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Feira ecológica e de economia solidária da UPF afirma a responsabilidade social da Universidade

A Universidade de Passo Fundo (UPF), por meio de sua Política de Responsabilidade Social 2013/2016, reconhece-se como parte da comunidade e trabalha com ela na promoção dos direitos coletivos, que pressupõem condições de vida digna, reconhecimento da cidadania, da convivência com as diferenças e enfrentamento de violações que prescindem de solidariedade e urbanidade. Assim, a UPF procura realizar ações nos diversos âmbitos de atuação (ensino, pesquisa e extensão), estabelecendo parcerias com várias instituições.

Uma dessas iniciativas, desenvolvida em 2015, foi a realização de quatro edições da feira ecológica e de economia solidária no campus I, como resultado da mobilização de estudantes após discussão sobre o tema alimentação saudável. A proposta surgiu como uma estratégia da comunidade acadêmica, elaborada pela Comissão de Alimentação do Fórum de Estudantes UPF, com o apoio do Diretório Central de Estudantes, possibilitando a oferta de produtos agroecológicos e de economia solidária para toda a comunidade acadêmica.

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Com base nas discussões do Fórum de Estudantes UPF, promovido pela Reitoria, foi constituída a comissão que, apoiada por funcionários da Divisão de Extensão e por professores, promove debates acerca de uma proposta de alimentação saudável e para além da relação custo versus produto, pretendendo fomentar uma nova política de alimentação baseada na segurança alimentar.

A Constituição federal brasileira, em seu artigo 6º, institui que o acesso à alimentação é um dos direitos sociais, sendo dever da família, da sociedade e do Estado assegurá-la à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, como disposto no artigo 227. No entanto, para a concretização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente e sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, as normas do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional destacam que é preciso fazer uso de práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis.

Nesse sentido, ações de educação alimentar e nutricional que visem à promoção do direito humano à alimentação adequada devem ser estimuladas, assim como parcerias entre instituições públicas e privadas para o enfrentamento dessa realidade. Discussões sobre resgate da cultura regional, valorização de frutas nativas e alimentos típicos e estímulo à alimentação saudável devem ser oportunizados nos espaços da universidade.

Sob essa perspectiva, diversas articulações, aproximando projetos de extensão e iniciativas dos cursos da universidade, reuniram participantes do Programa de Extensão Comunidades Sustentáveis e do projeto Fazendo a Lição de Casa, ambos vinculados ao Centro de Ciências e Tecnologias Ambientais, e agregaram os integrantes do projeto Extensão Universitária e Trabalho Decente: assessoria em economia solidária, vinculado ao Núcleo de Economia Solidária. Também participa do grupo de trabalho, o Núcleo de Estudos em Agroecologia, criado a partir de um edital do CNPq e do Ministério de Desenvolvimento Agrário, que se constitui em um fórum de estudo e discussão constante sobre agrobiodiversidade e agroecologia, procurando atender os interesses dos agricultores e da população demandante e consumidora, estabelecendo a produção e troca de sementes, de plantas medicinais e de frutas nativas, estimulando o uso de insumos para uma produção ecológica. Em algumas edições, também integra a feira ecológica e de economia solidária, o projeto BookCrossing UPF, que participa com seu troca-troca de livros e incentiva a “libertação” das obras já lidas da estante para os espaços públicos.

Aprovada pela Fundação Universidade de Passo Fundo, a feira ecológica e de economia solidária acontece às terças-feiras, das 11 horas às 17 horas, em duas edições por mês.

Tendo em vista que promover o diálogo sobre o assunto é peça fundamental para o avanço da construção de uma política alimentar que atenda às necessidades de um projeto sustentável demandado pelos estudantes, as edições da feira ecológica constituem-se em um espaço de sensibilização e formação para a comunidade acadêmica, no sentido de fortalecer ações de responsabilidade social, econômica e ambiental.

Professora Elisabeth Maria Foschiera
Acadêmica Monique Tartas

Fotos: Alexandre Hahn e Monique Tartas

Drogas legais no Brasil: o caso do açúcar

Se continuarmos a dar sentido a nossa vida pela boca que não para, terminaremos destruindo com o único “templo” mais importante de cada ser, ou seja, o seu próprio corpo. Essa geração sonha com cirurgias plásticas para poder conquistar rapidamente o corpo idealizado pelo mundo fictício da moda e da propaganda.

O açúcar é uma droga? O que consideramos alimento? Um debate necessário….
Lembro quando era criança e minha avó adoçava o Nescau. Na minha casa, eu tinha pouco acesso ao açúcar refinado, era hábito da minha mãe nos ensinar a sentir o sabor natural dos alimentos. Quando minha avó adoçava o Nescau, eu sentia o quanto aquela substância aparentemente realçava o sabor das coisas.

Descobri que o açúcar transformava um simples chá em um melado excelente (que nos períodos de férias de verão, se transformava em ótimos picolés, bastando encher as formas de gelo com este melado de chá e colocar pequenas colheres de metal em cada quadradinho). Sem falar no café frio que eu descobria em uma pequena garrafa térmica vermelha, que poderia ser transformado em outro tipo de melado, que de tão saboroso, podia ser tomado de colherinha (e passava a curtir uma tarde de alta ansiedade por causa da cafeína, sem nem saber direito os efeitos). Logo depois vieram as balas de menta e os chicletes Ping-Pong. Gastava todos os centavos que ganhava em doces.

Na minha infância, míseros cinco reais, compravam: caixa de bombom, refrigerante e salgadinho. E ainda sobravam moedas para comprar balas e chicletes. Em outras palavras, posso afirmar: Sou um viciado em açúcar. Um vício tão forte, que ainda hoje me sinto desconfortável quando não tenho chocolate na dispensa ou vai chegar o final de semana, e não tenho reserva estratégica de chocolates em casa. Assustador, né? Quantos leitores são como eu? O ponto que desejo discutir é: Qual a diferença do vício em drogas ao vício em alimentos? Qual deles causa mais danos a saúde? Qual deles causa mais mortalidade?

