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Trabalho dos artistas, que ninguém vê!

 

Escrever, pintar, esculpir, fotografar, desenhar, doar tempo,
dinheiro, suor, lágrimas ainda não é considerado trabalho sério.
O que vemos, infelizmente, é uma legião de gente
que ainda tenta sabotar e desqualificar o
trabalho dos artistas em nossas cidades.

 

Existe uma fatia de povo que é especialmente feliz. Estou falando daquelas pessoas que compõem associações, confrarias, grupos de voluntários e que representam a inteligência pulsante de toda cidade humanizada, bonita, arrumada de forma a que tudo funcione para que todos tenham direito a usufruir dos espaços físicos e culturais.

Os voluntários trabalham duro e de graça, dedicam-se a longos planejamentos, projetos difíceis de construir dentro de normas absurdamente exigentes, enfrentam resistências de onde menos esperam, sofrem críticas, reformulam, procuram contemplar a maioria das demandas. E ainda assim movimentam-se felizes porque comemoram cada avanço, cada passo rumo ao que cada instituição persegue com a tenacidade peculiar de quem acredita no que faz.

 

Em entrevista para o Nexjor, a titular da Setorial de Artes Visuais do Conselho Municipal de Cultura, Lindiara Paz, comenta sobre evento que marca uma nova fase para as artes visuais em Passo Fundo.

 

Olhamos para a Antiga Estação Ferroviária (Estação de Passageiros) sem imaginar como ela foi limpa, quem a enfeitou com obras que refletem o que se faz nas artes plásticas, perambulamos em meio a exposições sem sequer pensar que alguém carregou peso e que uma vernissage demanda trabalho braçal prévio de dias.

 

Um importante movimento de intelectuais e artistas da cidade de Passo Fundo tenta impedir que a Antiga Estação de Passageiros da Viação Férrea seja transformada num espaço privado de entretenimento e seja estruturada como uma Casa da Cultura, um ambiente de permanente exposição e promoção das diferentes artes.

Muitos têm seu trabalho formal e é nas horas “de folga” que criam, carregam, limpam, ajeitam, planejam, pensam no que é mais bonito e adequado a quem vai usufruir de tudo aquilo.

As minifeiras de livros demandam uma movimentação incrível, por que alguém carrega os livros, as estantes, arma barracas, fica exposto ao frio, à chuva, ao sol e por que não dizer, à monotonia de constatar pouco interesse por livros.

O que falar então da Feira do Livro, esse empreendimento gigante! Alguém pode avaliar a demanda daquelas doze horas de trabalho dedicadas à cultura, meticulosamente pensadas para que todo mundo tenha acesso à música, à história, à literatura e ao conhecimento em geral. E aquele trabalho de, de novo, carregar, arrumar, expor, agradar, fazer dar certo. Alguém acha pouco?

Às vésperas da Jornada Nacional da Literatura, há um contingente que escreve, inscreve seus trabalhos, prepara lançamentos, prepara a cidade por onde a Jornada deverá passar, escancarando uma organização incrível e o trabalho de milhares de pessoas envolvidas no que dá um apelido pomposo à cidade. Somos a Capital Nacional da Literatura e precisamos cada vez mais fazer jus ao que isso representa.

 

Décima sexta Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo.

Para comandar os palcos de debates, foram convidados os escritores Augusto Massi, Felipe Pena e Alice Ruiz. As mesas abordarão as seguintes temáticas “Por elas: a arte canta a igualdade”, “Centauro, pedra, rosa e estrela: Scliar, Suassuna, Drummond, Clarice”, “Monstros e outros medos colecionáveis” e “Literatura e imagem: além dos limites do real”. A Jornada acontece de 2 a 6 de outubro de 2017, em Passo Fundo.

A nova tríade da Jornada: Alice Ruiz, Augusto Massi e Felipe Pena

 

 

Há um exército de voluntários que viabiliza a cada dois anos o Festival Internacional de Folclore composto por pessoas incrivelmente felizes, por apoiar tanta beleza e animação. Nenhuma administração pública poderia realizar um evento desses, sem o brilho e a alegria dessa gente. Só voluntários movimentam a cultura com essa grandiosidade.

 

Paulo Gilberto Bilhar Dutra, o Paulo Dutra, 60 anos de idade e uma vida dedicada à cultura e ao voluntariado. Formado em economia, é funcionário público há 42 anos, verdadeiro “operário da cultura” em nossa cidade.

Uma vida dedicada à cultura

Sentimos não ser considerado um trabalho sério e árduo os atos de escrever, pintar, esculpir, fotografar, desenhar, doar tempo, dinheiro, suor, lágrimas. É impossível ignorar as decepções ligadas à má vontade de quem está lá para sabotar, reclamar, desqualificar tanto trabalho. Esses não sabem que a vontade de fazer bonito é inabalável e que tanto blá, blá, blá negativo impulsiona e mostra quem é quem em meio a tanta satisfação.

O voluntariado precisa de espaço em todos os sentidos, inclusive de espaço físico. A Estação Ferroviária é o espaço da cultura por excelência. Ela deve abrigar um museu da ferrovia, para que o povo conheça a importância dela no desenvolvimento da nossa cidade, para que o legado seja preservado da forma que merece. Deve ser berço de manifestações artísticas e culturais em todas as suas formas e, acreditem, ela permanecerá viva, dinâmica e nas mãos dos que merecem usufruir dela.

Você quer ser feliz? Você quer ter amigos de qualidade? Você quer ser coresponsável pela humanização da nossa cidade? Voluntarie-se! Não há satisfação maior!

Um ano de vida, recebida em missão

 

Depois de um ano de missão em Moçambique,
África, vivo na prática a experiência de descobrir que alegria
não vem embalada e etiquetada. Faz bem sentir o sabor
de cada dia e saber que as maiores fontes de felicidade
são de graça e correm pro teu colo quando te enxergam.

 

A missão é doar a vida pelos outros. Este é, sem dúvida, um conceito impressionante de generosidade e amor gratuito. Quem não quer ganhar um Nobel da Paz com uma história comovente de sacrifício da própria vida na construção de um mundo melhor?

Acontece que, depois de um ano, sou obrigada a discordar desseclichê de sacrifíciopara constatar com conhecimento de causa: é muito mais vida que se ganha do que se dá.

