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Ética, democracia e educação

O contexto social e político sombrio que vivemos aponta debate acerca na democracia
e o papel que ela desempenha na reorganização da sociedade brasileira.
O que é democracia? Qual seu vínculo com a ação humana e com a ordem social?
Que democracia precisamos e como construí-la?

 

O Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGEDU) da Universidade de Passo Fundo (UPF) realizou no mês de agosto de 2016, no auditório da Biblioteca Central do Campus I, a Aula Magna para seus alunos e professores.

O conferencista foi Pedro Pagni, professor da UNESP, campus de Marília, São Paulo. O referido professor é especialista em Filosofia da Educação e estudioso do pensamento pedagógico contemporâneo. A conferência intitulou-se “Ética, democracia e educação”, baseando-se na obra Democracia e Educação, publicada pelo filósofo americano John Dewey, em 1916.

Esta obra impactou o pensamento educacional mundial, influenciando também o debate brasileiro, sobretudo, pela contribuição de Anísio Teixeira, o qual estudou com Dewey nos Estados Unidos e foi tradutor de suas principais obras para o português.

john deweyJohn Dewey

Com a teoria Escola Nova, o autor contrapôs ao sistema tradicional de educação, propondo o modelo de ensino-aprendizagem focado no aluno como sujeito da mesma. A teoria prevê ainda, que a aprendizagem deve partir da problematização dos conhecimentos prévios do aluno. Importante ativista e defensor da democracia, também participou de movimentos em defesa das causas sociais.

A proposta da “metodologia de projetos” surgiu com a sua contribuição e de William Kilpatrick. Dewey acreditava que, mais do que uma preparação para a vida, a educação era a própria vida.
Veja mais sobre John Dewey.

 

Diagnóstico da situação política atual

O professor Pagni iniciou sua conferência com o diagnóstico da situação política atual. Destacou alguns problemas e limites que a democracia representativa brasileira enfrenta.

A democracia como governo da maioria gera seus próprios impasses, na medida que os políticos eleitos para nos representarem passam a cuidar somente de seus interesses pessoais, dos interesses de seus partidos políticos e dos grandes grupos econômicos, os quais os financiam, em suas campanhas eleitorais.

No atual estado de organização política, a democracia representativa, ainda que precária, é indispensável. Não há como pensar o bom funcionamento dos papéis distintos que competem aos três poderes, executivo, legislativo e judiciário, sem a organização eficiente da democracia representativa. Eleições gerais, com escolha pública dos candidatos por meio do voto da maioria, ainda é o melhor mecanismo oficial para assegurar o funcionamento das instituições.

Se a democracia representativa é indispensável, por si mesma não é suficiente como garantia do bem público, compreendido como algo que pertence a todos. Ela precisa estar ancorada na sociedade civil forte e organizada, a qual, por meio de suas mais diferentes organizações, fiscaliza os representantes eleitos.

John Dewey pensa, em Democracia e Educação, sobre qual seria a melhor forma de vida e de organização social para este novo tipo de sociedade. Daí que desenvolve uma teoria da democracia pensada duplamente, como organização social e como forma de vida.

Entrevista com Vinícius da Cunha, professor de História da Educação da USP Ribeirão Preto. Neste programa Cunha fala sobre “a influência do pensamento de John Dewey na educação”. Entrevista gravada em 2009.

 

Quanto maior for a distância entre os eleitos e seus eleitores, menos fiscalização existe. Quanto maior for a autossuficiência e a arrogância do governo, mais espaço livre para a corrupção e para a deturpação do bem público. Tudo passa a ser feito em nome de interesses individuais.

O professor Pagni conhece bem a história da educação brasileira e o modo como as políticas públicas trataram da própria educação. Sua tese, neste contexto, é que predominou e ainda predomina na política brasileira o sentido oligárquico forte de democracia representativa. Em que consiste este modo oligárquico?

O conferencista esclarece que tal modo se apoia na propensão à superioridade e, como base nela, nas relações verticalizadas que acontecem entre o representantes eleitos e aqueles que os escolheram. Oligarquia é o domínio da minoria sob a maioria, tornando-a refém dos interesses da minoria.