Muitos dizem que o açúcar é energia e, por isso, é alimento. Mas ninguém diz os problemas resultantes do seu uso indiscriminado. Somos uma geração que consumimos gordura, sal e carboidratos em uma louca abundância, e claro, açúcar. Levei anos para diminuir o consumo exagerado desta última substância. Mas é cada vez mais difícil comer sem que tenha altos níveis de açúcar e sal já inserido na fórmula dos alimentos.

E o que vejo hoje em relação aos alimentos consumidos pela próxima geração? Vejo crianças cada vez mais expostas ao consumo abusivo de tudo o que não é alimento (São embutidos de sal, amido de milho frito, com conservantes, imitações de sabores, muito, mas muito açúcar). No meu tempo (nasci em 1983), tomar refrigerante, consumir sorvete e biscoitos era luxo reservado a dias e datas específicas. Hoje? Bom, hoje esses artigos são comprados em grande quantidade e considerados “alimentos” para as crianças. Estão todos os dias na geladeira e nos armários das casas.

Essa geração leva para escola “lanches” que antes eram considerados sobremesa ou literalmente “bobagens”. Acredito que as crianças tenham atualmente mais acesso a doces açucarados e industrializados do que acesso a frutas e legumes, sendo os últimos mais caros e de difícil acesso. Qual o problema disso? Aparentemente nenhum, já que o argumento dos pais é que “Meu filho gosta, né?”; “é gostoso e ele merece” ou mesmo “ele chora se não ganha”.

Não quero entrar aqui numa discussão sobre educação infantil, mas precisamos urgentemente discutir a alimentação de nossa geração, mas principalmente da próxima. As crianças estão trocando o leite materno por refrigerantes…

A obesidade infantil é algo tão absurdo que presenciamos diariamente o momento em que os pais dão Coca-Cola na mamadeira das crianças e nem paramos para pensar no absurdo que isso representa. No passado, temos relatos de pais que davam cachaça diluída em água na mamadeira dos filhos homens, já que beber era coisa de macho (Como foi a história do jogador Garrincha e sua absurda iniciação no álcool que o tornou um dependente químico). E quantos alimentos, doces e brinquedos incentivam as crianças a repetirem o hábito de vício dos adultos?

Sem falar nas crianças que fumam as “bitucas” dos cinzeiros quando os pais saem do recinto, pois é tão lindo fumar de forma elegante na frente dos filhos, não é verdade? Ou mesmo os filhos que podem beber a espuma da cerveja dos pais, quando os últimos estão bêbados e sorridentes. Mas e o açúcar? Ele é uma droga? Indicaria que os leitores pesquisassem na internet o quanto o consumo de açúcar diminui a atividade cerebral, alguns estudos inclusive comparam os efeitos ao consumo de cocaína. No mínimo, essa comparação nos faz refletir.

Ou seja, permitir que crianças antes dos 6 meses de idade comam biscoitos recheados até enjoar, que tomem suco de “néctar” aos litros (que nada mais são que chá de cascas com corante e muito açúcar, ou seja, não são sucos e muito menos são naturais), é um comportamento absurdo, pois já estimula a dependência química destas substâncias. Sobre esse assunto, indico um dos melhores documentários produzidos no Brasil sobre alimentação e propaganda para o público infantil, chamado: “Muito Além do Peso”, que está disponível no Youtube.

Se o açúcar e a gordura deveriam ser considerados drogas? Sim, sem dúvida. Mas o objetivo de incluí-los nesta categoria não tem o objetivo de reprimir e proibir, mas incluir numa categoria que informa sobre os perigos do consumo desta substância. Vejam os argumentos que utilizamos para os problemas das drogas ilícitas: Viciam, destroem a nossa saúde, nos levam a morte e acabam com nosso senso social de existência, a sua utilização em excesso é destruidor do organismo. Mas ainda assim, os teimosos dirão: Mas tudo que é utilizado em excesso faz mal. Hum… então me diga o quanto podemos usar de açúcar? Tentem tirar por apenas uma semana o açúcar refinado da sua alimentação e logo descobrirão que quase tudo que é industrializado possui açúcar refinado e que se realmente conseguirem, sentirão uma terrível abstinência.

Aprendi com minha mãe uma lição muito importante sobre qualquer substância química: “você consegue controlar seu uso quando está bem e feliz. Porém, basta ficar triste ou deprimido que você se “afunda no consumo”. Nos momentos de dor e tristeza, quando perde o equilíbrio de vida, o tão falado “controle” vai para o espaço e você literalmente mergulha no seu vício. E as pesquisas mostram que o consumo de doses de açúcar, café, álcool e cigarro estão profundamente relacionados ao estado emocional dos dependentes. Isso é a mais pura verdade. Dito isso, meu vício no açúcar não terá fim, serei sempre um dependente em recuperação. O ponto é: eu desejo isso aos meus filhos? Eu desejo isso ao futuro das crianças? Não!

Hoje procuro suprir sua falta com frutas doces e com alimentos açucarados naturalmente (açaí, damasco, passas de uva e mel). Mas vejo que o processo não é nada fácil. Mas eu não fui estimulado desde criança a consumir tudo e da forma que eu desejava. E por isso eu sei, que quando a próxima geração tem liberdade e falta de mediação no consumo abusivo desta substância, seus filhos, irmãos e neto talvez não tenham a mesma sorte que eu tive. Talvez o problema da obesidade no Brasil, problema que não para de crescer, se transforme em poucos anos em um processo irreversível. Se não discutirmos essas substâncias como drogas teremos crianças e famílias inteiras viciadas que comem açúcar na busca de aliviar seus problemas e angústias, encurtando suas vidas…

Se continuarmos a dar sentido a nossa vida pela boca que não para, terminaremos destruindo com o único “templo” mais importante de cada ser, ou seja, o seu próprio corpo. Essa geração sonha com cirurgias plásticas para poder conquistar rapidamente o corpo idealizado pelo mundo fictício da moda e da propaganda. E na tristeza, não esqueça, abra a felicidade que é vendida em lata…..e veja o seu filho bêbado de sono com as explosões de glicose em seu sangue, com dificuldade para caminhar e fazer atividades simples, afinal, gordura, sal e açúcar são “coisas que eles gostam”.

