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O que aprender e ensinar nas escolas a partir de tragédias ambientais como a do RS?

Entendemos que a abordagem didática e pedagógica da tragédia ambiental no RS representa uma oportunidade única de construirmos sentido e relevância destes conteúdos nas salas de aula, trazendo elementos reflexivos que apontem possíveis soluções e ampliem a capacidade crítica e criativa dos nossos estudantes, razão maior da existência de nossas escolas.

Acreditamos numa educação contextualizada, que se importa e que trabalha, didática e pedagogicamente, temas emergentes e urgentes que impactam a sociedade, inclusive aqueles que surgem repentinamente, que podem estar fora dos nossos planos de trabalho ou planejamentos trimestrais ou mensais. É o caso da recente catástrofe ambiental que assola o sul do Brasil, impactando sob vários aspectos a economia, a vida social, cultural e educacional de nosso querido Rio Grande do Sul, do nosso querido e amado Brasil.

Nossas escolas não podem ficar alheias às realidades sociais e ambientais. Quando ocorrem eventos sociais ou ambientais que impactam a vida de nossas comunidades, precisamos ousar para incluir, efetivamente, este contexto como um tópico das discussões das nossas escolas, bem como uma interessante forma para nossos estudantes desenvolverem habilidades relevantes já previstas na nossa BNCC (Base Nacional Comum Curricular).

Este conteúdo pode ser abordado por diferentes componentes curriculares, por áreas de conhecimento ou mesmo constituir um trabalho de toda escola onde cada componente ou área de conhecimento colabora com uma abordagem específica. Se este conteúdo, da prática e da realidade social mais impactante e eminente não nos importa, o que nos importará?

A partir deste entendimento e convicção, decido socializar, neste ensaio, alguns apontamentos/sugestões de intervenção pedagógica, a partir de minha experiência vivenciada em salas de escolas públicas de anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Algumas sugestões e propostas foram sugeridas com colegas professores e professoras que, como eu, já ousaram trabalhar e problematizar o evento da tragédia ambiental que assola o RS em 2024 e das grandes e impactantes consequências para todos os gaúchos e gaúchas, brasileiros e brasileiras.

Lembramos que há habilidades específicas que versam sobre este tema. Citaremos algumas: (EF07CI08) Avaliar como os impactos provocados por catástrofes naturais ou mudanças nos componentes físicos, biológicos ou sociais de um ecossistema afetam suas populações, podendo ameaçar ou provocar a extinção de espécies, alteração de hábitos, migração etc. (EF09CI13):  Propor iniciativas individuais e coletivas para a solução de problemas ambientais da cidade ou da comunidade, com base na análise de ações de consumo consciente e de sustentabilidade bem-sucedidas.(EM13CNT301): Construir questões, elaborar hipóteses, previsões e estimativas, empregar instrumentos de medição e representar e interpretar modelos explicativos, dados e/ou resultados experimentais para construir, avaliar e justificar conclusões no enfrentamento de situações-problema sob uma perspectiva científica. (EF05GE10) Reconhecer e comparar atributos da qualidade ambiental e algumas formas de poluição dos cursos de água e dos oceanos (esgotos, efluentes industriais, marés negras etc.).

A educação ambiental está prevista em competência da BNCC, aparece entre as Competências Gerais: Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.

Enumeramos alguns tópicos que podem auxiliar os professores e professoras na organização de intervenções didáticas e pedagógicas.

1. Sensibilidade social do problema.

Percebemos que um grupo expressivo de estudantes ainda não está/ nem estão envolvidos e sensibilizados para a leitura, interpretação e intervenção do problema vivenciado no RS.

Os estudantes possuem, modo geral, informações muito superficiais, pouco refletidas e, muitas vezes, resultado de disseminação de Fake News, reproduzidas em diferentes redes sociais. Para tanto, necessitam de uma provocação para a leitura e estudo de matérias científicas e jornalísticas sobre o tema, para a socialização de informações e para o debate das questões que envolvem a maior tragédia ambiental já vivida no RS.

Sugestões de atividades:

Uma das maneiras de fazer esta sensibilização e aproximação com a realidade concreta das milhares de pessoas afetadas pela tragédia pode ser através da representação de imagens/desenhos/interpretação através da arte. Esta atividade rende muito para a formação da sensibilidade social do problema. Força os estudantes a buscarem imagens impactantes reveladas através da mídia e das redes sociais. Leva-os também a pesquisar pequenos textos ou imagens na internet, a fim de superarem a interpretação rasa dos fatos.

Estes trabalhos confeccionados pelos estudantes podem ser expostos em painéis no interior das escolas, bem como podem ser postadas em redes sociais utilizadas pelas comunidades escolares.

Outra estratégia é contar histórias ou convidar pessoas que já vivenciaram o drama de abandonar as casas, voltar para as casas para habitá-las novamente e recomeçar tudo de novo. Pode-se também assistir com estudantes pequenas reportagens que contenham relatos de pessoas/famílias que já passaram por esta realidade.

2.Problematização e aprofundamento de conhecimentos

Este tópico compreende a necessidade de eleger e elencar aspectos mais específicos para aprofundar e compreender a tragédia ambiental que ocorreu em nosso estado.

Sugestões de atividades:

No caso específico, estudar a geografia do nosso estado, as bacias hidrográficas, as estatísticas sobre o volume de chuvas, as cidades mais afetadas, os problemas e soluções já experimentados para sanar ou mitigar o problemas das enchentes. Envolve saber também qual é a dimensão do problema: número de mortos, quais são as populações mais atingidas, número de famílias desalojadas e fora de suas casas; número de pessoas diretamente afetadas, cifras e números sobre os custos da recuperação das áreas e dos estragados causados pela tragédia ambiental.

Pesquisar e problematizar sobre quais foram os eventos semelhantes que ocorreram no passado, que ações foram tomadas pelos governantes e como a população reagiu ao que aconteceu.

3.Intervenção e engajamento social

Este tópico representa o desafio do engajamento social, a partir do conhecimento adquirido e construído junto e com os estudantes. Pode prever ações concretas que envolvam atividades voluntárias, arrecadação de mantimentos ou comidas.

A depender da situação e do lugar onde moram os estudantes, pode resultar em visitas de conhecimentos a comunidades afetadas diretamente pela tragédia ambiental.

Pode suscitar também o estudo sobre alternativas para a mitigação de consequências de uma tragédia ambiental deste porte como tratamentos para obter água potável, retirada de populações e cidades inteiras de áreas de risco, ocupação do solo urbano e riscos iminentes por ocuparmos áreas de preservação ambiental ou muito próxima de mananciais, rios ou lagos.

Entendemos, por fim, que uma tragédia ambiental como esta vivida por significativa parte da população gaúcha tem muito a ensinar a todos, sejam professores e professoras, como também aos estudantes. Entendemos, também, que a tragédia representa uma oportunidade única de construirmos sentido e relevância destes conteúdos nas salas de aula, trazendo elementos reflexivos que apontem possíveis soluções e ampliem a capacidade crítica e criativa dos nossos estudantes.

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Atividade para Educação Infantil (sugestão do professor Marciano Pereira)

Habilidade EI03EO01 (Demonstrar empatia pelos outros, percebendo que as pessoas têm diferentes sentimentos, necessidades e maneiras de pensar e agir)

Utilizar a história “E a Chuva” da autora Sabrina Fuhr ou “Céu, Sol, Sul de ”Cristina Saling Kruel.