Desde setembro do último ano, tenho aprendido que a verdadeira experiência de missão não é uma doação. Quando você doa, deixa de ter aquilo que deu. No meu caso, não canso de ganhar os inúmeros presentes que este tempo é capaz de oferecer.

Hoje, tenho consciência que cada um deles é, na verdade, um pedaço de vida que se soma com aquela que trouxe comigo – e imagino, sinceramente, que deva ser esse o autêntico significado de vida abundante.

 

Sentir o coração bater mais forte

Quando cheguei na missão, há um ano, segurar uma criança no colo era uma coisa fofa de se fazer. Elas passavam pelos meus braços e deixavam a alegria que só um sorriso desses pequenos é capaz de deixar. Entretanto, para mim, ainda não tinham nome, história, identidade.

No início, toda nossa comunicação se resumia em olhares e toques na minha pele branca e no meu cabelo amarelo.

Meu português era difícil para eles, tanto quanto o macua deles pra mim. Logo nos aproximamos e percebi que, mesmo estando no 5º ou 6º ano da escola, e mesmo o português sendo a língua oficial de Moçambique, não conheciam o alfabeto ou os números e todo o português deles se resumia em “bom dia”, independente da hora que fosse.

Depois de um tempo, já podia chamá-las pelo nome, conhecer seus pais, mães e irmãos e, a partir disso, já não fazia sentido para mim simplesmente fechar o portão quando não conseguíamos nos comunicar.

Logo sonhamos e concretizamos um espaço para alfabetização e reforço escolar desses pequenos. Em três meses, reformamos um espaço, formamos voluntários, compramos materiais e as aulas iniciaram.

Um dos maiores desafios foi descobrir o que fazer com as crianças de 3 a 6 anos, que estavam na rua, mas ainda não iam a escola. Eu pensava: “Se os de 12 não conhecem o alfabeto, o que a gente faz com os de 3 anos?!”

Depois de quatro aulas, estava sentada na sala da minha casa insatisfeita pela necessidade de fechar uma contabilidade mensal e um coro das vozes desses pequenos inundou meu coração e meus olhos:

— “A, B, C, D”.

Foi assim vez que tive certeza que não seria tão feliz em qualquer outro lugar do mundo.

Espaço de alfabetização e reforço escolar das crianças na missão em Moçambique, África. As crianças demonstram um potencial extraordinário de aprendizagem, em bem pouco tempo de atividades.

Depois de um ano de missão, vivo na prática a experiência de descobrir que alegria não vem embalada e etiquetada. Faz bem sentir o sabor de cada dia esaber queas maiores fontes de felicidade são de graça e correm pro teu colo quando te enxergam.

A sociedade da despedida da dor

 

 

Essa é nossa regra.
Em menos de duzentos anos deixaremos
de matar animais e comê-los.
Em menos de cinquenta anos não haverá mais
gente no Brasil matando gay, travesti e trans.
Haverá mais gente se cortando?
Talvez.

 

Você já viu um porco morrer? Já olhou nos olhos de um boi antes um pouco dele ser abatido. No primeiro, os gritos são de socorro, no segundo, dá para perceber lágrimas. Os humanos, quando matam outros animais, fazem questão de dizer que não agem assim com outros humanos. Bobagem.

Os humanos fazem menos drama para morrer e, portanto, podem ser mortos com muito mais facilidade e menos remorso. O cultivo da morte é demasiado humano. A morte dos animais pertence aos humanos que ainda não conseguiram se identificar com o legado de Deus, a Terra.

O homem bate no cachorro. Apesar do cão ser um animal que aprende muito rápido, ele demora muito para se afastar do seu dono, que ele interpreta como um companheiro, mesmo agredido. Um animal dito “selvagem”, como o leão, reconhece depois de anos quem o criou, e chega a levar tal pessoa para ver a sua família, sua esposa leoa com seus leõezinhos. Esses animais não precisam de uma terrível missão, com a de Jesus, para se disporem a seguir a parábola do Bom Samaritano. Eles reconhecem o diferente como diferente, e são capazes de amá-lo até contra seus instintos tão determinantes.

O filósofo Montaigne escreveu vários ensaios sobre a inteligência animal, exatamente para dizer ao homem: sua razão o conduz ao ceticismo, então, por que a põe com elemento superior à inteligência dos outros animais? Montaigne sabia das coisas.

Ninguém é obrigado a não ser um Karnal que, enfim, ainda vive nos pampas dos anos 60. Mas viver num centro urbano, hoje, e achar que comer animais, matá-los para comer, é alguma coisa que se reduz a “hábito alimentar”, no contexto da vida gourmet do momento, é atraso: é carência de civilização, civilidade, falta de inteligência, coração empedernido.

Fazer como Reinaldo de Azevedo e Pondé fizeram, que foram em seus jornais falar contra as moças que salvaram os beagles daquele laboratório fajuto, que não fazia pesquisa alguma e só maltratava animais, é uma prática de falsários. Essa gente põe a razão científica como tudo podendo, em nome de remédios que não fazem tão bem quanto parecem, e de maquiagens que poderiam ser feitas sem o concurso do sofrimento animal.

É interessante que a tal razão científica tenha se tornado o deus dos conservadores! Nietzsche, um eleito do conservadorismo, foi sem dúvida o homem que mais ridicularizou esse tipo de conservadorismo. Nietzsche ousou dizer que a ciência não podia ser livre. Mas ela é, por natureza.

As pessoas de hoje adquiriram um sentimento pelas árvores uma identidade com muitos bichos. Isso é um ganho moral inestimável. Tão grande quanto o ganho que incluiu entre humanos a mulher, a criança, o pobre, o negro, o aidético, o anão etc. A democracia liberal é um regime, em certo sentido, hoje, totalitário.

Mas, já imaginou viver sem os ganhos dela? Já imaginou viver sem a Doutrina dos Direitos Humanos, dos Direitos Civis, dos respeito às minorias? Seria como viver sem os ganhos do horizonte de perdão posto pelo cristianismo. Seria estar num mundo perverso que abandonamos exatamente porque não quisemos mais ser perversos.

Vivemos hoje, é certo, em uma sociedade em que muitos passam pela automutilação caseira. As pessoas estão amortecidas e, então, se punem. Querem voltar a sentir dor.