Brasil: maio de 2036

Só poderá contar a história quem participa dela! A geração dos jovens de hoje deseja antecipar o que no futuro será contado para as novas gerações não omitindo-se dos acontecimentos que constituem este momento histórico complexo e conturbado de nosso país.

Dedilhando sonhos: servindo o bem público e ajudando pessoas

Apresentamos a primeira entrevista da série, “Profissões Educadoras”, buscando através de um  olhar jornalístico oferecer ao leitor exemplos de pessoas que contribuem com a educação,  a partir da profissão que escolheram, compartilhando saberes. Nosso primeiro entrevistado da série é o juiz da Vara da Infância e Juventude de Passo Fundo, Dalmir Franklin de Oliveira Júnior.

dalmir_2Juiz desde 2001, fez faculdade na PUC, em Porto Alegre, e logo nos primeiros semestres do curso de Direito sabia  que seguiria a mesma profissão do  irmão mais velho, seria juiz de direito. Mesmo enfatizando que foi influenciado pela aspecto familiar,  destaca  que duas questões foram fundamentais para a escolha de sua carreira, primeiro,  queria trabalhar para o Estado, servindo e atendendo ao bem público e,  segundo,  desejava ajudar as pessoas. Foi na magistratura que conseguiu conciliar os desejos e transformou seu ofício em missão:  contribuir para melhorar a vida do outro. Já o gosto pela música o levou a realizar o sonho de trabalhar a arte com crianças e adolescentes no Case de Passo Fundo.

Márcia Machado: Frente a atual conjuntura do país, qual a contribuição de sua profissão à sociedade?

Juiz Dalmir: O juiz é um agente político atrelado a uma das funções do poder do Estado que é o Judiciário que tem por missão garantir o direito das pessoas, garantir o direito estabelecido na Constituição, nas leis, resolver os conflitos que existem na sociedade.

Márcia Machado: Em tempos onde tanto se discute a garantia de direitos, qual os desafios da sua profissão?

Juiz Dalmir: Passamos por mudanças grandes e acentuadas, importantes no Brasil, há sim, acesso maior ao conhecimento de maneira geral, à cidadania, à consciência da população em ter e ir em busca de seus direitos, o que aumentou muito a demanda judicial e aos processos judiciais. Nós temos muitas legislações protetivas de segmentos como Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o Código de Defesa ao Consumidor, por exemplo. Esse acesso das pessoas ao conhecimento e à cidadania, proporcionou o aumento dessa demanda significativa, especialmente, na justiça comum, gerando um desafio permanente do judiciário em resolver tais questões e garantir os direitos em tempo razoável, dar respostas com qualidade e o mais rápido possível,  dentro de um universo muito grande de ação e, muitas vezes, sem estrutura, é  muito complicado.

“[…] garantir os direitos em tempo razoável, dar respostas com qualidade e o mais rápido possível,  dentro de um universo muito grande de ação e, muitas vezes, sem estrutura, é muito complicado”.

Márcia Machado: Percebe-se que um dos grandes desafios, hoje, na sociedade é a efetivação de direitos conquistados e a humanização do sujeito.  Enquanto magistrado como o senhor avalia e trabalha com tais matérias?

Juiz Dalmir: Existe a questão da efetividade de direitos, temos muitos direitos conquistados na lei que não são respeitados, não são realidades, claro, que o poder executivo é um dos atores do Estado que realiza políticas públicas e efetiva alguns direitos, porém, se o poder público não faz isso, o cidadão acaba recorrendo ao judiciário que é o último guardião em garantia destes direitos e torná-los efetivos.  A humanização decorre da visão de apesar de trabalharmos com papel, processos e petições, é a vida das pessoas que está por trás desses processos.  São os interesses das pessoas, que pode ser patrimonial, mas que representa muito na vida do cidadão, interesses de família, divórcio, guarda de um filho, pedido de alimentos, proteção de crianças e adolescentes, questões relevantes e importantes que ficam sob a responsabilidade do judiciário, e penso que o  juiz, necessariamente,  para tentar fazer  justiça, precisa ter compreensão  e entendimento da realidade, empatia, se colocar no lugar do outro para poder decidir. Tudo isso são elementos importantes para exercer a magistratura e da jurisdição.

“Humanização decorre da visão de apesar de trabalharmos com papel, processos e petições, é a vida das pessoas que está por trás desses processos. “

Márcia Machado: Essa visão humanista que o senhor diz ser necessária dentro do judiciário, como ela está inserida no seu trabalho como ela contribui  na educação das crianças e adolescentes ?

