A escola que nada me ensinou sobre o
golpe de 64 precisa enfrentar os que a
amordaçaram por tanto tempo e pretendem
continuar controlando seus atos.
A universidade brasileira ganhou a chance de se redimir dos seus silêncios em meio às articulações que derrubaram Dilma Rousseff. Professores, estudantes, servidores em geral e comunidades ao redor têm a missão de levar o debate do golpe dos pátios para as salas de aula, como fez a Universidade de Brasília e como promete fazer agora a Universidade de Campinas.
A Unicamp terá uma disciplina com o mesmo título da criada pela UnB: “O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil”. Outras universidades poderiam imitá-las. Criem disciplinas e cursos sobre o golpe. Estudem o golpe, debatam, condenem e alertem sobre novos golpes.
Não se acovardem diante da ameaça de que a universidade pública não pode se meter em política. Não levem a sério os processos do Ministério da Educação de Mendonça Filho contra a UnB.
Se a universidade não tivesse autonomia para estudar golpes, ninguém saberia hoje que a exaltada proclamação da República foi um deles. A escola que nada me ensinou sobre o golpe de 64 precisa enfrentar os que a amordaçaram por tanto tempo e pretendem continuar controlando seus atos.
Hoje, até a Globo diz no Jornal Nacional que em 1964 houve um golpe. A universidade não precisa esperar que a Globo diga, daqui a 40 anos, que Dilma também foi golpeada. A universidade quieta, omissa e encaramujada diante do golpe de agosto de 2016 (por favor, não me citem exceções) tem agora a oportunidade que os restos de democracia oferecem.
Os professores não podem fugir da obrigação de ensinar o que é um golpe, como se articula e como é levado adiante, como este executado pelo Brasil arcaico, sem a necessidade de ajuda externa. A universidade deve esclarecer: o golpe foi uma artimanha dos coronéis, não só os do Nordeste, mas do grande empresariado paulista. Junto com os sargentos e os coronéis da imprensa, do Ministério Público, do Judiciário.
Os jovens distanciados da política talvez digam que não querem saber dessa conversa, que pretendem se mumificar como jovens até os 40 anos, quem sabe até os 60. Mas é tarefa do professor tentar acordá-los para a idade adulta, já que muitos desistiram de cumprir a vocação dos estudantes de protestar, instigar e transgredir.
O Ministério da Educação avisou, para assustar a UnB, que o projeto de estudar o golpe não tem sustentação em nenhuma ciência. Mas de que ciência falamos num desgoverno que despreza a cultura e a ciência? Que ciência deu aos cúmplices de 64 o direito de dizer, nas aulas de Moral e Cívica, que a ditadura era lastreada pelo desejo moralizante das famílias?
Vamos torcer para que que se multipliquem pelo Brasil os cursos sobre o golpe. Que a universidade pública, ameaçada de extinção, ressuscite em grande estilo. Queremos cursos sobre o golpe em toda parte, em igrejas, sindicatos, ONGs, inclusive no ensino médio.
Falem do golpe como quem fala de racismo, de xenofonia, de homofobia. Enfrentem os discordantes, não temam os reacionários do fundo da sala.
Tanto na UnB como na Unicamp, o curso é optativo, não é uma disciplina dentro de uma grade obrigatória. Deveria ser. A universidade pública precisa estudar o golpe como estuda a Guerra do Paraguai, sem a desculpa de que é algo muito recente.
A universidade golpeada um dia perderá o medo, como aconteceu depois de 64, e será restabelecida como reduto da resistência.
A Unicamp incluiu no seu curso o protagonismo do Judiciário, com aulas sobre “O jogo político do STF e o golpe”. A educação talvez acabe assumindo sozinha uma tarefa que em outros tempos, inclusive na ditadura, era dela e da imprensa.
Mas a imprensa acovardou-se e se dedica há anos a reproduzir conversas, vazamentos e delações filtradas pela Lava-Jato. A imprensa é quase uma extensão subalterna do Judiciário. Querer contar com o jornalismo é quase como pretender que Curitiba pegue tucanos.
Sorte dos estudantes que poderão estudar o golpe e, como prometem as duas universidades, a depreciação moral das instituições a partir do que aconteceu em agosto.
Que estudem também o fechamento de escolas, como parte da estratégia de esvaziamento do ensino público, e o racionamento da merenda escolar (quando não é furtada pelo superfaturamento dos tucanos, como aconteceu em São Paulo), como tática para que as crianças não fiquem obesas, como disse o secretário de Educação de Porto Alegre.
Os estudantes da UnB e da Unicamp saberão mais não só sobre manobras golpistas, mas sobre democracia. Colegas de outras universidades, inclusive privadas, poderiam exigir que seus cursos façam o mesmo.
Não tenham medo dos golpistas, muito menos dos que não aguentarão o tranco e sairão porta afora gritando o nome do Bolsonaro.
Moisés Mendes escreve para o Jornal Extra-classe online. Este artigo foi originalmente publicado no mesmo. Acesse aqui.
O problema da fome no mundo — e no Brasil —
não está na produção de alimentos: hoje, se produz quantidade
de alimentos suficiente para se alimentar a todos no planeta.
Assim, a questão é de se ter acesso a esses alimentos.
Setenta anos depois de o sanitarista brasileiro Josué de Castro ter denunciado a fome como um “flagelo fabricado pelos homens contra outros homens”, o Brasil já consegue enxergar a fome como um problema político? Como o mundo tem olhado para esse drama humano e universal? Nesta entrevista concedida à Radis por e-mail, outro brasileiro, o agrônomo José Graziano da Silva, reflete sobre essas questões. Responsável pela implantação do Fome Zero, em 2003, programa precursor de uma série de outros que colocaram a luta contra a fome na agenda das políticas públicas do Brasil, Graziano hoje está no segundo mandato como diretor-geral da FAO, órgão da ONU responsável pelo combate à fome e à pobreza por meio da melhoria da segurança alimentar. Aqui, ele explica por que os programas sociais que contemplem o acesso aos alimentos não podem deixar de ser prioridade.
