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Os novos espaços da Jornada de Literatura em Passo Fundo

Além de “Jornalizar” a cidade de Passo Fundo, as Jornadas de Literatura investem em uma nova iniciativa, agora no Complexo do Portal das Linguagens: homenagens a escritores em distintos espaços. Em 2017, Clarice Lispector, Ariano Suassuna, Carlos Drummond de Andrade e Moacyr Scliar serão os autores celebrados.

 

O termo “jornalização” tem ganhado grande dimensão durante os preparativos da 16ª edição da Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo, evento promovido pela Universidade de Passo Fundo (UPF) e pela Prefeitura de Passo Fundo.

Esse conceito, aberto em sua essência pela participação da comunidade, ao fazer da cidade palco de diferentes atividades a diversas plateias, associa-se a outra inovação. O Portal das Linguagens, no Campus I da UPF, o Centro de Eventos e o Complexo de Lonas da Jornada serão “rebatizados” entre os dias 2 e 6 de outubro de 2017.

 

Os autores e seus espaços

Para o professor Miguel Rettenmaier, da coordenação da movimentação cultural, a Jornada tem uma trajetória que, historicamente, une tanto o interesse pelas inovações tecnológicas – pelos novos suportes de leitura, pela renovação das formas de expressão – quanto a preocupação com a tradição e com o legado da arte literária: “Pensar a literatura contemporânea e as inovações estéticas implica saber que tudo o que é novo não deixa de ser releitura”.

Preservar a memória da literatura, representada por seus grandes nomes, é uma forma de dar ao cânone a importância que lhe é devida, ao mesmo tempo ampliando o cânone com autores mais recentes, que têm ingresso garantido na galeria de grandes autores literários brasileiros.

Segundo Fabiane Verardi Burlamaque, também coordenadora da movimentação cultural, “a Jornada tem compromisso com o contexto e com o presente, mas não pode deixar de somar às obras dos autores convidados um vasto horizonte de fontes, os quais garantem a identidade literária de nossa cultura”.

Nesse novo momento das Jornadas Literárias, serão organizados quatro ambientes: Espaço Moacyr Scliar, Espaço Ariano Suassuna, Espaço Carlos Drummond de Andrade e Espaço Lendas Brasileiras, Clarice Lispector.

O Espaço Lendas Brasileiras, Clarice Lispector é uma homenagem à autora, falecida em 1977, ou seja, quatro décadas antes do ano de edição da 16ª Jornada de Literatura de Passo Fundo. É composto por quatro lonas com nomes alusivos às personagens de lendas brasileiras transcritas por Clarice Lispector na obra Como nasceram as estrelas (1987): Tenda Yara, Tenda Malazarte, Tenda do Negrinho do Pastoreio e Tenda do Curupira. Esse espaço está reservado às atividades da 8ª Jornadinha Nacional de Literatura.

O Espaço Drummond será composto por livrarias e setores da imprensa, ambiente de sessões de autógrafos e estandes de patrocinadores, em um complexo que homenageia o poeta falecido em 1987, três décadas antes do ano de edição da Jornada de 2017. A frente do complexo, com acesso aos demais ambientes, será chamada de Passo Itabira (alusão a Passo Fundo e à cidade de nascimento de Drummond).

O Espaço Suassuna, na grande lona, com capacidade para 2 mil pessoas, é uma homenagem a Ariano Suassuna, nascido em 1927 e que, portanto, completaria, no ano da 16ª edição da Jornada Nacional de Literatura, 90 anos de idade. A entrada do circo terá nomenclatura associada à obra do autor, o que também ocorre com o palco, chamado Palco da Compadecida. A ideia de batizar o grande circo com o nome desse autor está diretamente vinculada à memória da Jornada, já que Suassuna recebeu, perante 5 mil pessoas, no Circo da Cultura, em 2005, durante a 11ª Jornada Nacional de Literatura, o título de Doutor Honoris Causa, outorgado pela Universidade de Passo Fundo.

O Espaço Moacyr Scliar, no Centro de Eventos da UPF, é uma homenagem ao escritor que adotou o projeto da Jornada desde seu início e que foi presença constante desde as primeiras edições. A homenagem é alusiva, também, à comemoração, em 2017, pelos seus 80 anos de nascimento. Dessa forma, o ambiente estruturado no Centro de Eventos – onde se realizam as exposições da Jornada e da Jornadinha – será denominado Espaço Moacyr Scliar. A entrada do Centro de Eventos terá nomenclatura associada à obra do autor, bem como o hall de entrada, chamado Hall dos Centauros.

Para a constituição dos espaços, a comissão organizadora solicitou autorização dos herdeiros, sendo prontamente atendida.

Segundo a vice-reitora de Extensão e Assuntos Comunitários, Bernadete Dalmolin, rebatizar esses espaços com nomes consagrados da literatura reforça o novo ciclo que se instaura nas Jornadas Literárias de Passo Fundo, o de pensar um conceito que se expanda e dialogue com diferentes espaços, pessoas e situações dos distintos territórios.

“Com isso, fortalecemos uma pedagogia literária com potência criativa, crítica e estética, reconectando leitores e autores de diferentes idades e épocas, com suas produções e sonhos, trazendo, quiçá, um futuro mais promissor para todos/as!”, finaliza a vice-reitora de Extensão e Assuntos Comunitários, Bernadete Dalmolin.

O conflito contemporâneo no Brasil na Reforma do Ensino Médio: conhecimento ou ignorância?

As disciplinas de filosofia, sociologia e história são importantes na compreensão do ser humano, consciente e conhecedor de si mesmo e, igualmente, inserido em seu contexto social. Com a Reforma do Ensino Médio, serão optativas, correndo risco de não mais serem estudadas.

Quando filosofia e sociologia voltaram ao currículo das escolas de ensino médio, em 2007, escrevi e publiquei artigo com o título: Filosofia e sociologia: bem-vindas. Agora, passados 10 anos, o governo federal aprova uma famigerada e controversa Reforma do Ensino Médio que, dentre outras coisas, preconiza que estudantes façam escolhas do seu currículo para sua formação.

Estabelece-se um dos conflitos mais significativos neste contexto contemporâneo entre o conhecimento e a ignorância. Disciplinas como História, Filosofia, Sociologia, dentre outras, deixarão de ser obrigatórias e de livre escolha dos estudantes, em função do currículo em que optarem estudar.

Transcrevo aqui texto referido. O texto trata de elementos importantes para justificar a presença destas disciplinas no Ensino Médio.

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Filosofia e sociologia: bem-vindas!

