticas inovadoras e a condução de discussão sobre aquecimento global e os desequilíbrios climáticos, a poluição dos rios, mananciais e mares, os organismos geneticamente modificados (transgênicos), aumento da emissão de resíduos tóxicos e como preservar o material genuíno, na sua força original, de acordo com a sua própria natureza. Para tal questão é preciso compreender os complexos processos biológicos, geográficos, históricos, econômicos e sociais geradores de problemas.

Não podemos descartar, no momento crítico que estamos vivendo, uma análise mais profunda sobre “o ser humano”, suas condições físicas, emocionais, sentimentais e religiosas no contexto de ensino e aprendizagem na escola.

Oportuno trabalhar a questão social, começando pelo papel da família, como grupo social primário e base da sociedade que apresenta, na fase atual, problemas e desafios urgentes. Onde buscar amparo nos demais grupos sociais da comunidade que dão suporte à saúde física, mental e espiritual?  Organizar uma rede de informações dos grupos e espaços disponíveis ao amparo individual e familiar.

Destaca-se o papel relevante também da disciplina do Ensino Religioso pois não podemos esquecer que, dentro do aporte do conteúdo da Filosofia encontra-se a Teoria do Conhecimento, ou Gnosiologia, ramo filosófico que estuda a natureza do conhecimento que o ser humano tem condições de dominar e que o libertam da ignorância, são: o conhecimento científico, o filosófico e o religioso, caminhos importantes que precisam ser trilhados por todos nós.

O conhecimento científico parte do conhecimento vulgar, empírico e leva a compreensão da lei física de causa e efeito. O conhecimento filosófico reflete sobre as causas primárias, mais remotas chegando até as questões éticas e morais nas relações dos seres humanos entre si, e demais seres vivos que fazem parte do reino mineral, da flora e da fauna, culminando com o conhecimento religioso que é transcendental, que pertence à razão pura, que antecede a qualquer experiência material, que transcende, indo além do normal, e que não depende de qualquer denominação religiosa. É a ligação da criatura com o Criador, a religiosidade básica, que é inata no ser humano. Nascemos com a ideia de Deus e buscamos, naturalmente, o caminho de volta para Ele, para nossa origem. A educação bem feita, no lar e na escola ajudam a desabrochar esta inclinação de equilíbrio e harmonia que temos no âmago de nosso ser.  É o autoconhecimento.

O educador lúcido cultiva sempre uma postura de abertura e escuta para a complexidade real de cada situação, apresenta disposição para atuar em grupos de diferentes formações e competências, numa ação compartilhada, com uma atitude questionadora, querendo saber mais, ciente de que não sabe tudo e que se deve construir ideias de convivência amistosa, respeitosa e prudente com os demais saberes dos colegas e alunos.

A acolhida dos alunos no retorno às atividades escolares deve revestir-se de muito carinho, alegria do reencontro, com as rodas de conversa para relatos individuais do drama vivido, a exteriorização das emoções, o olho no olho, a mão no ombro, o abraço, a troca das experiências, as mensagens positivas de trabalho e superação compartilhada serão indispensáveis. A contação de histórias, o desenho, a pintura representando o ocorrido, a dramatização, a música, o canto, a prece em conjunto, a troca de correspondência com alunos de outras escolas, são recursos pedagógicos que ajudarão a superar o grande desafio do recomeço afetivo.

Dura lição a natureza está nos oferecendo, numa reação à ação desenfreada do ser humano em alterar, por ganância ou ignorância, o equilíbrio ecológico. Não podemos considerar como castigo de Deus, mas procurar novos caminhos para reverter esta situação, com base nos conhecimentos científicos que a humanidade já possui e que, com paciência, critério, planejamento comunitário e recursos dos poderes público e privado alcançaremos novamente clima de paz, harmonia e prosperidade.

Para reflexão do leitor, oferecemos a posição lúcida de Otávio Mangabeira que foi político, engenheiro, professor e escritor (In Luzes do Alvorecer, Divaldo Franco, página 56):

“A falência tem sido dos sistemas educacionais, resultado dos governantes inescrupulosos que sabem ser a educação o seu adversário mais poderoso, enquanto a ignorância, que gera o temor, é seu fâmulo especial e melhor serviçal… A Política, pouco a pouco, assume a postura de ciência, substituindo a politicagem que ainda predomina, mas que vai sendo desmascarada, para ceder lugar a novos comportamentos respeitáveis. Os partidos políticos devem compreender que têm a missão de velar pelo povo, pela nacionalidade e não pelos interesses dos grupos que os dirigem, das coligações interessadas em cargos sem encargos…quando deveriam unir-se com elevação para a preservação das Leis… Hoje a crítica aberta aponta as calamidades de comportamento de autoridades e administradores que, embora não punidos, são desmascarados”.

Temos que considerar que vivemos num regime político democrático, somos nós que elegemos nossos representantes na administração dos municípios, do estado e do país, temos que ter consciência de que os representantes que elegemos estão realmente capacitados para   gerir os nossos destinos, se conhecem, em profundidade, os problemas e desafios a serem sanados. Aos dezesseis anos, o adolescente já exerce seu poder de voto; compete à família e à escola esclarecê-los sobre essa grande responsabilidade. Através do voto consciente podemos mudar para melhorar as condições do nosso município, do estado e do Brasil.

Temos certeza na bonança que aguarda o povo gaúcho que vai superar a tempestade que o abate. É questão de tempo e muito esforço, sacrifício, união, fraternidade. Uma nova aurora vai surgir, as nuvens da borrasca vão passar, o sol voltará a brilhar no céu azul do Rio Grande do Sul. Daqui a alguns anos cantaremos com toda a força de nossas vozes: “Sirvam, nossas façanhas, de modelo a toda Terra!  Sirvam nossas façanhas de modelo a toda Terra!”

