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Os três porquinhos e os perigos da televisão às crianças

Em muitos lares o irmão mais velho tem oito anos, o do meio cinco e o outro dois ou um ano, talvez. É uma situação triste. Aquelas crianças que deveriam estar brincando ou estudando estão em casa cuidando dos seus irmãos mais novos enquanto os pais trabalham. Diversão? Sim, a televisão. A televisão que mais deseduca do que educa.

 

Quando a gente é criança, a gente só quer brincar e mais nada.

O conto de fadas “Os três porquinhos” conta como três porquinhos fazem para escapar do lobo mau que vive querendo comê-los, mas os três porquinhos são crianças e como toda criança só querem saber de brincar, menos um, menos o mais velho que apesar de gostar também de brincar já foi forçado a ter responsabilidades e a cuidar dos outros irmãozinhos.

Assim no conto de fadas, assim na vida da criança do mundo contemporâneo que passa o dia inteiro sozinha em casa com seus irmãos mais novos exposta aos perigos da televisão que muitas vezes apresenta programas, filmes ou novelas que são uma influência negativa para educação e formação dessas crianças.

Telas e crianças. Um assunto que sempre gera especulações, dúvidas e, às vezes, até polêmicas. Em um mundo tão conectado e tecnológico, é praticamente impossível que as crianças não tenham acesso, em algum momento, à “telinha” de computadores, televisões, tablets, telefones celulares e outros aparelhos eletrônicos.

Veja mais aqui.

A maior parte das crianças, principalmente as de classe baixa, aquelas que os pais trabalham o dia todo e não têm com quem ficar ou para onde ir, são deixadas aos cuidados do irmão mais velho que também pode ser uma criança um pouco maiorzinha.

Essas crianças só têm como lazer a televisão que poucas vezes instrui e, muitas vezes, violenta e traumatiza a criança. É um sério problema deixar crianças sozinhas com a televisão, pois, de certa forma, ela é o lobo mau do mundo contemporâneo, querendo de alguma forma engolir as criancinhas indefesas.

Em muitos lares o irmão mais velho tem oito anos, o do meio cinco e o outro dois ou um ano, talvez. É uma situação triste. Aquelas crianças que deveriam estar brincando ou estudando estão em casa cuidando dos seus irmãos mais novos enquanto os pais trabalham. Diversão? Sim, a televisão. A televisão que mais deseduca do que educa.

A televisão tem melhorado pouquíssimo na questão de programas infantis nos últimos anos é verdade, e ainda há muitos programas de violência sérios que precisam ser revistos.

Os programas policiais não poupam crianças, jovens, idosos mostrando cenas horríveis de sangue e morte o tempo todo.

Quando há um crime bárbaro todos os noticiários exploram a matéria fazendo do assassino um monstro que entra na sua casa e assusta sua criança. É um terror para uma criança assistir a uma reportagem como a que passou no Jornal Nacional apresentado na Rede Globo sobre o massacre da Escola do Realengo, aliás, todos os noticiários deram enfoque por vários dias sobre esse massacre.

As crianças que não têm quem filtrar o que devem assistir ficam a mercê desse tipo de reportagem que parece manipular a mente do ser humano com tanta violência sendo apresentada constantemente.

Claro é que não podemos dizer que a televisão só passa programas violentos e que não educam, estaríamos mentindo se disséssemos isso. Há bons canais de televisão, mas esses bons canais têm pouca influência na criança que vive ao redor da marginalidade, do banditismo, da violência.

A linguagem dos programas violentos está mais próxima da linguagem que as crianças presenciam diariamente, por isso elas optam por eles. É uma opção inconsciente da criança, trazer para perto de si o mundo que parece ser seu.

Um dos melhores canais da televisão brasileira, a TV Cultura, tem excelentes programas para crianças de todas as idades, mas seu índice de audiência é baixíssimo, muitas crianças da classe baixa nem sabem qual a sintonia do canal TV Cultura. É um canal com os programas: Castelo Rá Tim Bum, Doug, Os sete monstrinhos etc, são programas bastante educativos que promovem o imaginário da criança, mas pouco assistidos pelas crianças.

Lembrando que não podemos nos deter somente a criança da classe baixa, porque as outras crianças mais ainda as da classe alta, essas sim, estão submetidas aos perigos da televisão, coitadas, entregues às escolas particulares, às babás, quando chegam em casa correm para a televisão e lá ficam presas até a hora dos pais chegarem do trabalho, muitas vezes cansados e nem percebem o que está acontecendo com seus filhos.

É um problema que atinge crianças de todas as classes sociais, melhor dizendo, pois cada uma com suas prisões à televisão.

A criança no geral está presa à televisão porque ela é o meio mais fácil de distrair, só isso. Não precisa de um amigo para assistir televisão, você pode ser o herói ou o bandido, escolher quem é o melhor ou o pior nos programas de reality show e outros mais. É um problema geral da sociedade brasileira que precisa rever seus conceitos e exigir que a televisão brasileira mude o mais rapidamente possível.

Como a televisão afeta o cérebro infantil. Efeitos nocivos da televisão.

No caso da criança do mundo contemporâneo, ela brinca com o lobo mau sem saber o mau que ele pode lhe fazer, ou seja, brinca com a televisão e seus programas violentos, enquanto que os três porquinhos viviam fugindo do lobo mau, eis a diferença de um para o outro, porque os três porquinhos tinham o perigo físico, pois existia um lobo mau de verdade que queria comê-las e a criança do mundo contemporâneo tem seu lobo perigosamente sutil que numa hora ameaça em outra ele se torna bonzinho.