“Numa espécie de “revolução silenciosa”, construída através da garra de estudantes, professores e mestres da educação, a filosofia e a sociologia retornam aos nossos currículos escolares, em 2007, em mais de 23 mil escolas de ensino médio em nosso país, através de uma Resolução do Conselho Nacional de Educação.

Bem-vindas! As suas contribuições, para além do esforço de uma formação mais integral e integradora, nos fazem crer que ainda há tempo para sermos menos céticos, mais críticos, mais atentos, mais cidadãos e cidadãs, com mais atitude, mais compreensivos, mais tolerantes, mais humanos e felizes, mais gente.

As disciplinas de filosofia, sociologia e história são importantes ferramentas para auxiliar na compreensão do ser humano, consciente e conhecedor de si mesmo e, igualmente, inserido em seu contexto social.

Temos insistido, em nossa prática cotidiana de sala de aula, na ideia de que pensar bem, como acreditavam os gregos, nos faz viver melhor. Pensar é algo inerente ao ser humano mas, estranhamente, explícita ou de forma silenciosa, muitos professam seu descrédito no pensar.

Desistindo de pensar, abrimos mão de conduzir nossos próprios rumos, uma vez que não pensar significa ser pensado pelos outros. Não se assumir, em pensamentos e ações, é também diminuir-se como ser humano.

Eu e os outros: sempre em relação

Outra percepção em nossos dias atuais é a grande dificuldade de convivência social. Vivemos permanentemente o conflito de nossas diferenças, a tensão de sermos, ao mesmo tempo, indivíduos e sociedade. Neste sentido, a sociologia, para alé de nos ajudar a compreender os fenômenos sociais, poderá nos ajudar a compreender os fenômenos sociais, poderá nos ajudar a constituir e reconhecer novos valores e parâmetros de convivência.

Viver é con-viver, é tolerar, é respeitar, é somar diferenças, é sentir-se parte de uma determinada cultura que se inova e renova constantemente.

Em tempos que somos regidos pela velocidade das informações e do conhecimento, carecemos de habilidades de interpretação e compreensão do mundo. Compreendendo melhor o mundo, ampliam-se nossas oportunidades de nele intervir e com ele colaborar.

O que pode nos mudar são nossas atitudes!

Do conformismo para uma vida social mais ativa, seremos capazes de compreender o alerta de Bertold Brecht: “não diga nunca: isto é natural para que nada passe a ser imutável”.

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Repercussões sobre Reforma do Ensino Médio de 2017

Especialistas e estudiosos da educação levantam uma série de críticas e ponderações sobre a implantação de um novo Ensino Médio no Brasil. Para além da falta de infraestrutura nas escolas para implantar turno integral e aumento de horas aula, a falta de valorização dos educadores, a falta de qualificação dos professores e gestores (não houve tempo e nem interesse do governo federal em discutir a matéria), há também fortes críticas sobre a suposta maturidade dos jovens estudantes na escolha de suas disciplinas preferenciais em função de sua pretendida formação profissional. Veja mais sobre as principais mudanças curriculares com a nova proposta do Ensino Médio no Brasil.

 

Há, contudo, forte crítica que aponta a escola pública de Ensino Médio como escola para os pobres e trabalhadores (sem chances de cursarem faculdade), enquanto as escolas privadas continuariam preparando jovens estudantes de classe média e alta para o ensino superior.

 

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Flávio Tavares, jornalista e escritor trata a Reforma do Ensino Médio 2017 como “banalidade” ou “fatalidade”. “O aluno vai se ocupar sem ocupar a cabeça! O ensino da biologia, História e geografia não será obrigatório e já antevejo a meninada (por ignorar o que não aprenderam) pensando que célula é a da telefonia celular. Ou que Colombo, ao descobrir o Brasil, aqui encontrou Napoleão e, logo, proclamou a República…” Veja mais.

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Márcio Tascheto da Silva, doutor e Educação e coordenador da Divisão de Extensão da Universidade de Passo Fundo classifica como retrocesso a proposta da Reforma do Ensino Médio considerando a gestão democrática (não houveram suficientes discussões com os envolvidos na educação), a divisão entre ensino técnico e o ensino propedêutico e a precarização da formação dos estudantes.

Para Márcio, “a flexibilização do currículo é um nome eufemístico para fazer uma separação muito clara entre uma escola que vai ser voltada mais para os pobres, com ensino profissionalizante e ligado diretamente ao mercado de trabalho – geralmente, em cargos de subemprego e determinados lugares da sociedade subalternos – e o outro ensino, que vai favorecer aos mais privilegiados, que podem ter uma preparação muito maior com relação à entrada em uma universidade”. Veja mais.

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Daniel Cara, coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, classifica a MP como uma volta ao passado, mas no sentido de retrocesso para a educação pública brasileira.

Ele afirma, dentre outras coisas, que “… há um retorno piorado ao que aconteceu na década de 1990. Inclusive porque o Paulo Renato já não era um especialista em educação, era um economista que gostava de educação, mas não entendia muito. O Mendonça Filho, muito aquém disso, é uma pessoa que não entende de nada. Veja mais.

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Por que podemos afirmar que há conflito entre conhecimento e ignorância a partir da Reforma do Ensino Médio 2017 no Brasil?

A maioria dos especialistas da educação, estudiosos, gestores, professores e professoras concordam de que são necessárias mudanças no Ensino Médio no Brasil.

O Ensino Médio, como está hoje, é uma etapa da formação de jovens que nem sempre dialoga com suas perspectivas de futuro e com suas necessidades. Agora, propor uma mudança na educação considerada pelo Ministro da Educação “a mais estrutural das últimas décadas” sem dialogar com os sujeitos que fazem a educação só poderá significar a construção da ignorância.

Por outro lado, construir um currículo em que as disciplinas que dão aos estudantes uma forma mais ampla para que ele possa entender o mundo para identificar como poderá interferir nele (História, Filosofia, Sociologia, Geografia) passam a ser optativas significa projetar uma educação cuja função principal será a “alienação” dos sujeitos aprendentes.

Muito antes de escolher sua profissão, o jovem estudante deveria ter o direito de conhecer o mundo do trabalho e as oportunidades profissionais que o mesmo poderá buscar para si. Deveria, também, ter o direito de direcionar os seus estudos a partir de suas habilidades e necessidades, sem abrir mão dos conhecimentos universais e fundantes da nossa civilização.