Sugestões de fontes de pesquisa para os professores:

1.Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade global – Google

2. AGENDA 21;

3. AMBIENTE BRASIL – https://www.ambientebrasil.com.br/

4. FEPAM – Fundação Estadual de Proteção Ambiental;

5. MEC – EDUCAÇÃO AMBIENTAL;

6.REDE GAÚCHA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL;

7. CARVALHO, Izabel Cristina – Em Direção ao Mundo da Vida/A Invenção Ecológica/Educação Ambiental – a formação do sujeito Ecológico;

8. IBAMA – Educação para um mundo sustentável;

9. LANGENBACH, Miriam – A rede Ecológica; 9. SEGURA, Denise Baena – A Educação Ambiental na Escola Pública;

10. UNGER, Nancy Mangabeira- Da Foz à Nascente – Recado do Rio

Autora: Gladis Pedersen.  Email: gladispedersen@gmail.com Também escreveu e publicou no site “Só uma aldeia inteir pode educar uma criança”: https://www.neipies.com/so-uma-aldeia-inteira-pode-educar-uma-crianca/

Edição: A. R.

Rios do céu e da terra

Tudo está em movimento: sol, lua, terra, rios, águas e ventos. Respeitar as leis da natureza é preciso. Violá-las não. (Professor Sabiá)

Lilian e Luan, irmãos gêmeos, adoram olhar a terra e o céu. Não importa se for durante o dia ou à noite. Curiosos, observam as nuvens passageiras, especialmente dois tipos: as de algodão branco-cinzento e as mais escuras.

Dizem que as nuvens são os rios do céu. Elas irrigam as florestas, as plantações e abastecem os rios e lagos da terra.

Lilian, a perguntadeira, quis saber por que os rios do céu andam derramando tanta água sobre os rios e lagos da terra do planeta terra.

– Não há quem aguente tantos ventos e chuvas. Por que isso tudo, mano?

– Coisa do Aquecimento Global, mana!  A culpa é do ser humano. Fica derrubando as florestas próximas dos rios, aterrando as baixadas, construindo nas beiradas, poluindo, inclusive mudando as leis ambientais.

– É mano! E tem mais. Queimam tanta coisa, deixando os rios do céu doidinhos. Parecem lágrimas causadas pela fumaceira. Até os ventos se indignam, causando tempestades e furacões.  Nem adianta fazer novena, acender velas e queimar ramos bentos para acalmar a fúria dos ventos e dos rios do céu e da terra.

– Os seres humanos têm que mudar de atitude o quanto antes, mana!

Nisso, o Chico Papagaio, que ouviu a prosa, meteu o bico e disse:

– Danados e danadas!  Me tirem da gaiola. Já!

A saracura, que adivinhava o tempo, mas que perdeu o lugar no banhado, recitou um poema:

   As saracuras das pernas finas

   Quando cantam até desafinam,

   Já não saram e nem curam.

   Mas o dilúvio às gentes anunciam.

A mãe dos filhos gêmeos avisou os dois:

– Hora de dormir, corujedo!  Amanhã tem aula!

Antes do intervalo, o professor Sabiá, que sabia das coisas, escreveu:

– Tudo está em movimento: sol, lua, terra, rios, águas e ventos. Respeitar as leis da natureza é preciso. Violá-las não. 

– Gente, lá vem a enchente de novo!

– Olha o recreio!

Autor: Eládio V. Weschenfelder foi professor de Literatura na Universidade de Passo Fundo.  E-mail: eladiovilmarw@gmail.com Também escreveu e publicou “Lenda do Sepé Tiaraju”: https://www.neipies.com/lenda-de-sao-sepe-tiaraju/

Edição: A. R.

Povos que sofrem os horrores de um conflito

Na antessala da poesia, quase sempre me sento ao lado da dor e da agonia.

E Israel? Quem, quem, imaginaria?!

Agora, os responsáveis por tamanho sofrimento.

Que judeus, perseguidos do holocausto

Agora massacram um povo faminto e exausto.

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Barbárie na tevê, internet, rádio e jornal

Basta escolher, e sintonizar o canal.

Para alguns, só notícias, no café matinal.

Para um povo, sangue e sofrimento infernal.

¨

Violência outrora sofreram, mas será que já esqueceram?

¨

O Estado de Israel acha isso um grande feito.

Palestino encurralado nem consegue ralar peito.

Enquanto bombas do céu caem a torto e direito.

¨

A caneta assina a ordem, agora é dedo no gatilho.

Mata mãe, mata pai, mata irmão e filho.

Soldado não questione, pois eu sou um caudilho!

Diz o fantoche Ianque, de olhar sem nenhum brilho.

¨

Biden e companhia deveriam sentir vergonha.

Que de suas armas e dólares, Israel as disponha.

E apresentar atitude, tremendamente medonha.

Onde fascismo e covardia cabem, no canhão e na coronha.

¨

Como pode um povo não aprender sua lição?

E assombrar o outro com a sua maldição?

Em plena terra santa da ressurreição

A maldade se impõe, uma imensa contradição.

¨

São questões que me colocam para refletir.

E na escrita destes versos não me omitir.

A ideia com o semelhante, quero repartir.

E se preciso for, também vou discutir.

¨

Pra cada bomba ou míssel, disparado

Em algum canto, alguém já deve ter lucrado.

Enquanto o futuro inocente é brutalmente ceifado.

E o soldado pra matar, foi por você remunerado.

¨

A guerra não é só ambição do Estado.

Entra nessa equação, também o livre mercado.

E o imoral então é finalmente escancarado.

Heroísmo na tragédia, só mesmo pra deslumbrado.

¨

E quando penso que, enquanto escrevo, mais uma vida finda!?

E o mercado de ações, mais uma alta brinda.

O ocidente, ao Sionismo, certamente blinda.

Enquanto a Palestina, padece na berlinda.

¨

Enquanto o mundo assiste o triste fim de Gaza.

Crianças, feridas e confusas ardem em brasa.

Fome e desabrigo, sem poder voltar pra casa.

Enquanto mais um bombardeiro, municia-se para o ataque.

¨

Carl Sagan já dizia: Somos uma fina película de vida.

E eu complemento: arrogante e atrevida.

Que ceifa existências, de forma cruel, indevida.

De amor e compaixão, totalmente desprovida.

Autor: Ricardo Germani, em 27/05/2024, no dia em que Israel fez mais um ataque a Rafah. (Leia aqui) Germani também escreveu e publicou no site a crônica “A luta por um projeto civilizatório”: https://www.neipies.com/a-luta-por-um-projeto-civilizatorio/

Edição: A. R.