O poder econômico nas mãos de poucos grupos sustenta a ambição humana e o desejo de superioridade de uns sobre os outros. Na medida em que a política distancia-se da ética e o sistema político se independiza por completo da sociedade civil, a aliança entre o poder econômico e os partidos políticos fortalece a ambição e a vaidade desmesurada de líderes políticos. Neste contexto, o líder político não deve mais lealdade ética ao seu próprio partido, quanto mais à base eleitoral que o elegeu.

 

Deturpação da democracia representativa

O que se observa é a deturpação da democracia representativa, pois os representantes passam a representar a si mesmos e aos seus próprios interesses. As políticas públicas que visam o bem comum e o atendimento das necessidades da população são enfraquecidas ou simplesmente ignoradas.

O parlamento, sem força, não aprofunda a reflexão sobre o projeto de país e nem se ocupa com o debate acerca das grandes reformas que o Estado precisa. Não se ocupa com o debate sobre o modelo e o tamanho do Estado.

O contexto social e político sombrio aponta para a necessidade de se retomar o debate acerca na democracia e o papel que ela desempenha na reorganização da sociedade brasileira. O que é democracia? Qual seu vínculo com a ação humana e com a ordem social? Que democracia precisamos e como construí-la?

Estas e outras perguntas motivam a retomada da grande obra Democracia e Educação, de John Dewey. Quando a escreveu, Dewey tinha diante de si um país, os Estados Unidos, em franca industrialização e desenvolvimento, mas com quase tudo ainda por construir, do ponto de vista da organização social e das relações humanas compatíveis com a sociedade plural que começava a se intensificar.

Educação, cidadania e democracia

O sentido político da educação pode ser colocado sob a perspectiva das relações entre educação, cidadania e democracia, sendo que todas elas estão totalmente ligadas.

 

Dewey pensa, em Democracia e Educação, sobre qual seria a melhor forma de vida e de organização social para este novo tipo de sociedade. Daí que desenvolve uma teoria da democracia pensada duplamente, como organização social e como forma de vida.

 

 

Quem fala se liberta

 

Todos falam, mas nem todos são ouvidos e bem compreendidos.
E é lamentável que muitos acreditem que escutar os outros é perder tempo.
Perdem-se, então, muitas possibilidades de vida, liberdade e realização humanas.

 

Os bons “escutadores” andam sumidos e fazem muita falta no atual momento histórico. Quando temos poucos dispostos a nos ouvir, criamos diferentes maneiras de comunicar as nossas alegrias, dores e angústias de ser humano, como também nossas bestialidades. Amplia-se, então, geralmente, ainda mais nossa incompreensão por parte dos outros.

Rubem Alves é autor do texto “Escutatória”. Conheci escritos do autor nos anos 90, durante os meus estudos de ensino médio, por uma grande professora estadual da disciplina de literatura e nunca mais deixei de lê-lo.

 

 

Temos necessidade de comunicar aquilo que nos incomoda, que nos irrita, que nos prende a nós mesmos. Falar sempre é um ato libertador, porque nos permite uma melhor compreensão de nós mesmos e dos outros. É também constante busca de compreensão, pois viver na eterna incompreensão gera desilusão e descrença nas possibilidades humanas.

Nossos relacionamentos interpessoais tornaram-se desacreditados, controversos e complexos porque, na sua maioria, são interesseiros.

Comunicamos o que nos convém comunicar. Ouvimos, interpretamos e falamos aquilo que nos traz status e reconhecimento social, sem nos importar como os outros nos vêem, nos sentem ou nos percebem. E nem sempre medimos o que falamos.

Não existe emancipação do ser humano sem uma boa comunicação. E o privilegiado exercício da fala e da escuta torna consciente o que somos, o que pensamos e o que sentimos. Mas é um caminho arriscado que muitos temem percorrer, porque falar verdadeiramente aos outros sobre a gente mesmo significa desnudar-se, expor-se, abrir-se. Muito bem contemporiza Charles Brown Jr. numa de suas canções: “se perguntarem prá você/ o que falar sobre si mesmo o que dirá?/ dirá que sabe o que não sabe/ tudo aquilo que jurou nunca dizer, por quê? pra quê?”.