O problema apresentado pela médica na série Sob Pressão (Globo), que se corta, não é incomum no mundo de hoje. Numa sociedade desonerada, onde o sofrimento precisa ser eliminado, e de fato é, é claro que devem surgir os que se auto-oneram. Todavia, essa é uma transição que teríamos de passar.

Não vamos, por conta da Marjorie Estiano, querer voltar aos lutos dolorosos ou às crucificações. Ou seja, não é por conta de termos um geração de gente mole nas escolas que vamos reintroduzir a palmatória. Precisamos entender a desoneração como fenômeno do mimo inerente e crescente que faz parte de nossa condição humana.

Não matar os animais está dentro do projeto que Marx chamou de “missão civilizadora do Capital”. O capitalismo se associou bem à democracia liberal e mais ainda à nossa condição própria que requer o mimo, o plus, a vida com o “mais” – inclusive com a mais-valia, claro. Mais-valia faz parte do “mais” e da sociedade de abundância (Galbraith) em que vivemos.

Mais tudo, mas menos dor. Essa é nossa regra. Em menos de duzentos anos deixaremos de matar animais e comê-los. Em menos de cinquenta anos não haverá mais gente no Brasil matando gay, travesti e trans. Haverá mais gente se cortando? Talvez. Mas o fim da dor é um vetor inexorável. Fabricaremos dores suportáveis e administráveis. A sociedade da eutanásia assistida.

 

Como sair da imbecilidade? O professor e Filósofo Paulo Ghiraldelli diz.

 

 

Desejo, logo não sou!

 

Quem encontra a Deus sossega. A questão é, existirá um
objeto mais abstrato do que Deus e, portanto, mais instigador do desejo?
Será Deus a satisfação dos desejos, ou será ele um outro nome
para dizer da insatisfação de todas as satisfações?

 

Já se definiu o homem de muitas formas. “O homem é um animal racional” (Aristóteles). “O homem é um bípede implume (Platão). O homem é o lobo do próprio homem (Hobbes). “O homem é aquilo que come” (Feuerbach) “O homem é a imagem de Deus” (Bíblia). O homem é um ser cuja existência precede a essência (Heidegger). O homem é um caniço pensante (Pascal) etc.

Eu gosto de uma outra definição, sem autoria, mas que todo intelectual que se preze, utiliza: “o homem é um animal que deseja o desejo”.

 

Clóvis de Barros Filho – busca incessante pela felicidade.

Ninguém expressou melhor a natureza do desejo do que Platão, no livro o Banquete. O Banquete é um livro em forma de diálogo e os personagens dialogantes, cada um a seu modo, fazem discursos e elogios ao Amor (Eros).

Dois desses discursos são paradigmáticos para entender o desejo e, por tabela, compreender o ser humano. O primeiro é o discurso do poeta satírico Aristófanes, e o segundo, é o discurso do filósofo Sócrates.

Aristófanes, para falar do amor, conta um mito, o mito do andrógino. Sempre que se conta mitos pretende-se remontar às origens, num tempo imemorável do início das coisas. No caso do mito do andrógino, trata-se do início da humanidade. Aristófanes diz que no começo, lá no início, bem no início, nós éramos de três gêneros, o masculino o feminino e o andrógino. O terceiro ser, o andrógino, era um ser redondinho, duplo, perfeito, nada faltava e nada sobrava. Tudo duplo: duas cabeças, quatro pernas, quatro braços, quatro olhos, quatro orelhas e de duplo sexo. Se movimentava rapidamente como uma bola com pernas. Os deuses olharam para esse ser e perceberam que havia na terra um concorrente à altura aos deuses do céu. E ficaram assustados…

Zeus, então, pensou em matar esse ser, concorrente na perfeição com os deuses. Mas, matar, significaria eliminar alguém que os adorariam. E o que são os deuses sem alguém que os adorem? Pensando melhor, Zeus, o chefão dos deuses, decidiu enfraquecer o andrógino, cortando ao meio. Zeus corta-o e Apolo, o deus da ciência e da medicina, costura-o, ajuntando e ajustando a pele até o último ponto onde se forma o umbigo.

Como o ser tinha os olhos virados para fora, então Apolo vira a cabeça e os olhos para o lado do umbigo, para nunca esquecer que somos seres cortados. Se lá no início o ser duplo era duplo masculino, então agora o homem busca sua outra metade em outro homem. Se o duplo era masculino e feminino, então a relação agora será heterossexual. Se o ser duplo era duplo feminino, então a mulher desejará outra mulher. O que o mito uniu, não desuna o homem…!

Dito isto, Aristófanes tira as conclusões dizendo que o Amor é o encontro com a outra metade. O amor é o encontro com alma gêmea, que um dia foi uma coisa só, mas agora separada, vive vagando pelo mundo com saudade do abraço da outra metade. Quando acontece o reencontro, aí o amor acontece no grau pleno e de pura satisfação, felicidade e êxtase. O objeto do amor é a outra metade e quando se encontra o objeto do amor, o amor acontece e cessa a busca.

Sócrates, por sua vez, ao falar do Amor, também conta um mito e tira as conclusões. Quando Afrodite, deusa da beleza, nasceu, diz Sócrates, os deuses fizeram uma grande festa nos céus. Convidaram todos os deuses para a festa, menos a deusa Pênia. Quando a festa acaba, Pênia entra de penetra na festa, come os restos de comida e toma os restos de bebida e, quando satisfeita, dá uma passeada entre os festejantes e vê Poros, deitado e embriagado. Pênia se sentiu atraída por Poros, deita ao seu lado, se conhecem sexualmente e dessa relação nasce Eros, o Amor. Eros é, pois, filho de Pênia e Poros. Pênia significa, carência, falta, pobreza, daí advém a palavra penúria que significa exatamente sofrimento por conta da falta de condições materiais da vida. Poros significa astúcia, engenho e completude. Eros, diz Sócrates, herda da mãe a falta, a carência e herda do pai a astúcia para suprir a falta e a carência.

Por conta disso quem ama vive maquinando jeitos de conquistar o objeto amado, mas também por conta disso o amor é sempre carente, porque amor daquilo que nos falta. Ora, aquilo que nos falta nós desejamos e só desejamos e amamos porque não possuímos, pois se possuíssemos já não desejaríamos e desejaríamos outra coisa.