A chuva é uma menina bela e boa

Se você prestar atenção, a chuva se parece um pouco conosco porque ela tem um bom coração não deixando ninguém com fome, pois é por causa dela que as plantações de arroz, feijão e milho crescem e os agricultores ficam felizes.

A chuva é uma menina de laço de fita, bela e boa. Quando ela cai na Terra aquela sementinha que você plantou no vaso há algum tempo cresce e fica bem bonita igual a você e eu!

Quando a chuva cai na Terra também ela enche açudes e lagos, não deixando que animais e pessoas morram de sede e fome.

Ela gosta de deixar as árvores felizes e enche os corações das crianças de sonhos lindos quando elas se encontram no meio da rua para tomarem um gostoso banho com seus pingos.

Se você prestar atenção, a chuva se parece um pouco conosco porque ela tem um bom coração não deixando ninguém com fome, pois é por causa dela que as plantações de arroz, feijão e milho crescem e os agricultores ficam felizes.

Você sabia que não é culpa da chuva as enchentes nas grandes cidades? Isso mesmo! A chuva é uma menina boa demais para causar danos, ela nunca faria isso! Quando há enchentes é porque o homem construiu prédios e casas em lugares errados ou porque ele derrubou árvores.

Não deixe que culpem a chuva pelas enchentes! Ela fica muito triste quando isso acontece! Não é culpa dela que você tenha perdido os seus brinquedos e roupas, juro que não, ela nunca faria isso!

Os responsáveis pelas enchentes são os homens que pensam saber tudo dela, mas na verdade se eles soubessem que a chuva gosta mesmo é de criança que faz birra, xixi na cama e chupa o dedo eles nunca diriam que ela é culpada disso ou daquilo.

Lembrem-se sempre que Papai do Céu fica feliz quando a gente aprende a amar a chuva porque ela vem lá das nuvens cheia de alegria para molhar a Terra e assim nos proporcionar alimentos e comida na mesa o ano inteiro.

A chuva não é má! Ela não faz mal a ninguém, mas quando os homens derrubam árvores, jogam lixo nas ruas ou constroem em lugares errados como morros e montanhas ela causa danos a quem vive nesses lugares provocando as enchentes e muita tristeza porque não tem para onde ir!

Você já viu alguém feliz quando não tem para onde ir? É o que acontece com a chuva quando os homens interferem na natureza!

Um beijo para você, meu e da chuva, que só queremos ser amigas de todas as crianças do mundo inteiro! Feliz chuvinha!

Autora: Rosângela Trajano

Edição: A. R.

O que o algoritmo quer de nós?

Ninguém consegue ser feliz com o seu corpo, sua vida, seus amores e suas escolhas. O capitalismo se apropriou de tudo. Não pense, faça! O algoritmo dita a minha vida. Será que tenho saída?

Acho que cansei. A mente não consegue reter mais tanta informação. Preciso de uma pausa.

Nesses últimos dias me questionei sobre o excesso de informações que nos circulam e nos vitimam. E em qual tipo de pessoa estamos nos transformando.

Isso é sobre as redes sociais e o excesso de informações que chegam a cada minuto, e nós nos deixamos levar, sem fazer o crivo necessário. A sociedade capitalista enche nossos olhos, mentes e corações, com as melhores publicidades que o algoritmo pode nos oferecer, as melhores vidas e performances, e nós nem questionamos o quanto de mal isso nos faz.

Já parou para pensar nisso? Eu paro e vez ou outra me afasto e me forço a não acompanhar o ritmo que me querem imputar, à força.

O algoritmo das redes sociais passou a conduzir as nossas vidas, ditar regras de beleza, normas de convivência, e de como fazer amigos e influenciar pessoas, parafraseando o escritor Dale Carnegie. Basta uma conversa despretensiosa com alguém ou uma busca aleatória na internet que o algoritmo dita a nossa vida: o que devemos comprar, onde devemos comer, que músicas devemos escutar, quem devemos amar ou odiar, qual gênero de filmes assistir. Em que cursos devo me matricular para continuar sempre “bem” informada e “atenta” a cada novo detalhe que surge, que pode dar um “up” no meu negócio ou na minha carreira. A vida moderna se tornou o paraíso dos coach. Tem coach para solucionar tudo.

O algoritmo me aponta para qual lugar devo viajar nas férias, com as várias opções de hospedagem e os melhores roteiros turísticos, de preferência ressaltando aquele “point” da ocasião.

O algoritmo me diz que não posso ter excesso de peso, nem unhas curtas, nem lábios originais, nem a tez rugosa ou os cabelos prateados da maturidade, pois a “tendência” mercantilista é vender todo tipo de procedimento estético que o padrão social exige.

Seja bela, linda e magra, como a atriz de TV. O algoritmo só não me pergunta se serei feliz seguindo esse padrão, mas, para isso, o capitalismo tem a solução: vender remédios para a crescente ansiedade do mundo moderno.

Ninguém consegue ser feliz com o seu corpo, sua vida, seus amores e suas escolhas. O capitalismo se apropriou de tudo. Não pense, faça! O algoritmo dita a minha vida. Será que tenho saída?

Talvez o nome adequado nem seja algoritmo, mas, eu decidi por esse codinome. Agora, eu dito a regra, porque me peguei cansada desse excesso de tudo.

Eita, será que estou fazendo um texto panfletário contra as redes sociais? Poderia e deveria, mas não rende likes (risos). A questão aqui é ficar atenta para não me deixar manipular pelas “belezas” e “sucessos” alheios que nos tornam reféns das vidas dos outros.

Por hora, não quero tanta informação pairando em minha mente. Não quero ter que estar constante e freneticamente alinhada e atenta às novidades. Quero fazer pinturas no papel, com lápis de cor, que eu adoro. Quero ler meus livros, sem dia ou hora para acabar. Quero cuidar das plantas, dos bichos de casa, das pequenas coisas que o algoritmo não pode interferir.

Ou será que pode?

Vejo pessoas adoecidas, reféns da sociedade do espetáculo. Sem saber que rumo seguir e sendo tragadas pela massa ensandecida por likes, disputando espaços nas redes sociais e nas produções teóricas que convidam a partilha de mais informação.