Um dos objetivos é manipular a mente da criança para o consumismo daquilo que ela não pode ter.

Quando assiste a um filme com herói e bandido a criança fica desejando ser aquele herói, mas não sabe que perigos pode enfrentar se realmente deixar sua imaginação tornar-se realidade e querer vencer o bandido real quando ele aparecer verdadeiramente.

A criança que ainda pequenina assiste a filmes de terror com monstros, bruxas e outros bichos que usam da violência mais tarde sofrerá danos que serão comparados com esses filmes, o que não diz a verdade. É muito importante que a criança mais velha, aquela que fica em casa sozinha cuidando dos irmãos mais novos, saiba lidar com essa situação.

Outro dia presenciei um programa policial que mostrava um homem assassinado a tiros de arma de fogo e várias crianças ao seu redor observando aquela cena, se isso ocorre na vida real imagine na televisão. Estamos diante de um lobo mau que se finge de bonzinho muito pior do que o lobo mau dos três porquinhos que nunca precisou mentir e sempre disse ser o lobo mau de verdade.

Comportamentos de risco, tais como: tabagismo, álcool, promiscuidade, gravidez na adolescência dentre outros riscos são fatores que a televisão não se preocupa com quem está do outro lado assistindo. Sem contar com a questão da obesidade, pois a criança que passa o dia inteiro de frente a televisão não tem tempo para um esporte nem para os amiguinhos se sente isolada, também.

Muitas crianças que assistem televisão ficam impressionadas com as propagandas de tênis, bolas, telefones móveis, computadores portáteis, camisas, perfumes e brinquedos muito além dos padrões financeiros dos seus pais, com isso muitas delas tendem a roubar dos amigos alguns bens que gostariam de ter ou começam a ter inveja dos amigos que possuem o que elas não têm ou pior ainda ficam com vergonha de ir à escola porque não têm um tênis de marca.

A propaganda influencia a mente da criança de uma forma perigosa e assustadora, porque ela é feita com o objetivo de consumo mesmo, do alto consumo.

A alteração dos padrões do sono também é muito constante na criança pequena seja por ter assistido a um filme de terror e ficou assustada, logo não consegue dormir, seja por ter ficado até tarde assistindo a um filme de sua preferência e perdeu a hora de acordar no outro dia. É outro problema grave da televisão brasileira quando inventa de passar filmes infantis nos horários impróprios para crianças.

O lobo mau dos três porquinhos assoprou a casinha de palha e derrubou, assoprou a casinha de madeira e derrubou, mas assoprou a casinha de tijolos e não conseguiu derrubar, porque o outro porquinho experiente sabia que uma casa de tijolos jamais seria derrubada com um simples assopro.

Os pais podem apresentar caminhos de aprendizagem aos seus filhos sobre os perigos da televisão, censurar aqueles programas que eles não devem assistir, estabelecer horários e procurar com que eles tenham outros tipos de distração dentro de casa, mesmo aqueles que os pais passam o dia fora precisam estar preparados para esse perigo mascarado de bonzinho.

A criança mais velha precisa ser inteligente e saber que alguns programas e canais de televisão são prejudiciais para a sua educação e a dos seus irmãos. O difícil é como ganhar esse ensinamento, se quem ensina quase tudo é a televisão.

Até o sono da criança que assiste televisão, sem limites, é perturbado com pesadelos assustadores durante a noite, fazendo com que essa tenha medo de dormir sozinha no seu quarto.

Os pais não precisam matar o lobo mau, ou seja, quebrar a televisão, mas precisam ensinar seus filhos a se protegerem das suas ameaças assim como o porquinho mais velho foi ensinado por alguém a se proteger e proteger os seus irmãozinhos.

O futuro da humanidade – Escravos da tecnologia.

Mas, infelizmente, nossas crianças, por mais crescidinhas que estejam, não têm essa sabedoria do terceiro porquinho, porque não estão educadas a pensar criticamente, pensam através do que lhes é ensinado pelos pais ou professores.

Alguns pais e professores, na maioria das vezes, só fazem criar traumas com as crianças com a famosa frase “o bicho papão vai pegar você”. É triste, mas verdadeiro. Apesar de que se a criança desenvolver seu pensar, ou seja, sua inteligência ela poderá salvar-se e salvar seus irmãozinhos dos males da televisão brasileira (o lobo mau do século XXI).

Toda criança que tem sua inteligência desenvolvida consegue discernir o certo do errado, o bom do ruim, ela faz um filtro daquilo que é melhor para si mesma. No entanto, esse filtro diante da televisão fica muito difícil, porque como já dissemos anteriormente é um perigo sutil e astucioso, um espinho vestido em flor.

Em verdade, a criança deverá amadurecer sozinha, enfrentar os perigos da vida moderna de forma para saber lidar com eles, já não há mais tempo para pais ou professores voltarem aos tempos das fábulas de Esopo, com lições de moral. Urge ficarmos vigilantes a esse amadurecimento que não pode ser precoce, mas à medida que a criança vai se desenvolvendo.

Aqui que se encontra o grande perigo da televisão: como desafiar o lobo do nosso século quando nossas criancinhas ainda não têm amadurecimento suficiente para enfrentá-lo? Como? Fica a questão para nossa reflexão.