Moral da história. Diferentemente de Aristófanes que diz que o amor é satisfação no encontro com o objeto amado, Sócrates diz que o amor é desejo e desejo é desejo de algo que nos falta. Acontece que não há objeto que satisfaça o desejo, e o próprio Sócrates diz que há uma escalada de desejos passando de um corpo belo físico e particular, ascendendo para os belos corpos, avançando para as ciências do belo e para o Belo em si…! Amar é, pois, adiar constantemente a satisfação, porque na medida em que se alcança o objeto amado, deseja-se outra coisa e outra coisa e outra coisa, sem fim…

Disso advém todas as violências por desejos miméticos, pois sempre que desejamos o mesmo objeto do outro, entramos em rivalidade que leva a violências sem fim. Mas não só.

O mais profundo é que não somente desejamos o objeto do desejo do outro, mas desejamos o desejo do outro que deseja objetos, enredando-nos numa espiral sem fim de insatisfações e ilusões vindas dos mercados do desejo que o capitalismo muito bem sabe organizar.

Talvez seja oportuno apontar aqui para outra direção, a direção mística e religiosa. Sabendo que os desejos nos essencializam e são infinitos e insatisfeitos, as tradições místicas e religiosas, sabiamente, dizem que há um único objeto do desejo capaz de pacificar a busca incessante por sentido: Deus.

Quem encontra a Deus sossega. A questão é, existirá um objeto mais abstrato do que Deus e, portanto, mais instigador do desejo? Será Deus a satisfação dos desejos, ou será ele um outro nome para dizer da insatisfação de todas as satisfações?

Amor é relação; civismo é imposição

 

O civismo é autoritário e impositivo,
já o amor nasce livre e desimpedido, espontâneo e duradouro.
O civismo precisa ser medido, enaltecido e demonstrado,
já o amor ao Brasil brota livre, instantâneo e sem medidas definidas
para ser vivido pelos brasileiros.

 

Durante o mês de setembro, em especial, levanta-se nos meios de comunicação de massa a teoria de que estamos desencantados com os rumos da nação. Consequentemente, brasileiros estariam sem civismo e sem amor à Pátria. Permito-me discordar frontalmente desta tese.

Levianamente, os mais convictos desta tese dizem que o mal da nação estaria nos políticos corruptos e na quantidade excessiva de partidos políticos. Que os brasileiros estariam deixando de lado a exaltação de amor à Pátria para digladiar-se com os demais pelos créditos e paixões do partido A, B ou C. Dizem, ainda, que partidos de esquerda estariam na origem da falta de amor à Pátria. Em síntese: o problema do Brasil seria a política (coisa do demônio) e, principalmente, os partidos de esquerda seriam os maiores culpados pela falta de civismo dos brasileiros. Explicações que não se justificam pela pouca participação dos brasileiros com partidos políticos e com a política propriamente dita.

Vejam. O amor sempre é relação, é feito de apostas e acordos, vividos permanentemente. O amor é doação, e tudo o que contradiz a doação fere e machuca. O civismo, por sua vez, pode ser uma forma de amor, mas não é a única forma de amar um país. (Vejam: sou gaúcho e gosto muito desta terra. Isso não quer dizer que eu deva seguir o tradicionalismo que, embora seja uma forma de amar o Rio Grande do Sul, não é a única forma de amá-lo. Sou gaúcho, mas não sou tradicionalista).

O civismo é autoritário e impositivo, já o amor nasce livre e desimpedido, espontâneo e duradouro. O civismo precisa ser medido, enaltecido e demonstrado, já o amor ao Brasil brota livre, instantâneo e sem medidas definidas para ser vivido pelos brasileiros.

Em oportunidades espontâneas e livres, os brasileiros apreciam muito a bandeira e o hino nacional. As cores da diversidade cultural, regional e étnica de tantos povos que aqui fazem sua morada são sobrepostas pelas cores da bandeira, maior símbolo de identidade nacional.

O sentimento de amor ao Brasil gera-se através da participação, da importância e do envolvimento que dispensamos, cotidianamente, como cidadãos brasileiros. Em setembro de 2016, defendi que “uma das maiores atitudes cívicas e cidadãs é demonstrar amor à Pátria interessando-se por ela, participando ativamente dos acontecimentos que a envolvem no atual momento histórico. Afirmar democracia é atitude relevante e decisiva para vislumbrar o futuro desta nação. É necessário afirmar e debater, de forma ampla, aberta e plural a “participação como um direito humano”, a fim de sensibilizar e comprometer a todos com a luta por sua efetivação no cotidiano de todos e de cada pessoa”.

Leia na íntegra aqui.
https://www.revistamissoes.org.br/2016/09/amar-a-patria-participando-dela/

A confusão entre civismo e amor ao Brasil produz uma dicotomia absurda e desnecessária. Talvez aí esteja explicação do mecanismo chave da compreensão desta confusão, na medida em que justamente os que mais lutam por um Brasil para todos os brasileiros são enquadrados pelos outros como se não o amassem.

A maioria dos brasileiros ama nosso país, mas manifesta seu amor de diferentes formas. Ocupar as ruas sempre é um ato de amor, que se manifesta através de lutas, de manifestações por liberdade, democracia e direitos, ou também por intencionadas manifestações cívicas de amor e apreço ao país em comemorações da Semana da Pátria.

Lutar por direitos, por liberdade e por dignidade humana é, para mim, a maior demonstração de amor ao Brasil e a todos os brasileiros. Um país que tanto amamos não pode considerar que “lutar é crime”.

Um “flerte” com Divaldo Franco

 

Com passos curtos, mas seguros, no auge de seus 90 anos,
o médium e orador espírita Divaldo Pereira Franco
é a personificação da paz e da bondade.
Disciplinado, comedido, bem humorado
e com uma vitalidade que impressiona.

 

Simplicidade na fala, sorriso largo e um olhar que desnuda a alma. Ele emana uma energia que vibra e toca diretamente o coração das pessoas. Impossível não se emocionar em sua presença. Um gigante que silencia multidões com palavras de amor.