Mas, por que isso? Você não gosta das redes sociais? Sim, a tecnologia chegou para encurtar distâncias, promover encontros, e produzir informações em tempo real, mas, por outro lado, vem produzindo o aumento crescente de ansiedade nas pessoas. Ansiedade para produzir conteúdos para as redes sociais, ser e estar como as pessoas e vidas tão perfeitas nas telas dos celulares.

Acho que preferiria pausar um pouco o tempo. Escolheria ter mais tempo para refletir sobre as informações, conhecer as notícias, sem que no minuto seguinte ela esteja obsoleta. Por isso gosto dos livros. Nunca estarão obsoletos. O que foi escrito registra o seu tempo histórico, social, cultural.

Cuidemos de nós, pois, estamos caminhando para um abismo de informações truncadas, textos mal escritos e mal interpretados, leituras curtas e rápidas, diálogos e debates cada vez mais polarizados e perigosos.

Sonhe, cante, dance, pinte, escreva, leia… Não se deixe levar pelo algoritmo que conduz as vidas na sociedade do consumo.

FONTE: https://reporternordeste.com.br/o-que-o-algoritmo-quer-de-nos-por-alessandra-buarque/

Autora: Alessandra Buarque 

Edição: A. R.

A promessa de felicidade na modernidade líquida

Certamente, um dos grandes fatores que mobiliza e seduz os insaciáveis consumidores na sociedade de consumo é a promessa de felicidade. Não precisamos fazer grandes esforços, nem sequer recorrer a um olhar teórico sobre o assunto para constatar tais evidências.

Se prestarmos atenção aos comerciais que diariamente circulam pela televisão ou por outras formas de propaganda, de forma fácil perceberemos esse apelo constante que vem de diversas formas: “a felicidade mora aqui”, “está esperando o quê para ser feliz”, “deixe feliz a quem você ama”, “para que este Natal seja repleto de felicidade”. São apenas alguns exemplos dos slogans constantes que invadem nossas casas todos os dias.

A felicidade é comprada a crédito e a satisfação dos desejos tem de ser imediata, mesmo que isso custe “suaves” prestações que levam até quatro a cinco anos para pagar. Como diz Bauman (2000, p. 55), a sociedade de consumo “é uma comunidade de cartões de crédito, […] uma sociedade do ‘hoje e agora’; uma sociedade que deseja, não uma sociedade que espera”. Por isso não se necessita de “normas reguladoras” que impõe limite aos desejos, ou que disciplinem o compulsivo anseio de comprar.

A sedução torna-se a grande estratégia que os afortunados diretores de marketing bem remunerados que expõe “as maravilhas não experimentadas” e “as promessas de sensações desconhecidas”. Por isso, os consumidores devem estar pautados pela “estética do consumo” e não pela “ética do trabalho” e “o consumo, sempre mais variado e rico, aparece ante aos consumidores como um direito para desfrutar e não uma obrigação para cumprir”.

A estética torna-se o elemento agregador na sociedade de consumidores. A estética bonifica as mais “intensas experiências” que podem ser desfrutadas a cada ida ao shopping, pois esperar para desfrutar algo significa “perda de oportunidade”. Viver uma experiência estética não requer preparação e nem justificativa, pois chega sem anunciar-se e desaparece de forma rápida. Por isso tem de ser desfrutada no “presente fugaz”, onde “cada momento é bom para que se desfrute”.

Adverte Bauman (2000, p. 56) “não cabe ao consumidor decidir quando surgirá uma oportunidade para viver uma experiência alucinante; o consumidor deve estar sempre disposto a abrir a porta e recebê-la”. Por isso o alerta constante, a prontidão para reconhecer a oportunidade e a disposição para fazer tudo que for preciso para aproveitá-la da melhor maneira possível. Não existem receitas infalíveis, nem cálculos matemáticos, para mover-se no “universo das oportunidades”: a bússola para nos movermos não é nem cognitiva, nem moral. Este é o “segredo” e a promessa de felicidade na sociedade do consumo.

O trabalho não desaparece na “sociedade de consumo”. No entanto, sua função e seu status se modificam completamente. Ele perde seu “lugar de privilégio” e sua “condição de ser o eixo” estruturador da ordem social e da construção da identidade dos sujeitos. Com isso deixa de ser uma referência ética e passa a ser apreciado pela avaliação estética, ou seja, o trabalho passa a ser julgado pela “sua capacidade de gerar experiências prazerosas” (Bauman, 2000, p. 57). A partir desse critério são avaliadas as profissões e as formas de trabalho: algumas profissões são fascinantes e refinadas, pois são capazes de “brindar experiências estéticas”; outras são enfadonhas e somente asseguram a sobrevivência. Da mesma forma que ocorre na relação com as mercadorias, a possibilidade de escolha é o critério que demarca quando uma profissão ou trabalho são fascinantes ou enfadonhos. Aos que não são afortunados, com a estética do consumo e nem com a satisfação do trabalho, sobra as “amarguras” deste.

O trabalho pautado pela “estética do consumo” deixa de ser um dever moral e se transforma em um poderoso fator de estratificação social.

Para os afortunados das “profissões fascinantes” não existe mais uma linha divisória entre “trabalho e hobby”, entre as “tarefas produtivas e as atividades de recreação”, pois o próprio trabalho é elevado a “categoria de entretenimento supremo e mais satisfatório que qualquer outra atividade”. Os afortunados se jogam no trabalho 24 horas por dias, os 7 dias da semana, com a “doce e suave sensação” de escolheram viver a vida dessa forma, intensamente. Não se sentem escravos do trabalho; ao contrário, se sentem que fazem parte de uma elite de afortunados e exitosos consumidores. Como diz Bauman (2000, p. 58): “um trabalho como entretenimento é o privilégio mais invejado. E os afortunados que o tem se lançam de cabeça às oportunidades de sensações fortes e experiências emocionantes oferecidas por esses trabalhos”.

E o que significa ser pobre numa sociedade de consumo? Como fica a condição de felicidade na estética do consumo?

Na leitura de Bauman (2000, p. 64), a pobreza não se resume a falta de comodidade e ao sofrimento físico; ela é acima de tudo uma condição social e psicológica, ser pobre nessa condição significa estar excluído do que se considera uma vida normal, o que gera sentimento de vergonha ou culpa. A pobreza implica um fechar de portas de uma vida feliz por não usufruir das oportunidades que a vida oferece.