As verdadeiras amizades e os relacionamentos sinceros engrandecem a vida do ser humano, tornando-o mais expansivo, mais aberto e mais liberto de suas angústias e sofrimentos. Geram confiança, imprescindível na fala e na escuta. Esta confiança, por sua vez, não nasce do acaso. Nasce como conquista, na lealdade, franqueza e sinceridade e vai se constituindo em relações de reciprocidade entre as pessoas.

Como nos revela, o exercício da fala também nos amadurece, nos torna mais sábios e mais conscientes no uso das palavras. Já disse Aristóteles: “o sábio nunca diz tudo o que pensa, mas pensa sempre tudo o que diz”.

Mude suas palavras, mude seu mundo. Em “O cego e o publicitário”, uma estratégia diferente, bolada por um publicitário, para o cego comunicar-se e pedir ajuda: “é um lindo dia e eu não posso vê-lo”. Emocionante!

 

 

Falar bem não é só uma questão de estética, construção gramatical ou retórica, mas é uma arte que nos exige ponderação, discernimento, bom senso, coragem, leitura de realidade, análise do contexto, consideração e respeito ao outro a quem dirigimos nossa mensagem. Sim, porque o que conta, afinal, é ser bem compreendido e bem interpretado.

 

Em outro artigo, escrevo: “os problemas de comunicação, em especial dos que sofrem com gagueira, constituem-se problema social, uma vez que interessam a todos.

O ser humano é especialista em compensar. Sem compensar não sobreviveria, porque se não é possível ser bom em tudo, é necessário ser bom e útil em alguma coisa. Por isso a gente se faz gente “agarrando-se” ao que tem de bom, em coisas que tem facilidade e que nos rendam reconhecimento dos outros.

Veja mais.

 

Seres humanos realizam-se plenamente quando sujeitos, emancipados e livres.

Permitir possibilidades da fala e da escuta aos outros é mais do que um gesto democrático e de cidadania. É, antes de tudo, uma atitude pedagógica que permite a cada um reconhecer-se como sujeito de pensamento e de ação.

Todos falam, mas nem todos são ouvidos e bem compreendidos. E é lamentável que muitos acreditem que escutar os outros é perder tempo. Perdem-se, então, muitas possibilidades de vida e de liberdade.

Quem fala se liberta e quem escuta permite a si mesmo e aos outros que o mundo e as consciências se alarguem, permitindo que aconteça o que é a maior busca de todos: a felicidade e a realização.

 

 

Educação e relações de afetividade

 

Que ser humano queremos ajudar a formar
e como envolver a todos (ou muitos)
para que se incluam no projeto educativo proposto?
A afetividade, impregnada pelo testemunho,
carrega os valores universais do respeito à alteridade, da solidariedade,
da gratuidade, do cuidado do patrimônio social, do empenho pessoal pela justiça social.

 

Educar revela sempre um processo relacional.

Se observarmos a natureza, encontraremos os cuidados dos progenitores para com as suas crias. Todos querem, por instinto, salvaguardar sua espécie da atividade predatória concorrente. O zelo para com os pequenos se traduz em proteção e ensino preparatório para a sobrevivência. O comportamento adulto afeta a vida dos neonatos, garantindo ou não a continuidade da prole. Nesta luta, o que é ser inteligente?

No processo educacional humano, o que significa empenhar a inteligência? Podemos seguir os ditames instintivos da natureza e promover a justiça do mais forte, transformando, assim, a convivência social em campo de batalha e gerando o acúmulo de violência (produção de morte) em todas as áreas da atividade humana.

Ao assumirmos a postura do amor, nos descentralizamos do nosso egoísmo e mergulhamos na transcendência que afeta a todos, possibilitando o bem comum. A pergunta na definição do projeto educacional se impõe: que ser humano queremos ajudar a formar e como afetar a todos (muitos) para que se incluam no projeto proposto?

