Início Site Página 17

De empreendedores e falhas

Empreendedorismo é o nome com que o mercado diz às pessoas “Olha como fazes, conserte-te sozinho, do Estado não espere nada”, é a farsa de uma atividade econômica autônoma que encoraja para uma economia individual de voo curto no final do qual a frustração espreita.

O empreendedorismo pegou como a varíola. Surpreende-se o número de pessoas que ‘tem’ um empreendedorismo que muitas vezes está ligado a comida de plástico, mas em versão ‘gourmet’.

Em outros casos, são pequenos trabalhos em crochê, brinquedos para animais de estimação, velas ou sabonetes artesanais; nos bairros menos favorecidos fazem pão e outros panificados. Há de tudo, mas tudo para uma economia que não resulta das necessidades de quem consome, mas das de quem empreende, pequeno detalhe.

São empreendimentos que, na maioria das vezes, se esgotam em um público de família e amigos que compram para dar uma mão e que rapidamente deixam de consumir.

A necessidade, juntamente com a ideia de que empreender é fácil, algo como uma espécie de vontade que dispensa a viabilidade real do empreendido, está na base da frustração de pessoas que querem “salvar-se” sem ter as ferramentas básicas de um negócio onde é preciso ter habilidades, conhecimentos e competências específicas e capacidade de se autorganizar, é preciso conhecer o mercado mesmo que este seja modesto.

Trate-se de uma ilusão, a de uma economia que coloca a tônica no esforço individual, que frustra a massa de empresários que quiseram mas não souberam.

Empreendedorismo é o nome com que o mercado diz às pessoas “Olha como fazes, conserte-te sozinho, do Estado não espere nada”, é a farsa de uma atividade econômica autônoma que encoraja para uma economia individual de voo curto no final do qual a frustração espreita.

Autor: Eduardo Corbo Zabatel. Ensayista, Psicólogo, Profesor de Historia, Magist en Ciencias Sociales. Mora em Buenos Ayres, Argentina. Também escreveu e publicou no site “Precisamos nos ocupar em desconstruir a estupidez”: www.neipies.com/temos-que-nos-ocupar-em-desconstruir-a-estupidez/

 Edição: A. R.

Uma carta de gratidão e indignação amorosa

                     “Ninguém nasce professor ou marcado para ser professor. A gente se forma como educador permanentemente na prática e na reflexão sobre a prática”. (Paulo Freire)

Agradecer pelo que somos é escolha de quem decide desenvolver suas potencialidades, ciente dos obstáculos a serem superados, com a coragem dos resilientes. Neste sentido, desejo agradecer pelos caminhos que me trouxeram ao exercício da docência, por todos os docentes que inspiraram essa minha decisão, pelos colegas de caminhada que na sala de aula ou no exercício de outras funções fazem “esse mundo da educação” acontecer.  No entanto, não basta expressar gratidão, é preciso ser coerente e elaborar leituras do contexto que atravanca o fazer pedagógico, especialmente em escolas da Rede Estadual do Rio Grande do Sul.

O que motivou a necessidade deste escrito foram algumas mensagens alusivas ao dia do Coordenador Pedagógico (22/08). Ao partilhar algumas aprendizagens e indignações amorosas, tenho por objetivo gerar reflexão para mobilizar esperançosas ações, sem as quais a qualidade da educação dificilmente irá melhorar.

Ocupando esta função desde dezembro de 2022, experimento desafios que me acompanham em momentos formativos, análises de conjuntura, reuniões internas e externas de equipes gestoras e determinações da mantenedora advindas da política do momento.

Infelizmente, carecemos de uma política educacional pautada por ações que garantam qualidade, equidade e inclusão. Embora estes conceitos sejam repetidos em discursos oficiais, ainda estamos longe de atingir esses ideais.  O motivo deste insucesso, provavelmente, já seja do conhecimento dos prezados leitores dessa coluna mas, mesmo assim, o óbvio precisa ser dito, proclamado sobre os telhados, gritado em púlpitos, assembléias, paralisações, emendas, plebiscitos.

É urgente valorizar os profissionais da educação, entender que sem estes não se faz um município, um estado, uma nação verdadeiramente humanizada, consciente do papel das subjetividades na construção do coletivo. Para alcançar esse objetivo convém compreender que os profissionais da educação são verdadeiros heróis, pois lutam incansavelmente contra toda forma de alienação e exclusão social.

É preciso derrubar por terra os argumentos neoliberais que tentam justificar baixos salários, benefícios irrisórios de vale alimentação, vale transporte e planos de carreira defasados.

Outra ação indissociável da valorização salarial vai ao encontro da necessidade sempre urgente de investimentos na formação inicial e permanente dos professores. É incoerente discursar e mostrar ações que visam melhorar a qualidade do ensino e as notas do IDEB, ao mesmo tempo em que se oferece pouco e ou quase nenhum espaço para formação entendida como práxis: ação – reflexão – ação. Dirão que existe jornada Pedagógica, parada pedagógica, ações que, embora bem vindas, precisam de reformulação e coerência. A esse respeito teço algumas observações nascidas da minha ação e da interação com meus pares.

A Jornada Pedagógica oferecida pela Rede Estadual de Ensino do Rio Grande do Sul, tem se constituído em transmissões feitas pelo Youtube, momentos informativos, instrutivos nos quais se faz mais propaganda das ações do governo do que formação propriamente dita. O que tem de pedagógico na jornada que leva esse conceito? Ouso dizer que são poucos momentos, estes se resumem em algumas salas temáticas voltadas para segmentos específicos.

Quanto a Parada Pedagógica, reconheço a importância da mesma, porém lamento que seja apenas uma por trimestre, o insuficiente para responder a todas as demandas advindas da mantenedora. Entendo a necessidade da burocracia e do registro das ações, no entanto o excesso de planilhas nos consome, contribuindo com o adoecimento de uma categoria que já vem sofrendo há tempos com o desmonte do plano de carreira, com a ausência de estabilidade (o último concurso ocorrido na rede foi mais simbólico do que resolutivo se considerarmos a demanda de recursos humanos de nossas escolas).

É tarefa do coordenador pedagógico motivar a equipe de professores, instruir e acompanhar planejamentos, projetos e ações que respondam a necessidade sempre urgente de uma educação de qualidade. Como cumprir com essa missão num contexto que favorece o adoecimento da categoria? Pesquisas comprovam o crescente adoecimento dos educadores e isso se deve à carga horária excessiva, excesso de demandas burocráticas, pouco tempo para planejar, estudar e organizar o trabalho que se faz antes, durante e depois da aula dada.

O que falta para a sociedade compreender o trabalho dos professores? O que ainda precisa acontecer para os governos olharem com coerência para os contextos diversos nos quais ocorre o ensino e aprendizagem de crianças, adolescentes e jovens? Até quando seremos presa fácil de um sistema que se encaminha dia a dia para o “apostilamento” e a privatização?

Soma-se a estas questões a remuneração dos supervisores escolares em nosso Estado. Trata-se de uma função de gestão feita por especialistas que não são remunerados como tal. Cabe a estes profissionais, dentre outras tarefas, responder a diversas demandas, fazer a leitura das estatísticas e o planejamento de ações eficientes e eficazes em tempo reduzido, comparecer à escola fora do seu horário de trabalho para atender professores que lá se encontram cumprindo hora atividade.  Deste modo, professores de sala de aula e gestores adoecem, a ansiedade de uns avoluma a angústia de outros e vice-versa.