Na estética do consumo, como ressalta Bauman (2000, p. 64), uma vida feliz é aquela em que todas as oportunidades se aproveitam. Nessa definição, os pobres não têm uma vida normal e, portanto, não podem ter uma existência feliz, pois são consumidores defeituosos ou frustrados, consumidores imperfeitos, deficientes e incapazes de adaptar-se ao nosso mundo. Essa incapacidade e deficiência causam uma profunda degradação social e um exílio interno, que se converte em ressentimento provocado pela exclusão do banquete social no paraíso da estética do consumo. Se a felicidade é fazer parte do afortunado grupo que pode consumir e escolher diante de tanta abundância ofertada pelo mercado, então os pobres dificilmente poderão ter acesso à felicidade.

 Em estudos realizados na Inglaterra nos anos de 1980, com o objetivo de compreender os modo de vida dos trabalhadores, ao analisar sobre os efeitos psicossociais do desemprego, revelaram que os termos “aborrecimento” e “frustração” foram as palavras mais frequentemente utilizadas pelos entrevistados. A vida na estética do consumo se propõe erradicar o aborrecimento, pois promete uma vida de excitação contínua, renovada que se dá na possibilidade de obter algo novo, inédito, desde que se tenha dinheiro para pagar.

Se há quase um século Sigmund Freud anunciava que a felicidade não existe como estado, que somente somos felizes por momentos e que logo nos aborrecemos, a estética do consumo, estrategicamente e engenhosamente criou uma sistemática em que “os desejos surgem mais rapidamente que o tempo que leva para saciá-los, e que os objetos de desejo são substituídos com mais velocidade do que se tarda em acostumar-se e aborrecer-se com eles” (Bauman, 2000, p. 66). Na estética do consumo não há espaços e chances para o aborrecimento, esta é a regra.

No entanto, para entrar nessa sistemática é necessário dinheiro, pois é ele que possibilita alcançar o “estado de felicidade”. Como diz Bauman (2000, p.66) “desejar é grátis; porém, para desejar de forma realista e deste modo sentir o desejo como um estado prazeroso, há que ter recursos. O seguro de saúde não dá remédios contra o aborrecimento”. Ter dinheiro é adquirir o “ingresso” para se fazer presente no lugar onde é possível afastar o fantasma do “aborrecimento”, lugar onde os desejos são permanentemente renovados, realimentados e potencializados.

Na estética do consumo aos pobres é reservada a condição de serem subservientes a um estigma de consumidor defeituoso e por isso sua função é esfregar pisos, cuidar dos jardins dos afortunados e prestar-se aos trabalhos mais básicos com a ilusão de que talvez um dia possam ter dinheiro suficiente para usufruir do paraíso do consumo.

Na estética do consumo “os ricos se transformam em objeto de adoração universal” (Bauman, 2000, p. 68). Se na ética do trabalho os ricos se colocavam como modelos de heróis, “homens que haviam triunfado por seu próprio esforço”, agora a riqueza se torna objeto de veneração, pois é ela que possibilita o estilo de vida extravagante oferecido pelo paraíso do consumo. Os ricos são idolatrados, pois possuem uma extraordinária capacidade de escolha da forma de vida e mudá-la se for necessário.

Na avaliação de Bauman (2000, p. 68), o crescimento econômico no cenário da estética do consumo, significa substituição de postos de trabalho por “mão de obra flexível”, a substituição da segurança laboral pelos “contratos renováveis”, empregos temporários e contratações ocasionais. O próprio Bauman (2000, p. 68-69) denuncia essa dura e agressiva realidade quando constata que a Grã Bretanha posterior à era Thatcher, aclamada como o êxito econômico mais assombroso do mundo ocidental, se tornou também o país que ostenta a pobreza mais agressiva entre as nações ricas do planeta. Nesse cenário “quanto mais pobres são os pobres, mais altos e caprichosos são os modelos colocados frente aos seus olhos: há que adorá-los, invejá-los aspirar a imitá-los”.

Uma das possibilidades de saída alternativa para aqueles pobres que almejam sonhar ou ter parte das “migalhas” da estética do consumo é hipotecar sua própria vida através da “vida a crédito”. Neste cenário, não somente a felicidade está à mercê do consumismo, o amor, bem como, os relacionamentos, estão sendo cada vez mais voláteis e fugazes, são tão líquidos que são difíceis de durar.

Para os que tiverem interesse em aprofundar esse debate do consumismo, além das referências do Sociólogo Zigmunt Bauman, indico o capítulo “A Fragilidade dos laços humanos e a felicidade efêmera na sociedade de consumo: implicações formativas” (Fávero; Rosa, 2019).

Referências:

BAUMAN, Zygmunt. Trabajo, consumismo y nuevos pobres. Barcelona: Gedisa, 2000.

FÁVERO, Altair Alberto; ROSA, Francieli Nunes da. A Fragilidade dos laços humanos e a felicidade efêmera na sociedade de consumo: implicações formativas. In: FÁVERO, Altair Alberto: TONIETO, Carina; CONSALÉR, Evandro (orgs.). Leituras sobre Zygmunt Bauman e a Educação. Curitiba: CRV, 2019, p.139-152.

Dr. Altair Alberto Fávero Email: altairfavero@gmail.com Professor do Mestrado e Doutorado em Educação da UPF. Também escreveu e publicou “O sentimento moral como virtude”; https://www.neipies.com/o-sentimento-moral-como-virtude/,

Edição: A. R.

Emergências climáticas e migrações forçadas

Nosso desafio não é só com a gestão do caos e dos riscos, mas também com a construção de outro sistema capaz de prevenir novos desastres. Se os extremos climáticos provocam migrações forçadas; de outra parte, nos forçam a fazer mudanças substanciais e urgentes na forma de pensar e de agir.

O Rio Grande do Sul vem experimentando uma espécie de dilúvio. Parece mesmo reedição do episódio bíblico narrado no livro do Gênesis (cap. 6 a 9), com destaque para a figura de Noé e sua arca salvadora. Os elementos causadores da inundação atual são diversos. As interpretações que se fazem do fato vão desde as mais fundamentalistas e moralistas até as mais superficiais ou negacionistas. Não faltam opiniões enviesadas e descabidas, atribuindo a causa dos desastres ao ateísmo, à bruxaria, ao castigo de Deus ou à governança do demônio.