O afeto a ser veiculado pelo testemunho carrega em si os valores universais do respeito à alteridade, da solidariedade aos mais fracos e necessitados, da gratuidade no serviço ao bem comum, do cuidado do patrimônio social, do empenho pessoal pela justiça social.

Uma palavra aos pais de alunos: o testemunho, ou seja, o exemplo, é a maior dádiva para a saúde integral de seus filhos, mas também pode se constituir em força desintegradora do caráter e da personalidade deles (dos filhos).

 Sueli Ghelen Frosi, da Escola dos Pais, entende que “as famílias felizes têm a concepção de que é bom tocar, de que é bom abraçar, de que é saudável mimar-nos e mimar aos outros. São famílias amorosas, que distribuem todo o carinho que recebem e, sabiamente, generosamente, transcendem seus lares, transmitindo para a sociedade o que vivem”.
Veja mais.

Com que qualidade e frequência seu filho ou filha recebe um afago, um colo, um embalo, um incentivo? Como anda a autoestima, a segurança, o amor próprio de seu filho?

Queridos pais: tenham certeza que tudo tem a ver com o ambiente familiar em que todos estão inseridos. Ainda, ajudem seus filhos em sua vida escolar, colaborem com a escola, pois juntos (escola e pais) atuaremos mais fortalecidos para que todos vivam mais felizes, mais integrados e melhor resolvidos.

 

Vídeos que expõem pontos de vista sobre a polêmica e controversa questão:
“Escola ensina, família educa?”

 

 

 

A manada de José Mayer e a Globo

Estamos descobrindo que Mayer e a Globo,
com seus sentimentos de poder total, têm muitas coisas em comum
(e não estou falando da relação com as mulheres,
mas das mais amplas relações humanas).

 

José Mayer frustrou muitos dos machos que o seguiam como inspiração, ao largar a nota em que admite que errou e que vinha errando há muito tempo com as mulheres.

Mayer confessou que era um assediador, mas arranjou um atenuante. É aí que ele pode ter frustrado os machos que o consideram o cara, o alfa a ser imitado. Mayer não só admitiu que era um predador, como veio com uma conversa sociológica.

 

Repercussões na própria Rede Globo em programa Vídeo Schow

 

A culpa seria dele e de toda uma geração que se sentia à vontade para assediar as mulheres do jeito que bem entendesse (ainda mais se fosse galã da Globo). Os machos que o admiram talvez não admitam, mas José Mayer acertou o diagnóstico. A nota é muito boa. Tão boa que fica muito acima da média em casos complicados como esse (se é autêntica é outra história).

Ele pede desculpas, confessa que sempre foi assim, anuncia que vai mudar e apela para que outros da sua geração também mudem. Só falta dizer que vai virar pastor. A nota tem até pretensões literárias.

Mas aí alguém pode estar pensando: eu avancei muitas vezes para além do razoável, mas nunca passei a mão nas partes íntimas de colegas de trabalho. Mayer passava. Deveria achar normal. Bonitão, insuportável, superior.

A tese de cientista social do assediador não o absolve, mas ameniza a própria culpa e talvez melhore sua situação no caso de um pedido de reparação da moça na Justiça. Mayer tenta se colocar como exemplar de uma manada. Ele é o que é porque integra uma coletividade de assediadores da mesma idade, com as mesmas cabeças atrasadas.

Pesquisei nas redes sociais sobre as repercussões e os comentários sobre o caso. Li até comentários de mulheres que parecem ver algum exagero no julgamento público, se não nesse caso, em muitos semelhantes. E muitos homens incomodados com a reação das artistas da Globo.

Elogiada por protagonizar e incentivar o debate de assuntos polêmicos em seu “Amor & Sexo”, na TV Globo, a apresentadora Fernanda Lima é uma das engajadas da campanha “Mexeu com uma, mexeu com todas”.
Veja mais.

 

Esses talvez não mudem, mas ele encerra a nota em tom de auto-ajuda: “O que posso assegurar é que o José Mayer, homem, ator, pai, filho, marido, colega que surge hoje é, sem dúvida, muito melhor”.