Entrevistá-lo foi um momento único. Eu, com largos anos de carreira, me senti uma novata, ali encantada, inebriada com tanta sapiência, lucidez e amorosidade. Senti borboletas no estômago, como se estivesse em pleno “flerte”, hipnotizada com cada palavra, com cada frase.

Estar próxima deste ser iluminado, por parcos minutos, foram suficiente para receber uma onda energética inexplicável, que me deixou em estado de enlevo, experiência única que levarei por toda a vida.

Essas são algumas das minhas impressões, divido com vocês a coletiva para que tirem as próprias. Que sejamos uma onda a espalhar a “Boa Nova” de Divaldo, a “Boa Nova” do espiritismo.

Inquirido sobre como conquistar a alegria de viver, tratou da importância em se dar um sentido à vida.

“Acrescentando um objetivo à própria existência. Carl Gustav Jung, afirmava que nossa vida deve ter um sentido especial e que toda a vida vazia vai levar a transtorno neurótico, particularmente, a depressão e ao transtorno do pânico, então, é válido que tenhamos um ideal e traçando um ideal que nós tenhamos uma meta e, através dessa meta, a alegria de viver”, enfatizou o médium.

Divaldo foi muito próximo de Chico Xavier, tanto que na maioria de suas palestras ele faz referência ao amigo, sempre contando algum fato da vida do médium. E como há tantas especulações sobre comunicações atribuídas a Chico, lhe perguntei se o amigo teria lhe dado alguma comunicação.

Chico Xavier

“A mim pessoalmente não. Ele deve ter dado uma ou outra comunicação autêntica, as outras são invenções” alertou Divaldo.

Também abordei com o médium o momento histórico que vivemos com denúncias de corrupção, guerras, assassinatos e tantas verdades vindo à tona. Seria o momento de renovação da terra?

“Sim. É um processo de mudança onde a terra vai deixar de ser uma planeta de provas e expiações para ser um mundo de regeneração, mas essa crise é periódica, se nós olharmos a história da sociologia, antes de qualquer passo gigantesco da sociedade há sempre uma crise. Quando o Iluminismo francês foi apresentado logo veio a Revolução. No período da Revolução Industrial houve uma mudança de hábito na sociedade, hoje com a revolução virtual é natural que haja algumas mudanças, principalmente desmascarar o crime, a sordidez, a desonestidade que sempre existiu e foram acobertadas por leis injustas.

É preciso ter uma meta além da aspiração material e profissional. É através de palavras de esperança que as pessoas acreditam na possibilidade de paz interior. O médium em atividade mais importante do país, Divaldo Franco, é um exemplo dessa disseminação dos valores humanos e da propagação do bem. O embaixador da paz esteve em Caxias do Sul na quinta-feira, em uma conferência da doutrina espírita realizada nos Pavilhões da Festa da Uva, EM 2015. Veja mais.

Ainda, foi levantada a questão jornalística: como transmitir as informações de maneira a contribuir com a sociedade, sem explorar a tragédia.

“Dar preferência a notícias positivas, mas também anunciar as tragédias para que a criatura não fique pisando em falso achando estar no paraíso, mas não massacrar as mentes com lavagem cerebral, repetindo aquele drama que leva a população ao desvario e também a imitação porque psicopatas se sentem estimulados pela busca de uma fama. Se executada repetem os mesmos erros”, acrescentou Divaldo.

Ao final da entrevista solicitei uma mensagem para o povo de Passo Fundo ao que amorosamente atendeu.

“Vale a pena amar! Quando se ama, se atinge o alto nível da plenitude, quando se deseja ser amado, ainda se é uma criança ferida como dizia Jung. Se a pessoa não gosta de mim o problema é dela, mas eu tenho que gostar do próximo. Todos nós temos inimigos, mas isso não é importante, importante é amar o próximo!”

O que aconteceu espiritualmente, durante a palestra, não sei. O que tenho certeza é que ninguém que lá esteve voltou o mesmo para casa.

 

Para saber mais sobre Divaldo Pereira Franco, acesse aqui.

Loucura incontrolada

Há anos atrás trabalhávamos nas escolas, nas igrejas a defesa
e a importância da defesa da maior floresta tropical do mundo.
A Floresta Amazônica, patrimônio intocável do mundo.
Em pouco tempo, com argumentos mercantilistas,
a Floresta perderá o seu valor e sua importância
para o Brasil e para o mundo.
Não é loucura?

 

Perder o sono está ligado há vários fatores, dentre eles, loucura. Acredito tenha sido o motivo pelo qual o sono não veio. Estou ficando louco.

A loucura pode ser da mente, da desesperança, do sonho esfacelado e da falta de sono.

Numa noite dessas, perdi o sono e não me contive. Era 28 de agosto de 2017, às 4 horas da manhã.

Aliás, neste mês perdi o sono por muitas coisas: a mudança avassaladora na LDBEN (que, não por surpresa, muita gente não sabe e nem se deram conta do prejuízo educacional que causa há futuras gerações). Perdi o sono pela “flexibilização” da CLT (que abre a possibilidade de negociação ao patrão em relação ao empregado – onde está a linha forte de poder que possibilita que um mero empregado tenha barganha de negociação?)

O sono não veio por saber que com a farsa de “arrumar o Brasil”, tira-se 10 reais do pobre trabalhador e não os milhões que são gastos com o supérfluo da descarada e suja política brasileira.

Nesta noite, perdi o sono e o sonho e a insônia insistiu me atormentar. Vocês vão me dizer que agosto é mês do cachorro louco, conhecido popularmente. Pode ser. Esta loucura poderia ser para o cachorro, para a onça e para milhares de espécies da fauna e da flora que pedem SOCORRO. E, também, para um ser humano sensível, como eu e como você, que está lendo este texto.

Não me admiro tenha sido loucura um presidente não ver nada de mal em abrir mão da maior floresta tropical para uma mineradora canadense!?

 

O fim da reserva de 46.000 Km², área praticamente inexplorada da floresta amazônica, foi anunciado na última quarta-feira (23), pelo presidente Michel Temer. A notícia teve impacto mundial e gerou revolta em ambientalistas e celebridades. Apesar do choque para a população, os empresários canadenses, que têm interesse em investir na região, já sabiam dos planos do Governo há meses. De acordo com a BBC, o próprio ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, teria aproveitado um evento para empresários em Toronto, no Canada, para ‘espalhar’ a informação. Além da preocupação com o desmatamento, especialistas estão em alerta para a situação de duas reservas indígenas que ficam dentro da área.