Não podemos abrir mão dos conteúdos básicos da formação da cidadania em troca de uma formação profissional incipiente, incompleta e enganadora, como será o Novo Ensino Médio no Brasil. Como afirma Flávio Tavares, “expedir certificados de conclusão de curso ou diplomas não é educar, mas mistificar, transformando o ensino em supermercado e enganando a sociedade”.

A consciência disforme

A sociedade perdeu a consciência do pecado,
porque perdeu a noção da verdadeira felicidade e liberdade,
o anseio de realização mais profunda.

 

Toda espécie humana reconhece que é mal praticar o adultério, a prostituição, o homicídio, o roubo ou coisa semelhante. Há implantado no coração humano um preceito natural de bem viver, para praticar o que nos realiza e constrói e evitar aquilo que nos escraviza e prejudica. A pessoa de boa vontade sabe escolher no interior de sua consciência o que edifica, rejeitando o que lhe desumaniza.

[quote_box_left]Viver sem pensar na morte leva a vida a um caos, um abismo sem volta, um mar de atitudes desconexas. Minha consciência que decide tudo. O pecado é invenção e privação de minha liberdade pessoal. Tudo posso. Tudo será questão de gosto, de sensação momentânea, epidérmica, deixando “a vida me levar; vida leva eu. [/quote_box_left]

O pecado destrói a natureza toda e atinge simultaneamente o ser humano nas profundezas de seu ser. Atinge também as ligações que unem aos outros, bem como ao conjunto da criação. Não é apenas um descumprimento de uma regra, uma norma, uma lei, um pequeno desvio e descompasso de uma rota ou conduta. O pecado não é simplesmente uma ofensa ao Criador, uma agressão ao seu amor, mas uma destruição de quem o pratica, a perda do ideal humano colocado no íntimo do seu ser.

A sociedade perdeu a consciência do pecado, porque perdeu a noção da verdadeira felicidade e liberdade, o anseio de realização mais profunda. Perdemos genuinamente, em nossos dias, os critérios filosóficos e teologais do bem, do bom, do belo e do verdadeiro. Por não ouvir nosso interior, distanciamo-nos de tudo o que é “verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, honroso, tudo o que é virtude e digno de louvor” (Fl 4, 8-9). Não escutamos a voz de nossa natureza mais íntima. A campainha interior não toca mais.

[quote_box_left]O pecador é um suicida, se auto destrói, se despersonaliza, ficando disforme e diminuído.[/quote_box_left]

Criados para a esperança, caminhamos para a morte ôntica, onde o mal é camuflado de bem, o imoral de perfeitamente natural, o impróprio de totalmente admissível. O único que pode saciar a sede mais profunda do ser humano é o próprio Deus. Deus não está morto, mesmo que o queiramos matar de novo. Só nele encontraremos alguma esperança para reconstruir o ser humano desfacelado, desalmado. Só Ele para devolver ao homem sua essência mais genuína.

No aniversário do AI-5 o presente é a PEC 55

Os grandes articuladores dessa retirada de direitos
através da PEC 55 são suspeitos, réus ou condenados
dos maiores esquemas de corrupção do país.

 

Sabe, um dos meus últimos planos em 2016 era escrever sobre gratidão. Comentar o quanto esquecemos de agradecer pelas coisas boas que a vida nos dá. E 2016, apesar de ser um ano pesado, teve sim muitas coisas boas. Porém, quando sentei em frente ao computador para começar a escrever, meu aviso de notícias mostrou que a PEC 55 foi aprovada. Era o dia que, há 48 anos, meu tio-avô me fazia passar uma das maiores vergonhas que poderia: implementou o AI-5.

Para quem não sabe, o AI-5 foi um Ato Institucional que vigorou até dezembro de 1978 e produziu um elenco de ações arbitrárias e efeitos que perduram até hoje, além de definir o momento mais duro do regime militar.

[quote_box_left]Para maiores informações, assista reportagem especial do Jornal da Cultura, da TV Cultura.[/quote_box_left]

O AI5 deu poder de exceção aos governantes para que punissem arbitrariamente aqueles que fossem inimigos do regime ou como tal considerados. Não bastasse, o AI-5 permitiu que o habeas corpus perdesse a sua aplicação legal. Autoridades militares podiam prender e coagir os cidadãos. Logo após a publicação do documento, vários jornalistas e políticos foram lançados na cadeia.

O presidente Costa e Silva se dirigiu à nação declarando que tal ato fora necessário para que a corrupção e a subversão fossem combatidas, e a democracia resguardada. Parece até o discurso feito para defender a PEC 55 (antiga 241) que teve até o nome modificado para “amenizar” o resultado.

O Senado aprovou no início de dezembro, por 53 votos a 16, a PEC 55, proposta de emenda constitucional que congela por até 20 anos os gastos públicos, que só serão reajustados pela inflação do ano anterior. Na comparação do que o dinheiro é capaz de comprar em determinado momento, ou seja, na prática, fica praticamente congelado. Essa é a maior mudança em matéria fiscal desde a Constituição de 88.

Conforme os críticos desse projeto uma das principais falhas é que essa PEC seguraria um pouco mais de 50% do orçamento. O restante ficaria fora dos limites impostos. Afirmam ainda que, quando posto em prática, o texto determina redução de investimento em áreas como saúde, assistência social e educação, para as quais existem regras constitucionais. Além disso, especialistas explicam que se a economia crescer e o teto seguir corrigido apenas de acordo com a inflação, o investido nestas áreas vai ser menor em termos de porcentagem do PIB (toda a riqueza produzida pelo país).

[quote_box_left]A educação é a primeira a sofrer cortes, pois pessoas educadas e pensantes incomodam governos que governam somente para os figurões.[/quote_box_left]

Vale lembrar que a classe trabalhadora já sofre com uma rede de saúde precária e com uma educação que se tem muitos pontos a melhorar. Os grandes articuladores dessa retirada de direitos são suspeitos, réus ou condenados dos maiores esquemas de corrupção do país. São pessoas que tem como única preocupação a criação e promoção de melhores leis para empreiteiras, bancos e outros monopólios, além de leis que beneficiem a si próprios, de maneira que possam enriquecer às custas do sofrimento dos trabalhadores.

“Titio” agia assim em 1968 e o Temer está fazendo assim. Sejamos pensantes e lutemos por um 2017 diferente, pois o ano que vem vai ser duro. Mas ok, a gente aguenta.

Até porque, meus amigos, nada deve parecer impossível de mudar, assim já anunciava o poeta e dramaturgo alemão Bertold Brecht:

Gente foge e faz rebelião por quê? Responsabilidade de quem?

penitenciaria fuga rebeliao

As casas prisionais deste país são um verdadeiro
depósito de seres humanos e a sociedade brasileira
parece não se importar com esta situação desumana.
Esperar o que então?