Acesse aqui: https://educacaointegral.org.br/reportagens/livro-gratuito-apoia-dialogo-com-criancas-sobre-as-enchentes-no-rio-grande-do-sul/

PASSOS:

  1. Passo: ler a história para as crianças
  2.  Passo: explorar as ilustrações da história (pode- se mostrar as ilustrações enquanto se lê/ conta a história).
  3. Passo: pedir para as crianças falarem sobre o que sentem quando chove? O que fazem em dias de chuva?
  4. Perguntar para as crianças sobre o que já sabem a respeito de enchentes, o que ouviram e ou viram.
  5. Solicitar que elaborem desenho sobre a conversa feita. Aínda podem utilizar massinha de modelar para expressar sentimentos despertados pela história.

É importante que as crianças expressem sentimentos vivenciados com a história e o contexto. Pode ser que algumas delas já tenham tido experiências relevantes em dias de muita chuva, e até mesmo enchentes.

Onde for viável a Escola pode motivar campanha de doações junto a famílias e a comunidade do entorno da Instituição. Se cada criança fizer uma contribuição, ela mesma fazer a entrega vai estar aprendendo de forma prática a empatia.

Para valorizar a atividade didática feita com as crianças, é possível utilizar os desenhos delas como peça para campanha de doação, publicar nas redes sociais da escola também é uma maneira de motivar o estudo do contexto e possibilitar a ressignificação das realidades.

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Outros subsídios para a leitura dos professores e professoras.

Gabriel Grabowski, professor e colaborador convidado do site já escreveu, nos alertando sobre o papel das escolas para a educação ambiental: “…todas as instituição de ensino, da educação infantil à pós-graduação, precisam, emergencialmente, se transformarem em espaços integrais de educação ambiental sustentáveis. Uma educação ambiental permanente, não neutra, crítica, integradora, prática, transversal, inter e multidisciplinar, vivencial e com participação da sociedade e da comunidade”. Leia mais: https://www.neipies.com/crises-climaticas-e-educacao-ambiental/

Professora Ana Lúcia Vieira, em ensaio publicado no site, afirma que “precisamos pensar estratégias harmoniosas entre teoria e prática, entre o que se diz e o que se faz, caso contrário, nossos estudantes não entenderão o propósito e a importância de tratar das causas ambientais, e a forma de agir deles permanecerá inalterada”. Leia mais: https://www.neipies.com/educacao-ambiental-por-etica-ou-por-etiqueta/

Gládis Pedersen, pedagoga, tratando sobre a importância do cuidado com o Planeta Terra aponta que “atividades planejadas adequadamente, de forma multidisciplinar e interdisciplinar, enriquecem o processo ensino aprendizagem na escola. Encontramos, na Base Nacional Curricular Comum, entre as competências do Ensino Religioso que o aluno deve: “Reconhecer e cuidar de si, do outro, da coletividade e da natureza enquanto expressão de valor da vida”. Leia mais: https://www.neipies.com/a-terra-nossa-mae-comum/

Rosângela Trajano, a partir de preocupação de como falar com as crianças sobre o clima, escreve:faça com que as crianças reflitam sobre clima e natureza e levantem questões críticas, de posicionamento favorável a proteção do meio ambiente e com mais rigor a quem prejudica a natureza. Crie uma cartilha de boas práticas junto a natureza”. Leia mais: https://www.neipies.com/como-falar-sobre-o-problema-do-clima-com-as-criancas/

Imagens: desenhos/gravuras feitos por estudantes da EMEF Zeferino Demétrio Costi e Instituto Estadual Cecy Leite Costa durante aulas da semana (06 a 10/05/2024)

Autor: Nei Alberto Pies, professor, escritor e editor do site.

Edição: A. R.

Quando as águas baixarem

Entre outras medidas, é importante desenvolver uma educação socioambiental crítica e transversal, em todos os níveis e instituições. Repensar o modelo de desenvolvimento em curso, baseando-o na sustentabilidade dos ecossistemas e da biodiversidade, no emprego da ciência e da tecnologia em vista da justiça social, econômica e ambiental.

No contexto das inundações reincidentes no Rio Grande do Sul, do caos generalizado e das mobilizações locais, nacionais e internacionais para prestar socorro e solidariedade, advém uma série de reflexões e questionamentos. Por que as águas caem de forma intempestiva e sobem tão depressa como em um novo dilúvio? E por que são tão devastadoras quando caem e sobem assim de repente? Quando as águas baixarem e mesmo enquanto elas permanecem caindo e subindo, é tempo (ainda) de pensarmos e agirmos em várias direções.

A meu ver, nossas ações devem ser, fundamentalmente, em três níveis.

1)  Nível imediato: Em forma de resgate de pessoas e animais; oferecendo abrigo e doando gêneros de primeira necessidade; com serviços de apoio psicológico, médico, fraterno, espiritual, etc. Trata-se daquilo sem o qual a tragédia se ampliaria e agravaria. De um modo ou de outro, medidas dessa natureza podem ser e estão sendo tomadas por instituições, grupos, organizações e população em geral. Nesse sentido, a solidariedade está bem aflorada, o que é altamente louvável e humano e faz toda a diferença. Será que desta vez conseguiremos fixar a solidariedade como uma verdadeira cultura, um modo de ser ampliado e duradouro?

2) Nível conjuntural:  Ser solidário na hora da tragédia é vital, mas não basta. É preciso (re)planejamento urbano sob vários aspectos, incluindo a previsão de desastres, com os devidos sistemas de alerta e orientações de prevenção. Repensar a infraestrutura urbana é prioridade número zero, a considerar que, segundo o IBGE/2022, dos mais de 203 milhões de habitantes no Brasil, 84,72% da população já vive em zonas urbanas, o que ainda poderá aumentar.

Neste nível conjuntural emergem desafios como a criação de mecanismos eficientes de segurança; garantia de recursos para emergências; realocação de residências, de bairros ou até de cidades inteiras, etc. Isso implica um grande dilema, pois ao mesmo tempo em que é algo urgente e envolve muitos recursos, não pode ser feito sem o devido planejamento. Reconstruir no mesmo local, além de oneroso é temerário, pois ocorrências semelhantes poderão se repetir. Então, onde, como e com que recursos reerguer o que foi destruído?

3) Nível estrutural e global: As mudanças climáticas e suas consequências diretas e intensas sobre os ecossistemas, a vida humana e as edificações materiais são um fato. Agora estamos numa crucial encruzilhada. Se seguirmos pela via neoliberal, consumista, individualista, predatória e negacionista, as tragédias inaturais, ou seja, produzidas pelo próprio ser humano tendem a ser sempre mais graves e dramáticas. Ainda em 2018, Raymond Pierrehumbert, professor de física da Universidade de Oxford, um dos autores do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC) escreveu: “No que diz respeito à crise climática, sim, chegou a hora de entrarmos em pânico”.

Sem deixar de lado as ações no nível imediato e conjuntural, é essencial alargar ainda mais o horizonte.

Entre outras medidas, é importante desenvolver uma educação socioambiental crítica e transversal, em todos os níveis e instituições. Repensar o modelo de desenvolvimento em curso, baseando-o na sustentabilidade dos ecossistemas e da biodiversidade, no emprego da ciência e da tecnologia em vista da justiça social, econômica e ambiental. Adequar a legislação e as políticas públicas de proteção do meio ambiente, considerando a realidade do aquecimento global e suas consequências tais como essa que se abate sobre o Rio Grande do Sul

Enquanto as águas caem, sobem e baixam; seja no rigor do frio ou do calor, é imperativo refletir e construir meios para evitar que outras tragédias inaturais e de tamanha gravidade sigam acontecendo. Faz tempo que estudiosos do clima avisaram que estamos num ponto já sem retorno. Talvez ainda tenhamos um pouco de tempo para mudanças radicais no nosso modo humano de viver em sociedade e na relação de cuidado com a natureza. Mas, isso é mais um desejo do que uma certeza!