O que o episódio acaba por revelar é que não só os machos, mas também alguns atores do estilo de Mayer deveriam estar em desuso, num mundo em que se disseminam as agressões às mulheres, os casos de estupro e outras formas de crueldade e desrespeito, sem falar na homofobia.

Estamos descobrindo que Mayer, o canastrão, leva para seus personagens o que de fato é. E que ele e a Globo, com seus sentimentos de poder total, têm muitas coisas em comum (e não estou falando da relação com as mulheres, mas das mais amplas relações humanas). Com a diferença de que a Globo manipuladora nunca irá pedir desculpas.

 

Uma vida dedicada à cultura

Fotos: Arquivo pessoal /Paulo Dutra

Abrimos a temporada de novas entrevistas da série “Profissões Educadoras” com um personagem que contribui para uma revolução cultural na cidade. Nosso entrevistado nasceu em Santo Antão, interior de Passo Fundo e, ainda criança, veio com a família morar na Vila Operária e mal sabia ele que iria bem mais longe, ganharia o mundo. Refiro-me a Paulo Gilberto Bilhar Dutra, o Paulo Dutra, 60 anos de idade e uma vida dedicada à cultura e ao voluntariado. Formado em economia, é funcionário público há 42 anos, mas atrevo-me a chamá-lo de “operário da cultura”. Presidente do Festival Internacional do Folclore de Passo Fundo é responsável por colocar Passo Fundo no mapa internacional dos festivais de folclore, congregando 160 voluntários em torno de uma bandeira: a paz entre os povos.

Confira a entrevista.

 

Márcia Machado: Como a cultura entrou na tua vida?

Paulo Dutra: Na década de 70, nós tínhamos um grupo de teatro no antigo Colégio Comercial, que funcionava no Colégio Joaquim Fagundes dos Reis no período noturno e ali tínhamos um grupo de teatro que desenvolveu muitas atividades. Durante três anos trabalhamos ali e depois de formado continuei por mais um ano, nós inclusive viajávamos com o grupo. Desde o antigo primário participei de atividades culturais, especialmente ligadas ao tradicionalismo. Na Vila Operária, no Grupo Escolar Anna Willig, nós tínhamos um grupo de dança, também participei do Grêmio Estudantil, Centro Cívico e do Coral. O primeiro Coral no qual cantei foi com a professora Terezinha Brás, ainda no antigo Segundo Grau. Entrei para o Coral da Universidade de Passo Fundo, antes de entrar para a Universidade, eu já estava metido lá. Ainda participei de um grupo de danças no bairro Vera Cruz, chamado Mate Amargo, após ingressei no Grupo Terra Pampeana.

Márcia Machado: Foi com o grupo Terra Pampeana que nasceu a ideia do Festival Internacional de Folclore?

Paulo Dutra: Fui patrão do grupo por um bom tempo, fizemos um trabalho diferenciado sobre a cultura gaúcha e o grupo teve muitas atividades, muitas oportunidades dentro do Estado, pelo Brasil e fora do Brasil. Realizamos um trabalho intenso e com esse trabalho surgiu o CIOFF – Conselho Internacional de Organização de Festivais Folclóricos e Artes Tradicionais, onde fomos convidados a representar o CIOFF no Rio Grande do Sul pelo trabalho realizado pelo Terra Pampeana.

Márcia Machado: A ideia do Festival não nasceu em solo passo-fundense, tão pouco brasileiro?

Paulo Dutra: A ideia surgiu na Itália, enquanto participávamos de festivais lá, achamos que nossa comunidade também mereceria a oportunidade de ter aquela troca de informações que estávamos usufruindo. Voltamos e apresentamos o projeto para o legislativo que, na época, tinha como presidente o vereador Tadeu Karczeski e para o executivo chefiado pelo prefeito Airton Dipp e também fundamos o CIOFF/RS. O grupo trabalhou durante um ano, tínhamos a experiência de festivais nos quais participamos e mobilizamos toda a cidade, através de reuniões com escolas, igrejas, CTGs, associações de bairros, entidades. Tudo depende da motivação e esse grupo estava motivado e conseguiu fazer essa articulação envolvendo toda a comunidade. E o Festival está aí até hoje, completando 25 anos, sempre com o intuito de promover a paz entre os povos. Já estamos preparando a próxima edição.