 

Até pouco tempo atrás, alarmantes e preconceituosas reportagens eram dirigidas contra os apenados que tentavam fugir das penitenciárias gaúchas e brasileiras. Com o advento das rebeliões nas penitenciárias, aumentaram as discussões distorcidas sobre as motivações daqueles que resolvem fugir ou se rebelar.

Um entendimento mais amplo da situação prisional brasileira implica reconhecer que o Estado se ausentou de sua função de “guardião da dignidade humana”. As casas prisionais são descuidadas, abarrotadas de gente, sem condições de oferecer trabalho (mesmo para apenados que desejariam fazê-lo voluntariamente), a segurança e as regras de convivência estão nas mãos dos próprios presos, não há mais possibilidade de controlar as drogas e a venda das mesmas nos presídios.

Vejam: estamos falando de uma situação extremamente delicada e complexa, conhecida e debatida por todos nós. O preconceito e discriminação para com os presos que fogem ou se rebelam são impressionantes e descabidos! A fuga e rebelião, neste contexto, é o que poderíamos esperar quando tratamos de seres humanos, pessoas maltratadas e mal acomodadas, sem culpa por isso.

[quote_box_left]Fugir é destino e meta comum de seres humanos quando as condições de vida e dignidade atentam contra a própria existência. Aliás, o que mais temos é gente que foge da violência, da opressão, do descaso, do abandono, do desamor.[/quote_box_left]

Fico imaginando se a fuga não é condição substantiva para preservarmos nossa condição de humanidade. As diferentes prisões brasileiras não fazem bem a ninguém, pois não foram concebidas para a ressocialização e humanização. As casas prisionais deste país são um verdadeiro depósito de humanos e a sociedade brasileira parece não se importar com esta situação desumana.

 

Segurança Pública e presidiária: responsabilidade do Estado

Os presos têm responsabilidade por seus crimes, mas não são responsáveis pelos crimes que o Estado e a sociedade cometem contra eles. A maioria de nós, no entanto, tende a buscar respostas na simplificação.  A maioria prefere não abordar as raízes dos problemas.

Socióloga e especialista avalia a complexidade da realidade carcerária no Brasil envolvendo temas como demora nas decisões do judiciário, muitos presos provisórios, legislação, dentre outros. Avalia, sobretudo, que o sistema penitenciário brasileiro funciona como um funil: muitos presos entram e poucos presos saem. Veja mais aqui.

É sempre mais fácil “culpar as vítimas” ao invés de perguntar as razões pelo sofrimento e desespero pelos quais estas agem. Ao invés de cobrarmos que o Estado, o guardião dos presos, dê condições de vida, proteção e ressocialização dos presos, preferimos condenar aqueles que, através da fuga e rebelião, exercem seus direitos sobreviventes. Ao invés de cobrar medidas que dificultem as fugas e mantenham maior vigilância sobre as ações dos presos, preferimos elegê-los como nossos mais nobres algozes.

[quote_box_left]A simplificação dos pensamentos faz com que esqueçamos que eles (os presos) fazem parte de uma sociedade violenta, autoritária, injusta, corrupta e perversa.[/quote_box_left]

Preferimos nos apartar, como “pessoas de bem”, imaginando que maldade é exclusividade deles, os presos e “marginais”, como os chamamos. Esta ingênua ignorância nos leva, sem querer, à mesma condição de vítimas: vítimas de nossos próprios pensamentos e incompreensões. Vítimas dos próprios presos que condenamos, infinitamente. Vítimas do mundo e submundo do roubo, da ganância, do poder e do medo que permitimos reinem em todas as nossas prisões. Vítimas dos presos que condenamos, infinitamente.

 

Reações do governo federal aos massacres nas prisões brasileiras

É tradição no Brasil reagir nas questões carcerárias apenas quando se instala uma grave crise. Organizações Internacionais de direitos humanos já vem apontando há bom tempo o descaso do Estado Brasileiro nos presídios brasileiros, a permissividade e a violação dos direitos contra os presos, bem como a vulnerabilidade dos agentes e das polícias. Como de praxe, o governo federal lançou mais um Plano Nacional de Segurança Pública depois dos massacres amplamente divulgados pela mídia nacional.

Em reportagem Especial “As mazelas do sistema penitenciário brasileiro”, Revista Veja edição 2512, 11 de janeiro de 2017, páginas 62 e 63, em texto assinado por Daniel Pereira e Thiago Bronzatto, revela que:

[quote_box_center]“o governo federal sabia, com precisão, do risco de a guerra entre facções estourar dentro dos presídios. A área de inteligência do governo mapeou o problema no ano passado e alertou para o risco de a violência explodir.” [/quote_box_center]

Na opinião da pesquisadora Maria Laura Canineu, diretora do escritório brasileiro da Humans Right Watch,

[quote_box_center]“o grande furo do Plano Nacional de Segurança Pública é a falta de comprometimento em relação à ressocialização. Dados do Ministério da Justiça de 2014 já mostravam que somente 10% dos presos tinham acesso a alguma atividade educacional e apenas 16% a alguma atividade laboral”.  [/quote_box_center]

A pesquisadora, em entrevista ao Zero Hora aborda, com muita consistência e propriedade, a situação dos direitos humanos no Brasil. Certamente, alguém perguntará sobre a influência dos grupos criminosos que dizem estar no embate mais recente dentro dos presídios, recrutando uns e aniquilando com os outros. Sobre este tema, não tenho nem autoridade e nem estudos para emitir opinião. Por isso mesmo, deixo este capítulo para os especialistas e para as autoridades da segurança pública deste país.

[quote_box_left]Conheça gráficos produzidos pelo G1 que apontam os desafios do sistema penitenciário brasileiro: número de vagas, superlotação, presos provisórios e números por cada estado brasileiro. [/quote_box_left]

Marcos Rolin, especialista em segurança pública e estudioso dos direitos humanos afirma que “os presídios viraram empresas que agenciam os interesses das facções”. Diz ainda que “não é verdade que os presos fazem o que querem nas prisões, mas é, cada vez mais verdade, que a maioria dos presos não tem escolha a não ser fazer o que as facções querem que ele faça”. A entrevista completa você pode conferir aqui.

 

Em que mundo e ser humano acreditamos?

O maior trabalho que podemos empenhar pelo mundo é pela humanização de todos. Faz parte lutar por condições que não exijam, de ninguém, a fuga e a rebeldia para não sucumbir à própria humanidade.