Autor: Dirceu Benincá.  Professor Universitário (UFSB e FURG). Também escreveu e publicou crônica “Encontrei a resposta”: https://www.neipies.com/encontrei-a-resposta/

Edição: A. R.

Chamado das Rosas Noturnas no Sul do Brasil

Unamo-nos, pois, em um só propósito: trazer alívio, conforto e esperança àqueles que enfrentam as tempestades da vida e das chuvas. O Rio Grande do Sul precisa do nosso apoio, da nossa compaixão, da nossa solidariedade. Que a nossa resposta seja um eco de amor que ressoe através das montanhas e vales, mostrando que, juntos, somos mais fortes do que qualquer tormenta.

Em um jardim de solidariedade, no qual as raras rosas pretas desabrocham como segredos guardados na noite, ecoa um chamado silencioso, uma sinfonia de compaixão que ressoa. Como as pétalas singulares que se tingem de um “carmesim” profundo, estas rosas são mais que simples flores; são testemunhas vivas da resiliência e da generosidade dos corações sulistas.

Imagine-se no jardim da solidariedade, onde as rosas noturnas dançam ao ritmo das sombras, cada pétala é um fragmento de compaixão. Enfrentando as tempestades da vida, como os bravos corações que chamamos de vizinhos, essas flores desafiam a seleção natural, buscando a profundidade do amor e da bondade.

O “carmesim” nelas é como um chamado silencioso, uma promessa de renovação mesmo nas noites mais escuras. E assim, nas entranhas do Sul do Brasil, onde o céu derrama suas lágrimas incessantes, essas rosas noturnas florescem como faróis de esperança, lembrando-nos de que a solidariedade é nossa maior força.

Que nossas mãos se estendam como compassos de música, guiando aqueles perdidos na escuridão da tempestade. Unidos, como notas numa sinfonia da compaixão, possamos oferecer abrigo e conforto. Que o amor seja nossa canção mais bela, mesmo quando as nuvens encobrem o céu. E que, como as rosas noturnas, possamos florescer mesmo nas condições mais desafiadoras, lembrando-nos de que a solidariedade é nossa maior força.

Nas terras do Sul do Brasil, onde a esperança se entrelaça e a bravura nunca passa, a solidariedade é a rosa preta, rara, que nos guia pelo caminho da compaixão. Unidos, como as pétalas de uma rosa, podemos enfrentar qualquer tempestade e florescer juntos, iluminando a escuridão com a luz da nossa generosidade. Que o chamado das Rosas Noturnas seja o nosso guia, e que a solidariedade seja a nossa mais bela melodia.

As pontes que nos ligam estão abaladas, mas não destruídas. Façamos delas laços de solidariedade, de apoio mútuo na medida em que é na união dos nossos esforços que encontraremos forças para reconstruir o que as águas furiosas levaram consigo.

Unamo-nos, pois, em um só propósito: trazer alívio, conforto e esperança àqueles que enfrentam as tempestades da vida. O Rio Grande do Sul precisa do nosso apoio, da nossa compaixão, da nossa solidariedade. Que a nossa resposta seja um eco de amor que ressoe através das montanhas e vales, mostrando que, juntos, somos mais fortes do que qualquer tormenta.

Saiba mais: maior tragédia e cheia do RS, em particular, na capital Porto Alegre. https://www.bbc.com/portuguese/articles/c136m7y3vrzo#:~:text=A%20capital%20Porto%20Alegre%20j%C3%A1,segundo%20a%20Rede%20Hidrometeorol%C3%B3gica%20Nacional.

Autor: Prof. Dr. Mauro Gaglietti. Membro da Academia Passo-Fundense de Letras

Edição: A. R.

Ensinar e aprender através do afeto: cartas pedagógicas

Repercutimos, nesta coluna, matéria feita por Marcos Antonio Corbari do jornal Brasil de Fato RS sobre uma experiência que realizei junto com professores e professoras de uma escola de Assentamento em Pontão, RS, utilizando a metodologia das cartas pedagógicas.

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É um pequeno livro. Pouco mais de 50 páginas. De leitura rápida. Mas é ao mesmo tempo grande. Um grande livro pelo tanto que representa. Mostra como uma educadora pode provocar seus educandos e educandas a florescer para o mundo, efetivando a educação impregnada pelo esperançar, bem do jeitinho que ensinou Paulo Freire. Dá para dizer mais, a educação impregnada pelo afeto, semente das verdadeiras revoluções.

Com certeza a educadora Elaine Busch – do 4º ano na Escola 29 de Outubro, no assentamento 16 de Março, território da antiga Fazenda Annoni, transformado pela Reforma Agrária, no município de Pontão (RS) – não imaginaria que ao instigar o grupo de crianças a escrever cartas para a educadora e escritora Isabela Camini, veria a experiência tornar-se objeto de um livro. Esses educadores e educadoras do Movimento dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) têm essa mania de olhar para seus Sem Terrinhas e esticar-lhes as asas.

Como educadora e mediadora da atividade, descrevo como um momento mágico. Em meio a tantas opções tecnológicas, não pensei que um meio já tido como ultrapassado por muitas pessoas, a carta, fosse despertar tanta emoção. É inexplicável o brilho nos olhos das crianças ao lerem a primeira resposta. Fala dos estudantes: “nossa, ela realmente respondeu. Ela gostou da nossa letra. Ela tirou um tempo para nos responder, sinto a emoção nas palavras! Ela disse que conheceu nossos pais. Ela conheceu o acampamento”. Nas entrelinhas, percebi que estavam contentes, porque se sentiram valorizados, importantes, porque alguém as ouviu e, acima de tudo, os respondeu.(professora Elaine Jovita Busch)

O trabalho com Cartas Pedagógicas não é novidade dentro da pedagogia dos e das Sem Terra. Nem para qualquer alguém que tenha Freire como guia. A novidade que o livro “Cartas de afeto e aprendizagens: uma relação entre educandos e educadora”, publicado pela editora Saluz, traz, é justamente o protagonismo das crianças. Suas palavras, suas histórias, suas raízes, seus sonhos são a pauta da conversa postal e provocam em Camini reflexões que vão além das respostas enviadas neste diálogo que se desenrolou via serviço postal entre maio e dezembro de 2023.

Não espere o leitor que este livro seja um tratado de ciência da educação. Não vem com um mosaico de recortes teóricos, nem com as costumeiras palavras difíceis ou citações de sobrenomes repletos de consoantes. O referencial teórico está na relação, o método é o afeto, a práxis é a história que antes de ser contada precisa ser escrita com o cotidiano daqueles e daquelas que são legítimos frutos de uma luta.

O instrumento de construção – a correspondência trocada entre Camini e o grupo do 4º ano – são cartas pedagógicas como devem ser de fato: repletas de verdades subjetivas, interpretações de mundo, leituras sobre um cotidiano que é transformador por natureza, tanto para quem aprende quanto para quem ensina (e é preciso citar, neste processo todas e todos deixam claro que muitas vezes quem tem o título de “educador/a” é que acaba aprendendo com quem está na condição de “educando”).

Este é um livro urgente, escrito com a pressa de quem vive o cotidiano de tempos que devoram as subjetividades das pessoas. Precisava chegar logo às mãos destes educandos e educandas, enquanto ainda encontram-se em meio ao processo de formação, tendo ciência de que seus escritos mesmo que singelos são extraordinários e por isso transformadores da realidade.


Para avalizar essa resenha, busco alguns recortes dos intertextos que vem em anexo ao livro:

“Escrever cartas é manter vivo em nós o aspecto mais necessário na atualidade: sermos humanos”, aponta Munir Lauer.

“O testemunho das trocas cultivadas nesta obra se insere no conjunto maior de esperanças na humanidade, de luta pela refundação da sociedade em bases sociais e ecológicas mais harmônicas”, afirma Roger Elias.