Se os pais pudessem substituir a televisão por um carrinho de brinquedo, uma boneca, um livro ou uma brincadeira qualquer tudo se tornaria mais fácil, mas a televisão é poderosa tem seus modos de encantar a criança, sabe como prendê-la diante de um programa a preferir brincar ou fazer uma leitura.

Estamos diante de um lobo mau perverso, assustador, manipulador, dez mil vezes pior do que o lobo mau dos três porquinhos, pois esse está fantasiado de bonzinho e quando quer ele se torna bonzinho também, por isso é muito difícil lidar com esse lobo, a forma mais correta é fazer a criança perceber suas iras e garras e só se aproximar dele quando não estiver faminto, ou seja, quando seus programas forem interessantes para sua idade.

Os pais, sábios por natureza divina, devem perceber quando seus filhos começarem a apresentar certos hábitos pela televisão ou por alguns tipos de programas específicos para reparar esse problema o mais rápido possível.

Não podemos deixar nossas crianças entregues à televisão, fingindo que ela não é um grande mal que pode prejudicar, mais tarde, seu desenvolvimento intelectual e social, provocando distúrbios de sono, medo, violência, traumas etc.

Quanto mais construírem suas casas de tijolos, mais os pais estarão mostrando aos seus filhos que não adianta construir casas de palha ou de madeira para se protegerem, ou seja, não adianta trancar a televisão no quarto, não colocar televisão no quarto da criança.

Nada disso é preciso fazer, mas mostrar à criança que não é preciso esquecer a janela aberta para o lobo mau entrar dentro de casa, porque ele já convive conosco.

O que precisamos é saber educar esse lobo com valores e virtudes morais que são quase esquecidos atualmente no cotidiano da educação de uma criança. Tarefa essa entregue à escola no seu Ensino Religioso que muitas delas retiraram do seu currículo, infelizmente.

Apaixonada por Geografia e por cultura de diferentes povos

Na primeira matéria da Série Destaques Protagonistas da Educação,
Graziela Bergonsi Tussi revela um pouco de sua história,
do seu compromisso com o conhecimento e de sua fascinação
em conhecer o mundo viajando e conhecendo pessoas de
diferentes culturas e etnias com o intuito de dividir
este conhecimento com seus alunos.

 

Graziela Bergonsi Tussi é professora da rede municipal e particular de Passo Fundo, dançarina em um grupo de danças folclóricas.

Formada em Geografia e apaixonada por idiomas (já estudou inglês, alemão e espanhol, idioma na qual atua como professora em uma escola de língua e cultura), demonstra apreço e fascinação por culturas dos diferentes povos, a partir dos estudos em Geografia e de suas viagens a diferentes países, em busca de conhecimento.

Suas viagens, programadas para o período de recesso escolar ou de férias, são uma grande fonte de ensinamento no retorno de suas aulas, junto aos alunos das séries finais do Ensino Fundamental.

Ela usa sua experiência de conhecimento e convivência com outros povos e culturas para envolver seus alunos nesta fantástica aventura de desbravar o mundo, conhecendo e reconhecendo as “diferentes gentes” que o habitam.

Neste bate papo, Graziela, ou prô Grazi, vai revelar um pouco de sua história, do seu compromisso com o conhecimento e de sua fascinação em conhecer o mundo viajando e conhecendo pessoas de diferentes culturas e etnias.

 

Professora Graziela, quando e porque surgiu este seu desejo de conhecer o mundo, através de viagens, com o propósito de conhecer diferentes culturas?

Sempre tive vontade de conhecer o mundo, desde criança sou muito curiosa, e meus pais sempre alimentaram isso em mim. Mas em 2009 tive a oportunidade de apresentar um trabalho no Encontro de Geógrafos da América Latina, em Montevidéu, Uruguai. E quando cheguei lá, percebi que meu lugar era no mundo.

 

Quantos países você já conheceu? Pode citá-los?

Conheci 9 países: Uruguai, Argentina, Peru, Panamá, México, Canadá, Alemanha, França e Holanda.

 

 

Fale para a gente das experiências mais marcantes.

Ver onde era o Muro de Berlim, na Alemanha, conhecer as Cataratas do Niágara, no Canadá e conhecer as três regiões do Peru (costa, serra e selva) através de uma rota não turística, podendo vivenciar como é o cotidiano daquele povo maravilhoso.

 

Conte para a gente como a dança entrou na sua vida e como esta está relacionada com a forma de conhecer diferentes países do mundo?

Foi algo inesperado. Fui voluntária do Festival Internacional de Folclore em agosto de 2016, do grupo do Peru. Ficamos muito amigos e eles me incentivaram muito a dançar, me diziam que a dança abria portas, e eu já havia dançado na invernada da escola, quando era mais nova. A vontade estava lá, escondida, e eles reacenderam isso em mim.

Entrei no Grupo de Danças Folclóricas da Universidade de Passo Fundo em setembro do mesmo ano, e em janeiro de 2017 fui visitá-los no Peru, foi inesquecível. Em julho do ano passado fomos num Festival de Folclore no México com o grupo da UPF, representando nosso país, juntamente com a Catalunha e a Colômbia. É maravilhoso fazer parte de tudo isso.

 

Como usas o conhecimento e a experiência adquiridos durante suas viagens, em suas aulas com estudantes das séries finais do Ensino Fundamental? Como os alunos recebem estas informações?

Procuro sempre exemplificar as aulas que dou com as situações que eu vivi. Eventualmente trabalho algum vídeo ou imagem, além dos mapas que coleciono por onde passo.