Juiz Dalmir: Dentro área da infância, da criança e do adolescente, nós trabalhamos com a perspectiva que esse sujeito está em fase de desenvolvimento e todo o investimento que se faz nesta pessoa é voltado para o carácter pedagógico e educativo, seja, na área da proteção quando  a criança e adolescente tem seus direito violados, de uma forma ou de outra, e precisa de proteção, claro, que essa proteção pode se dar em todos os níveis, pode ser  uma questão de saúde ou psicológica. Contudo, dentro da visão de integralidade desse sujeito, a questão pedagógica educacional sempre está inserida, pois para que o sujeito possa se desenvolver bem, ele tem que ter as condições mínimas para isso, e, obviamente que o acesso à educação é uma dessas condições. Quando o menor responde a um ato infracional, ou seja, não quando ele tem seus direitos violados, mas quando viola os direitos de outrem, a resposta que o Estado dá, a sanção que o Estado dá,  não é uma punição meramente,  tem um aspecto pedagógico agregado,  por isso a medida é socioeducativa.  Há um investimento sim, na tentativa chamar a atenção deste jovem para a importância do estudo, do conhecimento, para que ele possa ter uma escolaridade razoável, para que no futuro possa exercer uma profissão. Usamos todas as técnicas possíveis, não só a escolaridade formal, mas também oficinas como é a o projeto da Banda Liberdade que usa a arte como formação pedagógica.

“Há um investimento sim, na tentativa chamar a atenção deste jovem para a importância do estudo, do conhecimento, para que ele possa ter uma escolaridade razoável, para que no futuro possa exercer uma profissão. Usamos todas as técnicas possíveis, não só a escolaridade formal, mas também oficinas como é a o projeto da Banda Liberdade que usa a arte como formação pedagógica”.

Márcia Machado: Como surgiu o projeto da Banda Liberdade dentro do Case?

Juiz Dalmir: Quando vim para cá (Passo Fundo), conheci os projetos que haviam dentro da unidade do Case, conversei com o Isair Barbosa Abraão, que era psicopedagogo e responsável pelos projetos na instituição, e ele me mostrou os projetos que existiam. Nós conversamos, falamos em realizar oficinas de música dentro da Unidade, pois sempre gostei de música e queria trabalhar com música, criança e adolescentes, ele (Isair) disse que tinha a mesma ideia, então, a gente acabou juntando esses sonhos. Eu doei alguns instrumentos, ele conseguiu dinheiro para comprar outros e pagar professores, foi assim que surgiu a Banda Liberdade, bem informalmente.

“[…] sempre gostei de música e queria trabalhar com música, criança e adolescentes…”

Márcia Machado: Como a arte, através da música, tem auxiliado na ressocialização dos jovens do Case ?

Juiz Dalmir: Tem vários benefícios trabalhar com a música, com a arte, elas  têm a função de sublimar a questão das energias motoras e psíquicas que muitas vezes são voltadas à violência e agressividade.  A arte é um modo de canalizar essas energias para algo bom, bem visto e aceito pela sociedade, uma das ideias do projeto é essa, a outra, é tirar um pouco a etiqueta que esses jovens recebem quando praticam um ato infracional. Eles recebem uma etiqueta do sistema e da sociedade que são bandidos, infratores, se queremos ressocializá-los e devolvê-los à sociedade,  temos que tirar essa etiqueta, do contrário, eles vão voltar com essa ideia que têm que ser bandidos, têm que ser marginais. A etiqueta que gente quer colocar é que eles têm condições de fazer coisas boas e o projeto também proporciona isso. Quando os jovens  vão para sociedade, vão para comunidade se apresentar tocando – ainda mais depois da ampla divulgação da Banda, isso marca bastante a história do projeto –  eles ficam muito ansiosos para participar,  para tocar.  É uma forma de sair da Unidade, se não eles ficam  só fechados. Existem autores, entre eles  Alvino Augusto de Sá,  psicólogo que trabalhou no sistema prisional em São Paulo, que diz  “ a possibilidade  de ressocialização passa por uma reaproximação do cárcere com a sociedade”, e  você deixar o sujeito fechado e, após largar na sociedade sem que ele tenha  oportunidades, não vai ter muita função,  não vai ter uma consequência positiva, então, a privação da liberdade tem que permitir sim, essa reaproximação do cárcere com a sociedade, através de projetos com possibilidades e competências que possam ser explorados, distintos dos quais o levaram ao crime.

“Eles recebem uma etiqueta do sistema e da  sociedade que são bandidos, infratores, se queremos ressocializá-los e devolvê-los à sociedade,  temos que tirar essa etiqueta, do contrário, eles vão voltar com essa ideia que têm que ser bandidos, têm que ser marginais”.

Márcia Machado: Mesmo tendo um cunho social e pedagógico, o Projeto Banda Liberdade foi suspenso. Por quê?

Juiz Dalmir: O projeto que ganhou uma dimensão grande, uma divulgação grande, sofre com problema de investimentos. Atualmente, o Projeto está suspenso, recebi a notícia com tristeza, uma vez que o professor de música, Marcelo Pimentel, foi para Porto Alegre por motivos profissionais e, para manter as oficinas no Case o professor necessita de recursos  para deslocamento até Passo Fundo e não temos recursos para isso. Mesmo com toda a divulgação e dimensão que o projeto ganhou, hoje, estamos sem as oficinas e com ele suspenso. Esperamos em breve retomá-lo.

Márcia Machado: Como o senhor avalia a educação de maneira geral?

Juiz Dalmir: A realidade nos mostra que muitos dos jovens que cometem ato infracional estão afastados da escola e eu acho que isso tem uma série de causas, primeiro, a não valorização da educação pelas famílias de meio socioeconômico mais baixo, se a educação não é importante para a família, ela acaba não transmitindo a herança da educação para seus filhos, segundo, tem a questão que envolve o aspecto pedagógico da escola em manter o aluno interessado, estudando.  É preciso uma reflexão para  transformar a escola em um objeto de interesse do jovem para que ele não evada. Muitas vezes,  a saída da escola nas classes mais baixas tem a ver com necessidade, quando o jovem deixa o estudo para trabalhar, é uma questão social que também deve ser repensada.

“[…] se a educação não é importante para a família, ela acaba não transmitindo a herança da educação  para seus filhos…”

Márcia Machado: A partir de sua experiência  como magistrado da área da infância e juventude qual  mensagem  o senhor deixa aos educadores ?