Por que, apenas três anos depois de deixar o Mapa da Fome, o Brasil já corre o risco de voltar a figurar nesse indicador?
Para entender o possível retorno do Brasil ao Mapa da Fome, precisamos recordar, antes, quais foram os fatores que o levaram a sair do mapa, depois de décadas. A experiência brasileira revela que é necessária uma firme atuação de governo, por meio de um conjunto de programas sociais, articulados em torno do conceito de segurança alimentar. Ações específicas, como o Programa de Aquisição de Alimentos, o crédito ao pequeno produtor rural, os bancos de sementes, além do Bolsa Família, são ferramentas fundamentais para o combate à pobreza. Seriam insuficientes, porém, se não fossem combinadas com medidas macroeconômicas de geração de crescimento inclusivo de empregos formais, de valorização real do salário mínimo, previdência social robusta, aposentadoria rural não contributiva etc. Foi com essa combinação de esforços que as camadas mais vulneráveis da população brasileira passaram a ter acesso aos alimentos básicos, que antes lhes eram vedados por causa da alta dos preços e da baixa renda. Os indicadores econômicos do Brasil em 2017 mostram, entretanto, que o salário mínimo deixou de ter um reajuste real acima da inflação e que poucos novos empregos foram criados no último ano. Nessas condições adversas, seria fundamental a manutenção dos investimentos sociais no orçamento de 2018, conforme recomendam o FMI e o Banco Mundial. O que se noticia, porém, são cortes nos orçamentos dos programas sociais e das redes de proteção social; daí a nossa preocupação.
Que leituras é possível fazer das estratégias de que o Brasil lançou mão naquele período?
Por terem logrado resultados positivos em pouco mais de uma década, as estratégias nacionais de combate à fome tornaram-se, em grande medida, diretrizes e referências para estratégias adotadas em outros países. O Brasil é fonte de inspiração para outras nações no enfrentamento da fome estrutural por meio de políticas públicas articuladas e previstas no orçamento nacional.
Por que essas políticas estão se revelando mais frágeis do que pareciam há bem pouco tempo? Quão longe ainda estávamos de consolidar o combate à fome e à miséria como política pública?
A crise econômica brasileira terminou por impedir que se consolidasse uma política de segurança alimentar. Para que a fome seja combatida de maneira eficiente, nossa recomendação é sempre a adoção de políticas anticíclicas: quando há recessão econômica, propõe-se aumentar os investimentos nos programas sociais. Não é só o tema da alimentação. Os gastos sociais do governo são muito importantes: as pessoas são muitas vezes pobres porque não têm acesso aos bens comuns, como saúde, educação — e não podem pagar por eles. Há que se entender que a chamada linha da pobreza é muito flutuante. Ter ou não ocupação informal, mesmo que temporária, pode empurrar a família para cima ou para baixo dessa linha.
Estivemos no interior da Paraíba e testemunhamos como programas de transferência de renda vinham revertendo a situação de pobreza absoluta e miséria extrema, o que fazia do Brasil uma referência no modelo da renda básica universal. É possível dizer que, com uma série de cortes nesses programas, estamos na contramão do restante do mundo?
Os últimos dados da fome da FAO revelam que, em 2016, houve um aumento da fome mundial pela primeira vez na última década, e há três razões para isso: os conflitos armados, as mudanças climáticas e a redução de políticas de proteção social em razão da recessão econômica. Trata-se, sim, de uma situação que não afeta somente o Brasil. No entanto, precisamos entender que o investimento em políticas sociais e a alocação de recursos para a redução da pobreza são, também, janelas para a oportunidade de crescimento. No caso brasileiro, é motivo de preocupação a recente adoção de Emenda Constitucional que estabelece um teto orçamentário para os gastos sociais no Brasil. Sua aplicação deve dificultar gravemente a realização dos direitos sociais, tais como o direito a uma alimentação adequada, ou nos casos de saúde e educação.
Que cara tem a fome no Brasil?
A fome tem muitas caras, como costumo dizer. A cara da fome no Brasil é de uma mulher, de meia idade, com muitas crianças e que vive no meio rural. Em geral, o marido migra e não a leva, resultando em grande parte no abandono da família. Essa mulher, com muitos filhos, já de uma idade mediana e que foi abandonada, tem de ser beneficiária de mecanismo de proteção social — se não, jamais irá deixar tal condição, assim como os seus filhos. Essa é a geração que está sendo comprometida pela ausência de políticas sociais. Então, por mais deficiências que possam ter programas de transferência de renda — e que geralmente não têm, pois são facilmente corrigidos —, não se justifica deixar sem um mínimo atendimento as pessoas que não têm condições de ter acesso à alimentação. Apesar disso, uma outra cara da fome brasileira, como revelado na última Pnad [Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios], está também na periferia dos centros urbanos, onde se encontra um grande número de famílias sem emprego estável.
Quais você diria que são os maiores desafios para quem trabalha com o combate à fome no atual contexto brasileiro?
Quando tive a oportunidade de trabalhar como Ministro Extraordinário do Combate à Fome no primeiro governo Lula, pude contribuir na realização de uma das principais prioridades traçadas por aquela administração: fazer com que cada brasileiro pudesse passar o dia com a certeza de que faria três refeições: café da manhã, almoço e jantar. Com o Fome Zero e com a implementação dos sucessivos programas sociais, o Brasil conseguiu, nos anos seguintes, livrar milhões de pessoas da pobreza extrema e da fome. O compromisso político assumido naquela ocasião permitiu que os pobres tivessem seu lugar cativo no orçamento. Quando isso não é prioridade, fica muito mais difícil por em evidência a importância de se consolidarem políticas de segurança alimentar e de combate à fome.