Não concluo este texto sem renovar minha gratidão pelos que lembraram dessa data e manifestaram reconhecimento e carinho. Por razões diversas, é desafiador ocupar este lugar numa escola pública, pois:

  • interagimos com os pares e suas angústias, esperanças e desejos;
  • convivemos com educandos que, também, por razões muitas, demonstram pouco interesse pela escola, apegados ao mínimo matam o desejo de evoluir profissional e humanamente;
  • lidamos com diferentes concepções de educação presentes na prática do outro; a dimensão ética e política do fazer pedagógico carece de aprofundamento.

Penso que transformar tanta indignação em ação é uma tarefa coletiva, requer consciência política. É impossível mudar o contexto se quem está imerso nele não for escutado ativamente, ou seja, contemplado em ações de real valorização e formação. Existem exemplos que apontam melhorias nos resultados apontados pelo IDEB em Estados que investem na valorização dos profissionais, caberia aqui mencioná-los, no entanto deixo para você esse desafio de pesquisa, entendendo ser tarefa primordial da educação formar para um agir autônomo, crítico e investigativo.

A opção pelo exercício da docência, independente do espaço onde ela se efetiva não pode ficar refém de um partido político e de uma ideologia calcada na valorização do mercado e de “pacotes da iniciativa privada”… a pretendida cooperação público / privado não justifica o menosprezo de instituições e profissionais da rede pública. A aquisição desses pacotes e assinatura de plataformas de leitura não parecem adequados se a intenção for melhorar a qualidade da educação: a neurociência e as experiências de outros países quanto ao uso de telas deveriam ser consideradas.

Renovemos nossa opção e estendamos as mãos com empatia: essa é uma força política com poder de colocar em movimento as consciências, recriando as “marchas” tão queridas por Paulo Freire, nosso patrono.

Indignado e grato, desejo que essa breve reflexão provoque não o Éco do mesmo, mas outras reflexões, questionamentos e ações que possam, efetivamente, melhorar e transformar a educação no Estado do RS.

Autor: Marciano Pereira. Também escreveu e publicou no site “Resiliência, compromisso e amor na profissão docente”: www.neipies.com/resiliencia-compromisso-e-amor-na-profissao-docente/

Edição: A. R.

Sempre estivemos em guerra

Em entrevista, o escritor, pensador e um dos mais importantes ativistas do movimento indígena brasileiro, Ailton Krenak, discorre sobre as ideias de pertencimento e resistência que permeiam a luta das populações autóctones do continente americano.

Por Ana Paula Orlandi, jornalista e mestre pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.

Como você define “pertencimento”?

Para mim, pertencimento não tem nada a ver com a concepção utilitária de algumas culturas, principalmente aquelas fortemente influenciadas pelo pensamento ocidental, que o associam à ideia de pátria, de nacionalidade. Pertencer a um lugar é fazer parte dele, é ser a extensão da paisagem, do rio, da montanha. É ter seus elementos de cultura, história e tradição nesse lugar. Ou seja, em vez de você imprimir um sentido ao lugar, o lugar imprime um sentido à sua existência.

O antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro defende que pertencer à terra, em vez de ser dono dela, é o que define os povos indígenas. Concorda com ele?

Sim! O ser humano não é superior a qualquer outro ser vivente do planeta e, portanto, me parece absurda essa ideia de querer ser proprietário de alguma porção da Terra. Tem uma carta atribuída ao Chefe Seattle, Ts´ial-la-kum, escrita no século 19 em resposta à proposta do então presidente dos Estados Unidos, Franklin Pearce, que queria comprar o território indígena dos Suquamish e Duwamish, na região do atual estado de Washington (EUA). Em um trecho esse líder indígena diz assim: “É possível comprar ou vender o céu e o calor da terra? Tal ideia é estranha para nós. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como podem compra-los? Cada pedaço desta terra é sagrado para o meu povo”. Ele não estava falando apenas daquele território, mas da Terra, desse organismo vivo, fantástico, do qual fazemos parte como condição para a gente existir. Essa ambição de ser o dono do lugar leva o ser humano a se descolar da Terra e observar o mundo de fora, como se não participasse do todo. Esse descolamento faz, por exemplo, algumas pessoas olharem para uma montanha apenas para calcular quantas toneladas de minério podem extrair dali.


Ailton Krenak com professor, pesquisador, economista e ambientalista, Convidado deste site, Marcus Eduardo de Oliveira (https://www.neipies.com/author/marcus_oliveira/ )

No livro “Ideias para adiar o fim do mundo”, lançado em 2019, você escreve: “Quando despersonalizamos o rio, a montanha, quando tiramos deles os seus sentidos, considerando que isso é atributo exclusivo dos humanos, nós liberamos esses lugares para que se tornem resíduos da atividade industrial e extrativista”. Poderia falar mais sobre isso?

A aldeia Krenak fica na margem esquerda do rio Doce, no estado de Minas Gerais, e na direita está a montanha Takukrak, que é uma espécie de oráculo para a gente. Toda manhã, olhamos para ela para saber como vai ser o dia. Quando ela amanhece com nuvens claras sobrevoando sua cabeça, toda enfeitada, é sinal que podemos dançar, pescar, festejar, sair. Já quando ela está com cara de poucos amigos, ficamos mais quietos. Mas no livro falo também da nossa relação com o rio, que chamamos de Watu e consideramos como um ancestral, um ancião, nosso avô. Em 2015, ele foi afetado profundamente por um crime ambiental [N. da R.: o rompimento da barragem do Fundão, em Minas Gerais, da mineradora Samarco, controlada pelas multinacionais Vale e BHP Billiton, que matou 19 pessoas e contaminou toda a bacia do Rio Doce, com mais de 600 km de extensão] a ponto de ter sua morte anunciada pela imprensa. Esse episódio atingiu nossa vida de forma radical: ficamos sem a água, sem o peixe, sem lugar para os rituais e as festas. As crianças não podiam mais brincar ali.

Quando os Ministérios Públicos Federal e Estadual começaram a pressionar a Samarco, a Vale e a BHP Billiton para que reparassem os Krenak pelos danos sofridos pela lama tóxica da mineração, a primeira coisa que o consórcio de empresas queria fazer era tirar a gente do nosso território. E a gente se recusou. Eles, das empresas, nos perguntaram: Mas vocês vão ficar aqui como flagelados agora que o rio morreu? E a gente respondeu: O rio é uma extensão da nossa família, vamos continuar aqui para velar por ele. Isso pode ser incompreensível para mentes dissociadas da ideia de pertencer a um lugar.

Como você avalia a situação dos indígenas no Brasil com o desmantelamento da política ambiental e indigenista por parte do governo anterior?

Em 2018, pouco antes da eleição do presidente Jair Bolsonaro, um jornal português me perguntou: “Como os índios vão fazer diante disso tudo?”. Eu respondi: “Tem 500 anos que os índios estão resistindo, estou preocupado é com os brancos, como vão fazer para escapar dessa”. E até agora não vi uma atitude mais contundente dos brancos em relação aos ataques do governo ao meio ambiente, à educação, à cultura, às políticas sociais. Eu imaginava que os partidos políticos fossem fazer uma imensa coalizão para confrontar esse projeto neoliberal, mas nada aconteceu. As pessoas parecem anestesiadas. Nós, indígenas, continuamos resistindo, mas vejo o governo Bolsonaro como mais um capítulo da nossa luta colonial, que começou em 1500, quando os portugueses invadiram nosso território, e prossegue até os dias de hoje. O modelo de ocupação da América pelos europeus visava o extermínio dos povos originários e ao longo desse tempo a gente nunca teve paz. Sempre estivemos em guerra.