[quote_box_left]Todos precisam de oportunidades para se humanizar, porque o castigo injusto e sem sentido só alimenta a revolta e a própria desumanização.[/quote_box_left]

Antes que acusem que defendo apenados ou presos na condição de anjos, digo-lhes: são gente igual a gente, que perdeu o maior bem da humanidade: a liberdade. Se já perderam a liberdade (esperamos que todos por razões justas), façamos de tudo para que não percam também a sua humanidade. Esta tarefa é de toda a sociedade, mas quem deve executá-la é o Estado.

A liberdade deve ser o nosso maior horizonte! Pensar a liberdade é um trabalho corajoso, necessário e permanente. Fora da liberdade, o mundo e a humanidade serão a própria barbárie. Não nos faltam referências para a defesa da liberdade como condição indispensável para a realização humana: Sócrates, Jesus Cristo, Mahatma Gandhi, Martin Luther King e Nelson Mandela.

Um ato subversivo

Nos despedimos de 2016 com a última entrevista da Série “Profissões Educadoras” falando sobre direitos, quebra de paradigmas, lutas, conquistas e garantias. Nossa entrevistada, que no nome traz flor, na vida se destaca pela luta em defesa dos direitos sociais: a advogada Maria Sirlei Flor Vieira, pós-graduada em Direito do Trabalho e em Processo do Trabalho. Ela advoga e labuta com movimentos sociais há mais de 30 anos. Maria Sirlei lutou pelo direito das pessoas, numa época em que defender direitos era considerado um ato subversivo, quebrando paradigmas, fundou a Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo (CDHPF). Acompanhe a entrevista e até 2017!

Márcia Machado: O que lhe levou a trabalhar com movimentos sociais?

maria-sirlei-2Maria Sirlei: Durante a faculdade eu participava de movimentos de juventude como Pastoral da Juventude e de Emaús (Movimento de Comunidades Missionárias para jovens da Igreja Católica).  Ajudei a criar a Pastoral da Juventude, justamente numa época de transição política, onde estava terminando a ditadura militar.  Durante este período, os movimentos sociais eram proibidos, eles só ocorriam escondidos, na clandestinidade.

Os movimentos de jovens ligados à Igreja Católica eram muito fortes.  No fim da ditadura, início da abertura política, foi que começamos a criar os movimentos sociais e foi criada a Pastoral da Juventude, havia a pastoral dos jovens trabalhadores rurais e outra dos jovens trabalhadores urbanos, foi quando nós iniciamos a criação do movimento estudantil, através de uma pastoral nesse meio.

Com a minha formatura em Direito, passamos a buscar a criação da Comissão de Direitos Humanos. Criamos a Comissão em Passo Fundo, em 1985, com movimento das “Diretas Já”, e outros movimentos de denúncia e irregularidades, tudo era feito na clandestinidade, não havia Internet, na época era tudo camuflado. A CDHPF em Passo Fundo e no Brasil, tinha a função de denunciar as disparidades e os abusos de poder, abuso contra as pessoas. Foi então, que a gente começou um trabalho de divulgação dos direitos humanos.

Márcia Machado: Em Passo Fundo a senhora foi a primeira presidente da CDHPF?

Maria Sirlei: Sim, apesar de termos passado em torno de dois anos atuando sem estar legalizados, entramos em uma rede que havia em todo o Brasil, e começamos a participar de encontros estaduais e nacionais, e, então, criamos legalmente a Comissão. No início começamos junto à Igreja Católica, depois foi desmembrada e passou a ser autônoma como é até hoje.

Márcia Machado: Como foi essa experiência, saindo de uma ditadura, se envolver com um movimento de luta social?

Maria Sirlei: Pelo medo da ditadura a gente não tinha muito noção do que eram esses direitos, foi com a abertura política, através dos movimentos ligados à igreja que a gente começou a descobrir que existia uma ditadura e que existiam direitos. Foi então que começamos a divulgar esses direitos, através dos movimentos.

“Desde essa época, vem um preconceito contra a CDHPF, porque ela surgiu na clandestinidade, durante a ditadura, para proteger os presos políticos, então ficou caracterizada como defensora de bandidos, o que era divulgado pela ditadura para descaracterizar o movimento”.

O que não é verdade.  Os presos políticos não são bandidos, mas sim, pessoas que defendiam ideias. No transcorrer dos anos, nós conseguimos manter a CDHPF em Passo Fundo. Com a democracia ela perdeu essa característica de defesa de presos políticos, para tratar dos direitos universais das pessoas. Começamos divulgar os direitos das pessoas nas escolas e sofremos muitos processos, tivemos casos de professoras que foram processadas por distribuir informativos sobre o tema, a argumentação é tinham tendência ao comunismo e não poderiam estar divulgando o material. A Comissão intervinha fazendo a defesa desses casos.

Qualquer pessoa que escrevesse sobre direitos das pessoas era considerada subversivo, e nessa época já havia abertura política.  Isso só mudou a partir da nova Constituição em 1988 com a garantia de direitos. Hoje, a Comissão é mais educativa e menos de luta.

“Qualquer pessoa que escrevesse sobre direitos das pessoas era considerada subversivo, e nessa época já havia abertura política”.

Márcia Machado: Quais as conquistas da CDHPF?

Maria Sirlei: Na época, a CDHPF tinha uma atitude mais combativa, necessária naquele momento, hoje, ela está mais silenciosa, com uma participação mais educativa. Foi através de todos os movimentos de direitos humanos que veio à tona todas as barbáries da ditadura. Se não fossem os movimentos, talvez nós nem tivéssemos a democracia que temos hoje. Mas eu acho que agora começa um novo trabalho da CDH para combater essa “corrente”, não sei de que ordem ela é, mas que busca uma volta da ditadura militar e isso é muito perigoso.

“Eu acho que agora a atuação da Comissão é conscientizar as pessoas que não se pode ser radical a ponto de se terminar com uma democracia, trazendo de novo uma ditadura”.

Hoje não cabem mais ditadores, pois levaria a uma guerra civil. Cabe a CDHPF e, acho que será uma luta dela, esclarecer à população sobre essa diferença entre democracia e ditadura. Se a democracia não está sendo boa para as pessoas, a ditadura é pior, porque na ditadura ninguém tem direitos garantidos. É preciso que as pessoas façam valer os direitos conquistados pela Constituição de 1988, luta dos movimentos sociais que ficaram na clandestinidade por mais de 20 anos.