“Esse processo de troca é, em sua essência, a literatura na prática, como ferramenta de transformação de consciência do ser humano”, alinha Clarisse Teles.

“Nesse mundo de hoje, em que as relações são líquidas e superficiais, a carta é um acalanto, pelo fato de realmente trazer consigo a necessidade de pensar”, explica Elaine Busch.

“A cultura do saber ler e escrever o mundo, como já ensinou Paulo Freire, se concretiza nesse fazer pedagógico”, contextualiza Márcia Ramos.

“Essas crianças vivem suas infâncias com alegria, espontaneidade e plena liberdade. São crianças que podem viver suas infâncias com plena certeza de que sua palavra é ouvida, com respeito e dignidade”, conclui Isabela Camini.

E na resenha não será citado nenhum texto de algum dos alunos?

Enquanto redigia este texto debati com a pedagoga e dirigente do Setor de Educação do MST, Clarisse Teles, a respeito de uma delas, quiçá a mais singela, porém a que mais me instigou. O aluno Nicolas, inserido dentro do espectro autista, em sua carta afirmou: “Gosto da escola, dos colegas. De andar de bicicleta” e questionou: “E você?” Essa, entre todas, foi minha carta preferida. Lindamente simples e direta. Sem muita explicação nem justificativa. Bem como deve ser o “gostar”. A gente gosta e ponto. E você gosta do quê? Temos nos preocupado tanto com tantos “porquês” que acabamos deixando de lado o que realmente importa, que são os “oquês”.

O que eu achei do livro? Não fico cômodo na tarefa de “avaliador”. Convido a que o leiam, assim como fiz, com pensamento livre e coração aberto. Porque não devemos avaliar afetos. Leiam o novo livro de Isabela Camini. De Elaine Bush. De Clarisse Teles. De Munir Lauer, Roger Elias e Márcia Ramos. Mas sobretudo, leiam o primeiro livro de Nicolly, Bernardo, Valentina, Graziela, Luiza, Eduardo, Rafaela, Willian, Valentina e Nicolas.

O lançamento será realizado no próximo dia 14 de maio de 2024, na escola, com a presença dos pequenos autores e autoras, da organizadora, da educadora que provocou a escrita e demais que contribuíram com entrelinhas e intertextos. O Brasil de Fato RS também vai! Nos vemos em Pontão”!

FOTOS: Divulgação/ arquivo pessoal

FONTE: https://www.brasildefators.com.br/2024/04/29/ensinar-e-aprender-atraves-do-afeto-publicacao-divulga-cartas-entre-escritora-isabela-camini-e-criancas-sem-terrinha

Edição: A. R.

Para pensar no teto de todos nós

Nada vai acontecer! Até que o teto de cada um desabe sobre si.

Paredes salvas, lindas aos olhos de quem passa.

Sem teto, todavia. Pra quê! Quem se importa?

Não estamos correndo todos, por telhas escassas?

_Hoje não irá chover filhos! Fechem logo a porta.

Sob as nuvens, a ameaça! Sobe o tempo indiferente:

chuva, granizo, ventos, raios, e tudo será ensopado.

Sinta a emoção conosco?  Um céu feio passa, rente.

Passe você uma noite!  Uma noite apenas, encharcado.

Não há telhas que a contemplem, pelo menos hoje.

Muito menos consciência, que contemple a nós,

Tendo teto em minha casa, que mal que nos enoje?

Chame o prefeito, por um dia, e o deixe ali, a sós.

Até Deus pareceu abandonar. Que grande a eles o mal-feito?

Nesta vil tapera urbana, e que tem data e hora certa pra ruir.

Que as suas paredes, projetam apenas o vazio de quem eleito.

Mas, nada vai acontecer! Até que o teto de cada um desabe sobre si.

  11/04/2024

Autor: Nelceu A. Zanatta. Publicou e escreveu poesia “A menina, a janela e o cego”: https://www.neipies.com/a-menina-a-janela-e-o-cego/

Edição: A. R.

Trate as suas crianças de maneira igual

Trate seus filhos por igual como eles lhe tratam. Mesmo que você admire um mais do que o outro pelas suas habilidades e facilidades de compreenderem as coisas, pelo seu jeito físico de se parecer mais com você ou pelo seu jeito de agir ser exatamente igual ao seu.

Começo este pequeno ensaio literário com uma frase do meu amado poeta português Fernando Pessoa que nos diz “Mais vale ser criança que querer compreender o mundo.” A criança não compreende o mundo, mas compreende a forma como é tratada no ontem, no hoje e no futuro.

A infância é a fase da vida mais incompreendida pelos adultos. As crianças nascem vazias de conhecimentos e aos poucos vão recebendo conceitos diferentes e absorvendo os movimentos dos objetos e pessoas ao seu redor sem se dar conta do turbilhão de coisas que ainda têm para aprender.

Ser criança não é coisa fácil. Antes a gente só brincava e estudava. Hoje, temos que fazer um monte de coisas para deixarmos os nossos pais descansarem porque parece que eles se cansam da gente vez ou outra, não é mesmo? Os pais nunca deveriam se cansar das suas crianças, pois elas são o que de mais belo existe dentro de uma casa e sem elas nada teria mais importância no lar.

Se você é uma pessoa de muitos amigos deve tratá-los de diferentes formas quando os encontra ou numa roda de samba. Você sempre tem aquele preferido que quer sentar-se ao seu lado, o que gosta de falar de jogos e você o escuta com atenção ou o que fica calado o tempo inteiro e você o respeita. Cada amigo você trata de um jeito, certo?

No entanto, os amigos são pessoas adultas que já estão preparadas para isso e muitas vezes tem amigo que não gosta de receber um tratamento diferente, se zanga e vai embora. Todos gostam de ser tratados por igual. Ninguém quer ser tratado com diferenças numa festa ou reunião. As pessoas amam umas as outras e sentem ciúmes quando são tratadas de formas diferentes, ficam tristes e chegam até a chorar escondidas pela falta de empatia de alguns amigos.

Eu venho hoje pedir para você papai ou mamãe que tem mais de uma criança em casa tratá-las por igual, sim. Não dá mais atenção a uma do que a outra, não trazer um presente para uma e esquecer a outra porque já está maiorzinha e vai entender. Ninguém entende a falta de atenção, desleixo, a falta de amor.

Trate seus filhos por igual como eles lhe tratam. Mesmo que você admire um mais do que o outro pelas suas habilidades e facilidades de compreenderem as coisas, pelo seu jeito físico de se parecer mais com você ou pelo seu jeito de agir ser exatamente igual ao seu. Elas são crianças e entendem quando são tratadas de formas diferentes.

Por mais que você seja um pai ou mãe atencioso não esqueça de que a criança quer amor e atenção, ela quer saber que é amada incondicionalmente por você, logo imagine como se sente a criança que é esquecida no canto da casa enquanto o seu irmãozinho menor recebe todo o seu carinho. Claro que ela vai ficar triste e certamente até adoecer. Ela vai querer ir embora. Fugir de casa. Eu sempre pensava em fugir de casa quando meus pais brigavam comigo.

A vida de uma criança precisa ser tratada com respeito e cuidados. Alguns pais de primeira viagem esquecem de que seus filhos os amam e veem neles os seus heróis. Se os pais os tratam com indiferença, nas suas cabecinhas vão pensar que fizeram algo extremamente errado ou feio e vão ficar tristes. Muitos pais nem percebem essa tristeza porque estão ocupados demais com os seus problemas ou dando atenção para o irmãozinho que tirou notas boas na escola enquanto o outro está lá no quarto esquecido.