“A ideia surgiu na Itália, enquanto participávamos de festivais lá, achamos que nossa comunidade também mereceria a oportunidade de ter aquela troca de informações que estávamos usufruindo”.

 

Márcia Machado: Como você se vê no papel de articulador dessa grande festa cultural que é o Festival?

Paulo Dutra: Eu me sinto feliz em participar. Não acho que eu seja o articulador porque a articulação se dá com um grupo que trabalha junto, há muito tempo, então tem ideias, tem coisas que são realizadas dentro dos grupos e que vão para a prática e a gente não sabe de quem é, a gente nem lembra. A ideia surge, é discutida, aprofundada e executada. Dizem que eu sou idealizador do festival de Passo Fundo, mas eu não sou. O Festival surgiu dentro do Terra Pampeana e até hoje a gente não lembra como aconteceu a discussão na Itália, o que sabemos é que ela foi tomando corpo e acabou resultando no Festival, tudo a partir do empenho de um grupo.

Márcia Machado: Como atrair 160 pessoas para um trabalho totalmente voluntário?

Paulo Dutra: Para ter voluntários, e eu sempre fui dedicado a essa causa do voluntariado, precisa ter um tema que atraia as pessoas, não só pela cabeça, mas pelo coração. E a questão do tema folclore está arraigado nas pessoas, é a vida, a cultura de cada um, todo mundo quer saber de onde veio, para onde vai. É a transmissão de cultura de geração para geração, então, é um tema que atrai as pessoas. Quando você tem um tema que te motiva e que motive as pessoas a trabalhar com o coração, aí o voluntariado acontece. Então, tem que ter cabeça, motivação e coração para isso.

Para ter voluntários precisa ter um tema que atraia as pessoas, não só pela cabeça, mas pelo coração.

 

Márcia Machado: O diferencial do Festival é o envolvimento de toda a comunidade. Os grupos visitantes percebem isso?

Paulo Dutra: Esse retorno que os grupos têm nos dado, não é só em relação ao Festival e a organização, mas é em relação ao comportamento da cidade. Como as pessoas recebem bem os grupos visitantes nas ruas, nas lojas, nos mercados, seja onde for. As pessoas querem com eles e não tem idade, tanto que num dos festivais a dona Heloisa Almeida, no alto dos seus quase 90 anos, estava em todos os desfiles e você também via crianças dançando e conversando com os grupos também. A comunidade compreende que para muitos é uma oportunidade única de conhecer várias culturas e que só o Festival proporciona isso.

Esse retorno que os grupos têm nos dado, não é só em relação ao Festival e a organização, mas é em relação ao comportamento da cidade. Como as pessoas recebem bem os grupos visitantes nas ruas, nas lojas, nos mercados, seja onde for.

 

Márcia Machado: O público busca uma interação maior com os grupos a cada Festival?

Paulo Dutra: A sinergia é grande, tanto que nós fomos aumentando o número de oficinas porque as pessoas pediam mais contato com os grupos. Exemplo disso é a oficina gratuita de conversação, momento em que a comunidade pode interagir com os grupos e também aprender as danças em outra oficina oferecida. Nas praças com os espetáculos, nas ruas com os desfiles diários. Outro exemplo foi um show aberto que realizamos no Parque da Gare e impressionou pelo número de pessoas participantes. Procuramos oferecer esse contato direto com os grupos, é uma troca. Só o Festival proporciona isso.

Márcia Machado: A disseminação da cultura dos povos tem um viés educativo?