Em contrapartida, se intensificam análises científicas sobre as origens e as consequências das emergências climáticas. A rigor, não é possível simplificar o que é naturalmente complexo. Não há soluções fáceis e individuais para problemas gravíssimos e coletivos. Além de prejuízos materiais, econômicos, culturais e ambientais, as inundações também trazem danos à própria esperança e autoestima humanas. De outra parte (ainda bem), evocam inundações de solidariedade nas suas expressões mais humanitárias possíveis.

Os eventos climáticos extremos produzem também muitas migrações forçadas em todo o mundo. De acordo com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), mais de 30,7 milhões de migrações foram registradas em 2020 em função de desastres relacionados ao clima. A Organização Internacional para Migrações (órgão ligado à ONU) estima que, só em 2022, mais de 700 mil brasileiros precisaram se deslocar, a maior parte em função de enchentes. Com as inundações no Rio Grande do Sul, em 2024, mais de 615 mil pessoas tiveram de deixar suas residências. Os migrantes do clima ou refugiados climáticos (por conta de enchentes, ciclones e secas) estão aumentando cada vez mais em nível mundial.

Para evitar que migrações ocorram de maneira súbita e forçada por tragédias ambientais, elas poderiam ser planejadas em conjunto com pessoas interessadas e os poderes públicos locais, estaduais e federais. No caso das inundações no Rio Grande do Sul, migrações organizadas e amparadas social e economicamente acabam sendo uma alternativa, entre outras, para famílias que tiveram perdas significativas ou totais de suas residências, de seus locais de trabalho no meio urbano ou rural.  

Migrações para outros locais dentro da própria cidade ou município, dentro do mesmo estado ou para outros estados em que os habitantes estão diminuindo, podem ser pensadas como uma das formas de enfrentar a situação emergente. No Alto Uruguai gaúcho, por exemplo, dos 32 municípios que compõem a região, apenas 4 aumentaram sua população comparando o Censo do IBGE de 2010 com o de 2022. Os demais 28 municípios tiveram redução de habitantes, sobretudo da população que vive e trabalha no meio rural. Fomentar o repovoamento de zonas rurais, além de estimular a produção agrícola e agropecuária, poderia reconstituir comunidades que estão cada vez mais esvaziadas.

Entre outras medidas diante do contexto de crises atuais, é importante também o combate efetivo ao racismo ambiental e às injustiças climáticas, bem como o enfrentamento do consumismo, do desmatamento, da poluição e da exploração destrutiva da natureza. É fundamental estimular a transição energética, a produção agroecológica, a economia solidária, a educação ambiental crítica, a conservação dos ecossistemas, a pesquisa sobre as mudanças climáticas, etc.

Conferências municipais, estaduais, nacionais e mundiais de meio ambiente são espaços essenciais para discutir novas políticas e assumir compromissos conjuntos de restauração e preservação da Casa Comum.

Há uma conexão evidente entre a destruição das floretas e o aquecimento global; entre o desmonte da regulação ambiental para favorecer a mercantilização da natureza e os eventos catastróficos.

Nosso desafio não é só com a gestão do caos e dos riscos, mas também com a construção de outro sistema capaz de prevenir novos desastres. Se os extremos climáticos provocam migrações forçadas; de outra parte, nos forçam a fazer mudanças substanciais e urgentes na forma de pensar e de agir. Parafraseando o Hino do RS, poderíamos dizer: ‘Sirvam nossas tragédias de alerta a toda terra’!

Leia também: O que aprender e ensinar nas escolas a partir de tragédias ambientais como a do RS: https://www.neipies.com/o-que-aprender-e-ensinar-nas-escolas-a-partir-de-tragedias-ambientais-como-a-do-rs/

Autor: Dirceu Benincá, professor universitário (UFSB e FURG). Também escreveu e publicou “Quando as àguas baixarem”: https://www.neipies.com/quando-as-aguas-baixarem/

Edição: A. R.

Pedagogia: por glamour ou por amor?

Defender a educação como direito fundamental se faz no dia a dia e na compreensão de que cada ser envolvido no processo de aprendizagem está atravessado por contextos e questões que precisam ser considerados, por vulnerabilidades e precarizações dirigidas. Não é somente uma questão de querer.

Eu não comecei na Pedagogia amando o curso, pelo contrário, a decisão em cursar no primeiro momento foi pura e concretamente influenciada pelo fato de no ano anterior, ter ouvido falar que o salário de uma Pedagoga seria de 3 mil reais. Foi isso: uma menina do interior sonhando em cursar faculdade que ouviu que talvez pudesse receber uma quantia que jamais fez parte da renda da sua família.

Essa é a minha história inicial com a Pedagogia, pouco glamourosa, tampouco com pretensão de vocação mas carregado da realidade que vivia. É mais ou menos esse o sonho do pobre, uma ousadia em querer estar na academia mas nunca esquecendo do que a vida toda está presente: saco vazio não para em pé, tampouco estuda.

Me apaixonei pela Pedagogia tardiamente e acho que foi um processo de descoberta e encantamento bonito de quem começa a entender que tem voz e pode dizê-la no mundo. Acho que isso foi uma das coisas que me transformou imensamente: ser escutada e, no acolhimento da palavra, poder me fazer cidadã nesse mundo.

A minha língua pouco formal – e com poucas travas em alguns momentos – me fez ter a possibilidade de questionar o que antes era pouco nítido pra mim. De cara, já um outro fato: eu não cabia numa pedagogia de hierarquias, numa cultura escolar que não compreende o exercício da palavra, da escuta e da acolhida como fundamentais para qualquer processo educativo e, assim, nascia também alguém apaixonada pela Pedagogia Social.

Nesses anos passei por escolas, ONGs, comunidades, clínicas, prefeituras e prisões. E em cada lugar me construía um pouco mais gente. Acho que, também, um pouco mais escutadora e admiradora da vida de cada pessoa junto a possibilidade de ouvi-las ou, como disse Edivânia (uma Pedagoga social por quem tenho profunda admiração), de “pisar o solo sagrado do outro”.