A criança que fica a mercê da própria sorte para sentir-se amada e tratada com cuidados e amor pode se deixar levar pelo carinho e palavras de qualquer estranho, principalmente aquelas que ficam horas no smartphone sem a vigilância dos pais. Elas contam tudo para a pessoa estranha do outro lado da linha como se fossem os seus salvadores e acabam fazendo coisas para essas pessoas que são prejudiciais aos seus crescimentos físicos e emocionais.

Tratar todas as crianças por igual é o certo e ponto final.

Mesmo que uma seja mais peralta do que a outra, mesmo que uma seja birrenta e a outra não, mesmo que uma tire notas boas na escola e a outra só faça bagunças. Pense naquele amigo que você esquece de dar atenção enquanto passa horas conversando com outro ao telefone. Como você se sentiria se fizessem isso com você?

Todas as crianças da casa devem receber o mesmo tratamento. Não que precisem se vestir com roupas iguais, não me refiro a isso. Mas, que sejam amadas e respeitadas nas suas individualidades e subjetividades recebendo a mesma atenção e cuidados dos seus pais para que se sintam amadas o tempo todo vivendo a segurança de um amor incondicional que nenhuma bruxa ou coisa parecida vai roubar delas.

A correria da vida, as exigências que o mundo faz dos adultos para cumprirem metas e objetivos, sempre nos deixam preocupados e cheios de temores. Esquecemos que as crianças têm medo de serem abandonadas nas portas das escolas ou em um parquinho qualquer.

Dessa mesma forma acontece quando as tratamos de um jeito diferente, elas pensam que estamos as deixando de lado porque já não gostamos mais delas, já não nos interessam mais. Estamos as descartando como se fosse uma coisa ou objeto e começam a chorar por qualquer coisa e até mesmo voltam a fazer xixi na cama.

Os traumas das crianças são causados na sua maioria por uma educação descuidada dos próprios pais ou responsáveis. Quando tratamos as nossas crianças de forma diferente elas ficam desconfiadas das nossas ações e começam a temer que façamos algo pior com elas ou que as abandonemos por não atenderem as nossas expectativas de serem boazinhas em tudo o que desejamos.

Não pense que você engana uma criança. As crianças são inteligentes e sabem quem as ama verdadeiramente. Elas também percebem quando são tratadas de forma diferente. Seja o tamanho do presente do irmãozinho que foi maior do que o dela, seja a atenção que você dá quando o irmãozinho fala do seu dia e você fica todo empolgado e quando ela fala você faz de conta que nem percebeu. São coisas pequeninas do cotidiano que fazemos com as nossas crianças que vão sendo acumuladas nas suas cabecinhas e começam a criar fantasias assustadoras com bichos e monstros.

Escuto quase todos os dias os meus amigos falarem que os consultórios de psicologia estão cheios de crianças assustadas e pais desesperados. Se o amor é possível curar tudo o que está acontecendo com as nossas crianças? Não conseguem perceber mais que as amamos? Ou estamos amando-as de um jeito errado?

Se pudéssemos entrar no pensamento de uma criança veríamos que lá dentro tem muitos questionamentos e coisas desarrumadas que foram causadas por nós. Sim, nós, pais e responsáveis que estamos mais preocupados em ficar milionários e irmos passar o resto das nossas vidas morando numa ilha paradisíaca.

O filósofo Sócrates não tratava os seus alunos de forma diferente, mas Platão vez ou outra tinha inveja deles. Achava que seu mestre dava mais atenção para os moços bonitos e o deixava de lado. Platão já era um jovem dotado de vários conhecimentos quando foi ter aulas com Sócrates e mesmo assim sentia que era tratado de forma diferente vez ou outra pelo seu mestre.

Deste jeito são as crianças na sala de aula com os seus professores. Elas conseguem perceber as que são verdadeiramente amadas e recebem cuidados. Desconfiam de que não recebem os mesmos cuidados porque não tiram notas boas ou porque são bagunceiras na sala de aula e que bagunçar parece não ser uma boa ideia, mas insistem na bagunça para chamar a atenção do professor somente para si nem que seja pelo erro e sabendo que está fazendo uma coisa feia e não boa para si própria a criança quer receber atenção também.

No meu mundo de criança fui tratada sempre com indiferença pelos meus professores e acho que devido a cor da minha pele ou quem sabe das minhas altas habilidades que eles não sabiam como lidar. Eu sempre terminava as minhas atividades primeiro do que os outros alunos e quando o professor passava uma tarefa eu logo resolvia antes mesmo da explicação.

Fui uma criança tratada de forma desrespeitosa pelos meus professores. Eles me colocavam num canto da parede, isolada de todas as outras e ali eu ficava até a aula terminar para não atrapalhar os demais alunos que ainda estavam aprendendo a fazer as tarefas enquanto eu já tinha terminado fazia tempo.

Meus pais nunca me trataram diferente e isso foi bom para mim. A minha mãe sempre cuidou bem de mim e mesmo eu sendo filha única numa família de três homens e uma mulher, mamãe nos beijava e abraçava com o mesmo cuidado que dava a cada um de nós. Eu via nos seus olhos cansados que se preocupava com o nosso bem-estar por igual e que quando perguntava como fomos na escola queria saber de nós quatro e não somente apenas de um ou dois.

Estou trazendo este assunto para você antes que seja necessário levar a sua criança ao consultório de um psicólogo ou a um terapeuta qualquer para saber o motivo dela estar triste por demais ou chorar o tempo todo quando você chega em casa ao invés de ficar alegre, talvez ela saiba que era para nesta hora você abraçá-la e dizer-lhe coisas lindas, mas você simplesmente se volta para o irmão mais velho ou mais novo e pergunta o que eles fizeram o dia todo esquecendo daquela que está ali quieta e tristonha à espera da sua atenção.

Ser bem tratado nos dias de hoje está bem difícil eu sei. No entanto, a criança não é culpada do seu comportamento malcriado, da sua birra ou da sua bagunça emocional na frente de estranhos, tudo o que ela quer é a sua atenção por pelo menos um instante. Ela quer que você chegue em casa e a abrace como faz com o bebê recém-nascido. Afinal, ela também é uma criança só mais crescidinha.

Cuidado com a forma com você trata a sua criança. Trate a todos por igual e experimente a dose dupla de amor que vem de Deus e dos seus amigos e crianças.

Para terminar este pequeno ensaio literário gostaria de citar um trecho do poema do nosso querido poeta português Fernando Pessoa que nos diz:

 “A criança que fui chora na estrada. / Deixei-a ali quando vim ser quem sou. / Mas hoje, vendo que o que sou é nada, / Quero ir buscar quem fui onde ficou.”

E que toda criança possa ir buscar quem foi ontem num cuidado atencioso por parte dos seus pais e responsáveis, afinal devemos ser tratados por igual sendo criança ou gente grande. Vá buscar você onde se deixou ficar.

Autora: Rosângela Trajano. Escreveu e publicou reflexão “É verdade que menina cresce mais rápido do que menino”: https://www.neipies.com/e-verdade-que-menina-cresce-mais-rapido-do-que-menino/

Edição: A. R.

Emergência climática e eleições municipais

Querendo ou não, há algo novo em nossas vidas. A população gaúcha está passando por um desafio – conviver com alagamentos urbanos. Mas será que a culpa é da chuva?

Parece ser mais simples culpar o visível, ou seja, a chuva, mas é preciso olhar com atenção o que isso revela. Chuvas sempre ocorreram, mas uma das principais razões para a cidade não dar conta da água da chuva é o excesso de impermeabilização do solo, que pode ser exemplificado pelos asfaltos. Em uma equação em que temos cada vez mais asfalto e cada vez menos solo disponível para absorver a água da chuva, a conta da absorção da água está cada dia mais deficitária. O reflexo direto disso corresponde a bocas de lobo sobrecarregadas, ruas e calçadas alagadas, resultando em famílias surpreendidas com água dentro de suas casas.