Juiz Dalmir: A escola é uma das mais importantes instituições que trabalha com o sujeito depois que ele passa da primeira infância, porque até esta fase ele é atendido pela figura materna e paterna, assim,  primeira instituição social  que a criança tem acesso  é a escola, a responsabilidade da escola é muito grande. Não há dúvida que a escola é uma das instituições  mais importantes da sociedade e  precisa da valorização dos seus profissionais,  de vocação,  pois a função da docência, por ser uma das mais importantes, precisa de gente vocacionada que goste do que faz e que faça sabendo da sua importância.  A escola é uma extensão da família, é uma instituição social que tem função simbólica na vida do sujeito, por exemplo, o juiz, o magistrado, a justiça, eles cumprem a função simbólica paterna que  é do estabelecimento do limite,  da lei, da ordem, o que pode e o que não pode. A escola também cumpre essa função paterna, a escola tem que manter sua autoridade, porém, ela não pode ser exercida com autoritarismo, não se trata de dizer sim ou não, sem dar as razões. Na escola democrática há diálogo, há debate, há transmissão do conhecimento, mas as decisões são tomadas com bases nesses diálogos, numa democracia mais responsável. Esta é  uma forma como a escola pode pensar e  reestruturar  a função do cuidado, a função materna, que é o bom acolhimento, pelo carinho,  pelo cuidado,  oferecendo  limites, uma educação  bem pesada e bem executada, através de  um bom plano pedagógico.

“Não há dúvida que a escola é uma  das instituições mais importantes da sociedade  e precisa da valorização dos seus profissionais,  de vocação,  pois a função da docência, por ser uma das mais importantes, precisa de gente vocacionada que goste do que faz e que faça sabendo da sua importância”.

Márcia Machado: Como definiria  a sua missão enquanto profissional  numa frase?

Juiz Dalmir: É garantir os direitos da pessoas quando eles são violados, quando existe uma ameça de lesão a um direito ou lesão a direitos, a função do juiz é garantir o direito das pessoas, é fazer justiça.

Créditos/Foto: Diogo Zanatta

Os jovens se mantém “acordados”

Foto: Márcia Machado
Controlar ou emancipar a juventude é um dos dilemas de nossos tempos. Segundo o jornalista Moisés Mendes, o jovem com vontades é uma invenção recente da humanidade. E o jovem capaz de influenciar os outros com suas vontades é uma invenção com pouco mais de 40 anos”. Teremos disposição para o diálogo e a escuta, buscando entender os desejos, sonhos, medos e angústias que os movem?

[quote_box_right]”A rebeldia nos jovens não é um crime. Pelo contrário: é o fogo da alma que se recusa a conformar-se, que está insatisfeito com o status quo, que proclama querer mudar o mundo e está frustrado por não saber como”. (http://www.chabad.org.br)[/quote_box_right]

Controlar ou emancipar a juventude é um dos dilemas de nossos tempos. O jornalista Moisés Mendes, em artigo Esses jovens, descreve que “o jovem com vontades é uma invenção recente da humanidade. E o jovem capaz de influenciar os outros com suas vontades é uma invenção com pouco mais de 40 anos”. Ao longo dos tempos, os jovens resistem e mantém acesa a ideia de mudar o mundo. Desejam, profundamente, que ideais e mundo sejam uma nota só. Seus sonhos projetam ideias em teimosia. Eles têm consciência que precisam controlar o seu “fogo ardente”, mas desejariam que este controle fosse deles, não daqueles que representam qualquer autoridade (pais, professores, psicólogos, legisladores, juízes, polícia). Rejeitam serem pensados pelos outros.

Fotos: Márcia Machado
Fotos: Márcia Machado

Os jovens sempre gostaram de desafiar os adultos, embora nunca tenham dispensado o apoio sincero e franco, a escuta compreensiva e a orientação bem intencionada dos mais velhos.

A novidade de agora é que se apoderaram, como antes nunca visto na história, de uma poderosa ferramenta de comunicação e interação: a internet e as redes sociais. E descobrem agora que, juntos, com o pincel da cidadania e a tinta de sua criatividade, podem fazer mudanças por si mesmos e pela educação, ao ousarem ocupar suas próprias escolas.

O inconformismo que caracteriza os jovens é a força renovadora que move o mundo, mas também algo que incomoda os já acomodados. Acomodados, despreparados ou desconhecendo a realidade do universo juvenil, muitos desqualificam a juventude, vendo-a como um incômodo ou como uma fase de passageira rebeldia. Ao invés de emancipar, desejam controlar, dominar, moralizar. A rebeldia é o sinal de que a juventude continua sadia, cumprindo com o seu papel de provocadora de mudanças. A rebeldia, aos olhos da filosofia, é atitude de quem quer ser sujeito de sua história, não seu coadjuvante. A filosofia, como o inconformismo, motiva cada um na busca de seus próprios caminhos. Se os jovens mantiverem senso de direção, terão o poder de mover mundos.

O filósofo Sócrates, na Grécia Antiga, acreditando na emancipação humana, desenvolveu a maiêutica. Concebeu o papel dos sábios a um trabalho de parteira (que ajudam a dar a luz). Ele acreditava que a verdade e o conhecimento estão com cada um e cada uma de nós, e cada indivíduo pode descobrir as razões e verdades que motivam seu viver. Não por acaso, fora considerado um incômodo para Atenas. Uma das razões de sua condenação à morte foi insuflar a juventude a pensar por sua conta.

O fato é que os jovens de hoje vivem o seu tempo a partir de suas percepções, vivências e leituras. Seremos capazes de compreendê-los em nosso momento histórico? Teremos disposição para o diálogo e a escuta, buscando entender os desejos, sonhos, medos e angústias que os movem?