Qual a relação entre os programas sociais e a questão da segurança alimentar?
Os programas sociais, em especial os de transferência de renda condicionada como o Bolsa Família, possibilitam o acesso das famílias mais pobres à alimentação básica. O problema da fome no mundo — e no Brasil — não está na produção de alimentos: hoje, se produz quantidade de alimentos suficiente para se alimentar a todos no planeta. Assim, a questão é de se ter acesso a esses alimentos.
Do ponto de vista de alguém que tem a trajetória ligada às questões de segurança alimentar, qual a sensação de ver a fome voltar a bater na porta de milhões de brasileiros?
A sensação é, naturalmente, de grande frustração e tristeza, mas em nada nos desanima a prosseguir neste caminho. Somos muitos a enfrentar este desafio, desde Josué de Castro, mas também figuras históricas como o Betinho, com sua campanha do Natal sem Fome, e Dona Zilda Arns e todos os colaboradores da Pastoral da Criança. Mais recentemente, temos a atuação dos membros do Consea [Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional], ativistas das ONGs humanitárias, enfim uma enorme rede que atua em torno das Conferências Nacionais de Segurança Alimentar. Enfrentar a miséria e a fome deve ser uma preocupação de todas e de todos brasileiras e brasileiros. Não é um problema só do governo, é de toda a sociedade.
Texto de Ana Cláudia Peres Entrevista com José Graziano
Fonte: Radis
Quem faz a nossa cabeça?
De onde vêm essas ideias que distorcem o
verdadeiro sentido das palavras e conceitos e acabam
tirando o foco dos reais problemas que devemos atacar?
É comum nas postagens de facebook e outras redes sociais, a referência ao comunismo como um perigo e uma ameaça. Se diz que o Lula e o PT querem transformar o Brasil numa Venezuela ou Cuba, que o comunismo quer a destruição da família, etc, etc, etc.
A influência da mídia na sociedade.
Como faz falta um pouco de conhecimento em Ciências Sociais para todos que se manifestam nas redes. São muitos conceitos usados com equívoco e, de tanto repetidos, acabam passando como “verdades”. Por exemplo, o que o presidente Lula fez durante seu governo está muito distante do socialismo.
Podemos dizer que o Brasil viveu um período de capitalismo um pouco mais humanizado, com mais distribuição de renda (não da riqueza), com menos desemprego e mais acesso ao consumo.
Mas, o que é mesmo esse tal de comunismo, que causa tanto pavor? O comunismo é a utopia, o horizonte das pessoas que colocam a igualdade como um valor primordial.
Muito antes de Karl Marx, Jesus Cristo ensinava a partilha como um dever fundamental. Tanto que seus discípulos, nos Atos dos Apóstolos, dizem: “todos estavam unidos e tinham tudo em comum. Vendiam suas propriedades e bens e os repartiam entre todos, segundo as necessidades de cada um” (At 2, 43).
Podemos nos reportar também à utopia guarani da “terra sem males” como outra experiência de comunismo, como fez o jesuíta suíço Clóvis Lugon na obra “A República comunista cristã dos guaranis: 1610-1768” (Paz e Terra, 1976). E assim poderíamos nos reportar a muitos exemplos de projetos de igualdade na história da humanidade.
O certo é que a ideia de comunismo e socialismo é como um horizonte onde os valores da igualdade, da equidade, da distribuição da riqueza, o coletivo se sobrepondo ao individual, entre outros, são essenciais.
Se queremos um mundo melhor, mais justo, talvez o primeiro passo é partirmos de uma boa análise da realidade. Quais são os desafios da realidade brasileira, sobre os quais devemos unir esforços e buscar soluções?
Certamente não é a ameaça do comunismo o nosso problema real. Nem mesmo a corrupção, da forma como é propalada pela mídia. Nossos problemas reais continuam sendo a brutal desigualdade social, a fome, a falta de acesso à saúde, educação, terra, entre outros problemas que, estes sim, destroem famílias e projetos de futuro, especialmente das crianças e jovens.
Diante dessa falta de informações e mal-entendidos, a pergunta que fica é: quem faz a nossa cabeça? De onde vêm essas ideias que distorcem o verdadeiro sentido das palavras e conceitos e acabam tirando o foco dos reais problemas que devemos atacar?
Levante sua voz – Documentário que mostra o poder da mídia na nossa formação.
A alegoria da Escola de Samba Paraíso do Tuiuti, sugerindo a manipulação dos manifestantes pró impeachment da presidenta Dilma, no mínimo nos faz pensar se não estamos sendo marionetes de redes de televisão, de grupos das redes sociais, de interesses poderosos que impedem a busca pela verdade e a conquista de um Brasil mais justo para todos.
O poder silencia, cria um clima de
uns contra os outros e materializa
um maniqueísmo autofágico tão
nosso conhecido em nosso país.
Está todo mundo cansado de ouvir falar em elites pejorativamente chamadas de “zelites”, pelos que consideram cansativas as generalizações que analistas e alguns políticos repetem sem parar. Mas, quem se aprofunda e vive a atuação do verdadeiro poder no mundo tem autoridade para falar sobre o assunto.
É o caso de Robert Reich, economista e ex-ministro do trabalho do governo Clinton nos Estados Unidos. Ele escreveu um livro intitulado Salvando o Capitalismo, que foi motivo para um documentário com o mesmo nome disponível no Netflix.
Trailer oficial documentário Netflix.
Senti uma luz acendendo-se na minha tão limitada compreensão, do que sejam as verdadeiras elites que regem os meandros da política e da concentração brutal de renda, em países como o nosso.