Como trabalho com duas realidades bem diferentes (da escola pública e da escola privada), aprendo muito e “troco figurinha” com a vivência dos alunos do ensino privado. Por outro lado, procuro sempre incentivar meus alunos da escola pública a estudarem e serem curiosos, pois vim de uma família que sempre apoiou o estudo, mas não tinha como financiar minhas viagens. Mostro a eles que é possível sim melhorar nosso futuro, é só querer e buscar.

 

Como vês a educação no Brasil e a educação de países que visitastes?

Penso que somos muito próximos no quesito educação básica, no que se refere a estrutura curricular da maioria das escolas, principalmente das públicas. Na América Latina é visível a preocupação com salário e valorização da educação, da mesma forma que aqui.

Na Alemanha visitei uma escola secundária, que tem exatamente a mesma estrutura que as nossas. Qual é a grande diferença? Eles investem na formação do professor, que tem sua carga horária cumprida na escola, e que faz todo seu trabalho na escola, pois tem tempo e espaço para isso. Além disso, o professor é uma das profissões mais valorizadas lá, sendo que só os melhores alunos das escolas podem concorrer a uma vaga de licenciatura.

 

Indicarias esta estratégia de conhecimento (intercâmbios e viagens), a outros professores ou professoras de geografia? Por quê?

Com certeza. Sei de todas as dificuldades que temos financeiramente sendo professores, mas o ganho que temos de ver “in loco” aquilo que sempre vimos na teoria, é gratificante. Seja para passeio, apresentação de trabalho ou intercâmbio de idiomas, viajar dá sentido ao estudo da Geografia.

 

Qual é a importância de realizar viagens de estudos com os estudantes, visitando locais onde se encontram pedras preciosas e águas termais?

Nas escolas onde trabalho, fazemos projetos que falam sobre os temas. Nunca saio com alunos para viagem de estudos sem um roteiro. E sempre trabalho em equipe, com professores de outras disciplinas.

Estudar a estrutura de uma rocha, como ela se transforma em algo de valor econômico, como é a transformação de uma pedra bruta para uma joia, por exemplo, pode ser trabalhado em sala de aula, tanto em ciências quanto em geografia, mas se podemos ir até uma indústria de transformação de pedras, porque não?

Da mesma maneira a água termal. Trabalhamos a água, desde sua nascente até a poluição, e a água termal, que faz parte do nosso lazer, também é importante. Pensando nisso, fazer uma viagem de estudo que concilie com lazer, é fazer com que o aluno perceba que ele pode estudar se divertindo. Sempre que vamos a um parque de águas termais, assistimos palestras e estudamos em sala de aula suas propriedades medicinais e também a importância econômica do lugar visitado para a região.

 

O que mais te realiza na profissão?

Saber que quase sempre tenho alunos curiosos como eu em relação ao mundo e à cultura.

 

Defina-se com uma frase.

“Para viajar basta existir”. (Fernando Pessoa)

Nós e nossas dificuldades

São difíceis de suportar os rótulos, as cobranças impossíveis de realizar.
Ninguém quer ser desatento, desorganizado, incapaz de acabar tarefas,
ficar “no mundo da lua”, pensar em fazer uma coisa e não lembrar o quê,
voltar mil vezes pra recolher o que esqueceu.

 

Debatemo-nos com dificuldades pessoais, que podem nos acompanhar desde que nascemos.

Somos gente que, ao longo da vida, se descobre com dislexia, ansiedade, hiperatividade, melancolia, desânimo, o que provoca situações de dificuldades as mais variadas.

 

Somos quem podemos ser, Humberto Gessinger.

Hoje as crianças contam com professores atentos e capacitados para detectar dificuldades e encaminhar adequadamente cada problema para seu tratamento. Isto era impossível há cinquenta anos na maioria dos casos. As pessoas eram condenadas a carregar seus transtornos pela vida afora, tentando transpor barreiras invisíveis causadoras de muito sofrimento e incompreensão.

Vou ilustrar a introdução com meu caso pessoal. Tive ao longo da vida a noção de que a matemática não servia para mim, por não conseguir pensar com clareza, mesmo nas questões mais simples. Com o tempo contentei-me com o fato de me sair bem na área das letras e no estudo das ciências humanas.

Eu ignorava que, ao longo da vida, o raciocínio lógico e exato está sempre presente e as dificuldades foram se acumulando, agravados com o avançar dos anos. As frações contidas nas receitas de bolo me fizeram esperta no assunto, anos depois de me tornar cozinheira.

Dos sessenta anos em diante passei a ter crises de ansiedade bem frequentes, provocadas pela confusão gerada pelas muitas atividades em várias áreas. Minha atuação confusa passou a ser um problema, por que a associei à possibilidade de estar senil, ou demente.

Senti um pavor enorme com a possibilidade de entrar em um processo irreversível de Alzheimer. Muito receosa procurei ajuda médica, que me encaminhou para testes psicológicos especializados e capazes de detectar perdas cognitivas e de memória.

Após algumas sessões, chegou-se a conclusão de que não estou em um processo senil, mas que tenho Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Olha só! E eu nunca soube disso. E nem podia, por que o transtorno só é conhecido há pouco tempo. Tudo explicado, tudo perdoado a mim mesma por odiar matemática e física.

Agora respeito minha quase piração por não me organizar, por trocar tudo de lugar com frequência e por começar muitos livros e não conseguir terminar nenhum.

Banner viver e conviver. 