Márcia Machado: Na atual conjuntura política e econômica do país, me parece que os movimentos sociais que outrora tomaram as ruas, hoje estão retraídos. Como a senhora analisa esse momento?

Maria Sirlei: Compartilho da mesma ideia, parece que eles sumiram.  Onde estão os movimentos sociais? Eu acho que agora é a hora de revivê-los novamente, de nova organização, pois estão começando a mexer nos nossos direitos e no momento em que mexem nos direitos dos trabalhadores é momento de reorganizar sindicatos e associações e retomar a luta, do contrário, corremos o risco de estarmos vivendo um retrocesso de direitos, e, provavelmente entraremos numa ditadura moderna, ou, outra forma de ditadura, talvez mais cruel.

“ […] estão começando a mexer nos nossos direitos e no momento em que mexem nos direitos dos trabalhadores é  momento de reorganizar sindicatos e associações e retomar a luta…”

Márcia Machado: Como a tua profissão pode ser educadora?

Maria Sirlei: Estamos vivendo uma revolução no Direito e se não modernizarmos a nossa profissão e não levarmos informação as pessoas, corremos o risco de sermos afastados da sociedade.

Márcia Machado: As pessoas estão muito individualistas hoje, mas pela sua fala, o que se percebe é que deve haver um movimento contrário na busca de direitos em grupo?

Maria Sirlei: Com a democracia as pessoas tiveram uma falsa ilusão de que os direitos estavam garantidos e aí as pessoas se individualizaram, cada um buscando o seu direito. Hoje, o sentimento que se tem é que precisamos voltar a nos unir, através das nossas redes sociais mesmo, organizando grupos por afinidades para discutir a garantia de direitos.

Márcia Machado: A grande discussão hoje é a efetivação de direitos e a humanização do sujeito. Como avalia essa questão?

Maria Sirlei: O grande desafio hoje é as pessoas voltarem a lutar por categorias ou associações porque é nesse sentido que estão perdendo seus direitos. Elas (as pessoas) só vão perceber que precisam das outras pessoas, quando se sentirem sozinhas e começarem a perder seus direitos. Nós advogados, se não nos acordarmos e lutarmos pelos direitos dos advogados como trabalhadores da justiça,  corremos riscos de sermos excluídos da sociedade, porque de repente a sociedade pode entender que não precisa de trabalhos jurídicos, porém, a justiça só existe se tiver um advogado para fazer a defesa das pessoas ou dos grupos.

“Elas (as pessoas) só vão perceber que precisam das outras pessoas, quando se sentirem sozinhas e começarem a perder seus direitos”.

Márcia Machado: Quais os desafios da sua profissão?

Maria Sirlei: A nossa profissão de advogado é muito individualista, o maior problema é a individualização. Eu me preocupo com o meu problema e não com o do meu colega, nós não lutamos por direitos iguais dentro da nossa profissão. Existem grupos de advogados ligados a movimentos sociais, mas não grupos que defendam os trabalhadores da justiça, que defendam melhores condições de trabalho. Existe uma Ordem de Advogados (OAB), mas não uma associação de advogados.

Márcia Machado: Na atual conjuntura política como a senhora avalia essa crise envolvendo os poderes?

Maria Sirlei: È um grande problema que nós temos no país, aliado a falta de ética, não só dos políticos, mas do povo brasileiro.

“As pessoas criticam os políticos, o legislativo, o executivo, o judiciário, mas a própria sociedade tem como cultura a corrupção. Ainda se valoriza muito o corrupto e a ética é uma exceção”.

Temos que mudar isso, é uma questão de educação, se nós não educarmos nossos filhos, nosso alunos, as crianças e adolescentes para a  honestidade como algo normal e natural,  nós não vamos mudar o país. Na situação que está muda de “A” para “B” e a corrupção vai continuar porque o sistema está corrompido. Nesses 30 anos de democracia deveríamos ter investido mais em educação para fazer mudança na cultura, na mentalidade e na vida  das pessoas, o que não aconteceu. Esta crise é justamente para pensarmos para onde vai o país, para onde vai a sociedade.

“Se nós não educarmos nossos filhos, nossos alunos, as crianças e adolescentes para a  honestidade como algo normal e natural,  nós não vamos mudar o país”

Márcia Machado: A senhora acredita que essa mudança ética, a qual se refere, passa pela educação?

Maria Sirlei: Com certeza, porque não tem outro jeito, se nós não mudarmos nossa mentalidade, e voltarmos para uma nova ética, estaremos correndo o risco de mantermos esta sociedade como ela está. É preciso que as pessoas mudem e queiram tal mudança em todas as esferas. E isso passa pela educação.

Márcia Machado: Uma frase para definir a missão de sua profissão na sociedade.

Maria Sirlei: Nós somos os buscadores da justiça, os buscadores do direito.  Sem advogados, não existe justiça!

Educação em Direitos Humanos: aprendendo juntos a construir processos

capa_educacao_ifibe_capa1“Educação em Direitos Humanos: aprendendo juntos a construir processos” é uma obra coletiva que apresenta posicionamentos e subsídios para refletir e debater sobre educação em direitos humanos.

É fruto da construção coletiva e da elaboração individual. Uma e outra se expressam em textos autorais escritos individualmente por cada integrante do Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Educação em Direitos Humanos (GEPEDH) e também por um texto escrito pelos integrantes do Grupo que registra uma leitura da trajetória realizada nos dez anos de atuação.

Entrevista com integrantes do GEPEDH em programa do CMP Sindicato de Passo Fundo, RS

A principal pretensão da obra é colaborar com a construção de práticas de educação em direitos humanos nos vários ambientes educacionais.

A conjuntura geral e de direitos humanos é de retrocesso, põe-se numa posição que afirma a importância e a necessidade de seguirmos acreditando em novas possibilidades que somente se tornarão realidade se houver o engajamento organizado para sua efetivação.

Por isso, se soma às vozes que seguem acreditando que a educação em direitos humanos faz sentido como insumo à luta pelo respeito à dignidade e pela efetivação dos direitos humanos para TODOS e TODAS.

Vídeo que aborda Educação e Direitos Humanos

O Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Educação em Direitos Humanos (GEPEDH), de quem o livro é o registro celebrativo de dez anos, é uma iniciativa interinstitucional da Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo (CDHPF), do Instituto Superior de Filosofia Berthier (IFIBE) e da Faculdade de Educação da Universidade de Passo Fundo (FAED/UPF).