Experimentamos, na prática, o resultado do direcionamento dos investimentos públicos a iniciativas que reproduzem um modelo de cidade que não funciona mais, já que diminuem o verde e aumentam o cinza.

Mas é possível, a partir de ferramentas de planejamento urbano, contribuir para a redução dos efeitos dos dias chuvosos, entre as quais está a necessidade de os munícipios construírem planos de contingência que irão garantir um alerta mais qualificado, bem como o atendimento de famílias moradoras em áreas de risco.

E não só. Também é possível mitigar os dias quentes. Uma das formas é ampliar áreas verdes, e isso pode ser garantido a partir de inúmeras iniciativas apoiadas nas soluções baseadas na natureza (SBN).

As emergências climáticas devem ser entendidas como um fenômeno que se manterá constante. Esse problema requer uma solução coletiva, que se inicia com uma ação individual: o voto. Em um ano de eleições municipais, é importante perguntar: qual atenção será dada pelos candidatos e candidatas ao enfrentamento da maior emergência da humanidade?

FONTE: https://gauchazh.clicrbs.com.br/opiniao/noticia/2024/04/emergencia-climatica-e-eleicoes-municipais-clvebkhpu011r013lfgkbu93n.html

Por Marina Bernardes, arquiteta e urbanista e mestra em arquitetura e urbanismo.

Edição: A. R.

A máquina de resolver problemas

“A vida é mais do que solução de problemas. Aqueles que só solucionam problemas já não possuem futuro.” (Byung-Chul Han)

Projetos, conflitos gerados nas redes sociais, desagrado com a postura de alguns professores, problemas extraescolares, informações desencontradas, atendimentos exaustivos a pais e responsáveis que querem saber tudo nos mínimos detalhes, opinando frequentemente sobre os processos pedagógicos e muitas outras demandas compõem o dia a dia dos gestores escolares.

Todos parecem querer tudo ao mesmo tempo da escola. E aos gestores sobra pouco tempo para o que realmente importa: acompanhar o processo de aprendizagem e desenvolvimento dos estudantes.

Esse panorama já vinha se agravando, mas evidentemente com a pandemia foi potencializado. Resultado: professores e gestores estão no limite de suas forças físicas e psíquicas para lidar com tantas exigências (e por que não dizer, com tantas intransigências). A sociedade que vivemos parece adoecer a cada instante. Torna-se cada vez mais fria, egoísta e incapaz do que entendemos por empatia, sensibilidade e acolhimento do outro em suas diferenças. Tudo parece respingar na escola.

Estudiosos do comportamento humano indicam estarmos vivendo um período de infantilização. E já há pais que procuram os professores universitários para ‘tirar satisfação dos resultados insuficientes dos filhos nas cadeiras do ensino superior.” Para boa parte da humanidade, que passa horas diante das telas dos smartphones, os educadores devem ter algum poder mágico de resolver todos os problemas que surgem em decorrência de algo ou que são gerados pelas opções impensadas de alguns.

Enquanto isso, os processos educativos, a inovação no ensino, a apropriação de novas ferramentas e práticas relacionadas ao acompanhamento dos estudantes ficam para trás, por não sobrar tempo a uma séria e responsável reflexão sobre o que é importante ensinar, quais competências e habilidades são fundamentais num mundo em constante disrupção, como aliar teoria e prática, a fim de que os estudantes possam adquirir conhecimentos que lhes garantam autonomia, criatividade, consciência crítica entre outros.

Avalio como urgente a importância de uma séria revisão de relações e âmbitos a serem definidas entre o que compete aos diferentes atores no processo educativo das novas gerações. Pais que passam o dia todo no espaço pedagógico dos colégios não compreenderam ainda que sua tarefa é maior do que fiscalizar o que a escola faz.

Professores e gestores que ocupam a maior parte do tempo em atendimentos a um grupo seleto de “fregueses” que todos os dias insistem em tirá-los de seus campos de ação para satisfazer suas demandas particulares precisam se empoderar do que realmente lhes compete.  

Afinal, a escola com sua natureza educativa deve priorizar sempre os estudantes. A grande pergunta parece ser: qual a questão pedagógica que leva um pai ou uma mãe à escola. Caso não seja esse o tema, a resolução do problema não estará ali.

Leia também reflexão “Estão matando a essência da educação”: https://www.neipies.com/estao-matando-a-essencia-da-educacao/

Penso que à escola do presente e do futuro caberá criar gabinetes de crise com pessoas dedicadas ao atendimento de pais e mães, fazendo triagem do que realmente importa e do que deve ocupar-nos em nosso fazer pedagógico.  Caso continuemos querendo ‘agradar’ a todos, estaremos perdendo tempo em fazer o que realmente sabemos e o que está no âmbito de nossas competências e funções. E isso deveria ser assumido por todos, em uma verdadeira rede de cooperação.

É preciso discutir com a sociedade sobre o papel da escola, antes que o futuro dessa instituição tão valorosa seja roubado por quem costuma dar opinião em tudo, e vai pela vida trocando os filhos de escola em escola, por não encontrar uma escola que resolva os seus problemas particulares. Afinal, a escola não é e não deve ser jamais uma máquina de resolver problemas. A ela cabe ensinar as gerações a assumirem suas próprias vidas e serem responsáveis por suas opções.

FONTE: https://cnbbsul3.org.br/a-maquina-de-resolver-problemas/

Autor: Prof. Dr. Rogério Ferraz de AndradeSecretário Executivo do Regional Sul 3 – CNBB

Edição: A. R.

Um desafio chamado inclusão

A detecção precoce de riscos dos transtornos do desenvolvimento infantil e o seu atendimento específico e adequado faz toda a diferença na vida do autista, da família e da sociedade.

A criança de poucos meses dorme boa parte do dia. Já nesta fase inicial de vida os pais devem ajudar o nenê a perceber que nem sempre ele será atendido imediatamente quando chora. Conversar carinhosamente, explicando que ele deve ter calma e esperar um pouco para ser amamentado, trocado, banhado… é assim que ele começará a compreender a dinâmica da vida, preparando-se para enfrentar as frustrações naturais.

No primeiro ano de vida ele crescerá mais rapidamente e se modificará mais do que em qualquer outra idade.

Até os três meses o sentido do tato na criança é bastante desenvolvido. Ela aprende sendo tocada e tocando pessoas e objetos. O saber agarrar é um reflexo inato e não uma ação consciente.

O olhar da mãe é muito importante. Ela vai se “ver” refletida nos olhos da mãe, especialmente quando é amamentada.

O bebê, quando está acordado, gosta de companhia. O contato com a mãe e demais pessoas se dá pela vista, audição e tato. Ele é muito sensível ao som. Faz bem para ele ouvir a voz humana que pode se expressar por uma canção suave, como de ninar, o sussurro carinhoso, assovio, a contação de histórias, são atitudes que acalmam como também o som de móbiles pendurado junto ao berço, movidos pela brisa do vento. Ele ficará encantado com o som e o movimento.

Por volta dos quatro a cinco meses elas apreendem a alcançar e segurar os objetos que estão próximos. Eles gostam de chocalhos e brinquedos de superfície lisa e grandes coisas coloridas para apertar, brinquedos estofados, em forma de bichinhos ou de rosca, que é fácil de ser agarrado.

O sentido da audição é bem desenvolvido desde antes do nascimento. Proporcionar à criança a audição de música suave, cantigas de ninar, canções do folclore, contação de pequenas histórias demonstrando na voz e na expressão facial a emoção dos personagens.