 

Além do tratamento médico, estou desenvolvendo estratégias para conviver com a agitação e falta de foco. Minha amiga Marciele enviou-me um estudo sobre Biblioterapia e, a partir dele, resolvi usar a literatura – minha paixão – como lenitivo.

Sento-me confortavelmente, não penso em nada além do livro que escolho e mergulho nele até o fim. Saboreio cada frase e cada palavra como gotinhas milagrosas. Já abati uma torre começada aos fragmentos e estou feliz com a façanha.

Estou muito mais tranquila, menos com o fato de não suportar reuniões. Vou ter que trabalhar de alguma forma, por que a cadeira que uso em reuniões me parece coberta de pregos.

Espero ajudar pessoas a encontrar explicação para os perrengues tão comuns à condição humana, sempre imperfeita, sempre incompleta, sempre em busca do autoconhecimento tão necessário para a saúde mental.

Espero que as crianças com problemas de aprendizagem sejam acolhidas e olhadas com carinho, para que cresçam confiantes em suas capacidades e com prontidão para aprender. São difíceis de suportar os rótulos, as cobranças impossíveis de realizar. Ninguém quer ser desatento, desorganizado, incapaz de acabar tarefas, ficar “no mundo da lua”, pensar em fazer uma coisa e não lembrar o quê, voltar mil vezes pra recolher o que esqueceu.

 

A natureza humana e o comportamento

As referências predominantes do comportamento humano se apresentam como se fossem naturais, no entanto, são uma construção social. A natureza humana é explicada por necessidades como o cuidado, o afeto, o companheirismo, o contato íntimo, a necessidade de ser amado, respeitado, visto, aceito e recebido.

A natureza é o único fundamento sólido para a compreensão das ciências, de acordo com David Hume (1711-1776). A sua obra, “Tratado da natureza humana” influenciou o positivismo de Augusto Comte, o pensamento de John Stuart Mill e Immanuel Kant, entre outros.

 

Qual o problema de prever o comportamento humano? Por que é impossível aplicar certos modelos científicos em pesquisas sobre comportamento?

O autor da “Crítica da Razão Pura”, afirmou que foi despertado do “sono dogmático” pelo pensamento de Hume, especialmente o da “crítica da causalidade”. A partir do momento em que passamos a existir como um feto, estamos sujeitos a um ambiente e a qualquer informação que chegue até nós, através da circulação dos nutrientes e das emoções de quem está nos gerando.

O comportamento mantém relações com a mente humana, que possui a faculdade de reproduzir e combinar as ideias de diversos modos entre si e com as experiências concretas.  A cópia é um princípio que não se aplica às ideias complexas, visto que as mesmas são formadas pela relação entre diversas ideias e pela imaginação.

A imaginação, por sua vez, transpõe, aumentando ou diminuindo os dados que são obtidos através da experiência dos sentidos. A capacidade humana de imaginar e de criar realidades transcendem o concreto, é influenciada e influencia a experiência.

O comportamento patológico, no qual se incluem a maioria das doenças que conhecemos, entre as quais, as cardíacas, o câncer, o reumatismo, as doenças auto imunes em geral, assim como distúrbios mentais e vícios, podem ter uma predisposição derivada de um componente genético.

No entanto, é importante perceber o papel dos genes e ter consciência que eles, por si só, não determinam o que somos, pois predisposição não é o mesmo que predeterminação.

Aquilo que os genes nos conferem, são formas diferentes de reagir ao ambiente, por isso, não podemos analisar a biologia, a genética e o comportamento, fora do contexto social, que é resultado das relações entre o ser humano e a natureza.

Portanto, numa sociedade baseada na competição, na exploração implacável de um ser humano por outro, no ato de lucrar com as necessidades alheias e na criação de problemas com o propósito de obter lucro, as referências para o comportamento devem sair das sombras, pois tem suas origens ideologicamente ofuscadas.

Só temos 1 planeta, dependemos dele para viver, mas não respeitamos os limites ambientais.

Dito em outras palavras, as referências predominantes do comportamento humano se apresentam como se fossem naturais, no entanto são uma construção social.  Em outro modo de evidenciar as referências para o comportamento, a natureza humana é explicada por necessidades, nas quais se incluem, o cuidado, o afeto, o companheirismo, o contato íntimo, a necessidade de ser amado, respeitado, visto, aceito e recebido.

 

Jornalista brasileira na África: maior conquista é a transformação pessoal

Victória Holzbach, jovem jornalista de 26 anos, revela-se, com intensidade e alegria em dois vídeos produzidos sobre a sua atuação na África.

Aos 11 meses de convivência e atuando como missionária leiga em Moçambique, a jornalista revela a África como ela é. Neste vídeo, fala de sua experiência como missionária em solo africano. A convivência com o povo moçambicano, durante quase um ano, faz a jornalista reconhecer seu crescimento como pessoa e como cidadã do mundo.

Victória destaca que o trabalho cotidiano de cada moçambicano é regado pelo sonho e pela crença de um país melhor. A esperança é o grande ânimo deste povo, num contexto de mudanças rápidas, cheio de inovações e estranhezas de uma África cheia de novidades e diferenças.

Mais recentemente, depois de um pouco mais de um ano de missão, revela, em entrevista à UPF TV que o jornalismo ficou em segundo ou terceiro plano, e que a realidade concreta das pessoas com as quais atua exige outras habilidades e intervenções. Revela, ainda, como é grande a sua transformação pessoal. Revela ainda que é preciso agir numa relação diferente do colonizador: é preciso respeitar o ritmo e o tempo do povo africano.