Recomendo para quem abomina as pessoas que denunciam a prática mais comum do que se pensa a assistir ao documentário, capaz de tornar-nos críticos revoltados e conscientes do que acontece de verdade dentro das bolhas do poder.
Ele não fala dos ricos como você, que tem uma empresa, uma fazenda, uma boa aposentadoria, um cargo importante, dinheiro guardado, mas dos bancos, das multinacionais, da concentração de riquezas por pouquíssimas pessoas, que engordam seu poder cada diz mais.
Ele fala também de lobistas poderosos capazes de influenciar os parlamentos, onde se joga com a vida ou morte de países, cujo povo ignora as manobras macabras, que empobrecem, retiram direitos, matam em filas de hospitais, deixam a cidadania inerte e ignorante do que realmente acontece.
Há uma cena comovente onde o autor do livro conversa com jovens supostamente desesperançados, mas que revelaram ter vontade de mudar as coisas e crentes de que alguma coisa seja capaz de dar-lhes voz.
Na conversa Robert Reich diz que tem a sensação de não ter feito tudo o que podia enquanto ministro do trabalho, mas que, por vezes, ele pensa ter feito o que era possível.
Concluíram que o poder silencia, cria um clima de uns contra os outros e materializa um maniqueísmo autofágico tão nosso conhecido. Segundo ele o que acontece nessa equação é a exacerbação de dualismos do tipo “democratas x republicanos”, “esquerda x direita”, e, no nosso caso, “coxinhas e mortadelas”, numa clara degradação das relações entre as pessoas. A máquina que alimenta a concentração de renda é um plano urdido nos bastidores e é inalcançável em uma sociedade dividida.
Para arrematar, Reich conclui o óbvio. Temos que unir forças, reconhecer o que é o inimigo e, se for necessário, causar tumulto. Nós aqui no Brasil causamos tumulto, mas sempre dois tumultos.
Chegamos ao absurdo de construir muros para separar as “torcidas”, ignorando que não somos dois povos, mas um só. No calor dos tumultos tupiniquins não somos o povo de que a constituição fala, não emanamos o poder, mas comportamo-nos como duas torcidas de futebol.
Sociólogo Jessé Souza: classe média pensa que é elite.
Quando compreendermos tudo isso, não limitaremos nosso poder ao voto, mas cobraremos incansavelmente do vereador em quem votamos, do deputado estadual, federal, senador, o comportamento ético que esperamos dele. Deixaremos seus telefones ocupados, suas caixas de email lotadas, seremos presença em audiências públicas, em sessões de câmaras pelo Brasil afora e tomaremos o poder em nossas mãos.
Cobrar das pessoas que elegemos é nossa obrigação. É o futuro dos nossos filhos e netos que está em jogo.
Da próxima vez que falarmos em “zelites”, voltemos ao livro ou ao documentário, para lembrarmos onde realmente as elites estão e qual é o verdadeiro nome da nossa desgraça.
A sensação é de que estamos
lutando uns contra os outros.
Mas o fato é que estamos
todos no mesmo barco,
à deriva.
Em tempos de crise política e ano de eleição, parece que todo mundo tem que escolher um lado. Tem que ser contra ou a favor de alguma coisa. E tem que ter opiniões definitivas. E tem que odiar os do “outro lado”. É uma pena que seja assim.
Todos querem estar do lado certo, mas nem sempre essa é uma escolha clara e simples. Há verdade por todos os lados, e ideias erradas também. Se não formos capazes de ouvir, será difícil encontrar soluções e caminhos para os desafios que temos em comum.
A sensação é de que estamos lutando uns contra os outros. Mas o fato é que estamos todos no mesmo barco, à deriva.
Não conseguimos discutir adequadamente nenhum projeto, nenhuma reforma, porque todas as opiniões estão obscurecidas pelos posicionamentos políticos de cada um.
Antes de ouvir uma consideração, um argumento, queremos saber “de que lado a pessoa está”, queremos julgar todas as ideias segundo um entendimento maniqueísta. Não é possível avançar enquanto não houver um pouco mais de tolerância e equilíbrio.
É um risco que estejamos assim tão desorientados. Acabamos expostos ao surgimento de alguma liderança salvadora, dessas que aparecem com frequência em momentos de crise, trazendo soluções mágicas, que acabam sendo trágicas.
Espero, para o nosso bem, que antes que isso aconteça possamos encontrar alguma convergência entre nossos objetivos. Afinal, o que todos nós queremos é poder trabalhar, viver, criar nossos filhos em um país justo e seguro. Queremos tranquilidade e a possibilidade de planejar o futuro. O que precisamos é enxergar que estamos todos do mesmo lado, do lado do Brasil.
Almoçamos com nossos familiares escutando que alguém matou,
esquartejou e violentou vítimas. Nesse momento não surge
nenhum conservador MBL moralista para pautar mudanças.
Temos um vazio completo sobre os desdobramentos dessa violência em nosso cotidiano.
Nos acostumamos a viver com doses enormes de ódio, violência e vingança. A fascinação pela morte é parte da nossa patologia que amplia o poder do fascismo.
Desconsiderar isso, é esquecer que o medo e o pânico são ingredientes fundamentais do ódio e da mentalidade simplista.
Toda vez que escuto alguém falar: “nem direita e nem esquerda, precisamos ir para frente” me pergunto:
Realmente a pessoa acredita que existe alguma possibilidade do Patrão abrir mão dos seus privilégios para se unir aos trabalhadores? Que os racistas e preconceituosos deixarão suas crenças e passarão a incluir a diversidade de forma igualitária?
Que os possuidores de privilégios acumulados (homens, brancos, heterossexuais e moradores dos grandes centros) abrirão mão destes para permitir que todos tenham os mesmos direitos?