É possível adiar o fim do mundo?

Digo no livro que para adiar o fim do mundo é preciso reafirmar o sentido de viver em sociedade, é preciso ser capaz de experimentar o prazer de estar vivo, de dançar, de cantar. Nós, seres humanos, precisamos manter vivas nossas subjetividades, nossas visões e nossas poéticas sobre a existência e também valorizar a diversidade, porque homogeneizar a humanidade é uma forma de roubar nossa alegria.

Autora: Ana Paula Orlandi, jornalista e mestre pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.

FONTE: https://www.goethe.de/prj/hum/pt/dos/zug/21806968.html?

Edição: A. R.

Os desafios do ensino de Ciências nas escolas públicas

Ciências é uma disciplina tão bonita e tão gratificante de ser ensinada e aprendida! Causa espanto e admiração mostrar às nossas crianças explicações científicas das coisas que acontecem ao nosso redor e mostrar-lhes que para tudo há uma resposta física.

Estudei a minha vida inteira na escola pública, e me lembro bem do meu ensino fundamental I e II numa escolinha pequenina do meu bairro que se dedicava a ensinar tão somente língua portuguesa e matemática de uma forma simples. Aprendíamos a soletrar as palavrinhas e a fazer continhas de somar e subtrair, as demais ficavam em terceiro plano.

Nos anos 70, já tínhamos um ensino público carente de recursos didáticos, com professores mal remunerados e sem condições financeiras de comprarem livros ou pagarem uma pós-graduação para se aperfeiçoarem. O ensino era precário demais. Até hoje tenho uma certa dificuldade com as ciências exatas, principalmente física e matemática.

Há, sim, muitas dificuldades nas escolas públicas para o ensino de Ciências às crianças, principalmente àquelas mais pobres e de periferias esquecidas das autoridades. Eu mesma nunca tive uma experiência de Ciências no ensino fundamental. Isso me desestimulou e me fez seguir a carreira literária, pois tinha o sonho de ser uma neurocientista já com sete anos de idade.

Uma das principais dificuldades de se ensinar Ciências às crianças pobres de escolas públicas é a falta de recursos financeiros, principalmente o investimento em laboratórios equipados com materiais práticos para experimentação que possam ajudar o aluno no seu ensino-aprendizagem. Também faltam materiais didáticos para o incentivo do estudo na escola e em casa, os professores não estão preparados para este tipo de ensino, não sabem quais ferramentas usar, como ensinar, quais metodologias e didáticas melhores devem ser utilizadas em um ou outro assunto que deve ser abordado.

Acredito que devia ser criada uma união de forças dos governos, das escolas e da sociedade civil para superar essas barreiras e levar às crianças pobres de escolas públicas o incentivo no estudo das Ciências. Sabemos das grandes dificuldades que a educação pública precisa vencer nas disciplinas de matemática e língua portuguesa, mas não podemos podar os sonhos dos nossos alunos como fizeram com os meus.

Na minha pequena escola sequer tinha uma biblioteca, imagine um laboratório de Ciências. As pequenas escolas dos municípios pequenos espalhados pelo Brasil e por onde tenho passado também não têm laboratórios de Ciências e os alunos aprendem apenas o que está ali no material didático desatualizado, mofado, com cupins  ou páginas amareladas e com suas imagens cortadas para algum trabalho de artes que precisava delas. É triste saber que podíamos ter mais engenheiros, cientistas, astronautas e tantos outros profissionais das Ciências. Eis porque importamos tantos cientistas e nunca recebemos um Prêmio Nobel.

A falta de infraestrutura nas escolas públicas também é um grande desafio às autoridades e professores. Falta quase de tudo nessas escolas. Laboratórios improvisados, salas de aulas quentes e superlotadas, instalações precárias tornam difíceis o ensino desta disciplina e as coisas se complicam a cada ano que passa, pois por mais esforços que os professores façam não se pode fazer ciências sem material adequado, sem recursos financeiros para comprar o necessário para que os alunos possam fazer os seus experimentos.

A primeira vez que entrei em um laboratório de Ciências foi no ensino superior e fiquei maravilhada. Infelizmente quase explodi o laboratório com um experimento, mas foi coisa de quem fica admirado e espantado com tanta boniteza ao seu redor e quer experimentar de tudo ao mesmo tempo. De repente, me vi pensando nas crianças pobres do meu bairro que estudam numa escolinha pública perto da minha casa que nunca entraram em um laboratório daqueles.

As condições socioeconômicas das famílias dessas crianças também é um desafio para o ensino das Ciências. Elas não recebem em casa o apoio merecido, não são incentivadas a estudarem esta disciplina e delas é exigido apenas que saibam ler, escrever e fazer contas. Como seria bom que os nossos alunos soubessem fazer mesmo essas três coisas! Não passaríamos vergonha nos testes de educação internacionais e nem mesmo nos nacionais.

Ciências é uma disciplina tão bonita e tão gratificante de ser ensinada e aprendida! Causa espanto e admiração mostrar às nossas crianças explicações científicas das coisas que acontecem ao nosso redor e mostrar-lhes que para tudo há uma resposta física.

Não permitir que as crianças fiquem somente com o pensamento do senso comum, mas que experimentem e pratiquem novas teorias, novas hipóteses, novas práticas e levantem outras questões empíricas em relação às coisas que ainda não foram respondidas pelos atuais cientistas.

O ensino de Ciências é necessário e preciso para todas as crianças. Falo aqui da criança pobre na escola pública, mas me volto para o ensino no geral. Não me detenho ao ensino privado porque sei que neste sempre há um espaço dedicado para as ciências mesmo que seus laboratórios sejam pequenos, porque os materiais para equipá-los são caros por demais. Imagine se um familiar vai deixar de presentear seu filho com um bom tênis esportivo para comprar um microscópio? Ele não tem cultura para fazer isso e nem a criança sabe o valor de um aparelho como este.

Os livros didáticos não condizem com a vivência da criança pobre e trazem sempre atividades que fogem do seu cotidiano não despertando o interesse para o estudo da disciplina de Ciências. Muitas vezes a atividade solicitada não traz um estímulo, uma reflexão, um espanto e passa despercebida pela criança que sente fome e calor numa sala de aula onde o barulho e a indisciplina reinam porque o professor não consegue ter domínio da turma grande demais.

É preciso capacitar os professores para ensinarem Ciências de uma maneira que cause espanto e admiração nos alunos. O apoio das autoridades, a ampliação de políticas públicas educacionais maiores nessas escolinhas de municípios com poucos habitantes, mas com crianças que têm os mesmos sonhos das de cidades grandes.

Também um programa de formação continuada para os professores numa parceria com as universidades públicas seria muito bom, também. É essencial que a criança pobre tenha as mesmas oportunidades que a criança da escola privada, não diria que a criança rica, mas a que estuda nas melhores escolas. O ensino das Ciências é lindo porque ele explica o que apenas vemos acontecer no nosso cotidiano sem sabermos e nem darmos conta de que um acontecimento físico tem a sua explicação científica.