 

Há anos atrás trabalhávamos nas escolas, nas igrejas a defesa e a importância da defesa da maior floresta tropical do mundo. A Floresta Amazônica, patrimônio intocável do mundo. Em pouco tempo, com argumentos mercantilistas, a Floresta perderá o seu valor e sua importância para o Brasil e para o mundo.

Para mim, e para quem tem um pouco de conhecimento do processo da mineração, não há como evitar a destruição da biodiversidade com a abertura da exploração para mineração. O ambiente será devastado em bem pouco tempo.

Vocês não acham que todos os seres humanos deveriam perder o sono? Há notícia mais desesperadora que esta? Há loucura mais justa do que essa que eu estou sentindo?

Podemos perder o sono ou sonho? No mês de agosto, conhecido “mês do cachorro louco” e sempre, inclusive na Semana da Pátria.

Nessa semana da Pátria, nego-me repetir e declamar o Poema de Olavo Bilac, intitulado Pátria:

Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!
Criança! não verás nenhum país como este!
Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!
A Natureza, aqui, perpetuamente em festa…
É um seio de mãe a transbordar carinhos.
Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos,
Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!
Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!
Vê que grande extensão de matas, onde impera
Fecunda e luminosa, a eterna primavera!…

 

Se eu me atrever declamar esse poema, como sempre fiz, tenho certeza, meu coração chorará em sangue, porque não há quem não chore a partida de alguém importante: a Floresta Amazônica.

Eu não diria essas palavras bem colocadas por Bilac, por nada. Por que pronunciaria em vão essas palavras? Porque elas tocam fundo no peito e no coração de cada brasileiro.

Posso, talvez, declamar outras palavras ditas por um grande poeta popular, Pedro Munhoz, intitulada Procissão dos Retirantes:

…Eu não consigo entender
Achar a clara razão
de quem só vive pra ter
E ainda se diz bom cristão…

Pátria amada, ó Brasil
De quem és, ó mãe gentil
eu insisto em perguntar

Dos famintos, das favelas
ou dos que desviam verbas
pra champagne e caviar…

Muitos expõem sua foto do perfil do facebook  com um SOS bem grande, que vem do inglês – Save Our Souls, que quer dizer Salvem nossas Almas. Acredito, deveríamos trocar o último “s” por “f” SOF – Save our forest: Salvem Nossa Floresta. Antes que mais gente, como eu, enlouqueça!

Minha loucura chama-se Indignação, Alerta, Desesperança…

A contação de histórias nas salas de aulas

Contar histórias é um método eficaz para
o ensino-aprendizagem na sala de aula e, também,
para uma aproximação maior do professor com o seu aluno.
Ensinar o aluno a arte de ouvir é muito belo!

 

A contação de histórias vem desde os primórdios das civilizações quando o homem usou da sua oralidade para contar as tradições do seu povo de geração em geração.

Não é preciso ter curso para contar histórias, pois todos nós contamos histórias o dia todo das nossas vidas, das vidas dos nossos filhos, vizinhos e amigos. O importante e o cuidado que se deve ter é conhecer a história que se vai contar para não gaguejar na hora ou esquecer algumas partes, por isso faz-se necessário que o bom contador saiba improvisar, também.

A contação de histórias é um método bastante interessante para ajudar as crianças no ensino-aprendizagem na sala de aula seja em qualquer disciplina.

Quando uma criança ouve uma história ela vai para o seu mundo imaginário e no final da história retorna para a realidade cheia de indagações sobre o mundo ao seu redor. Indagar ainda é a melhor forma de aprender as coisas. Precisamos contar histórias às nossas crianças para que o ensino se torne agradável e que seja apreendido com mais eficiência.

A criança que ouve histórias tem a sua imaginação aguçada, sabe ouvir, presta atenção com mais facilidade no que ensina o seu professor. O filósofo Platão recomendava as boas histórias na sua pedagogia aquelas que não usam da mentira, para formar um bom cidadão.

Conheço muitas professoras que trabalham com a contação de histórias em sala de aulas, e isso me deixa feliz.

 

A arte de contar histórias guia a vida da pesquisadora de narrativas tradicionais Regina Machado, professora da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. Autora de vários livros, como A Arte da Palavra e da Escuta e Nasrudin, é criadora e curadora do Encontro Internacional Boca do Céu que, a cada dois anos, reúne contadores de histórias do mundo todo na capital paulista.

 

Segundo Walter Benjamin no seu ensaio O narrador a arte da oralidade está sendo esquecida principalmente depois da invenção do romance e precisamos resgatar esse nosso poder oral, a palavra oral, a palavra que encanta e marca as pessoas. É preciso deixar as nossas marcas nas histórias que contamos.

O professor que quer ensinar contando histórias pode começar com a memorização de uma história curta, sentar-se em círculo no chão com os seus alunos e começar a contar a história escolhida.

Fazer uso de gestos, onomatopeias, pausas e ter boa dicção é importante na hora do conto. Pode escolher um cantinho favorável na sala de aula, de preferência, que tenha um tapete para os alunos sentarem em cima. A história deve ser pequena e indicada para a faixa etária das crianças para que não se dispersem. Crianças não gostam de histórias longas, elas querem logo saber o final.

É preciso saber bem o enredo da história e seu clímax. No clímax deve ser dada ênfase na voz para que os personagens ganhem mais espaço no imaginário das crianças.

O professor pode fazer uso de um instrumento musical para tocar enquanto conta a história, pode usar uma peruca ou vestir-se de roupas coloridas para caracterizar-se como um personagem do mundo do faz-de-conta. Tudo vale a pena na performance da contação de histórias, só não vale fazer paradas no meio da história para conversar com as crianças.

 

Você já ouviu alguém contando histórias de maneira encantadora e pensou que nunca conseguiria fazer algo parecido? Bem, nesse vídeo veremos o que é realmente essencial, sem nos prendermos a uma única forma de contar histórias. Quais habilidades são, de fato, importantes?