Victória Holzbach é colaboradora Convidada do site e já publicou 6 interessantes reflexões.

Em seu primeiro texto já escrevia: “Missão é serviço. E servir com amor. “Que a minha loucura seja perdoada, porque metade de mim é amor e a outra metade também.” Veja mais no link abaixo.

https://www.neipies.com/author/holzbach/

Abençoada e iluminada seja, em sua missão!

Fraternidade: o caminho para a paz

Ter a fraternidade como fundamento para a paz é,
também, um grande questionamento e uma denúncia
à visão e ao modelo de (in)segurança pública baseada
no controle das sociedades por meio de armas e repressão.

 

A fraternidade é uma dimensão essencial do ser humano. A consciência desta dimensão leva-nos a ver e tratar cada pessoa como uma verdadeira irmã e um verdadeiro irmão (as manas e os manos, como dizem os jovens da periferia). Sem essa consciência, torna-se impossível a construção de uma sociedade justa e de uma paz duradoura.

A Campanha da Fraternidade 2018 tem como lema “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8b). Esse é um chamado para a construção de “uma civilização fundada sobre a dignidade igual de todos os seres humanos, sem qualquer discriminação”, como afirma o Papa Francisco. Somente essa consciência de irmandade torna possível a superação da violência, o tema proposto pela CNBB para esta Campanha.

A proposta é a superação da violência. Tema: “Fraternidade e superação da violência”. Lema: Vós sois todos irmãos (Mateus 23,8).

A fraternidade deve marcar todos os aspectos da nossa vida: a economia, a sociedade, a política, a cultura, o desenvolvimento.

Ter a fraternidade como fundamento para a paz é, também, um grande questionamento e uma denúncia à visão e ao modelo de (in)segurança pública baseada no controle das sociedades por meio de armas e repressão (como as propostas de redução da maioridade penal, por exemplo). Justificam-se, assim, até mesmo a violência policial e a tortura, onde chama a atenção a realidade de muitos jovens, a maioria negros das periferias, assassinados todos os dias, naquilo que se chama de extermínio de jovens.

Em vez da garantia de direitos duramente conquistados, defendem-se apenas a segurança individual, a defesa da propriedadee asegurança nacional. Como consequência, viveria em paz apenas uma minoria, através da força da polícia e de segurança privada, justificando intervenções violentas nas periferias de nossas cidades.

O lema da CF 2018, “vós sois todos irmãos” foi extraído do evangelho de Mateus, no qual Jesus repreende os fariseus e mestres da lei por suas práticas incoerentes com seus discursos. Da mesma forma que no tempo de Jesus, hoje muitos cristãos valorizam uma sociedade hierarquizada, onde são privilegiados os ditos cidadãos de bem. Jesus, então, propõe um novo modelo, comunitário e fraterno. Somente assim se supera a violência e se constrói a paz.

 

Bispos falam sobre Campanha da Fraternidade 2018

Nesse sentido a CNBB, ao propor a cada ano a Campanha da Fraternidade, quer que olhemos os problemas não como um desvio de conduta ou da má índole de qualquer pessoa. É necessária uma visão mais abrangente, estrutural e sistêmica dos problemas.

O Brasil tem uma dívida social histórica com suas populações mais carentes e com grupos marginalizados dos processos de desenvolvimento econômico, que exigem um posicionamento e ação organizada para o resgate da cidadania.

Ver, julgar e agir sobre temas do contexto social em que vivemos é colocar-se diante das grandes interrogações sobre o sentido da nossa existência e sobre o nosso modo humano de viver neste mundo.

Nesse sentido que a CNBB propõe as Campanhas da Fraternidade, ou seja, diante de situações de desrespeito e agressão à vida, busca e aponta alternativas, através da ação social de todos os envolvidos. Isso implica entrar num autêntico diálogo que procure sanar efetivamente as raízes profundas, e não apenas a aparência dos males do nosso mundo.

A superação da violência é nosso sonho e nosso propósito. E esse sonho só está distante de nós se não dermos os primeiros passos, pois, como disse o poeta Jorge Rebelo, “não basta que seja pura e justa a nossa causa. É necessário que a pureza e a justiça existam dentro de nós”! O passo seguinte é deixá-la transbordar, ou mesmo semeá-la por todos os caminhos e jornadas do novo ano.

A arte sempre está entre o valor e o reconhecimento

A arte desperta, em todo mundo, grande fascinação.
Entre o valor de uma obra e o reconhecimento, estão os artistas,
aqueles que emprestam suas almas para transformar
a dureza da vida em encantamento, colocando
humanidades-em-movimento
.

 

Com a arte, o artista ganha mais do que dinheiro, ainda que não seja o suficiente para dar-lhe sossego financeiro.

Dias atrás, enquanto finalizava a tela “Marjorie Ferry visita Van Gogh”, da série “Visitando os Clássicos”, surpreendi uma jovem debruçada no parapeito da janela do estúdio, observando o trabalho que se encontrava no cavalete. Tomei o cuidado para não distraí-la da observação. Era de estatura baixa, pescoço alongado (lembrando as figuras de Modigliani), rosto miúdo e simpático, olhar muito vivo, cheio de expectativas, abundante de vida.

De súbito descobriu minha presença. Demonstrou surpresa. Sorriu de forma tímida, arreganhando de forma divertida o lábio superior.

– Estou admirando – disse, desviando o olhar em direção à tela. – Muito bonita! Quero ser artista também.