As crianças aprendem desde cedo a temerem as coisas do mundo, como dizem os seus avós. Contudo, elas precisam saber que este temor não é necessário, pois as Ciências explicam todos os fenômenos e acontecimentos da natureza e até de nós mesmos. Por muitos anos as crianças acreditam no que lhes contaram seus avós sobre as estações do ano, as marés, os eclipses, o fim do mundo, a morte sem darem conta de que para tudo isso existe uma explicação científica que pode sanar o medo.

Eu me lembro que uma vez no meu curso de filosofia o professor contou que o filósofo grego Tales de Mileto, quando criança, gostava de explicar os fenômenos da natureza para os seus familiares e amigos e que diziam ele viver no mundo da lua, quando na verdade ele estava certo em todos os seus experimentos científicos até descobrir na sua physis que a origem da vida estava na água para mais tarde ter a sua teoria revogada por outro filósofo. E assim são as Ciências, esta é a sua boniteza, ela está sempre em movimento como as águas do rio do filósofo Heráclito que dizia que não entramos no mesmo rio duas vezes.

Encontramos no documento da Base Nacional Comum Curricular – BNCC, uma proposta em espiral para o ensino das Ciências às crianças, ou seja, que os assuntos vão se aprofundando com o passar dos anos até se tornarem compreensivos à criança visando o seu desenvolvimento e maturidade. Não me parece coisa simples, mas é assim que está lá escrito. A minha pergunta é a seguinte para quem redigiu este documento: Como a criança vai criar maturidade e desenvolver habilidades naquilo que nunca experimentou? Num ensino que fica muitas vezes na teoria e que quase sempre é deixado de lado para dar lugar ao ensino da escrita, leitura e aprendizagem das quatro operações matemáticas.

No documento da BNCC faz-se referência a assuntos como atmosferas, sustentabilidade, biodiversidade, ecossistemas etc., quando a maioria das crianças do fundamental I e II nunca tiveram acesso a essas palavras que acham estranhas e difíceis de serem pronunciadas imaginem explicar o que elas querem dizer.

Nas feiras de Ciências que algumas escolas públicas de ensino fundamental I e II ainda insistem em fazer por exigência das secretarias de educação dos municípios as crianças reproduzem com a ajuda de maquetes criadas pelos professores de artes um ensino teórico repetitivo e cansativo que nada diz e nada explica na verdade.

Eu mesma já presenciei isso em várias feiras de ciências que visitei nas escolas públicas do Brasil. As crianças apresentando felizes as suas maquetes e com uma cola da explicação científica nas mãos, sem saber na verdade o que está por trás do experimento que aquela maquete quer representar.

Não vemos uma escola pública fazer rifas ou balaios juninos para aquisição de livros de Ciências ou para compra de materiais para um laboratório. Infelizmente, somos o país de pouquíssimos astronautas, talvez dois apenas viajaram pelo espaço até hoje, são eles os senhores Marcos Pontes e Victor Correa Hespanha, que não fizeram nenhum esforço para mudar essa história das Ciências nas escolas públicas. Espero que ainda haja tempo do senhor Marcos Pontes, senador pelo Estado de São Paulo rever os seus conceitos de Ciências na educação brasileira.

Desde 2016, no dia 11 de fevereiro comemora-se o Dia Internacional das Meninas e Mulheres na Ciência. A data foi definida pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2015, com o objetivo de aumentar a conscientização sobre a presença e a excelência das mulheres na ciência. Segundo dados da Unesco, as mulheres representam 33,3% de todos os pesquisadores no mundo e apenas 12% delas são membros de academias científicas nacionais. Ao olhar para áreas de tecnologia e inovação a presença de pesquisadoras cai ainda mais: elas são apenas uma em cada cinco profissionais. A fonte destes dados é do Jornal UNESP, datado de 10 de fevereiro de 2023 com o seguinte título “A ciência precisa de mais mulheres”. É isso que vemos no Brasil, o patriarcado ditando o lugar da mulher como sempre.

Se é difícil para os homens conseguirem a formação de astronautas num país que não investe em projetos de exploração espacial como o nosso, imagine as mulheres que nas escolas aprendem mal aprendem a ler e a escrever e já se tornam mães aos 13 ou 15 anos incompletos. Sendo que 73% dessas mulheres são negras, ou seja, o racismo se fazendo presente mais uma vez tirando as chances das nossas meninas conquistarem os seus sonhos da formação acadêmica que poderia proporcionar-lhes uma vida melhor.

Assim sendo, é um esforço coletivo e coordenado de diversos segmentos da sociedade o reconhecimento e valorização do ensino das Ciências nas escolas públicas onde estão a grande maioria das crianças pobres deste país. Começando pelas autoridades educacionais até a escola em si. Não é tarefa das mais fáceis, mas quem sabe possamos formar um outro Newton ou Einstein pelo sertão ou cerrado brasileiros. 

Portanto, o desafio do ensino de Ciências às crianças pobres das escolas públicas do nosso país é grande por demais. É preciso um esforço conjunto para compra de material didático escasso nestas escolas, construção de laboratórios equipados com bons materiais e a capacitação continuada dos professores despertando neles o interesse pelo ensino-aprendizagem aos seus alunos.

Para finalizar de verdade, trago o poema “Acima da verdade” do heterônimo Ricardo Reis criado pelo poeta português Fernando Pessoa que nos diz

“Acima da verdade estão os deuses. / A nossa ciência é uma falhada cópia / Da certeza com que eles / Sabem que há o Universo…”

Que a ciência seja para as crianças não uma falhada cópia, mas um espanto de uma maçã ao cair nas suas cabeças em plena manhã de outono despertando para uma nova teoria física, matemática ou outra ciência qualquer. Que as nossas meninas pretas, pardas ou de qualquer outra cor de pele possam subir ao espaço e pisarem na lua como pisamos no chão de terra seca do nosso sertão, porque elas também são deusas e podem tudo!

Leia também interessante matéria sobre fazer ciência, estimulando as crianças a gostarem do saber científico: www.neipies.com/quero-ser-cientista/

Autora: Rosângela Trajano. Também escreveu e publicou no site “O uso consciente das energias verdes”: https://www.neipies.com/o-uso-consciente-das-energias-verdes/

Edição: A. R.

O velho e cafona conceito do equilíbrio

Eu prefiro uma posição intermediária: creio que devemos ser humildes até onde nossa simplicidade afete o amor que devemos devotar a nós mesmos, e devemos ser exuberantes até o ponto em que a vaidade destrua nossos princípios.

Nas redes sociais são comuns as mensagens que tentam acalentar os egos dilacerados pela vida competitiva, corações cheios de percalços e derrotas desafiadoras. Esses textos procuram estimular a autoestima combalida das pessoas que sofrem da desconsideração que os outros fazem do seu trabalho, seu corpo imperfeito, seus afetos, sua maternidade, etc.

Para isso apostam na auto exaltação, na visão positiva de si mesmos e na desqualificação das críticas maldosas e inconsistentes a que são submetidos. Ou seja… para não ser uma pessoa manipulada pela maldade alheia daqueles que não reconhecem seu “alto valor”, é preciso buscar o oposto, apostando na arrogância e, muitas vezes, no autoengano.