Eles gostam de se olhar no espelho e serem estimulados a se ver no colo do adulto.

Nessa fase eles imitam os movimentos dos adultos com a cabeça, os braços e as mãos e começam a repetir os sons que os adultos fazem.

A partir dos seis meses dormem menos e já estão habilitados a brincar sozinho. Derruba e atira coisas e repete esses atos várias vezes que lhes dá prazer. A criança adora brincar com as pessoas que já conhece e acena quando o adulto se despede.

Aos sete ou oito meses começará a engatinhar e logo em seguida, a levantar-se apoiada em algo e ensaia os primeiros passos estimulada e amparada pelos adultos.

Quando o bebê adquire o senso de mobilidade vai se tornar um grande explorador do mundo que o cerca sem qualquer noção de perigo.  O ambiente onde a criança aprende andar deve ser preparado adequadamente. O que representar perigo deve ficar inacessível a elas: remédios, objetos perigosos, vidros, etc. Eles precisam ser vigiados atentamente desde quando começam a engatinhar até quando estiverem andando e descobrindo o mundo a sua volta.

Elas gostam de “casinhas” improvisadas, caixas de papelão, embaixo da mesa, lugares para se esconderem e serem achados. Estão descobrindo todos os cantos do seu mundo.

Brincar ao ar livre com terra, areia e água é muito gostoso e elas podem sujar-se à vontade, por algum tempo.

As crianças gostam de ouvir música suave ou alegre e movimentada e dançar, se sacudir no ritmo da música. Para acalmar e induzí-la a um sono reconfortante nada melhor que uma música suave e uma prece ao “Papai do céu.”.

As quadrinhas rimadas, versinhos e leituras curtas são apreciados pelas crianças. Elas gostam de folhear livros coloridos, revistas e dedilhar as telinhas coloridas do celular e similares, isto sempre como moderação e cuidado dos adultos.  Elas, até por volta dos três anos, costumam afeiçoar-se a algum brinquedo velho ou surrado e ainda não brincam com outras crianças nem gostam de emprestar seus brinquedos. A partir dos três anos ela passa a ser mais sociável.

A palavra predileta de grande número de crianças de dois anos é NÃO. É o início da autoafirmação, elas estão testando a própria vontade e a dos pais. De vez em quando elas necessitam ser obstinadas, isso faz parte do desenvolvimento. Não se deve fazer disso um problema.

A duração do interesse da criança por alguma atividade é muito curta. Ela só brincará por longo tempo se lhe derem uma bacia com água e areia para fazer barro.

Nessa fase as crianças gostam de subir em escadas e nas coisas, essa ação ajuda a desenvolver os músculos maiores, dos braços, pernas e tórax e de engatinhar em caminhos suspensos o que ajuda a desenvolver o senso de equilíbrio. Os passeios a pé, ao ar livre, com os familiares são ótimos. Eles devem ser curtos e simples pois a resistência da criança é limitada. Ela observará a natureza, ouvirá o canto dos pássaros, verá o voo das borboletas e das aves, acompanhará o deslocar das nuvens, no céu e a noite, olhar a lua e as estrelas.

Elas gostam de ouvir ou ver uma história que as fascina, várias vezes, até esgotarem à vontade, pois elas estão educando as emoções básicas, sentindo o que os personagens estão vivendo: surpresa, medo, tristeza, alegria, raiva, etc. O mesmo acontece com a audição de algumas cantigas infantis.

Aos três anos a criança torna-se sociável, adora brincar ou trabalhar com a mãe e o pai, aprender coisas com eles. A curiosidade de conhecer o mundo é insaciável. Gostam de experimentar e fazer coisas novas, de rasgar, despedaçar e esmurrar. Inicia-se a fase dos porquês, dos questionamentos. Ela quer entender o mundo.

As crianças de três a seis anos gostam de dramatizar, fingindo que são bichos ou coisas, e que já são adultas: motorista, professor, bombeiro, mamãe, papai, etc. e devem ser estimuladas para tal, elas também gostam de encenar as histórias ouvidas. Elas têm a tarefa de separar, na mente infantil, o mundo real do mundo imaginário. Gostam de serem reis, rainhas, fadas, príncipes, porquinho, lobo mau, etc. Possuem alta capacidade de imaginação e criatividade.

Os pais e educadores precisam estar atentos às emoções das crianças. Ideal que elas sejam expressas e trabalhadas pelos adultos. A frustração e a raiva são inevitáveis quando a criança está se desenvolvendo. Ela necessita aprender a desabafar, externando a energia de sua raiva, agredindo e mordendo coisas e não pessoas. Nas escolas maternais tem os “sacos de pancada”, os bonecos “João Bobo” ou “bode expiatório” sobre quem elas descarregam a raiva. Com eles a criança poderá desabafar sentimentos que devem ser externados sem prejudicar irmãos e colegas.

Os sentimentos recalcados são causas de futuras perturbações emotivas. Uma atividade desestressante é jogar, com a criança, pedras dentro de um lago, rio, à beira mar ou acertar num alvo previamente colocado em um lugar para ser atingido. O brinquedo é a mais alta fase do desenvolvimento infantil, cheia de pureza e espiritualidade. Proporciona alegria, liberdade, satisfação e paz com o mundo. A criança que brinca espontaneamente será um adulto harmonizado. 

Na fase infantil muitas crianças aprendem a tocar algum instrumento musical, com música simples e danças acompanhando o ritmo da música.  Gostam de imitar, basta sugerir: faça de conta que você é um animal qualquer, uma árvore ao vento. Ela vai agachar-se, dobrar-se, bambolear o corpo, andar na ponta dos pés e criar passos ao ritmo de música, de preferência de pés descalços.

Nos primeiros sete anos de vida a criança fisicamente sofre grandes alterações e crescimento. O corpo vital da criança ainda é dependente da vitalidade da mãe. Época de predominância das doenças febris e infecciosas comuns da infância, que estimulam o amadurecimento do sistema imunológico e a individualização das proteínas da criança. A criança, por isso, precisa se sentir aninhada, aprende a falar, andar, pensar, brincar, imitar e deve acreditar que o mundo é bom. Por esse motivo os contos de fada e as histórias da Carochinha sempre apresentam um final feliz. O bem sempre vence o mal.

Pelos seis anos, o pensamento já está mais desenvolvido inicia-se a alfabetização e a socialização melhora. As artes são muito importantes: o desenho, o canto, a dramatização, a dança, a pintura. É a época de desenvolver o respeito à autoridade externa, fora do lar.

Mas, atenção! Os pais, demais familiares e cuidadores das crianças devem ficar atentos com o comportamento infantil.  Até agora descrevemos as características gerais do comportamento das crianças típicas, até por volta dos seis anos e de de como elas reagem no transcurso de seu desenvolvimento normal nos primeiros anos da infância. São as crianças neurotípicas.  E as atípicas?

O que é o Transtorno do Espectro Autista?

O autismo é um transtorno do neurodesenvolvimento que se caracteriza por déficit na área da comunicação e da interação social, com estereotipias de comportamento repetitivo e de interesse restrito e peculiar a algumas atividades.  O TEA é muito complexo e diversificado. São diferentes dos neurotípicos, não é uma doença, é uma maneira diferente de pensar e aprender. Atualmente ocorre alto índice de nascimentos de crianças com TEA, no Brasil e no mundo.