Paulo Dutra: A questão cultural ela é muito importante para a educação e esses eventos com os quais a gente trabalha, todos eles têm um cunho educativo. O Rodeio Internacional de Passo Fundo, por exemplo, valoriza a questão da nossa terra, das coisas da nossa gente, das nossas raízes. Na medida em que tu conhece, começa a valorizar mais e a discutir sobre isso, é um princípio de desenvolvimento da educação. A Jornada de Literatura, nem se fala, é a formação de leitores, porque o conhecimento é cultura, e cultura é educação. O Festival é isso, muita cultura e educação, pois no momento que tu vai receber alguém de fora e que vai trazer a sua cultura, obviamente que as pessoas vão perguntar sobre a cultura local, então, você tem que buscar, tem que ler, tem que ter o conhecimento e esse processo na comunidade está sendo natural. Quem tem o conhecimento e a informação, tem outro tipo de educação.

A questão cultural é muito importante para a educação e esses eventos com os quais a gente trabalha, todos eles têm também um cunho educativo.

 

Márcia Machado: Como resumiria essa tua dedicação à cultura?

 Paulo Dutra: Eu me sinto feliz em participar dessas oportunidades, em saber que posso contribuir com a comunidade, mas sozinho a gente não faz nada. Existe a necessidade de apoio e temos o apoio dos poderes públicos de Passo Fundo, dos patrocinadores e da comunidade. O último Festival reflete isso, mesmo diante de toda a crise econômica, Passo Fundo foi a única cidade brasileira, em 2016, a realizar um festival do CIOFF, os demais não saíram.

Márcia Machado: Você imaginou que o Festival ia tomar essa proporção e chegar ao ranking dos 10 melhores do mundo?

Paulo Dutra: Não. Ele acabou se transformando em um dos maiores festivais do mundo, nós já recebemos aqui praticamente todos aqueles que foram presidente do CIOFF mundial, como Finlândia, Canadá e França, e o conceito deles em relação ao Festival de Passo Fundo é excelente, pois já visitaram festivais no mundo todo e colocam o nosso entre os 10 melhores do mundo. Eu não imaginava que o Festival fosse tomar a proporção que tomou.

Quem tem o conhecimento e a informação sobre diferentes culturas, tem outro tipo de educação.

 

Márcia Machado: O que você espera para o Festival no futuro?

Paulo Dutra: Continuar sempre. O tempo passa e o meu grande desejo é que alguém assuma a liderança desse trabalho. Temos incentivado e pedido muito aos voluntários para alguém assumir. A aposentadoria dá um certo medo, mas um dia terá que ocorrer também.

A menina e o cajueiro

 

Eu não sei porque Deus criou cajueiros,
mas eu acho que foi para ser amigo de uma menina
que morria de medo das pessoas grandes,
porque elas só têm garfos e facas na cabeça.

 

Na minha pequena casa de dois vãos não tinha vaso em cima da mesa como decoração. O que decorava a nossa casa era um cajueiro bem grandão, no quintal. Todo o mundo que chegava a minha casa ficava espantado com o meu cajueiro.

Ele era bem grandão mesmo! Eu tinha orgulho de dizer: é meu amigo! É meu amigo! E todos riam de mim. Quem já viu árvore ser amiga de gente? Era assim que pensavam meus familiares e algumas pessoas que visitavam a nossa casa.

Eu não sei porque Deus criou cajueiros, mas eu acho que foi para ser amigo de uma menina que morria de medo das pessoas grandes, porque elas só têm garfos e facas na cabeça.

Eu e meu cajueiro éramos um só. Às vezes eu até me sentia uma cajueira. Para quem nunca teve irmãos, nem amigos de verdade e precisava conviver com pessoas de mentira era preciso ter um cajueiro como amigo.

Talvez vocês não saibam, mas os cajueiros gostam de conversar de madrugada, e quase todas as noites eu abria a porta da cozinha bem devagarzinho para não fazer barulho e ia conversar com ele, eram conversas meio assim, sei lá, assim, conversas, é, eram conversas. Aí quando o dia amanhecia eu acordava com o grito da minha mãe:

– Dormiu de novo embaixo do cajueiro?