Essas dicas de “influencers” e apóstolos da autoajuda sempre nos servem quando estamos em sintonia. Os sentidos procuram avidamente palavras que se encaixem na nossa necessidade de acolhimento. Ora, é sabido que todos nós acreditamos que o mundo nos deve consideração, admiração e amor para muito além do que efetivamente recebemos.

Estamos constantemente a cobrar do resto do planeta o que pensamos ser o nosso devido quinhão de felicidade e conforto – por eles sonegados.

Para além disso, o mundo é, via de regra, injusto e severo demais com nossas pequenas ou grandes conquistas. Não recebemos o reconhecimento devido e ainda nos jogam uma crítica por demais feroz sobre nossas falhas e erros. Como lidar com tamanha injustiça?

A resposta a isso pode ser recolher-se em silêncio na humildade, entendendo que nossas virtudes, se forem reais, aparecem inexoravelmente com o tempo. Por outro lado, podemos gritar a plenos pulmões nossas qualidades imaginando que, assim agindo, conquistaremos corações e consciências. Estes são os extremos de nossa reação ao amor que (não) nos dão.

Eu prefiro uma posição intermediária: creio que devemos ser humildes até onde nossa simplicidade afete o amor que devemos devotar a nós mesmos, e devemos ser exuberantes até o ponto em que a vaidade destrua nossos princípios. Essa é a lógica que imagino também ser adequada para criar os filhos: “Ame-os infinitamente, mas até o limite da falta, para que seu amor não destrua neles a necessidade de encontrar o amor por si mesmos”.

Ou seja, o velho e cafona conceito do equilíbrio.

Autor: Ricardo Herbert Jones. Também escreveu e publicou crônica “Arte e tempo”: www.neipies.com/arte-e-tempo/

Edição: A. R.

Privilégios & preconceitos

Geralmente, privilégios são concessões, enquanto direitos são conquistas. Ninguém concede direitos a ninguém. O máximo que se pode fazer é reconhecê-los e buscar protegê-los. Diferentemente de quem goza de um privilégio, aquele que desfruta de um direito não pode negá-lo aos demais. Isso seria uma contradição.

O que distingue um privilégio de um direito legítimo? Imagine uma gangorra. Se de um lado dela estiver o direito, do outro estará o dever, e ambos se equilibram. Tanto um, quanto outro deve ser aplicado indistintamente a todos. Mas se de um lado da gangorra estiver o privilégio, do outro estará o preconceito. Onde impera o direito, todos ganham. Mas o privilégio contempla apenas alguns.

Onde houver privilégios e preconceitos, haverá clamor por direitos.

A equação pode parecer simples, mas envolve muitos fatores. Quem estaria disposto a abrir mão de seus privilégios? Aliás, muitos nem sequer os reconhecem. Por estarem tão acostumados a usufrui-los, parece-lhes algo absolutamente natural.

Nem todo privilégio pode ser renunciado, porém, deve ser constantemente denunciado até que se torne motivo de constrangimento e não mais de vanglória por parte de quem o desfruta.

Paulo, por exemplo, poderia se considerar um privilegiado por causa de sua confortável posição social. Em vez disso, ele mesmo denuncia seus privilégios, considerando-os como excremento, o resultado final de um processo de promoção e manutenção da segregação. Na apresentação de seu invejável currículo, ele diz integrar a linhagem de Israel a quem pertence as promessas divinas, a tribo de Benjamim de onde procedeu seu primeiro monarca, a mais popular facção política e religiosa de seu tempo, os fariseus, além de ser defensor intransigente das tradições, da lei e da ordem, o que levou-a a perseguir vorazmente os cristãos. “Mas o que para mim era lucro”, arrematou, “considerei perda por amor de Cristo; sim, na verdade, tenho também como perda todas as coisas pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas estas coisas, e as considero como excremento, para que possa ganhar a Cristo” (Filipenses 3:4-8).

Qualquer coisa que nos faça sentir superiores aos outros precisa ser ressignificada. A graça nos nivelou, de modo que ninguém é melhor do que ninguém. Nenhum privilégio é reconhecido pelos céus; todos são frutos da injustiça.

O que é considerado privilégio em nossa sociedade contemporânea? Ser branco? Homem? Heterossexual? Cristão (católico ou evangélico)? O que nos concede vantagens imediatas sobre os outros? Se não podemos mudar nossa posição privilegiada, estaríamos dispostos a abrir mão das vantagens que dela decorrem?

Não posso, por exemplo, alterar minha orientação sexual. Sou heterossexual, e isso é inerente à minha condição existencial. No entanto, entendo que isso me confere vantagens sociais em relação aos homossexuais. Nunca ouvi falar de alguém sendo demitido por ser heterossexual, mas conheço muitos homossexuais que enfrentam grandes dificuldades no mercado de trabalho devido à sua orientação sexual.

Se quero “ganhar a Cristo”, como disse Paulo, devo expor meus privilégios, denunciando-os e considerando-os como perdas. Por que deveríamos considerá-los perdas, se na verdade representam vantagens e lucros? Porque, ao usufruirmos dessas vantagens, estamos perpetuando a injustiça que prejudica os outros. Não posso mudar a cor da minha pele, mas posso recusar me sentir confortável ao ser preferido em uma entrevista de emprego por ser branco. Não devo endossar preconceitos só porque não sou vítima deles. Tampouco devo apoiar privilégios apenas porque me beneficiam.

Outro exemplo pode ser encontrado nas páginas do Antigo Testamento. Trata-se do episódio em que Davi, após cometer adultério, chamou Urias, o esposo traído que estava no campo de batalha, para outorgar-lhe um privilégio inusitado. Evidentemente, o objetivo de Davi não era conceder um privilégio a um dos seus mais leais soldados, mas sim, criar um ardil para tentar se livrar das consequências de seus atos.

Quando Urias chegou ao palácio, Davi lhe deu uma merecida folga para que pudesse passar a noite na companhia de sua esposa. Com isso, a embaraçosa gravidez de Bate-seba seria atribuída ao próprio marido, e Davi, seria poupado de uma exposição desnecessária que poderia até destituí-lo do trono. Mas, surpreendentemente, Davi se vê diante de um homem de envergadura moral e ética superior à sua. Como ele poderia desfrutar das benesses e prazeres do leito conjugal sabendo que seus companheiros seguiam arriscando suas vidas no campo de batalha? Sua ética ilibada fez com que abrisse mão do privilégio e voltasse para o front.

Nem mesmo embriagando Urias, Davi conseguiu dissuadi-lo de voltar para seus companheiros. Aquela havia sido a primeira vez que Davi ficara em casa enquanto seus homens lutavam pela expansão do reino. Urias, porém, recusou a oferta. Sentindo-se encurralado, Davi recorreu ao mais covarde expediente. Ele enviou, pelas mãos de Urias, uma carta a Joabe, seu general, instruindo-o a colocar Urias na linha de frente da batalha e, quando os inimigos avançassem, ordenar aos soldados que recuassem, deixando Urias sozinho. Morrendo Urias, Davi se livraria de um grande problema.

A confiança de Davi na integridade de Urias era tão grande que ele nunca considerou a possibilidade de Urias abrir a carta e descobrir sua sentença de morte (2 Samuel 11:7-17). O plano funcionou, mas custou caro a Davi. Deus não o deixaria impune.