Creio que quem fala frases assim, quem copia pensamentos desse nível de simplificação e aplaude, tem grande chance de serem analfabetos políticos.
Negar a desigualdade, os preconceitos e as lutas de interesses entre classes sociais, é típico de quem vive numa bolha social da classe média.
Um brinde hipócrita para a simplificação da realidade miserável vivida pela maior parte da população do nosso país.
A escola contemporânea forma o aluno para a vida,
ela não é mais um espaço apenas para ensinar,
mas para formar pessoas e construir conhecimentos.
E é ela quem ameaça o poder, ameaça as certezas, a doutrinação.
Esse é o real papel da escola. A escola crítica assusta o poder.
Não é de hoje que se discute a qualidade da educação no Brasil. Não há dúvida para a sociedade que ela vem sendo negligenciada por diversos governos, de diferentes concepções partidárias. A educação vem sendo tratada muito mais como projeto de governo do que projeto de Estado. Creio que nesse ponto encontraremos poucas divergências.
Mas há outro debate que exige um pouco mais de atenção e cuidado no que aponta soluções. Trata-se do projeto “Escola Sem Partido”, nome audível aos ouvidos e simpático a muitos cidadãos desavisados. E é aí que mora o perigo.
O programa debateu o movimento Escola sem Partido, que pretende incluir na legislação brasileira de educação nove artigos que tratam da missão da escola e dos deveres dos professores. O projeto define, por exemplo, que os professores devem ser “neutros” na escola e cria canais de reclamação para alunos.
O movimento Escola sem Partido surgiu em 2004 pelo procurador de Justiça de São Paulo Miguel Nagib. Em 2014, ganhou espaço no cenário nacional quando se transformou no Projeto de Lei 2974/2014, apresentado na Assembleia Legislativa Estadual do Rio de Janeiro (Alerj). O movimento é contrário ao que chama de “doutrinação ideológica” nas escolas e disponibilizou modelos de projetos de lei, estadual e municipal, a fim de que a iniciativa seja aplicada em outros locais do país.
Inicialmente, tratado por desprezo pela comunidade acadêmica, tornou-se em 2015, em meio a crise política que o país passava, no Projeto de Lei 867/2015, do deputado federal Izalei Lucas, PSDB/DF. Acabou agregando outros cinco projetos e está em discussão na Câmara Federal.
O projeto versa sobre a ética profissional do professor em sala de aula, criando uma série de regras comportamentais contra o “abuso da liberdade de ensinar”. O projeto cria canais de denúncia, incentivando pais e alunos a denunciar professores, inibindo a atuação de educadores.
O projeto de lei precisa ser contextualizado. Esse movimento surgiu e ganhou força num momento em que as relações políticas no Brasil estavam extremamente complicadas, e que há o desejo de uma parte da sociedade de que seja cerceado o pensamento dos professores. Fala-se sobre uma Síndrome de Estocolmo, onde o professor é um sequestrador intelectual dos alunos.
Mesmo que o PL não chegue a lugar algum, pelo menos se espera, ainda assim já se consolidou no imaginário de parte da população, que se sentiram respaldados e partiram para uma série de assédio moral nas escolas, uma perseguição ao educador por parte da família e do aluno.
O movimento Escola Sem Partido apresenta inúmeros equívocos e bizarrices, desde ser uma ação “preventiva”, passando por uma denúncia de que os professores são doutrinadores em favor do Partido dos Trabalhadores, até a tentativa de alterar o código penal e o ECA. Nesse caso definindo o conceito de assédio ideológico e prevendo até mesmo prisão de três meses a um ano. Ideia essa que foi criado pelo deputado federal Rogério Marinho PSDB/RN e que estrategicamente foi retirado do projeto.
Esse é um PL da mordaça, como se fosse uma escola com ou sem partido, proposto por uma direita delirante que perdeu o rumo e o debate. A acusação de doutrinação não tem procedência empírica e cientifica. Não há sequer apoio do setor privado, que claramente professa ideologia. Recentemente as escolas particulares do RJ realizaram um abaixo assinado se posicionando contra o Escola Sem Partido.
Afinal, que escola nós precisamos?
Não é uma pergunta para encontrarmos uma única resposta, mas podemos apontar alguns caminhos. Antes de mais nada, precisamos delimitar qual o papel da escola. Ela tem que ser o espaço da diversidade, igualdade e inclusão. É o espaço de apropriação de cultura, de ser estimulado pelo processo de aprendizado.
A escola moderna construiu uma unidade e identidade nacional, ela é uniformizadora, padronizadora.
Já a escola contemporânea forma o aluno para a vida, ela não é mais um espaço apenas para ensinar, mas para formar pessoas e construir conhecimentos. E é ela quem ameaça o poder, ameaça as certezas, a doutrinação. Esse é o real papel da escola. A escola crítica assusta o poder. O que estão propondo é uma superficialidade, e a superficialidade namora o fascismo.
Uma das críticas do Escola sem Partido é a dita “doutrinação” que ocorre nos estabelecimentos educacionais do país. Mal sabem eles que o livro didático sempre foi doutrinador e reacionário. Ele já é distribuído pelo MEC há quase três décadas e o negro por muitos anos foi excluído da história. Da mesma maneira que não conseguem entender que cerca de 70% dos professores no Brasil são formados por instituições privadas. Além do que na maioria das escolas públicas se reza o cristianismo antes das aulas. Isso não seria doutrinação?
Afinal, como se abordaria numa sala de aula a concepção de Estado ou concepção de homem e Estado? Seria doutrinação falar sobre a visão de Estado de Lock, Hobbes ou Rousseau?