Vale a pena pensar que filosofia e rebeldia desencadeiam atitudes altivas e saudáveis, próprios daqueles que decidem pensar e, agora, ocupar as ruas de nossas cidades. Jovens e adultos, no entanto, precisam discernir que causas valem suas vidas. A violência e a agressão, em forma de rebeldia, não podem ser toleradas. Mas, acima de tudo, a opção é da sociedade: apostar e empenhar-se na emancipação e inclusão da juventude ou considerá-la como constante ameaça contra a ordem social. Cada opção, com seu preço.

Veja entrevista com Prof. Nei.

Que sábios nossos jovens!

Ouvi alguém dizer por aí e resolvi recriar a sua fala. Neste mundo não há nada de tão original, mas a gente está sempre recriando coisas dos outros e coisas da gente. Assim ouvi: “eu penso que hoje as pessoas estão cansando. Estão cansando de ditaduras, de enganação, de falsidade, de promessas fáceis, de corrupção. As pessoas estão cansando de ser manipuladas. E eu acredito muito nisso”.

Lembrei então de uma das mais sensatas análises que já vi sobre as manifestações dos jovens por decência neste país: “os jovens estão cansados dos entulhos da política”. Concordo que os jovens acordaram novamente seu poder transformador e questionador. Querem renovar o mundo e a política, reinventando o que já ocorria já mais de 2500 anos nas àgoras gregas. Querem ser ouvidos diretamente, sem burocracias que entulham a política e os políticos. Querem democracia participativa e direta. Querem ser ouvidos!” Querem mudar a qualidade social da educação e por isso ocupam escolas públicas para demonstrar sua indignação e sua capacidade criativa de lutar por seus direitos. Querem ocupar espaços que julgam seus.

Pus-me então a pensar que tudo está mesmo na contramão do nosso tempo, que ignorou que temos que conviver e conversar mais para nos entender melhor. Estranhamente, quem denuncia e quer revolucionar nossos tempos é quem já percebeu os limites das liturgias virtuais: os nossos adolescentes e jovens. Pensei então: que sábios! Os mesmos permanecem hiper e mega conectados, mas também descobriram que é importante se encontrar, se agrupar, para organizar direitos e imprimir o seu modo de ser.

Estou com eles, pois acredito que ninguém veio ao mundo de passagem. Neste aspecto, tenho grandes concordâncias com nosso maior pedagogo Paulo Freire quando afirmou:

Não viemos ao mundo para ser treinados, fizemo-nos no mundo seres modificadores. A adaptação ao mundo é apenas um momento do processo histórico. Adapto-me hoje, para amanhã, desadaptando-me, corrigir o mundo e inserir-me nele.

Elói Elisabete Bocheco: universo infantil na escola, na paixão e na literatura

Eloí Elisabete Bocheco é  formada em Letras pela Universidade de Passo Fundo-RS e pós-graduada em Alfabetização e Metodologias de Leitura. Atuou como alfabetizadora, professora de Língua Portuguesa e Literatura. Trabalhou como animadora da biblioteca escolar, foi coordenadora do ensino de língua e literatura, dentre outras atividades ligadas ao ensino.

O texto literário foi sempre o grande aliado na tarefa de criar a corrente de paixão pela leitura, e na criação de uma memória literária na vida de crianças e jovens com quem conviveu nos anos de magistério.

Teve, na juventude, grandes mestres de leitura e destaca especialmente a professora Ana Schirley Favero e Paulo Bragatto Filho no ensino básico e o professor Henrique Manuel Ávila, na graduação em Letras na Universidade de Passo Fundo/RS.

Iniciou na literatura escrevendo crônicas para o Jornal A Notícia de Joinville, SC, quando era editor do caderno de Cultura o jornalista Sílvio Melatti. Uma seleção dessas crônicas foi publicada no livro Pedras Soltas, pela EdUFSC, em 2006.

O primeiro livro infantil editado foi Uni…Duni…Téia.  Escrito no último ano de magistério da autora, é  marcado pelas experiências com leituras e leitores na biblioteca escolar. Os poemas infantis, deste e de outros livros, usam recursos e temas da tradição oral, vivenciada pela autora durante toda a infância, tais como: parlendas, cantigas de roda, jogos de palavras, cantos de trabalho, quadrinhas e adivinhações.

Alguns de seus livros como Olha a Cocada!, Roda Moinho e Beatriz em trânsito expressam as utopias de leitura que a autora procurou dar forma na escola. Dentre outros pontos, estes livros encenam modos de ler e de envolver crianças com a leitura desde cedo.

Participou de várias antologias, dentre as quais,  Cuentos Infantiles Brasilenos, editada na Costa Rica e organizada por Ninfa Parreiras e Glória Valladares Grangeiro, Presença da Literatura Infantil e Juvenil em SC (Org. por Yedda Goulart), Antologia do Concurso Sérgio Farina – São Leopoldo-RS, Antologia SESC/Brasília de crônicas.

Recebeu prêmios por sua obra, dentre os quais, o prêmio Mário Quintana, o Literatura Para Todos ( MEC), o Leia Comigo! Da FNLIJ e participou da seleção Bolonha e White Ravens com a obra Beatriz em trânsito.

Foi responsável, junto com Zenilde Durli, durante dez anos, pela pauta do Jornal de Literatura Infantil e Juvenil – O BALAINHO –  da Universidade do Oeste de SC (UNOESC).

Um poema infantil:

MARTINA

No canteiro da ponta
há um girassol.
Dentro do girassol
há uma gota de orvalho.
Dentro da gota de orvalho
há uma réstia de luz.
Dentro da réstia de luz
há um grão.
Dentro do grão
há um anel
Dentro do anel
há uma cantiga de roda.
Dentro da cantiga de roda
a menina Martina
brinca uma ciranda
com sementes
beijadas de sol.

Poema estraído de: BOCHECO, Eloí. Tá pronto seu lobo? e outros poemas. São Paulo: Formato, 2014. p. 11.