– Que bom – retruquei, admirado com sua espontaneidade.

-Quem é a mulher da tela?

Contei-lhe rapidamente a génese do trabalho. Ela ouviu-me atentamente, olhar transbordando vivacidade.

-Que legal! – disse após minha rápida análise.

– Eu passo todos os dias por aqui – comentou. – E quando não tem ninguém eu paro e observo o ambiente, as telas, o cavalete… Tudo chama minha atenção. Alegra meu dia.

Ao referir-se à alegria que se lhe tomava o espírito seu olhar marejou. Disfarçou olhando para os pés, ajeitando rebelde mecha de cabelo.

Fui tomado pela emoção. A jovem, com seu depoimento, referia-se ao valor da arte que extrapola a atividade de transformá-la em objeto de comercialização. Reportava-se, de maneira singela e ingênua à capacidade que ela, a arte, tem de encantar, de alimentar a alma, transformando-a num pássaro de velozes asas, levando-o em direção à catártica liberdade de ver e sentir.

– Muito obrigada! – disse ela sorrindo um tanto sem jeito. E foi-se, deixando a janela vazia, como figura feminina se libertando de uma moldura.

Sentei-me, olhando a tela que acabara de pintar. Havia nela qualquer coisa de diferente. Era como se o olhar da jovem a tivesse encantado e transformado.

Visitando os Clássicos No universo de Tamara de Lempicka “Marjorie
Ferry visita Van Gogh” Acrílica s/tela 80×80

 

Normal?

Muitas situações cotidianas passaram a ser consideradas normais.
Mas será que são normais? Onde foi que nos perdemos?
Como iremos nos encontrar?

 

Normal. Segundo o dicionário, aquilo que é conforme a norma, regular, usual, que é comum, natural, aceitável.

Gostaria de saber quando foi que passamos a considerar normal que pessoas morassem na rua. Em que momento tornou-se usual ter medo de sair de casa, medo de voltar, medo de deixar nossos filhos caminhar sozinhos até a esquina?

A gente não devia, mas se acostuma (Marina Colassanti).

Desde quando é normal que crianças sejam maltratadas, mulheres agredidas, idosos abandonados?

Como foi que passamos a aceitar como natural que jovens andem sujos pelas ruas, mais mortos que vivos, sem rumo e sem perspectivas? Quando passou a ser comum tanta gente pedindo esmolas nas sinaleiras, tantas camas improvisadas pelas calçadas? Desde quando é natural que as pessoas gritem no trânsito, ofendam-se nas redes sociais, sejam violentas com colegas de escola ou de trabalho?

Como podemos considerar aceitável que pessoas próximas a nós espalhem fotos e vídeos íntimos de gente que nem conhecem, ou que conhecem bem demais? Como pode ser comum a indigência, a barbárie, a deterioração da vida humana, a desconsideração total com sentimentos e necessidades dos outros?

Como é possível que tenhamos sentimentos profundos de compaixão com pequenos animais e não consigamos ter empatia por seres iguais a nós, que cruzam nosso caminho todos os dias?

Podemos dizer que não é da nossa conta, que não fizemos mal a ninguém e não criamos essa situação. Mas não se trata da guerra na Síria, das crianças na África. São nossos vizinhos, são as pessoas que conhecemos, pessoas que nasceram no mesmo bairro, na mesma cidade, que compartilham conosco o espaço, a história, a realidade.

Como é possível conviver lado a lado com a miséria, com a violência, como se estivéssemos em outro mundo?

Está claro que não criamos essas situações, mas é impossível não sermos afetados por elas, mesmo que seja na forma de medo e tristeza. Enquanto culpamos o governo, os políticos, a crise, o capitalismo, ou alguma outra entidade abstrata da qual nos excluímos, seguimos adiante ignorando o que nos cerca. Onde foi que nos perdemos? Como iremos nos encontrar?

O que é ser normal?

 

 

O Mito das Verdades

 O conhecimento é o suporte mais importante na
construção de conceitos e na desconstrução de preconceitos.
A publicação de conhecimentos da tradição africana deseja
contribuir para a afirmação de diferentes verdades,
como contraponto à verdade absoluta.

 

A cosmovisão africana, assim como outras culturas que vieram depois, encontrava nos mitos, explicações para tudo e todas as situações. Nesse momento em que diferentes visões de mundo e percepções de vida se chocam na busca pela hegemonia, penso ser oportuno trazer este mito da cultura Yorubá. 

“O Ayê (a terra) e o Orum (espaço sagrado) eram separados por um grande espelho, por meio do qual Olodumàré (o ser supremo) acompanhava todos os acontecimentos do mundo, que eram refletidos nesse espelho, mostrando assim, apenas uma verdade sobre o cosmos.

Ewá (divindade feminina do panteão africano) filha de Olodumàré, era responsável por pilar todo o alimento do mundo em um grande pilão. Seu pai a recomendou que tivesse cuidado para não bater com a mão do pilão no grande espelho.

Um dia, Ewá realizava sua tarefa muito feliz, cantando e dançando, quando então o acidente aconteceu. Ewá, assustada, chorando muito, foi contar ao pai o que havia acontecido, com medo da sua reação. Para sua surpresa, Olodumàré, com serenidade, acariciou seu Ori (cabeça) e disse:

– Minha filha, quebraste o espelho? Que bom!

A partir de agora não teremos mais uma única verdade, mas incontáveis verdades. E todas elas trarão o crescimento da humanidade e a preservação do mundo.