Somente quem possui uma sólida envergadura moral e ética é capaz de abrir mão de algo vantajoso, pois entende que o privilégio sempre priva alguém de seus direitos.

Se me vejo como detentor do direito de usufruir de certos privilégios, passo a enxergar o outro como inferior a mim. Isso é preconceito.

Geralmente, privilégios são concessões, enquanto direitos são conquistas. Ninguém concede direitos a ninguém. O máximo que se pode fazer é reconhecê-los e buscar protegê-los. Diferentemente de quem goza de um privilégio, aquele que desfruta de um direito não pode negá-lo aos demais. Isso seria uma contradição.

Moisés, por exemplo, abriu mão de sua posição como príncipe do Egito para sofrer ao lado de seu povo. O próprio Jesus abriu mão de seus atributos divinos, esvaziando-se e assumindo a posição de servo daqueles que deveriam servi-lo. Que Ele seja nosso maior exemplo, de modo que jamais nos apoiemos em nossa posição social, religiosa, eclesiástica, étnica, intelectual ou ideológica. Que nos posicionemos pelos direitos de todos, sem discriminar quem quer que seja.

Autor: Hermes C. Fernandes. Também escreveu e publicou no site “Por que cidadãos de bem costumam ser tão cruéis”:  www.neipies.com/por-que-cidadaos-de-bem-costumam-ser-tao-crueis/

Edição: A. R.

Educação e Violência da Positividade

Na violência da positividade não existe um inimigo externo, pois “a falta de negatividade da inimizade faz com que a guerra se dirija contra si mesmo”, ou seja, “quem destrói, será destruído”; “quem golpeia, será golpeado”; “quem vence, perde por sua vez.” (Han, 2016, p. 141).

Violência é um dos temas recorrentes, não apenas no campo da educação e da filosofia, mas de diversas áreas de estudo, como saúde, antropologia, sociologia, direito, biologia, psicologia, e a lista poderia ser imensa. A violência é algo presente, cotidiano, que invade nossa vida pessoal e coletiva das mais diversas formas. Enquanto fenômeno antropológico, é constitutiva do humano, da forma como nos relacionamos e na construção de nossa própria imagem de pessoa. Pensadores da envergadura de Nietzsche, Freud e Hobbes nos ensinaram que a violência se apresenta como um “constitutivo primordial”, pois faz parte do mais íntimo dos impulsos humanos.

Um olhar mais cuidadoso sobre o fenômeno da violência nos ajuda a compreender que ela se distingue da agressividade.

Os estudos dos biólogos e etólogos “[…] dizem que o animal que não fosse dotado de um mínimo de agressividade não sobreviveria em nosso mundo” e que “a agressividade básica está na raiz do chamado instinto de sobrevivência, que demove o animal a buscar alimento, água, segurança” (Morais, 1995, p. 20). Violência e agressividade, portanto, não são a mesma coisa, pois enquanto esta se apresenta como um dispositivo biológico de sobrevivência, aquela é própria dos seres humanos. Há quase meio século, o filósofo Jean-Marie Domenach e seus colaboradores já ressaltavam em seus estudos que “[…] foi violentamente que o homem dominou a terra e continua a ocupá-la. A vida é violência, o Estado é uma violência organizada, o pensamento é violência.” (Domenach, 1969, p. 21). 

O mundo, portanto, não está dividido entre violentos e não violentos, mas entre os que realizam e praticam efetivamente a violência contra os outros e os que tendo consciência de sua condição existencial lutam permanentemente para reduzir a violência a um mínimo possível.

Sobre esse aspecto, tem razão Morais (1995, p. 21) quando diz que “[…] se nos pusermos em campanhas contra a violência, em nome de uma não-violência fantasiosa, sem que consideremos firmemente a condição paradoxal [do ser humano], pouco alcançaremos além de um moralismo frágil cujos contornos indefinidos derivam da perda da opção dialética da vida.”

Há uma violência “velada”, escondida, “camuflada” que precisa ser compreendida na forma como ela se faz presente na própria existência de cada indivíduo e nos múltiplos relacionamentos sociais do cotidiano. No ensaio Topología de la violencia o filósofo coreano Byung-Chul Han (2016) faz uma instigante e provocativa análise dos diversos lugares em que a violência se manifesta. Dividido em duas partes, o ensaio de Han descreve as metamorfoses da violência e indica que há uma distinção entre violência da negatividade e violência da positividade.

Segundo Han (2016, p. 10), “[…] a sociedade atual evita cada vez mais a negatividade do outro ou do estrangeiro”, provocando o desaparecimento gradual das fronteiras e das diferenças. No entanto, “a supressão da negatividade não se pode equiparar com a desaparição da violência, pois junto à violência da negatividade existe também a violência da positividade, que se exercita sem necessidade de inimigos nem de dominação.” Esta se faz presente na “massificação do positivo”, que se manifesta como excesso de capacidade, excesso de produção, excesso de comunicação, hiperatenção e hiperatividade. “A violência da positividade”, ressalta Han (2016, p. 10-11), “possivelmente seja mais danosa que a violência da negatividade, pois carece de visibilidade e publicidade, e sua positividade faz com que não haja defesas imunológicas.”

No capítulo dedicado à Violência da positividade, Han (2016, p. 137) ressalta que “[…] o desmoronamento da negatividade faz com que surja um excesso de positividade, de promiscuidade generalizada, de consumo, de comunicação, de informação e produção.” A massificação do positivo congestiona e obstrui a circulação, causando um infarto no sistema, em que “[…] a informação já não é informativa, a produção já não é produtiva, a comunicação já não é comunicativa.”

Valendo-se dos escritos e reflexões de Baudrillard, Han (2016, p. 138) denuncia que “[…] o espaço ascético da positividade, ao ter eliminado o efeito de toda negatividade imunológica do outro, desenvolve novas formas de viralidade, uma nova patologia.” Com isso, ele ressalta que a época contemporânea não é mais “uma época viral”, pois “[…] as enfermidades principais não são infecções virais ou bacterianas, mas sim são enfermidades psíquicas como o burnout, a hiperatividade ou a depressão, que não se remetem a negatividade viral, senão ao excesso de positividade, a violência da positividade.” (Han, 2016, p. 140).

Na violência da positividade não existe um inimigo externo, pois “a falta de negatividade da inimizade faz com que a guerra se dirija contra si mesmo”, ou seja, “quem destrói, será destruído”; “quem golpeia, será golpeado”; “quem vence, perde por sua vez.” (Han, 2016, p. 141).

Trata-se, portanto, de uma guerra em que nada se pode ganhar, onde não há vencedor. A violência da positividade é “implosiva”, diferente da violência da negatividade, que é “explosiva”. Enquanto “a violência explosiva exerce uma pressão que vem de fora”, a violência implosiva exerce uma pressão de dentro “que causa tensões e impulsos destrutivos”; “o bournout do sujeito de rendimentos é um signo da ameaça de implosão do sistema.” (Han, 2016, p. 142). “A erosão do social cada vez maior”, da sociedade contemporânea, acaba produzindo “egos ilhados encerrados em si mesmo.” Para Han (2016, p. 144, grifo do autor), “[…] muito mais perigoso que o terror do outro é o terror de si mesmo, o terror da imanência”, pois “[…] já não é possível defender-se com eficácia deste porque já não há negatividade.”