O TEA ainda não possui causas totalmente conhecidas que podem ser predisposição genética ou mesmo fatores ambientais. O diagnóstico médico é feito a partir do histórico da criança, a observação de seu comportamento e o relato dos pais e deve ser feito logo que se percebe as dificuldades da criança de interagir com as pessoas mais próximas.  O diagnóstico precoce, que já pode ser feito a partir dos três meses de idade do bebê, é fundamental para iniciar terapias que vão amenizar os sintomas.  Estas crianças apresentam desenvolvimento físico normal mas com grande dificuldade de comunicação e interação, apatia ou agitação, comportamento aparente de viver num mundo isolado, paralelo ao mundo real. É considerado um transtorno multifatorial, mais comum em meninos do que meninas, havendo necessidade de intervenção especializada na condução do manejo com estas crianças que vão ajudar a reverter alguns transtornos do desenvolvimento.

Elas podem apresentar déficit na fala que pode ser total ou parcial. Apresentam dificuldade na interação social por falta de reciprocidade, de atuar em grupo e manter contato físico com outras pessoas. Alguns apresentam comportamentos repetitivos nos gestos, fala e/ou nos movimentos; são meios que as pessoas com TEA usam para se autorregularem e se acalmarem. Elas exigem rotinas e hábitos rígidos diários e reagem, podendo entrar em crise, surto, quando esta rotina é alterada sem elas serem preparadas previamente para tal.  Elas podem apresentar, entre outras, as seguintes estereotipias: rodar objetos nas mãos, girar em torno do próprio eixo, movimentar dedos na frente dos olhos, correr de um lado para o outro, fazer sons com a boca, acender e apagar o botão de interruptor, balançar o corpo, segurar sempre pequeno objeto.

Os terapeutas especializados aconselham que não se deve impedir as estereotipias pois elas ajudam o autista a se acalmar e organizar seu pensamento. Muito cuidado e atenção se deve ter com as portas que levam para a rua no ambiente onde a criança com TEA está participando, pois, utilizando este acesso, pode ocorrer uma fuga sem direção certa, colocando-a em risco.  Há uma grande variedade na manifestação destas condutas.  

Algumas estereotipias são auto lesivas como morder a si próprio, nas mãos, braços, arrancar peles das unhas ou lábios, bater com a cabeça no chão ou parede, deve-se impedir tal atitude   propondo logo uma outra atividade interessante, desviando o foco do problema.

Essas crianças e jovens podem, legalmente, participar das atividades escolares, num processo de inclusão junto com os alunos típicos. Para tal, a direção da escola, professores, funcionários e alunos típicos precisam ser preparados para recebe-los em condições favoráveis para todos.

Os níveis de autismo estão catalogados como:

 Nível 1 – ou grau leve, são mais funcionais do que os outros níveis, necessitam de suporte para se organizarem e planejarem as atividades, tem dificuldade de iniciarem interações com os outros, parecendo tímidos e introspectivos mas possuem rica potencialidade a ser estimulada e que, adequadamente explorada, pode surpreender, como no desenho, no canto, na escrita de histórias, elaboração de pequeno texto ou poema, na dramatização, nas ciências naturais  ou sociais, na matemática, etc. A sala de aula é um ótimo espaço para ajudar a aflorar as habilidades adormecidas quando estas forem incentivas adequadamente. Eles têm boa percepção para detalhes. Pessoas com síndrome de Asperger são incluídas neste grupo pois, falam bem, são inteligentes, mas tem dificuldade na interação social.

Nível 2 – grau moderado – necessitam de suporte maior para se organizarem. A fala é bastante comprometida, usam frases muito simples. Reagem mais ostensivamente às mudanças de rotina e de ambiente. Têm dificuldade no contato social pois seus interesses são específicos. Na sala de aula elas podem participar desde que as atividades pedagógicas sejam adaptadas a seu jeito de ser.  Com o tempo podem surpreender.  Indispensável que o educador possa contar com orientação psicopedagógica e ter, quando necessário, o suporte de outra pessoa para a realização da aula.

Nível 3 – Grau severo – Em geral, dependem do apoio direto de outra pessoa, pois são incapazes de agir de forma autônoma, têm grave dificuldade na comunicação, na interação social e na área da cognição. A criança ou jovem com TEA severo poderá participar das atividades na escola regular de forma bem limitada, sempre com o auxílio de um mediador capacitado.

O educador precisa estar ciente, em relação ao aluno com TEA, de quais são os gatilhos que provocam reações indesejáveis na conduta, como chorar, gritar, fugir do ambiente ou que o deixam irritado, angustiado, mas que não consegue verbalizar o que sente.  Muitas vezes é a intolerância aos sons, ruídos estridentes, barulho e agitação no ambiente. Este aluno leva mais tempo para processar as informações, o professor deve sempre usar frases curtas, com palavras simples e falar pausadamente, aguardando, com calma, paciência, pela resposta.

O autista deve ter acolhimento amável, sem toque físico, o olhar sensível, sentir a empatia e ter certeza do apoio e do desejo sincero de ser incluído no ambiente social da aula. Naturalmente, os alunos neurotípicos deverão ser informados e preparados, com antecedência, sobre as condições do colega com TEA para saber interagir com ele com amabilidade e respeito.

A administração municipal de Porto Alegre criou o Centro de Referência do Transtorno Autista (CERTA) que está sendo implementado desde 2023, e   reúne as ações de duas Secretarias Municipais, a da Saúde e a da Educação, que se compõe de equipe multidisciplinar composta por médicos, psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, pedagogos e psicopedagogos.

A detecção precoce de riscos dos transtornos do desenvolvimento infantil e o seu atendimento específico e adequado faz toda a diferença na vida do autista, da família e da sociedade.

Leia também: “A criança autista e a necessidade de compreensão”: https://www.neipies.com/a-crianca-autista-e-a-necessidade-de-compreensao/

Autora: Gladis Pedersen   –  pedagoga. Também escreveu e publicou “A magia da arte de contar histórias”: https://www.neipies.com/a-magia-da-arte-de-contar-historias/

Edição: A. R.

Sobre o Trabalho: silêncios e vozes

Ao mesmo tempo que o Dia do Trabalho é um dia de memória também é um dia de resistência e de encorajamento, porque sabemos da importância da luta conjunta pela dignidade das pessoas que trabalham.

Muitos empobrecidos trabalham para poucos enriquecidos. Esses poucos dominam o mundo do trabalho, porque são os donos do capital. E isso continua, sem limite.

O mundo do trabalho tem seus silêncios e suas vozes. Ambos, silêncios e vozes, registram os fatos. Temos a história em nossas mãos. Cada momento de nossas vidas nos reinventamos nas novas formas de produção, como pessoas trabalhadoras. Nessa resistência, ainda exigimos melhores condições de trabalho, como exigência de dignidade e de direitos.

Silêncios e vozes têm sua eloquência!

Há direitos, que ainda não foram conquistados por todas as pessoas, como moradia digna, segurança alimentar, educação e saúde. A força de trabalho, que não é a força do capital, ainda não conseguiu atingir uma qualidade de vida em que todos esses direitos básicos estejam assegurados. Por isso que no Dia do Trabalho, que é o dia de quem trabalha, essas questões precisam ser lembradas, por uma questão de Justiça.

O Primeiro de Maio é comemorado como uma homenagem a quem trabalha. Por essa razão, é importante que tenhamos presente essa memória, para que haja sempre o registro de justiça e liberdade, como respeito à resiliência dos que constroem diariamente essa nação.

Ao mesmo tempo que o Dia do Trabalho é um dia de memória também é um dia de resistência e de encorajamento, porque sabemos da importância da luta conjunta pela dignidade das pessoas que trabalham. Desse modo, continuamos nessa tarefa histórica, que é a de diminuir as fronteiras entre poucos e muitos.

Lutemos e comemoremos! Feliz Primeiro de Maio!

Autora: Cecília Pires. Também escreveu e publicou no site crônica “Direitos humanos: porque são imprescindíveis”: https://www.neipies.com/direitos-humanos-porque-sao-imprescindiveis/

Edição: A. R.

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