A Jornada da Extensão na América Latina: bases para uma nova universidade

[quote_box_right]“As universidades foram até aqui o refúgio secular dos medíocres, a renda dos ignorantes, a hospitalização segura dos inválidos e – o que é ainda pior – o lugar onde todas as formas de tiranizar e de insensibilizar acharam a cátedra que as ditasse. As universidades chegaram a ser assim fiel reflexo destas sociedades decadentes que se empenham em oferecer este triste espetáculo de uma imobilidade senil. Por isso é que a ciência frente a essas casas mudas e fechadas, passa silenciosa ou entra mutilada e grotesca no serviço burocrático. Quando em momento fugaz abre suas portas aos altos espíritos é para arrepender-se logo e fazer-lhes impossível a vida em seu recinto. Por isso é que, dentro de semelhante regime, as forças naturais levam a mediocrizar o ensino, e o alargamento vital de organismos universitários não é o fruto do desenvolvimento orgânico, mas o alento da periodicidade revolucionária.”
(Da Juventude Argentina de Córdoba aos Homens Livres da América – Manifesto de Córdoba, 1918)[/quote_box_right]

Há 98 anos, desencadeava-se um dos mais importantes acontecimentos da história universitária Latino-Americana. Os estudantes da Universidade de Córdoba, conhecida neste período como a mais tradicional da Argentina, rebelavam-se contra este modelo de ensino herdado da Europa, adjetivando-o nos termos evidenciados na passagem acima.

O Manifesto de Córdoba ganhou proporções de acontecimento histórico justamente por ter denunciado aquilo que as universidades do seu tempo demonstravam ser: antiquadas, tiranas, insensíveis e senis. A juventude de Córdoba em seu ato de revolta abriu brechas para um projeto de universidade com características próprias, com uma identidade Latino-Americana. O elemento central deste projeto de universidade aos moldes Latino-Americanos se caracterizava pelo desejo de abertura da academia para a sociedade. Para estes estudantes, a universidade deveria abrir-se à realidade, aos problemas sociais, às comunidades locais, dessacralizando os conhecimentos catedráticos desta instituição e colocando-os a serviço do povo.

Neste contexto, a extensão universitária tem sido um espaço potente para estabelecer outros processos de interlocução entre universidade e comunidade. A superação da extensão enquanto prática assistencialista, bem como a ruptura com a lógica da transmissão de conhecimentos dos especialistas para as comunidades supostamente aculturadas, tem sido as premissas básicas desta extensão Latino-Americana. A abertura buscada pela juventude universitária de Córdoba encontrou seu espaço dentro da academia através da proposição de práticas de extensão comprometidas com a promoção da autonomia das comunidades e da valorização de seus saberes.

Desde lá, nós extensionistas temos estabelecido diversas estratégias éticas e políticas de atuação no contexto da interrelação universidade/comunidade, a fim de provocar mudanças em ambos os espaços. Dentre essas estratégias, destacamos as Jornadas de Extensão do Mercosul (JEM) como principal ferramenta de articulação das extensões Latino-Americanas.

As JEM’s tem sido um espaço único de compartilhamento de experiências e inquietações despertadas pelas práticas extensionistas. Essas distintas vivências em extensão tem a sua riqueza expressa nas diferenças culturais, étnicas, políticas e sociais. Ao mesmo tempo, esses espaços de encontro e diálogo demonstram desafios, pautas e afetações comuns entre os sujeitos, grupos e países envolvidos nesses eventos.

Porém, estas características de uma universidade autônoma e enraizada socialmente apesar de estarem muito presentes nas universidades latino-americanas, não necessariamente são hegemônicas nestes espaços. A universidade é fundamentalmente plural, e por isso está permanentemente em disputa. Distintos projetos, com seus respectivos sentidos e objetivos convivem e tensionam-se, compondo uma certa identidade universitária, que varia conforme os saberes estabelecidos, as práticas desenvolvidas e o contexto ao qual esta instituição está inserida. (Retirado)

Em 2011, realizou-se em Olivarría a primeira JEM, a partir de uma parceria entre a Universidade de Passo Fundo (UPF) e a Faculdad de Engenería da Universidad del Centro de la Província de Buenos Aires (UNICEN). Desde então, tem-se realizado edições da JEM com sua sede intercalada entre Brasil e Argentina, sendo que em 2012 a mesma ocorreu nas dependências da UPF e em 2014 em Tandil, cidade sede do campus central da UNICEN. Em 2015, realizou-se na UPF nova edição do evento, sendo deliberado que em 2016, aos dias 19 e 20 de maio, será realizada a V Jornada de Extensão do Mercosul, novamente em Tandil-Argentina.
A Extensão da UPF, comprometida com as práticas pautadas no fazer Com, tem sua presença garantida em Tandil. Alunos, professores e funcionários extensionistas participarão do evento, compartilhando suas experiências e estabelecendo relações de aprendizado mútuo com os demais sujeitos envolvidos na JEM.

 

Referência
BARROS, E. F.; VALDÉS, H.; BORDABEHERE, I. C.; SAYAGO, G.; CASTELLANOS, A.; MÉNDEZ, L. M.; BAZANTE, J. L.; MACEDA, C. G.; MOLINA, J.; PINTO, C. S.; BIAGOSH, E. R.; NIGRO, A. J.; SAIBENE, N. J.; ALLENDE, A. M.; GARZÓN, E. Da Juventude Argentina de Córdoba aos Homens Livres da América: Manifesto de Córdoba. 1918. Disponível em: http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2007/10/399447.shtml. Acesso em: 05/05/2016.

Estudantes em luta contra o sucateamento da educação

Com tarefas divididas os alunos que ocupam as escolas cozinham, limpam o local e até providenciam pequenas reformas. São adolescentes com consciência política, lutando por uma educação pública de qualidade e eficiente.