Referências:

DOMENACH, J. M. et al. A violência.Rio de Janeiro: Laudes, 1969.

FÁVERO, A. A.; TONIETO, C. Educar o educador: reflexões sobre formação docente. Campinas: Mercado de Letras, 2010.

HAN, B.-C. Topología de la violencia. Barcelona: Herder, 2016.

MORAIS, R. de. Violência e educação.Campinas: Papirus, 1995.

Autor: Altair Alberto Fávero. Professor e Pesquisador do PPGEdu/UPF – altairfavero@gmail.com também escreveu e publicou no site a reflexão “Educar para humanizar e resistir à racionalidade neoliberal”: www.neipies.com/educar-para-humanizar-e-resistir-a-racionalidade-neoliberal/

Edição: A. R.

As (contra)reformas do ensino médio e os impactos na docência

“Flexibilização curricular com itinerários formativos, parcerias, EaD, certificação competências, validação de estágios e experiências de trabalho e “notório saber” visam a precarização da docência e atinge a dignidade dos trabalhadores da educação”

No dia 31 de julho de 2024 o Presidente Lula sancionou – com alguns vetos – a Lei nº 14.945 que alterou novamente a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN) com novas diretrizes para o ensino médio. Esta nova lei revoga alguns dispositivos na LDBN que foram introduzidas pela MP º 746/2016, transformada em lei nº 13.415/2017, que gerou muitas críticas e resistência no meio educacional durantes estes últimos 8 anos.

A nova lei restabelece as 2.400 horas para a Formação Geral Básica (FGB) dos estudantes e retoma disciplinas obrigatórias, em todos os anos, como: português, inglês, artes, educação física, matemática, ciências da natureza (biologia, física e química) e ciências humanas (filosofia, geografia, história, sociologia).

O estudo de Espanhol ficou facultativo. As demais 600 horas serão destinadas aos Itinerários Formativos (IF), inclusive a oferta de cursos técnicos de nível médio.

Desde a aprovação da LDB em 1996, nestes longos 28 anos, inúmeras modificações foram sendo introduzidas nestas diretrizes, sendo o ensino médio que mais sofreu tentativas de reformulação, a cada ciclo de governos.

De grande impacto sobre as escolas e seus sujeitos (estudantes e professores), cabe especial atenção para a reforma atualmente em rediscussão e disputas acirradas. Contudo, uma certeza se evidencia, ou seja, as (contra)reformas no ensino médio são portadoras de impactos na qualidade da educação básica, na vida e sonho dos estudantes e, na destruição da carreira docente na esfera pública estatal.

O presidente vetou, também, as mudanças no Enem aprovadas pela Câmara dos Deputados, mantendo as provas ancoradas à formação geral básica que todos os estudantes do país reivindicam em nome da igualdade de condições e direitos.

Enquanto alguns avaliam o veto do Enem como uma estratégia de fragilização dos itinerários formativos, visto que não serão avaliados nas provas, pesquisadores da educação, como Daniel Cara (USP), entendem que a decisão foi correta.

O professor Daniel Cara argumenta que a “prova é nacional, portanto, precisa ser pautada no que é comum. É uma questão de justiça e, inclusive, uma questão constitucional: o direito à educação é nacional e é preciso ter igualdade de condições para o acesso e permanência na escola.

Portanto, o ingresso à Universidade precisa ser feito com a maior isonomia possível”. E questiona, por exemplo, como seria feita a organização das questões da prova dos IF já que cada rede de ensino tem autonomia para definir seus itinerários?

“Um Enem com a parte diversificada seria uma injustiça por definição: os itinerários de qual rede estadual prevaleceriam?”, pergunta Daniel Cara.

Entidades, como a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE) criticam que os privatistas impuseram nesta nova lei mais uma derrota à educação pública deixando mais distante o Brasil encontrar a rota definitiva para a inclusão social de seu povo, com dignidade.

A CNTE cita, também, os atropelos regimentais nos processos de votação, propositalmente conduzidos pelo presidente da Casa, dep. Arthur Lira (PP/AL), a Câmara dos Deputados aprovou um parecer muito próximo da MP nº 746/2016, que deu origem a nefasta reforma do Novo Ensino Médio no governo do golpista Michel Temer.

coletivo em Defesa do Ensino Médio de Qualidade: entre conquistas coletivas e mudanças não realizadas veio a público manifestar preocupação e indignação com o texto aprovado pelo Congresso Nacional, especialmente no que tange:

– a não garantia da predominância de oferta do Ensino Médio Integrado nos Institutos Federais (IFs);

– a oferta de ensino presencial mediada por tecnologias ou na modalidade EaD; a manutenção do notório saber para a docência; a ausência da língua espanhola como componente curricular obrigatório;

– a possibilidade de oferta de parte da carga horária do ensino médio por instituições privadas;

– o estímulo ao trabalho precoce a partir possibilidade de validar horas de trabalho como carga horária letiva;

– e a existência de carga horária diferenciada na FGB para os ensinos médios técnico e propedêutico (o primeiro com 300 horas a menos).

Este mesmo coletivo reafirma que um projeto de nação alicerçado no desenvolvimento social, econômico e cultural do seu povo, na superação das desigualdades sociais e educacionais, sustentável e soberano, demanda a construção de uma escola pública à altura. Não será privando os/as estudantes do pleno acesso ao conhecimento científico e a uma formação ética e estética que assegure o direito à educação de qualidade que construiremos uma sociedade livre, plural e democrática.

Impactos na docência

O tema da carga horária da FGB e dos Itinerários Formativos (IF) na reforma do novo ensino médio despertou uma disputa e mobilização dos reformistas, dos congressistas e por representantes de fundações/institutos empresariais que tentaram, ao longo de todo o processo legislativo (trabalhando nos bastidores), reduzir a carga horária das disciplinas básicas dos estudantes brasileiros. Por quê? Qual é o verdadeiro interesse que está em jogo?

Um interesse é histórico que se expressa na dualidade educacional brasileira: uma formação propedêutica de qualidade para uma parcela dos filhos da elite brasileira e, uma formação e qualificação de segunda classe inferior para a grande maioria das juventudes populares.

Por meio das escolas particulares e algumas poucas ilhas de escolas nas redes públicas tais objetivos são atingidos, mantendo a grande maioria de estudantes (85% das matrículas) em redes e escolas sem as condições básicas para o desenvolvimento de uma aprendizagem e oferta de educação com qualidade.

Cabe relembrar que a reforma do novo ensino médio foi imposta por uma medida provisória no concomitante com um conjunto de outras reformas administrativas de interesse do empresariado com a redução do tamanho e capacidade do Estado brasileiro: PEC 095/2016 do teto de gastos sociais (novo regime fiscal), impondo limites investimentos nas área sociais; reforma previdenciária; reforma trabalhista (flexibilização contratações temporárias e a intermitência), entre outras medidas tomadas pelo então governo Temer (2016-2018).

Com a flexibilização curricular em 40% do currículo no ensino médio, por meio dos itinerários formativos de qualquer natureza, parcerias, EaD, certificação competências, validação de estágios e experiências de trabalho e “notório saber”, ficou evidenciado que maior objetivo da reforma do ensino médio é reduzir o tamanho da participação do estado e de seus investimentos em educação pública de qualidade, precarizando a carreira docente, reduzindo o quantitativo de professores efetivos nas diversas redes pública e, travando a realização de concursos públicos e/ou não efetivando das nomeações quando realizados os processos seletivos. Vejamos alguns exemplos a seguir:

Recente diagnóstico divulgado pela ONG Todos pela Educação e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), revelam que de 2013 a 2023 o quantitativo de docentes temporários nas redes estaduais se tornou majoritária, passando de 31,1% para 51,6%.