 

Nas minhas contações de histórias costumava ser uma bailarina, gordinha, que não conseguia ficar nas pontas dos pés, por isso pedia ajuda às crianças depois da contação de histórias. E elas costumavam sempre a me ajudarem. Também já me vesti de príncipe e disse ser de um mundo muito distante onde as pessoas nunca morrem e todas as crianças quiseram conhecer meu mundo.

Cada professor escolhe o personagem que quer ser quando vai contar uma história ou, simplesmente, apresenta-se como é, um professor desde que tenha a história memorizada.

Contar uma história é diferente de ler. Há o momento da leitura em sala de aula, em voz alta e há o momento da contação de histórias, são duas coisas diferentes.

No meu curso de filosofia para crianças costumo ensinar contando histórias às crianças e no final faço cerca de três questões que levam a um diálogo reflexivo e crítico sobre a história contada. Esse diálogo, geralmente, leva a outros pensares e ideias que vão sendo costurados ao longo do tempo.

Temos uma literatura infantil bastante rica com livros de histórias curtas que as crianças nos primeiros anos escolares adoram. Vale a pena ensinar contando histórias. Afinal, quem não gosta de ouvir uma boa história?

Deve-se ter o cuidado, também, para não contar histórias de terror, de mortes, de violências, pois essas podem causar traumas e transtornos nas crianças. O melhor é que a história seja sempre cheia de alegrias e desafios. Também devemos evitar falar sobre os ensinamentos que a história quer passar ou a sua moral, isso quem deve descobrir é a criança.

Fico muito feliz quando visito uma escola e vejo professores contando histórias. É como se essa arte resistisse as influências da vida moderna e as tecnologias que invadem as nossas vidas.

Desse modo, penso que contar histórias é um método eficaz para o ensino-aprendizagem na sala de aula e, também, para uma aproximação maior do professor com o seu aluno.

Ensinar o aluno a arte de ouvir é muito belo! As pessoas estão cada vez mais sem tempo para ouvir o outro, por isso precisamos aprender a ouvir desde a tenra idade.

Então, convido os professores a contarem histórias nas suas salas de aulas começando sempre com o era uma vez… e finalizando com palavras de esperança de um mundo melhor que aquele momento continuará em outro dia.

Um grande livro contra fascistas e nazistas

 

Quando aparecer algum pregador querendo se livrar de Hitler,
citem este livro fantástico (Cozinha Venenosa).
Uma das raras obras sobre o nazismo pelo ponto de vista do jornalismo
e sobre como o jornalismo de esquerda se engaja, em momentos graves,
à luta contra as grandes ameaças.

 

Tem um novo andaço da pregação fascista-nazista-diversionista de que a origem do nazismo é o socialismo, ou de que Hitler teria sido um pregador com forte base ideológica de esquerda.

Essa bobagem, propagada mais por ignorância mesmo do que pela intenção de criar confusão, permite pelo menos que se retome o assunto. Não para entrar nesse debate imbecil como se fosse coisa muita séria, mas para entender melhor o que aconteceu e não deixar a falação sem resposta.

Eu cito todos os anos, sempre que posso, o livro A Cozinha Venenosa – Um jornal contra Hitler (Editora Três Estrelas), da jornalista brasileira Silvia Bittencourt. É a chance de citá-lo de novo.

 

Cozinha venenosa é o título do livro da jornalista Silvia Bittencourt. Ela pesquisou a história do Munchener Post, o principal jornal opositor a Adolf Hitler na Alemanha. Ao narrar a trajetória do jornal que foi fechado logo após a ascensão do nazismo ao poder, em 1933, Silvia revela os conflitos sociais e políticos desde a unificação do país, passando pela 1ª guerra mundial, queda da monarquia e a revolução russa de 1917.

 

Silvia mora na Alemanha e escreveu sobre a ascensão e a consagração de Hitler a partir da percepção e da resistência de um jornal, o bravo Münchener Post, de Munique.

Por que Hitler decidiu atacar sistematicamente o jornal, até destruí-lo em 1933? Porque, é claro, o Münchener era um jornal de esquerda, sustentado abertamente pela social-democracia. Foi o Münchener que alertou a Alemanha para o que estava sendo esboçado por Hitler desde sua aparição em 1919.

O Münchener publicou em 1932 um documento em que Hitler anunciava o plano para se livrar dos judeus. Isso em 1932. Era o projeto da solução final. O texto, na íntegra, está no livro.

Se Hitler era de esquerda, então Jânio Quadros, Collor, Maluf, ACM, Aécio, Doria Júnior e outros pregadores da direita populista, que fizeram ou fazem promessas em nome da libertação do povo (incluindo alguns ditadores militares), também seriam.

Quando aparecer algum pregador direitoso querendo se livrar de Hitler, citem este livro fantástico. E leiam o relato de Silvia, porque é uma das raras obras sobre o nazismo pelo ponto de vista do jornalismo e sobre como o jornalismo de esquerda se engaja, em momentos graves, à luta contra as grandes ameaças.

O que não acontece hoje no Brasil, onde a grande imprensa se diz neutra, amorfa, inodora, incolor e principalmente im-par-ci-al… Sim, é pra rir.

O que fazer com a indisciplina?

 

Focar nas regras de convivência com a
participação dos alunos e criar um mapa de indisciplina
junto com outros colegas e gestores pode ajudar a prevenir
e eliminar as causas da indisciplina ativa.

 

Indisciplina, multiculturalidade e inclusão são temas que preocupam educadores no mundo todo.

No mês de julho deste ano, tive o prazer de dialogar com professores municipais na sede do CMP sobre esses temas e fiquei muito feliz ao saber que estratégias pedagógicas efetivas vem sendo adotadas também em Passo Fundo, RS. Menciono esse aspecto porque fui professora da referida rede até 2007, quando tive a oportunidade de vir trabalhar nos EUA, também como professora.