A única doutrinação que se impõe à escola nos últimos anos é o horário de chegada. Um horário muito cedo que especialistas reforçam constantemente não ser o ideal para o aprendizado e que atende aos desejos do mercado.
Sentar em fila na sala, pedir autorização para levar lixo a sexta de lixo, não reclamar, não falar, ficar quieto e não questionar, isso é doutrinação. O que é estendido depois para o mundo do trabalho. Não questione o patrão, não atrapalhe. Não se questiona na escola, não se questiona no trabalho.
A sociedade brasileira é conservadora. Temos 52 milhões de matrículas na educação básica e ainda assim isso nunca se converteu numa ideologização da sociedade a ponto de ser possível questionar a ordem vigente de maneira contundente. A qualidade vergonhosa da educação, que está abaixo da média mundial, sequer é apontada suas origens, como a má gestão pública ou a responsabilização do gestor. Alias, não se discute a qualidade ou a crise da educação e das escolas no Brasil.
Gaudêncio Frigotto, professor da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), explica quais os riscos que o programa Escola sem Partido traz à educação brasileira.
Outra discussão desse movimento é a pretensa “neutralidade” da educação ou da escola. A escola não é ambiente fechado. Pelas circunstâncias históricas não há neutralidade. Segundo Durkhein, a possibilidade de você se afastar do objeto e observá-lo sem nenhuma intervenção de suas ideias intimas não é possível. É uma concepção infantil e desonesta.
Qual é a neutralidade do Estado? Ele é criado para a sustentação de um determinado modelo econômico.
Construímos nossos valores profundamente influenciados pelas instituições da sociedade civil, como as igrejas, grupos de escoteiros, em meio aos amigos, clube social, etc. A neutralidade não passa de uma ficção. O juiz ao tomar suas decisões não se dissocia de suas convicções, ele deve ser imparcial, mas jamais é neutro.
O Estado moderno foi construído pelo pensamento de direita, como a economia liberal, valores de família judaico-cristã, pensamento conservador. Portanto, carregado de ideologia. A nossa constituição também não é neutra. Ela é formada sob determinados olhares e valores. O pensamento crítico diz que a lei é de determinada forma e ela mesma aponta a crítica, suas divergências e aonde pode mudar.
Se o professor ficar repassando apenas conteúdo, ele reproduzirá o sistema, ou seja, também estará sendo ideológico e não crítico. A verdade, portanto, torna-se uma imposição, porque não permite questionamento. O mais grave professor ideológico é aquele que só passa conteúdo sem nenhuma crítica. O pensamento crítico é investigativo, os conteúdos são ideológicos.
As grandes descobertas surgiram com o ousar em pensar diferente. Como deixar de discutir o papel dos sindicatos e a luta pela jornada de oito horas de trabalho? E a emancipação da mulher, o direito ao voto conquistado com manifestações contra um regime patriarcal e repressor? A liberdade de ensinar, pluralismo de concepções pedagógicas são elementos excluídos do projeto.
O aluno precisa questionar e ter outros olhares sobre a realidade. Isso se dá com professores críticos que permitem a possibilidade de debate. Como debater temas como ocupação das escolas? Ali os estudantes estavam defendendo as escolas públicas e os desmontes delas.
Não podemos ser cúmplices e formar alunos adestrados e acríticos para a lógica empresarial. Os educandos estão na escola para criar.
Por fim, a tão falada liberdade que os pais devem ter para definir que tipo de moral seus filhos devem receber. Essa se assemelha as repúblicas fundamentalistas, onde é determinado o que os professores devem ensinar apenas dentro do que aquela concepção religiosa determina. Esse fundamentalismo tem tanta força que consegue acabar com a espiritualidade e substitui-la pelo dogma.
A direita brasileira é liberal na economia, mas no campo moral ela é conservadora. Acusam que formar para a cidadania é ideologia, mas não explicam como se dará o controle do conteúdo.
Dar uma aula que condiz com a moral de cada família é ufanismo. Para cada aluno seria um programa de educação. No fundo eles querem uma escola sem ideologia, sem construção do conhecimento e sem capacidade de criação. Atacam o pluralismo, a constituição e a LDB.
Para pensar como seria, na prática, uma Escola sem partido.
Se essa lei for aprovada, vai surgir um tribunal pedagógico. Como ser plural e ao mesmo tempo neutro? A escola não é a única formadora de opinião. A mídia e a igreja tem muito mais poderes de doutrinação e são mais eficazes.
Esse movimento é antidemocrático. Em recente debate no canal por assinatura GloboNews, mediado pela jornalista Waldvogel, o líder do Escola Sem Partido encerrou com uma ameaça aos professores e um incentivo aos pais contaminados pelo neomacartismo à brasileira: “Eu quero dizer o seguinte aos pais que estão me ouvindo aqui: se sentirem que os seus filhos estão recebendo orientação moral que conflite com a orientação moral que você, pai, dá na sua casa, pode processar esse professor. Eu digo isso: você tem direito a dar ao seu filho a educação moral que esteja de acordo com as suas próprias convicções. A lei garante esse direito”.
A pergunta que se faz: a escola sem partido será de que partido?
As escolas criaram ao longo do tempo um espaço para os pais participarem da elaboração pedagógica, como os CMPs, Conselhos Escolares, que juntos integram a comunidade escolar e elaboram o PPP. Ali se discute a gestão democrática e debatem o currículo. O nome vem para confundir, final, todos não querem partidos nas escolas. É uma liberdade de pensamento fundada na proibição.
A luta de todos é a defesa da escola pública, pela garantia de acesso e permanência dos alunos, pela qualidade da educação e garantia de gestão democrática. No fundo, esse jogo de palavras tenta encobrir as escolhas e mentiras. A única coisa neutra que eu conhecia era o detergente lava louça que eu uso.