Há dias que me sinto uma fraude de Pedagoga, dias que se Paulo Freire me visse só ia baixar a cabeça e a balançar negativa e levemente enquanto coçava sua barba branca e me julgava interiormente. E isso é parte do processo eu acho, poder me olhar e ver o quanto ainda preciso aprender e melhorar, dar-me conta das contradições que ainda estão presentes e como construo caminho em busca de superá-las.

Carrego essa a certeza que a Pedagogia não é neutra e, se a concebo assim, é por perceber os constantes ataques que sofre a educação pública.

Precarizar a educação é um projeto político muito bem situado e com intenções bastante nítidas e da educação infantil ao ensino superior, muitas vezes, o que está em jogo é o poder.

Defender a educação como direito fundamental se faz no dia a dia e na compreensão de que cada ser envolvido no processo de aprendizagem está atravessado por contextos e questões que precisam ser considerados, por vulnerabilidades e precarizações dirigidas. Não é somente uma questão de querer.

Digo com convicção que todo processo de aprendizagem não é neutro porque tento estar constantemente no furacão da práxis. De agir, refletir, avaliar, transformar. E que, para isso acontecer, preciso estar totalmente presente, atenta e sensível com o que bell hooks chama de abertura radical, essa “disposição para explorar diferentes perspectivas e mudar a mente conforme novas ideias são apresentadas”.

Muito cedo na pedagogia assumi esse compromisso político com a educação (de vários modos e em diferentes instâncias) e que depois percebi que sempre atravessou minha vida e permitiu que eu me sonhasse acadêmica e formada.

Sonhar é alimento para criança curiosa transformar o mundo.

Tenho sonhado e esperançado muitos mundos com crianças, jovens, adultos, comunidades, prisões.

De um continente a outro, da sala com estrutura de aço e cimento à sombra das mangueiras: piso firme mas gentil em todo solo e peço licença para construir junto.

Viva a Pedagogia Libertadora!

Fotos: Divulgação/arquivo pessoal

Autora: Helena Schimitz. Também escreveu e publicou no site “Escrever para quê (em): https://www.neipies.com/escrever-para-que-em/

Edição: A. R.

A chuva e as crianças: alegrias e traumas

A chuva que sempre foi alegria para as crianças hoje, em muitos lugares, tornou-se um trauma causando medo nos corações dos pequeninos. Não podemos permitir que crianças tenham recordações tristes de desastres de enchentes, pois a chuva é um presente dos deuses para o homem e sem ela não estaríamos aqui mesmo sendo os causadores das maiores tragédias naturais do planeta Terra.

As crianças são os amores das nossas vidas, sem elas nada seríamos, mas a infância tem as suas alegrias e traumas no pensar dos pequeninos e nos seus mundos imaginários dependendo de como lhes mostramos as coisas ao nosso redor.

Nos últimos anos, o clima tem sofrido constantes mudanças ao redor do mundo com o desflorestamento e as queimadas. O homem tem devastado o meio ambiente invadindo áreas que antes eram apenas de mata virgem com árvores e plantas lindas. O que o homem faz com a natureza chega a doer na escrita do poeta.

Sendo assim, com essa brusca mudança do clima temos visto muitos desastres naturais ocorrendo no mundo inteiro. Governantes não sabem o que fazer para ajudar seus povos. Ninguém sabe o que fazer, quando a resposta está dentro das nossas palavras transformadas em ações sérias e responsáveis.

O meio ambiente há anos pede socorro e ninguém parece ver isso, apenas quando ocorre um desastre natural é que nos preocupamos com as vítimas dos nossos esquecimentos momentâneos e das nossas responsabilidades para com a natureza.

Não basta somente falar, fazer reuniões e eventos com governantes e responsáveis pelo meio ambiente, não culpo a natureza nem os deuses do Olimpo ou de qualquer outro lugar divino, mas responsabilizo o homem pelo que está acontecendo conosco no mundo inteiro quando vemos nossos irmãos morrendo vítimas de desastres naturais que poderiam ser evitados se tivéssemos políticas públicas sérias para evitar que o homem interfira na natureza com tanta propriedade.

A chuva que sempre foi alegria para as crianças hoje, em muitos lugares, tornou-se um trauma causando medo nos corações dos pequeninos. Quantas vezes não vi uma criança brincar de tomar banho de chuva, de correr com as mãos para cima para sentir os pingos da chuva caírem na sua cabeça ou de tomar banho numa bica dessas grandes que deixa a água cair na gente com a alegria que só os deuses podem nos proporcionar.

Essa chuva querida e amada pelas criancinhas era motivo de festa e alegria nos tempos em que o homem respeitava o cordão umbilical da Terra à vida. Lembro-me bem do quanto ficava feliz na minha infância quando via a chuva cair da minha pequena janela e mamãe autorizava que eu fosse tomar um banho de chuva no meio da rua correndo pra cima e pra baixo vivendo como se não tivesse mais um amanhã para mim apenas sentindo a vida na minha criancice chegar e eternizar-se numa primavera de alegrias em tempos de soltar pipa e brincar com as poças de água formadas pela chuva na minha pequena rua onde tudo se transformava em festa no meu mundo imaginário.

Não, meu Deus, não permita que as crianças tenham traumas da chuva e fiquem com medo dela. Não permita, Senhor, que a chuva se torne algo ameaçador a alegria da infância já tão sofrida e dolorida neste mundo de ódio e violências. Que possamos mostrar para as nossas crianças um mundo de bonitezas em que a chuva é um presente que vem de algum lugar mágico e enche rios e alimenta plantas para um bem-viver.

Que toda criança possa ter a lembrança de um banho de chuva com a alegria que eu tive. As suas memórias ao se deitarem sejam belas e gigantescas diante de uma chuva que traz alegrias e sorrisos à infância que desce a ladeira num banho de chuva maravilhoso de deixar toda saudade passar sem ser percebida nos pingos de água que vêm do céu. E que cada criança possa desenhar nuvens escuras com pingos de chuvas caindo em cima das suas cabecinhas com a alegria de estar vivo e presente em meio a um mundo tóxico e cheio de irresponsáveis humanos.