 

O CMP Sindicato (Sindicato dos Professores Municipais de Passo Fundo) desenvolve, pelo terceiro ano consecutivo, o projeto Saberes em Ciranda. Esta atividade formativa, voltada aos professores municipais, desenvolve uma metodologia onde o Cirandeiro (pessoa convidada para apresentar uma reflexão inicial) e os Cirandeiros (participantes que se inscrevem voluntariamente) fazem trocas de aprendizagens, dialogam de forma direta entre si e compartilham, ainda, de comida, alguma bebida (suco, chá ou refrigerante) e música ou poesia. Esta ideia nasceu porque os professores desejam participar de dinâmicas formativas onde sejam mais protagonistas do que meros ouvintes. Saberes em Ciranda envolve um grupo de 35 professores e professoras, tem duração de duas horas, realiza-se mensalmente e é um sucesso principalmente porque envolve a ideia da proximidade e aprendizagem professor para professor. O projeto é coordenado pelo professor Nei Alberto Pies, desde o início de sua implantação.

Durante os últimos dez anos, tenho conduzido reflexões comparativas sobre educação entre as Américas e esses temas tão importantes tanto no Brasil como nos EUA. Nesse artigo vou abordar a indisciplina. A definição de indisciplina pode ser teoricamente complexa ou reduzida “a ausência de disciplina”, sendo assim, pode ser simplificada a “desobediência ao conjunto de regrasde conduta impostas aos membros de uma coletividade”.

 

A indisciplina pode ser passiva ou ativa

Na manifestação passiva, os estudantes podem se recusar a participar de projetos, esperar o adulto que fiscaliza as regras estar ausente para ventilar suas idéias, cochichar, não copiar a matéria, entre outras formas menores.

 

O papel do professor mediador para enfrentar a indisciplina, as agressões físicas e conflitos nas escolas. Uma experiência na cidade de Baurú, SP.

Já, na manifestação ativa da indisciplina, existe confronto entre pessoas, questionamento das regras e desentendimento com o adulto responsável pelas mesmas, os exemplos mais comuns são discussões com colegas e professores, agressividade verbal e física, chegando ao ponto de interromper a aula.

 

Diferenças da educação brasileira e da educação norte-americana

No meu tempo de educadora brasileira há mais de dez anos atrás, relembro episódios frequentes de indisciplina ativa na minha sala e na sala de meus colegas, vamos dizer, a bagunça, as brigas, os bate-bocas.

No meu trabalho com estudantes nos EUA, não encontrei indisciplina ativa, mas sim passiva. As regras e o sistema norte-americano são tão firmes que os estudantes não expressam sua indisciplina. Sendo assim, também não expressam sua afetividade. Jamais presenciei uma bagunça, um bate-boca ou uma briga em sala de aula.

Isso não quer dizer que indisciplina ativa não exista aqui, mas ela é mais rara porque existem consequências pesadas e imediatas aos que quebram as regras, como expulsão, reprovação e até mesmo constrangimento público. Uma sala de aula em que não há reclamações, uma maravilha, certo?

Na verdade, essa supressão dos sentimentos, falta de afetividade e expressividade gera outros problemas. A preocupação aqui é com atiradores em massa. Estudantes que, ano após ano, reprimiram seus sentimentos, seguiram as regras e de repente explodem e perdem conexão com a realidade, pegam uma arma, matam seus colegas e professores e se matam. Esses episódios são tão frequentes nos EUA que preparação para enfrentar atiradores em massa, faz parte da formação de professores.

Reportagem da TV Band, do Brasil, sobre mudanças recentes na educação dos EUA, realizada em 2015.

Qual a alternativa para a indisciplina então? Nas minhas palestras agrupo os modelos educativos nas seguintes categorias: afetiva e criativa – Brasil, competitiva e eficiente – EUA e educação integral – Europa.

Tanto o modelo brasileiro como o americano apresentam seus prós e contras. Uma educação baseada na afetividade estimula a criatividade e a segurança dos estudantes, mas talvez crie dificuldades para controlar o andamento de certas atividades. Aqui meus colegas freireanos e montessorianos vão se apoiar na idéia que o controle não é necessário, que se deve ter autoridade sem ser autoritário, etc. Essa discussão vou deixar para um outro momento.

Uma educação regrada e competitiva, como nos EUA, contribui para o desenvolvimento do futuro profissional e da sociedade como um todo, mas ignora o desenvolvimento pessoal.

Assim sendo, gera depressão, mata a criatividade e é capaz de gerar traumas profundos. Já, a educação integral seria o modelo que creio ser mais adequado para o sucesso escolar. Na educação integral faz-se o mapa da indisciplina, incluindo diagnóstico, causas e estratégias, bem como trabalhando a disciplina (e não a indisciplina) em si mesma.

Envolver os estudantes na construção, implementação e avaliação das regras de convivência torna-se um dos métodos mais efetivos para reduzir as manifestações de indisciplina.

Alguns professores da rede municipal de Passo Fundo sabiamente já colocam essa idéia em prática desde o primeiro dia de aula. Quando surge algum problema com quebras de regras, uma estratégia seria formar um comitê para decidir ou julgar o caso, esse comitê inclui a participação dos próprios estudantes para decidir o que fazer com o estudante que quebrou a regra.

Quero apresentar algumas estratégias práticas que já utilizei para contornar ou amenizar problemas com disciplina. Tais sugestões seriam evitar as seguintes condutas enquanto educador: parar o grupo sempre que não obtêm êxito; usar termos negativos para respostas ou longas explanações; pensar que o problema é pessoal e os educandos estão contra você; presumir que existe somente um caminho para se chegar ao resultado final e; subestimar a capacidade dos alunos.

 

Como proceder na indisciplina ativa?

Inicialmente avalie a situação mentalmente, depois revise valores e o impacto no grande grupo, mas acima de tudo é importante que essa situação não seja ignorada, ampliada ou que sirva de influência para os demais alunos; escute e perceba as limitações ou potencialidades, seja empático, flexível e converse individualmente com cada integrante do grupo, cuidando para que não se sintam humilhados ou excluídos; organize trabalhos em grupos colocando estudantes com diferentes habilidades para compartilhar as tarefas.

Essas sugestões não eliminarão futuros problemas com indisciplina, portanto focar nas regras de convivência com a participação dos alunos e criar um mapa de indisciplina junto com outros colegas e gestores pode ajudar a prevenir e eliminar as causas da indisciplina ativa.

Acima de tudo, a afetividade da educação brasileira deve ser mantida e fortalecida, sempre que possível, pois educar exige coragem e amor.

Parabéns colegas educadores da rede municipal de Passo Fundo-RS.

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