Luciano Pimentel, professor da rede estadual de ensino do RS.
A estudante russa Mariana Smirnova, de 18 anos,
está em Carazinho através do programa de intercâmbio do Rotary Club.
Ela compartilhou com a gente como está sendo essa experiência –
e também nos contou muitas coisas sobre o seu país.
Fazer um intercâmbio era um dos sonhos de Mariana Smirnova. Ela sempre acreditou que estudar em outro país seria uma oportunidade muito boa para ela, que adora conversar e conhecer novas pessoas.
Através do programa de Intercâmbio do Rotary Club, que acredita que a exposição a novas culturas e costumes é uma excelente maneira de promover a paz e a compreensão mundial, Mariana poderia escolher entre o México e o Brasil para fazer o intercâmbio.
“Eu achei que aprender português no Brasil seria muito legal porque é uma língua única, o português do Brasil é diferente do português europeu. Na minha cidade apenas uma pessoa consegue falar e entender português e pensei que seria legal se eu também pudesse falar essa língua. Essa foi uma das razões de porquê escolhi o Brasil e eu também amo esse país, as pessoas, são todas muito generosas, divertidas, comunicativas, e também tem muitas comidas boas (risos), há uma similaridade entre a comida tradicional russa e a brasileira”, conta.
A mãe de Mariana estava bem interessada no programa de intercâmbio e na oportunidade que a filha teria, mas seu pai tinha um pouco de medo, afinal, o intercâmbio tem a duração de um ano. “Eles entendem que é a minha vida e que eu tenho que aprender coisas. Esse conhecimento pode me ajudar em um trabalho futuro e faz parte dos meus interesses”, diz.
Os pais de Mariana não precisariam ficar tão preocupados, afinal, em Carazinho, ela foi acolhida por uma bela família: João Rafael Dal Molin e Nubia Schutt, que se tornaram seus pais brasileiros. “A minha família aqui é a melhor das melhores! Eu gosto muito de passar meu tempo com eles, às vezes sinto falta da minha família na Rússia, mas me sinto em casa aqui no Brasil. Com eles não sinto tanta saudade de casa”, comenta Mariana.
Para que Mariana pudesse vir ao Brasil, um brasileiro teria que ir para a Rússia, afinal, o intercâmbio é uma troca. Para a alegria de Mariana, o carazinhense Enzo Fulber tinha interesse em conhecer o seu país e, assim, os dois conseguiram realizar o intercâmbio para o país que gostariam de viajar.
Alguns registros fotográficos de Mariana no Brasil e na Rússia (slides com fotos)
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Uma das preocupações da estudante era se ela conseguiria fazer amigos no Brasil, pois, apesar de ser muito comunicativa, viveria em um país novo, com novas regras. “Consegui muitos amigos aqui, vamos caminhar, jantar, bem como os adolescentes na Rússia”, conta.
Em Carazinho, Mariana estuda na escola Sorg, apesar de na Rússia já ter concluído seus estudos na escola, e faz aulas de língua portuguesa no Yázigi. Ela diz que aprender a nossa língua é difícil, mas que existem similaridades entre russo e português e, como ela também conhece a língua inglesa e francesa fica mais fácil. Mariana consegue entender o que falamos em português, mas ainda é difícil para ela falar, então, em boa parte do seu tempo, se comunica através da língua inglesa.
Mariana ressaltou que uma das principais diferenças do Brasil com o seu país, é que aqui comemos com muita frequência! “Aqui tem muita comida e eu gosto muito de comer, mas para mim é terrível porque sou uma garota esportiva (risos). As sobremesas, as novas comidas… É tudo muito bom. Já me sinto como uma brasileira típica”, conta.
A estudante era nadadora profissional há dois anos e, pela carreira esportiva, teve a oportunidade de ir para a Alemanha, Finlândia, Estônia e Bulgária. “Tenho muito interesse em países e culturas estrangeiras, é tão diferente e incrível para mim, pois existem muitas diferenças entre a Rússia e os outros países”, comenta.
No mês de março de 2018, contamos também a história do professor da UPF Rogério Silva que também nos contou como sua viagem e intercâmbio na Espanha mudou a sua vida.
A cidade natal de Mariana é uma das mais antigas em toda a Rússia, e fica a 155 km de São Petersburgo e a 552 km de Moscou, capital do país.
A Rússia tem invernos rigorosos, com temperaturas negativas e neve, mas a estudante conta que é possível viver normalmente em meio ao frio – bem diferente do calor que ela encontrou nessa época do ano no Brasil. “Aqui estamos na primavera, mas para mim é como se já fosse verão porque é muito quente. Eu gosto desse clima, posso ficar bronzeada (risos), mas esse calor é demais para mim”, diz.
Veliky Novgorod é considerada uma cidade pequena, mas guarda muito da história da Rússia em seus prédios históricos e monumentos. Um dos principais atrativos é o Monumento ao Milênio da Rússia (Памятник Тысячелетия России), erguido em 1862, por ordens do Czar Alexandre II (Александр II), em comemoração ao início do estado russo, quando o príncipe Rurik e seu exército, foram chamados para governar os eslavos. O monumento é formado por diversos símbolos, capítulos e personagens dos mil anos russos. Além dele é preciso destacar o Kremlin, a Catedral de Santa Sofia e o Rio Volkhov (Peка Волхов), que foi uma das principais rotas comerciais da idade média, ligando o norte europeu ao oriente.
Mariana conta que em sua cidade há várias atividades interessantes para se fazer no tempo livre, e ela, como uma típica adolescente, gosta de sair com seus amigos, ir ao cinema e caminhar pelos parques.