Levemos às crianças do mundo inteiro que sofrem hoje com os desastres das enchentes destruindo seus lares, levando embora seus brinquedos e molhando seus corpos trazendo frio e medo uma forma de mostrar-lhes que a culpa não é da chuva, a ideia de que a chuva não é uma coisa má, mas ela é consequência da irresponsabilidade e negligência das autoridades que só sabem colocar concretos e arrancar árvores mundo a fora.

Que toda criança possa ter a lembrança da chuva como algo bom, algo que vem dos deuses e que traz benefícios grandiosos para o homem que planta milho, feijão, arroz além de toda o planeta Terra que precisa da água da chuva para sobreviver. Sem a chuva não estaríamos aqui neste lugar cheio de homens de paletó e gravata que todos os dias derrubam uma árvore e constroem prédios dentro das florestas.

Precisamos dizer às crianças que a chuva não é culpada por elas terem que ser resgatadas por bombeiros ou voluntários da defesa civil e deixarem todas as suas coisinhas para trás até mesmo os seus animais, quem é culpado de tudo isso é o homem que fala tanto em analfabetismo funcional e esquece do seu analfabetismo ambiental. Devemos e somos responsáveis a mostrarmos para as nossas crianças que a chuva quando vem é para alegrar o planeta Terra, pois sem ela não teríamos vida.

Se nos alegra um pouco e não sabemos como mostrar para as nossas crianças vítimas de enchentes o quanto a chuva é importante para o homem, mostremos-lhes um pouco do sofrimento do sertanejo nordestino que toma sopa de pedra e corre atrás de bichos os mais diversos num chão rachado de tão seco e com suas vacas mortas no quintal de casa porque a chuva não vem, mostremos para as nossas crianças a alegria do sertanejo no inverno e quando a chuva vai enchendo açudes e lagos.

É nosso dever dizermos às crianças vítimas de enchentes que a chuva nunca fará mal a nenhuma delas, que a chuva quando cai é para alimentar plantas e animais, é para não deixar que os homens, as florestas e os bichos morram de sede. A chuva enche os rios e os nossos corações de alegrias e isso as crianças precisam saber.

As crianças não podem e não devem ter traumas da chuva assim como conheço muitas que estão sofrendo ao verem o tempo nublar e lembrarem do que passaram ontem. Não podemos permitir que as crianças tenham recordações de desastres de enchentes, pois a chuva é um presente dos deuses para o homem e sem ela não estaríamos aqui mesmo sendo os causadores das maiores tragédias naturais do planeta Terra.

Digamos às crianças que continuem desenhando nuvens escuras, árvores sorrindo com a chuva caindo e que elas continuem com a alegria de tomar um banho de chuva sempre e sempre, pois o maior responsável pelas memórias eternizadas na alma dos nossos pequeninos somos nós, homens e mulheres imperfeitos que todos os dias matam e destroem um pouco o meio ambiente.

Ademais, peço que os pais e responsáveis nunca coloquem a culpa das enchentes na chuva, pois ela é preciosa e rara em alguns lugares do mundo e muita gente morre com a sua falta. O que acontece, criancinha, meu amor, é que o homem maltrata tanto o planeta que ele chora lágrimas de pedra e faz com que responsabilizemos uma coisa tão linda em uma bruxa do mal. A chuva é uma princesa que vem nos salvar quando as vaquinhas estão morrendo no terreiro de sede e fome. O homem é esse bruxo mau que destrói tudo o que encontra pela frente e é ele o responsável por você ter que sair de casa correndo para não se afogar com a enchente.

Peço aos professores, pais e responsáveis que mostrem para as suas crianças a bondade e grandiosidade da chuva, tirando dela qualquer lembrança maldosa ou sofrida. Em lugares onde o homem já saiu da Idade da Pedra e se tornou um aliado da natureza tomar banho de chuva continua sendo a maior alegria de uma criança e ver a chuva pela primeira vez é coisa para se registrar na memória afetiva de cada coração pequenino. Amemos a chuva!

Para terminar deixo vocês com os versos da canção do nosso amado cantor Tom Jobim onde ele nos diz

“É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã/ É um resto de mato na luz da manhã / São as águas de março fechando o verão / É a promessa de vida no teu coração…”

Seja março, dezembro ou junho o importante é que a criança reflita e imagine que a chuva é uma promessa de vida no seu coração sempre e sempre, cada vez mais.

Autora: Rosângela Trajano. Também escreveu e publicou “Como a sua reação afeta a criança”: https://www.neipies.com/como-a-sua-reacao-afeta-a-crianca/

Edição: A. R.

Não foram as águas

Talvez em algum outro horizonte possamos ainda semear o arco-íris, na infinita complacência da paz de uma criança.

Não foram as águas que me entristeceram…

Mas teu olhar, pálido como um dia de outono

prazeroso em demorar-se….

Não são as coisas que se dão fim.

Somos nós que damos fins a elas.

No jogo de arrancar

o coração um do outro,

perfuramos nossos olhos.

Ouvimos a música do horizonte e,

na verdade, era uma música triste, fria, distante,

porque nem nossos olhos,

nem nossos ouvidos,

estavam afinados com o arco-íris.

Sobe agora em meu barco,

como uma criança pequenina

e inocente,

e me deixa levá-la

para além da montanha onde o Sol desaba…

Talvez em algum outro horizonte

possamos ainda

semear o arco-íris,

na infinita complacência

da paz de uma criança.

Não me fiz surdo para o trompete

que anuncia o fim do mundo.

Não ignorei os corações afogados.

Com o mal, porém, é sempre assim: quanto mais lhe damos atenção,

mais ele cresce,

como erva daninha,

e toma e afoga nossos jardins.

Vem comigo para o outro lado da montanha,

ainda que tenhamos, primeiro, que subi-la.

Do lado de lá há um lindo e calmo córrego,

no qual lavaremos a face,

no qual nos banharemos nus,

e nos livraremos da lama que nos cobre.

Nus, poderemos, então,

olhar nos olhos um do outro,

e tomaremos um ao outro como espelho

da nossa própria alma.

Entre o teu olhar e o meu

o Sol, retornando, há de plantar o arco-íris.

Autor: Aleixo da Rosa. Também escreveu e publicou crônica “Professores não sabem nada”: https://www.neipies.com/professores-nao-sabem-nada/

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