Nas redes municipais, ainda são minoria de 34%, porém seu número aumentou para 47% a partir de 2020, exatamente quando se iniciou a implementação da BNCC nos municípios.

Aproximadamente seis a cada dez cidades do país estão há mais de cinco anos sem realizar concurso público para contratar professores para as escolas municipais. Esta baixa frequência de concursos deixas as instituições escolares, sobretudo nas regiões vulneráveis, sem profissionais com formação adequada para trabalhar na sala de aula e um contingente docentes formados sem emprego.

A maior rede de ensino do Brasil, com mais de 3 milhões de alunos, o estado de São Paulo, precursor na implementação do Novo Ensino Médio, tem mais de 162 mil professores, sendo 50,7% com contratos temporários.

Agora intensifica o uso de tecnologia nas escolas para reduzir a “interferência dos professores” e prioriza as escolas cívico-militares com salários superiores ao dos professores formados e efetivos.

No Ceará, estado “referência” para os reformistas e privatistas (fundações e institutos empresariais), de acordo com o painel de monitoramento do PNE, do governo federal, a situação dos docentes na rede pública cearense era em 2023 de: Rede Federal: dos 1.432 professores, 94,4% são efetivos; Rede Estadual: dos 19 mil professores, 41,4% são efetivos; Rede Municipal: dos 69 mil professores, 56,1% são efetivos, com um Total de 87 mil professores, 54,2% são efetivos.

Ou seja, no Ceará, a realidade é que a cada 100 professores das escolas públicas, 54 são concursados e outros 46 estão em outros regimes de contratação.

No Estado do Rio Grande do Sul, de acordo com a terceira edição do Observatório da Educação Pública no RS (2023) da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa, ocorreu uma significativa redução de 57,7% no número de professores efetivos no magistério estadual ao longo de 16 anos.

Os dados apresentados indicam uma queda drástica, passando de 74.163 matrículas em 2006 para 31.309 em 2022. Depois de 10 anos sem concurso na área da educação, o Governo do Estado lançou Edital do Concurso Público para professores e professoras, contemplando somente 1.500 vagas.

O pretenso déficit dos sistemas previdenciários dos servidores públicos, agravado pelo envelhecimento da população, e os orçamentos engessados tendem a dificultar a contratação de efetivos. Por outro lado, a profissão docente exige valorização e bons salários; no mundo desenvolvido, isso é norma.

No Brasil, a BNCC e a reforma do novo ensino médio, em suas várias versões, com seus itinerários, visam, também, destruir a carreira docente e a dignidade dos profissionais da educação.

O apagão docente e o desinteresse dos jovens pela profissão professor não é um acaso, é um projeto das reformas empresariais na educação, operados pela nova direita conservadora, com velhas ideias.

Fonte: www.extraclasse.org.br/opiniao/2024/08/as-contrareformas-do-ensino-medio-e-os-impactos-na-docencia/

Autor: Gabriel Grabowski, professor, pesquisador. Também escreveu e publicou no site o ensaio “Escola não é empresa e policial não é educador”: https://www.neipies.com/escola-nao-e-empresa-policial-nao-e-educador/

Edição: A. R.

Um ato de humildade: perdoar

Perdoar e pedir perdão nos colocam em um patamar mais elevado como seres humanos.

Perdoar não é mera conduta moral. Perdão e reconciliação são fundamentais para que os seres humanos se tornem mais adaptáveis no planeta. Perdoar preserva a vida coletiva.

Ser agredido por alguém produz dor, raiva e desejo de vingança. Mas responder de forma elevada é fundamental para a vida em sociedade. Perdoar remove a hostilidade crônica, que nos faz ruminar sentimentos indesejáveis.

Há muitas razões para perdoar. Começa pelo bem-estar que isso produz. Promove saúde física e mental. Ajuda a resolver conflitos. Perdoar vem de “per” e “doar”. Doar é mais do que dar. É entregar-se. Dar ao outro a própria salvação.

Pedir perdão é também um ato de humildade e arrependimento. Revela caráter. Mas não deve ser vulgarizado. Quando um pai acoberta o delito do filho delinquente, está alimentando um monstro.

Não se pode amar ninguém incondicionalmente. Nem um filho. O ser humano precisa ser domesticado, e isso é tarefa dos pais.

Perdoar é uma das coisas mais difíceis de fazer. Mas vale a pena.

Não perdoamos o fato. Abuso ou deslealdade são imperdoáveis. Ao perdoarmos o fato, justificamos o erro. Perdoamos a pessoa.

Zero Hora noticiou o falecimento do psicanalista David Zimmermann. Fomos vizinhos. Uma grande pessoa. Numa reunião de condomínio, iriam demitir o zelador, quando alguém mencionou que o rapaz pedira desculpas por algo malfeito.

David lembrou que pedir perdão é algo nobre. Por isso, o zelador merecia outra chance. Seguimos o seu conselho. O rapaz ficou conosco por anos. Ótimo funcionário.

Perdoar e pedir perdão nos colocam em um patamar mais elevado como seres humanos.

Autor: Gilberto Schwartsmann. Esta reflexão foi publicada em versão impressa do jornal Zero Hora em 08/07/2014. Apaixonado pelas artes, Gilberto Schwartsmann é escritor, professor, colecionador de arte e médico oncologista, pós-graduado pela Universidade de Londres e membro da Academia Nacional de Medicina. Escreveu sete livros, dois deles traduzidos para o espanhol e para o francês, uma peça teatral, montada em Porto Alegre e em São Paulo, além de várias crônicas e ensaios literários publicados em jornais. Ele também realizou curadorias de exposições literárias, como Cem Anos da Semana de 1922 e Caminhos de Proust.

PROPOSTA DE ATIVIDADE PEDAGÓGICA:

Habilidade da BNCC: (EF05ER07) Reconhecer, em textos orais, ensinamentos relacionados a modos de ser e viver.

Como professor de Ensino Religioso, utilizo este texto em turmas das séries finais do Ensino Fundamental para tratar deste grande drama e dificuldade humana: perdoar. Acredito que, embora difícil, é necessário aprender e exercer a experiência do perdão. Como escreveu pastor Luciano P. Subirá: “Alguns acham que o perdão é um benefício para o ofensor. Porém, eu digo que o benefício maior não é o que foi dado ao ofensor, mas sim o que o perdão produz na vítima, naquele que está ferido. Sem perdão não há cura. A doença interior só se complica, e a saúde espiritual, emocional e física da pessoa ressentida é seriamente afetada”. (Nei Alberto Pies) Leia mais: https://www.orvalho.com/ministerio/estudos-biblicos/compreendendo-o-perdao-por-luciano-subira/

Para estudantes de anos iniciais, sugestão desta interessante história: (Habilidade da BNCC: (EF01ER01) Identificar e acolher as semelhanças e diferenças entre o eu, o outro e o nós):

Link do vídeo (história): https://youtu.be/4ViZrqT2Pe0?t=156

Edição: A. R.

Veja também