Na língua Portuguesa a palavra “ocupar” tem diversos significados, como “tomar posse de” ou, ainda, “estar na posse de”, “instalar-se em”, “preencher”, “morar, habitar” ou “dar ocupação a”. Portanto, quem ocupa pode tanto estar tomando posse quanto dando uma ocupação a algo que num momento anterior não tinha função. Ou, simplesmente, habitando um espaço. Por sua vez, a palavra “invadir” quer dizer “entrar como por direito próprio em”, “penetrar em”, “assenhorear-se de”, em resumo, se apropriar da coisa alheia.

No Brasil, até o momento, mais de noventa escolas seguem ocupadas por seus alunos. São 4 escolas no Ceará, 73 escolas no Rio de Janeiro e o restante em São Paulo. No último dia 3 mais de setenta estudantes realizaram um ato em frente à Assembleia Legislativa, que posteriormente foi ocupada com a condição de que os alunos só sairiam dali com a instauração da de uma CPI para apurar denúncias de desvios de recursos da merenda.  “Nossa única reivindicação é que se instaure uma CPI para apurar os desvios do ladrão de merenda, que se investigue a falta de comida nas escolas estaduais e nas técnicas”, disse o estudante Daniel Cruz, diretor da União dos Estudantes Estaduais (UEE).

Com tarefas divididas os alunos que ocupam as escolas cozinham, limpam o local e até providenciam pequenas reformas. São adolescentes com consciência política, lutando por uma educação pública de qualidade e eficiente. Lutando por estrutura nas escolas do estado e por condições dignas de trabalho para os seus professores. E tendo todo o apoio dos educadores, de intelectuais, cientistas e até de artistas como Marisa Monte e Leoni, que visitaram e realizaram show para os alunos da ocupação da Escola André Maurois, além de declararem apoio aos estudantes nas redes, solicitando doações para manter as ocupações.

Eu estudei em escola pública e sei da precariedade da estrutura oferecida tanto aos alunos como aos professores. Em São Paulo a falta de merenda é só uma das várias situações que precisa ser avaliada com tudo isso. Uma delas é o formato de ensino que está sendo oferecido. Digo isso pois, em contato com professores que acompanham estas manifestações, fiquei impressionada e muito feliz com uma das observações feitas por eles: que os alunos que eram considerados os mais indisciplinados são os que mais ajudam no modelo de escola oferecido durante a ocupação.

Nas ocupações, jovens estudantes batalham pela educação e cuidam com amor da sua escola. Organizados e politizados os estudantes de SP buscam a CPI que deve apontar uso indevido de verbas que deveriam ter sido usadas para comprar merenda das escolas, que ficaram sem comida para os estudantes. Os que ocuparam a Assembleia afirmam que só saem de lá depois que a CPI for instaurada.

Enquanto isso sou obrigada a ler os comentários a respeito, nos sites de notícia, em que as pessoas dizem que “Estudar ninguém quer né?! Vagabundos!” e outras expressões que seriam cortadas pela editora se eu colocasse na coluna, tão cabeludas são. Os secundaristas estão dando um show no consciência política, garra e vontade de mudar o país. Estão fazendo a sua parte como brasileiros indignados com a corrupção e estão agindo muito mais do que quem bate a panela caríssima na janela da cobertura. As ocupações são legítimas e eu arriscaria dizer que o funcionamento das escolas anda bem melhor na mão dos alunos, ao invés do estado.

Bem disse Marisa que ao presenciar o que essa juventude está fazendo, voltou a ter esperança em uma força transformadora.

Eu também voltei Marisa, eu também.

Resistam, secundas, e continuem me enchendo de orgulho!

E esperança!

Investimentos em socioeducação

A Constituição Federal de 1988 é um marco que se apresenta como base para novas formas de relação entre estado e a cidadania. Nela está assegurado o direito da universalização do acesso à educação, saúde, habitação, saneamento básico e assistência social. Do conjunto destas áreas vou tratar, neste texto, do direito a educação.

Entre as grandes polêmicas que envolvem a educação, facilmente identificada em escolas públicas, está o modo de convivência com estudantes que não tem acesso adequado ao conjunto de direitos básicos. No interior desta polêmica está situado a falta de um consenso mínimo sobre a função da escola, que antes da Constituição Federal, cumpria função de propagar conhecimentos acadêmicos específicos. Estes eram repassados apenas para os estudantes que cumpriam requisitos prévios estabelecidos para frequentar a escola.

No novo contexto para educação estabelecido pela Constituição Federal de 1988, os estabelecimentos de ensino passaram a ser normatizados por uma nova lei conhecida como LDB (Lei 9394 de 1996). A partir dela, a escola regular passa a atender as peculiaridades dos estudantes, que passou a ser denominada de educação especial, que deve ser feita em classes com serviços especializados, quando não possível a integração no ensino regular. A LDB atende, também, uma imposição da Lei Federal 8.069, de 13 de julho de 1990, conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O ECA estabelece que os direitos e os deveres da criança e do(a) adolescente são de responsabilidades do Estado, da sociedade e da família, passando a ter prioridade no que se refere às políticas públicas, incluindo a destinação e liberação de recursos financeiros.

A política pública destinada para viabilização dos direitos e dos deveres da sociedade para com as crianças e adolescentes foi normatizada em 2012 com a criação da lei que regulamenta o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE). O SINASE determina que a Socioeducação seja executada sob a responsabilidade Estado com o objetivo de integrar ou reintegrar na sociedade o jovem que praticou atos em confronto ou conflito com a lei. Para que a política pública da socioeducação seja mais do que uma lei, é necessário canalizar mais investimentos materiais, humanos e financeiros, incluindo um exercício de aperfeiçoamento das relações entre escola, promotoria pública e assistência social.

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