Participam pesquisadores/as e educadores/as com atuação em diversos ambientes educacionais nos quais desenvolvem práticas de estudo e pesquisa sobre educação em direitos humanos. Foi criado em 2006 e atua ininterruptamente neste tema com atividades locais, estaduais e nacionais. Conheça as produções do Grupo, especialmente o livro Textos referenciais para a educação em direitos humanos.
Segundo Solon Eduardo Annes Viola, professor da Unisinos e grande incentivador do GEPEDH, que é o autor do Prefácio do Livro, diz que, “Educação em Direitos Humanos. Aprendendo juntos a construir processos disponibiliza mais uma contribuição relevante, tanto na descrição dos fazeres do Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Educação em Direitos Humanos, como no pensar a prática educativa e a inserção social dos direitos humanos.

Vídeo que aborda Direitos Humanos nas escolas brasileiras

Sua importância se torna ainda mais significativa nos tempos em que vivemos. Tempos que exigem de educadores e militantes dedicados um compromisso intenso com a defesa da democracia como um processo permanente. Compromisso que se transforma em ação socialmente realizada em relação rigorosa e respeitosa com os outros na busca de que todos se transformarem em sujeitos de si e da sociedade na qual vivem. Por estas razões este livro é significativa contribuição ao tema dos direitos humanos e da educação em direitos humanos e, por certo, irá colaborar na abertura de novos campos do conhecimento, trará novas questões e contribuirá decisivamente para aperfeiçoar nossa democracia, tão frágil e necessitada de cuidados que só a sociedade em movimento poderá prestar”.

Interessados/as podem adquiri-lo em www.ifibe.edu.br/editora

Um grande discurso, numa grande formatura de adolescentes, numa escola de ensino fundamental

Formaturas de adolescentes do ensino fundamental são oportunidades para revelar saberes que humanizam a vida de estudantes e professores e anunciar o protagonismo que poderá mudar a vida dos mesmos.

Prezada diretora. Prezados docentes, discentes, familiares, amigos, e meus amados e inesquecíveis afilhados.

Há coisas na vida que não se repetem. São sempre como se fora a primeira vez. Ser paraninfo de uma turma como a de vocês é uma delas. A alegria profunda que senti quando fui convidado é um momento único. Gostaria de dizer a vocês nesta hora algumas coisas que talvez possam ajudá-los a viver uma vida boa, uma vida de sonhos, uma vida feliz.

Uma das grandes, senão a maior característica da juventude, é a curiosidade intelectual que impulsiona vocês a descobrirem-se a si mesmos e ao mundo à sua volta.

Nesta etapa da vida estudantil, devem-se observar as profissões mais promissoras, mas, para que sua escolha seja definitiva, a orientação de todos nós, os chatos… pais, mestres e direção é preponderante, embora todos devamos ter a compreensão necessária e a paciência madura de também ouvi-los em seus anseios e sonhos…

Se há uma coisa legal da idade de vocês é o sonhar.

Se há uma coisa que gosto em mim é sempre me perguntar “o que vou ser quando crescer?” Nunca deixem de fazer isso, de pensar no futuro, de sonhar.

Eu e meus colegas aqui presentes, passamos com vocês bom período de trabalho e de vida. Foram anos seguidos, ou seja, quase um terço da vida de vocês, bastante tempo.

Quero aproveitar e dizer, então, que assim como o marceneiro pisa em cima de serragens e o vidraceiro trabalha com pedaços de vidro, o educador mexe com as almas. É assim que eu e todos os outros professores desta escola sempre enxergamos vocês. Nunca como um número ou como um dado estatístico, mas sim como uma alma a quem se deve tratar com respeito, mostrando um caminho para que vocês possam fazer as escolhas certas, pois viver corretamente implica em ter atitudes consequentes no que se refere ao individual, ao familiar, ao comunitário e ao universo.

Quatro anos juntos me permitem dizer hoje que conheço um pouco de cada um de vocês; alguns com mais propriedade.

Há entre vocês alguns menos curiosos pelo conhecimento. Outros, muito curiosos por novos e constantes desafios diante dos quais nos esforçamos sempre para colocá-los em todas as áreas do conhecimento.

Levo comigo muitas lembranças de trabalho, de contos, de piadas, de alguns momentos alegres e algumas broncas, pero no muchas. Tenho certeza que todos deixam no Ensino Fundamental uma marca.

Algumas, verdadeiras pegadas, porém, todos uma grande lembrança. Acima de tudo, tenho a certeza que a chama do amor e amizade tocou cada alma aqui presente. Alguns de vocês ainda não perceberam isso ao certo, mas sei que um dia perceberão que ela arde dentro de seus corações.

Queridos afilhados, vocês acabaram uma importante etapa da vida escolar e novos caminhos virão pela frente. Mas lembrem-se do seguinte: vocês deverão zelar pelo bom nome de cada um de vocês e ter a coragem de assumir novos desafios.

Trilhem por seus próprios caminhos, almejem o topo e arrisquem, acreditem e invistam nos seus sonhos e nunca deixem de ser felizes.

“Sonhos não foram feitos apenas para serem sonhados, mas para serem vividos e também realizados.”
(Marcella Nicolini Furtado)

“Se lutarmos todos os dias para realizar nossos sonhos, não sobrará tempo para pensar em derrota.”
(Paola Rhoden)

A história do fazendeiro, do capataz e do cavalo machucado

Conta-se que um fazendeiro, que lutava com muita dificuldade, possuía alguns cavalos em sua fazenda.

Um dia, o capataz lhe trouxe a notícia de que um de seus cavalos havia caído em um poço muito fundo e seria difícil tirar o animal de lá. Avaliando a situação o fazendeiro chamou o capataz e ordenou que sacrificasse o animal soterrando-o ali mesmo. O capataz e seus auxiliares começaram a jogar terra, no entanto, a medida que a terra caía sobre seu dorso, o cavalo se sacudia e a derrubava no chão e pisava sobre ela.

Logo, os  homens perceberam que o animal não se deixava soterrar, mas, ao contrário, estava subindo à medida que a terra caía, até que, finalmente conseguiu sair. Está terra pode ser uma crítica para você, não despreze, então quanto mais terra jogarem em você lembre-se que estão fazendo você subir.

Olhem para seu futuro

Sonho e desejo a cada um de vocês o maior sucesso no Ensino Médio mas, em especial, na vida. Que sejam mulheres e homens valorosos e bondosos para que seus pais, de sangue e de afeto aqui presentes, e todos a sua volta, possam ficar sempre orgulhosos pela contribuição que cada um de vocês fará, com certeza, no lugar onde se encontrar. Uma carreira de sucesso é feita de sucessivos recomeços. Vocês não estão terminando, vocês vão recomeçar.