Esta matéria é assinada por Camila Docena, recentemente publicada na Revista impressa Contato Vip. A revista Contato VIP foi fundada em abril de 1993, circulando mensal e ininterruptamente até hoje. Sua sede está localizada na cidade de Carazinho, mas sua circulação se dá em toda a região do planalto médio e região noroeste do Rio Grande do Sul, através de assinaturas, venda em bancas e divulgação dirigida.
Marielle tombou antes de ensinar aos homens de
lata como ter um coração de carne. Mulher e negra regou a
terra com sangue antes de ensinar ao espantalho a
importância de um cérebro.
“Sou fruto do pré-vestibular comunitário”, disse Marielle Franco para lembrar quando anos atrás se engajou num cursinho no complexo da Maré, uma das maiores favelas do mundo, para ter alguma chance nos vestibulares mais concorridos do Rio de Janeiro.
Passou o microfone para outra mulher negra da Roda de conversa Mulheres Negras Movendo Estruturas. Pouco tempo depois, sua trajetória de ativista negra inundaria as redes em choque pelo horror: a vereadora do PSOL, 38 anos, a quinta mais votada no Rio em 2016, havia sido assassinada a tiros na região central do Rio de Janeiro sob intervenção federal militar.
História e trajetória de Marielle Franco.
Todo menino ou menina tem ao menos um sonho. A paz do mundo, uma roseira de esperança no quintal, um caderno de justiças para ser desfolhado na precisão. Mas, há meninos e meninas que sonham comprar pedaços do mundo.
Há meninos e meninas que querem vender roseiras e ser donos de canteiros. Há meninos e meninas que sonham ter fábricas de cadernos. Não podemos ser ingênuos. Quase sempre uns sonhos precisam vencer os outros. Isso pode tornar-se, às vezes, questão de vida ou morte.
O relógio faz meninos e meninas homens e mulheres. Crescidos, expõem para venda seus sonhos redondos. Fartas bandejas.
Verdade, alguns não os vendem. Oferecem-nos gratuitamente para famintos. Quem vende sonhos sonhou tornar-se um vendedor. Quem apenas os oferece sonhou ser um doador.
O problema é que os doadores de sonhos estragam o mercado dos vendedores. Isso pode tornar-se, às vezes, questão de vida ou morte.
Marielle, negra, saiu da favela não para ser exemplo de meritocracia, mas como exceção para olhar aos seus como quem salva. Como Doroty tinha sonhos além do arco-íris descolorido dos negros, pobres e favelados.
Entrevista de Marielle Franco ainda em 2016 sobre a sua eleição. Muito interessante!
Marielle tombou antes de ensinar aos homens de lata como ter um coração de carne. Mulher e negra regou a terra com sangue antes de ensinar ao espantalho a importância de um cérebro. Só os leões tiveram uma lição de coragem. Pena que seus dentes a calaram antes da última frase.
Ao cerrar os olhos, Marielle olha com ternura o buraco esquerdo em nossa lata. Marielle morta profetiza nossas cabeças descerebradas. Mas, se quisermos, poderemos apreender sua coragem.
Eu só não desculpo Marielle por sua ingenuidade. Devia ter desconfiado. Além do arco-íris, o mundo não está preparado pra ser colorido. Marielle, você exagerou na dose de fé e esperança!
“Não somos anjos em voo vindos do céu,
mas pessoas comuns que amam de verdade.
Pessoas que querem um mundo mais verdadeiro,
pessoas que unidas o mudarão”.
(Gente, de A. Valsiglio/Cheope/Marati).
Muitos de nós gostaríamos que os políticos fossem anjos. Se assim fosse, estariam imunizados contra todas as situações e oportunidades que não promovem o bem comum e a prática da bondade. Mas os políticos, assim como cada um de nós, não são anjos e sim, seres humanos, ou seja, também não são perfeitos.
A política não é um espaço para a ação de anjos, mas é o espaço de disputa dos mais diferentes interesses que estão em jogo na sociedade. A disputa destes interesses é legítima, desde que os mesmos estejam sempre bem explicitados, para que todos saibam o que move os candidatos que se propõem a representar os interesses da população.
As contradições no exercício do poder estão sempre presentes nos movimentos que operam a política.
Os políticos posicionam-se a partir das conjunturas e contextos de cada momento, das articulações e negociações que são possíveis para aprovar os projetos que estão em pauta, das forças sociais que estão mobilizadas em cada momento histórico. É natural que joguem com seus interesses pessoais, mas é inaceitável, numa democracia, que estes interesses sobreponham-se aos interesses coletivos.
O mais intrigante e perigoso em nossa cultura de não-reflexão é que abrimos mão das responsabilidades para com a gente e para com o mundo.
As agremiações partidárias (partidos) expressam e materializam os projetos de sociedade que estão em disputa no País. Estes projetos traduzem-se em propostas concretas de como governar, de como construir as políticas públicas, de como distribuir a renda, de como construir as oportunidades, de como desenvolver uma nação.
Há então que se discernir a diferença entre votar em pessoas ou votar em projetos, que embora “sempre juntos e misturados”, traduzem-se em diferentes consequências. “O voto não tem preço, mas tem consequências”. Por isso mesmo, é possível contemporizar as posições e atitudes pessoais dos candidatos com os projetos que os mesmos representam, observadas as circunstâncias e as intencionalidades em que ambas acontecem.
Defenda a Democracia. Ela é civilizatória, ela é progressista, ela é pacificadora, ela é de todos e para todos!
Os candidatos não representam a si próprios, mas representam interesses que estão em disputa na sociedade. Talvez fosse melhor sermos governados por anjos, seres sobrenaturais e imunes a qualquer interesse mundano. Como não é possível, cabe a cada um e cada uma avaliar o projeto com o qual cada um dos candidatos está comprometido. Neste projeto, o compromisso com a vida humana e com a sociedade é o bem maior que deve ser resguardado.