Acabaste de individualizar a humanidade e agora cada indivíduo precisará ouvir e entender a verdade do outro, para se compreenderem como seres coletivos.

Ewá secou suas lágrimas e seguiu feliz pilando todo o alimento do mundo.”

É preciso sensibilidade para reconhecer o óbvio e é óbvio que no ambiente escolar, que é um espaço de transformação, as diferenças são mais visíveis. Somente a sensibilidade, um olhar mais atento e uma capacidade de percepção ampliada, fará com que educadores conscientes preparem-se para atuar no desmonte da tese da verdade absoluta.

A educação é o caminho. Caminhemos!

O que há de moralmente errado em ser homossexual?

Se os parceiros estão de acordo e um não obriga, ameaça,
causa dano e não usa o outro somente como meio, mas como fim em si mesmo,
onde está o erro? Se a decisão é livre e consentida, onde o mal?
Se o amor liberta e não escraviza, onde o mal? Na forma do amor?
No princípio do amor cristão que diz: ame o próximo como a ti mesmo,
por acaso, há alguma menção de restrição nas formas de amor?

 

 

Não é prudente emocionalizar a conversa sobre a cura gay, defendida por conservadores religiosos e criticada por libertários que sustentam, estes, a impossibilidade de cura, já que só há cura onde há doença curável. E esse não seria o caso.

Meu filho é gay, como lidar? Monja Coen, Zen Budismo.

Um pouco de luz da razão pode amainar os ânimos. Parece-me que a questão é de pressupostos não compartilhados e, nesse caso, já que é impossível um assumir o paradigma do outro, como defende Thomas Kuhn, então, tudo o que podemos almejar é a tolerância entre as duas comunidades: conservadores e libertários.

O grupo conservador parte do pressuposto de fé e de crença e o grupo libertário, ou progressista, como queiram, parte do pressuposto da ciência.

Ambos os pressupostos são respeitáveis. Mas, podem ser duas pontes paralelas ao infinito, se um não escutar e tentar compreender o que o outro tem a dizer.

Escutar e compreender não significa aceitar o argumento do outro, mas pode significar, no mínimo, convivência civilizada com o outro, sem diminui-lo ou demonizá-lo. Penso que seja o máximo que se possa alcançar nesse campo de batalha.

 Mas, se mudarmos a conversa e passarmos da fé e da ciência para a filosofia moral, ou à ética, então, quem sabe, poderemos almejar algum progresso e acordo no que é essencial.

A ética levanta a seguinte questão: o que há de errado em ser homossexual? E se não há nada de errado, porque então insistir em querer que os que são, mudem e deixem de ser?

Do ponto de vista moral, errado é sinônimo de mau e certo é sinônimo de bom. Se uma criança me ler, eu diria para ela: errado é o que é feio, ponto. Voltando e subindo um degrau. Bom e mau, moralmente falando, são absolutos relativos à circunstâncias e a contextos. Não há absolutos puros e nem há relativismos puros, moralmente falando. E onde há, pode crer que paradoxos acontecerão. Essa é uma conversa para especialistas e como tal, chata. Conversa chata já há demais, não pretendo endossar a fileira…

O que não seria chato na pergunta: a homossexualidade carrega em si algum mal? Ou, para me repetir: o que há de moralmente errado em ser homossexual? Vou direto ao ponto e faço o meu juízo: nada.

Por que não há nada de errado? Estamos, agora, no âmbito da razão. Do juízo, nada, para a razão do juízo, isto é, por que não há nada? Para isso, é preciso encontrar algum critério. E o meu critério é Kantiano.

Kant apresenta um critério moral que diz: “age de tal forma que a máxima de tua ação possa ser universalizável”. Isto é, age de tal forma que todos igualmente possam desejar e fazer o mesmo, sem prejuízo a ninguém.

Segundo esse princípio alguém poderia objetar e dizer que a homossexualidade não pode ser universalizável pois, se todos fossem, haveria um problema de reprodução da espécie. Se você pensa assim, caro/a leitor/a saiba que esse argumento, hoje, está amplamente refutado. A ciência genética resolveu esse problema, o que deve deixar um conservador um pouco desconfortável.

Mas há um outro argumento de Kant que me parece ainda mais irrefutável, no sentido de que não há nada de errado na homossexualidade. O segundo argumento de Kant diz: “Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca, simplesmente como meio”.

Pergunto: se os parceiros estão de acordo e um não obriga, ameaça, causa dano e não usa o outro somente como meio, mas como fim em si mesmo, onde está o erro? Se a decisão é livre e consentida, onde o mal? Se o amor liberta e não escraviza, onde o mal? Na forma do amor? No princípio do amor cristão que diz: ame o próximo como a ti mesmo, por acaso, há alguma menção de restrição nas formas de amor?

E tem mais. Se duas pessoas que se amam não causam mal uma a outra, por que cargas d’ água causaria mal a mim que estou de fora da relação? Se eu gosto de chocolate 85% cacau, vou me incomodar e exigir que quem gosta de chocolate ao leite deixe de gostar? A comparação não é fora de propósito.

Não há nada de imoral na homossexualidade. A questão é de gosto e de estética. E não é de escolha, pois eu não escolho gostar de chocolate de cacau 85%, a natureza me impõe, e eu adoro…!

 Santo Agostinho dizia: ama e faz o que quiseres. Eu suponho que Agostinho quis dizer que quem ama só faz uma coisa: o bem. O amor é a cura!

Homossexualidade – Com Dráuzio Varella.

 

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