Meus queridos afilhados: não se esqueçam de serem felizes. Lembrem-se que a felicidade tem mais a ver com atitudes do que com circunstâncias. Voem alto, mergulhem fundo, encontrem o próprio caminho.

Não tenham medo de tentar, de recomeçar, de insistir. O maior naufrágio é não partir.

Um grande navegador disse: eu me despeço de vocês. Vão em paz. Sejam bons, justos, afetuosos e tolerantes. Com gentileza e bom humor. O mundo os acolherá.

Como sempre disse, bom final de semana e levem junto o juízo.

Muito obrigado e, novamente, o maior sucesso para vocês!”

 

Altenor Mezzavila, professor de língua portuguesa da rede municipal de Passo Fundo.

Projeto Valendo Nota: Musicalidade na Universidade

O projeto “Valendo Nota! Musicalidade na Universidade” nasceu de uma parceria entre a Universidade, por meio da Vice-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (VREAC), e a Patrulha Escolar do Núcleo de Policiamento Comunitário da Brigada Militar. Suas atividades foram marcadas pela promoção de oficinas de dança, judô, capoeira e slackline, além de atividades de arremesso ao alvo, puxa corda, brincadeiras antigas, entre outras. As ações foram desenvolvidas com o apoio do projeto de extensão Polo Regional de Desenvolvimento de Esporte e Lazer da Faculdade de Educação Física e Fisioterapia (Feff). Ao longo do segundo semestre de 2016, quatro encontros foram marcados pela realização de oficinas de música e pela apresentação dos grupos artísticos Big Band Comunitária, Grupo de Choro e Grupo de Percussão, projetos de natureza extensionista da Universidade de Passo Fundo.

valendo_nota_upf_02O projeto Valendo Nota foi instigado pelo Núcleo de Policiamento Comunitário, que mantém parceria há algum tempo com a Universidade, e tem como objetivo promover uma cultura de paz nas escolas. As atividades tiveram como elemento norteador a ludicidade e garantiram momentos de lazer e recreação. A intenção foi tornar as tardes prazerosas e mostrar para os alunos participantes que a UPF é um espaço comunitário, onde é possível usufruir, por meio dos projetos de extensão, do conhecimento construído academicamente.

Nos encontros, que tiveram um público acumulado estimado de 300 crianças, os alunos foram recepcionados por palhaços, que fizeram os pequenos dançar e cantar, em momentos de recreação. Os alunos percorreram um trajeto organizado pelo Polo “UPF Caminho da Alegria”, com obstáculos geométricos, e participaram de uma série de oficinas, no Centro de Eventos, no Portal das Linguagens e na área externa.

valendo_nota_upf_01O projeto Valendo Nota foi instigado pelo Núcleo de Policiamento Comunitário, que mantém parceria há algum tempo com a Universidade, e tem como objetivo promover uma cultura de paz nas escolas. Nesse sentido, a UPF tem como propósito proporcionar a essas crianças um universo diferente e alternativas de não violência. A estudante Emanuelle de Lazari, 10 anos, aluna do quarto ano da Escola Benoni Rosado, informou que se divertiu muito durante o evento. “Achei todas as atividades legais, mas a que mais gostei foi o judô. Aprendemos muitas coisas sobre esse esporte. Nos divertimos bastante. Pra mim, essa tarde significou muita alegria”, revela.

O encerramento do projeto ocorreu juntamente com a formatura do Proerd da Brigada Militar, no dia 2 de dezembro. O coordenador do Núcleo de Policiamento Comunitário de Passo Fundo, Tenente Daisson de Andrade da Silva, enfatiza que “essa atividade foi um momento de promover uma tarde de entretenimento para os alunos. O único requisito para participar foi o bom comportamento. Realizamos, durante todo o ano, um trabalho de prevenção contra a violência, por meio de palestras e atividades de integração na escola. Queremos que essas crianças cultivem a paz”, pontua.

Coro e Orquestra Infanto-juvenil da UPF

A Vice-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da Universidade de Passo Fundo, por meio da Divisão de Assuntos Comunitários, tem sob seus cuidados o Projeto Coro e Orquestra Infanto-Juvenil.

A formação dos grupos trouxe como objetivos capacitar crianças para a música através de aulas de musicalização, técnica vocal, prática de canto coral e prática instrumental com repertório eclético, no qual são abordados temáticas lúdicas até temáticas reflexivas, além de dificuldades musicais que visam a evolução técnica e cultural dos integrantes do grupo.

Cantar e tocar em grupo, subjacente aos aspectos musicais mencionados, está o trabalho em equipe no qual as pessoas são inseridas em um processo que busca o entendimento e o respeito pelo próximo. As crianças se ligam entre elas porque fazem parte de um mesmo grupo, onde precisam aprender a respeitar as aptidões naturais dos colegas e as individualidades, bem como dividir responsabilidades, erros e acertos.

orquestra_upfO projeto é mais que uma ação comunitária da Vice-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários. Trata-se de uma ação que demonstra o quanto a Universidade de Passo Fundo acredita no poder transformador da música e na capacidade de envolver e desenvolver o universo onde é inserida. Acredita-se que desenvolver o projeto com o público infanto-juvenil é plantar sementes que germinarão e impulsionarão o crescimento intelectual e social dos cantores e instrumentistas.

Crianças de seis a dezesseis anos têm a oportunidade de participar nas oficinas de Canto Coral, Musicalização, Violino, Violão e Flauta em encontros semanais. São crianças da rede pública de ensino, crianças da ONG Amor e filhos de funcionários da instituição.

No segundo ano de execução, o projeto está sob o olhar atento dos professores que ministram aulas e o retorno já começou a aparecer e apresentações já estão acontecendo com uma média de cinquenta crianças. Para 2017, a Vice-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários pretende ampliar o número de participantes e fortalecer as ações musicais, buscando fomentar o coro e orquestra com apresentações em conjunto.

Assim, o projeto não estimula somente a prática musical, mas também o exercício da cidadania e o desenvolvimento intelectual. Acima de tudo, no entanto, oportuniza uma nova perspectiva de vida para as crianças integrantes das oficinas de música, pois enquanto estão fazendo música são agentes transformadores de suas realidades e também daqueles que os assistem porque música toca direto nos sentimentos de quem escuta. E quando executada por crianças esse toque aumenta e impulsiona a ver o mundo com melhores possibilidades de alegria e boa convivência.

Escrito por Maestro Ademir Camargo e Professor José Carlos Gheller.
Fotos: Assessoria de Imprensa UPF

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