Ela me dava umas palmadas bem fortes na bunda para eu não repetir mais aquilo. Só que eu não suportava a voz do meu cajueiro me chamando de madrugada para ir ficar perto dele, porque mais medo tinha eu dele adoecer do que de levar umas palmadas de vez em quando. Então, um fazia companhia para o outro. A gente gostava de olhar à lua. Era assim: a gente só olhava. Nada mais.

A coisa mais difícil do mundo foi quando a vovó morreu. Ela morava bem longe. Eu tive que me arrumar às pressas. Nem tive tempo de me despedir do meu cajueiro. Fiquei três dias longe dele. Eu chorava a morte da vovó e chorava também a saudade do meu cajueiro. Nunca descobri por quem mais chorei de verdade.

Quando a gente ama alguém a coisa mais difícil desse mundo é ficar um minuto longe dessa pessoa, imagine três dias. Cheguei a perguntar ao sol se ele não estava atrasado para seu crepúsculo e a lua se ela não estava com sono.

Vovó foi enterrada e eu fiquei feliz com aquilo. Enquanto todos choravam eu tinha vontade de sorrir, agora podia voltar para perto do meu cajueiro. Bem, aí meu pai inventou de ficar mais uns dias perto do meu avô.

Para acabar com a saudade do meu cajueiro comecei a desenhar cajueiros de todos os tamanhos na parede da casa da minha avó morta ou da casa do meu avô vivo, como vocês preferirem. Levei uma surra bem boa por riscar as paredes branquinhas da casa dos meus avós.

Voltei para casa e a primeira coisa que fiz foi abraçar meu cajueiro. Quer dizer abraçar parte do tronco dele. Era um tronco bem grosso. Ele parecia com raiva de mim, não aceitou minhas desculpas, e eu como sabia fazê-lo sorrir comecei a fazer cócegas nas suas folhas. Então, ele sorriu muito pedindo para eu parar.

O cajueiro (Anacardium occidentale) é originário da região nordeste do Brasil. Existem dois tipos: o comum (ou gigante), que pode atingir entre 5 e 12 metros de altura, e o anão, com altura média de 4 metros.
O fruto do cajueiro, a castanha de caju, possui em seu interior uma amêndoa que, quando seca e torrada, é popularmente conhecida como castanha-de-caju. Além do fruto, a casca da árvore é também utilizada como adstringente e tônico. O tronco do cajueiro produz uma resina amarela, conhecida por goma do cajueiro, usada na indústria do papel até a indústria farmacêutica. Sua madeira, durável e de coloração rosada é também apreciada.
Veja mais.

Certa manhã, mamãe inventou de fazer uma faxina no meu quarto. Ela pegou meus sapatos pretos que tinham me acompanhado durante anos para jogar no lixo. Lixo?! Sim, iam para o lixo. Deixei que ela os colocasse na lata do lixo, mas de noitinha fui lá e tirei meus velhos sapatos pretos. Cavei um buraco embaixo do meu cajueiro e os enterrei lá.

Nesse dia, eu descobri que podia enterrar tudo embaixo do meu cajueiro e comecei a enterrar a minha tristeza de me achar diferente das outras crianças. Diziam que eu era uma menina muito esquisita: não falava quase nada, não brincava com ninguém, não comia direito e ainda passava horas a conversar com um cajueiro. Podia ser doença? As pessoas grandes inventam doença para tudo.

No outono, as folhas do meu cajueiro caíam bastante. Daí, eu pegava um saco de estopa e apanhava uma a uma. Depois escondia tudo no porão da nossa casa. Nunca contei isso para ninguém só para vocês estou contando agora, e não contem para mais ninguém. Já pensou se descobrem que no porão da minha casa está cheio de folhas secas de um cajueiro? Vão dizer que eu sou doida. E se doido não fosse chamado de doido, queria ser doida.

A gente aprende a gostar das coisas e nem sabe o motivo, só sabe que gosta.

Foi assim que aconteceu comigo. Eu gostava daquele cajueiro por demais. Gostava tanto que ficava feliz de verdade nos dias sem sol e sem chuva, aqueles dias que os meteorologistas não conseguem acertar como o tempo vai ficar. Era mais ou menos assim: gostava um tanto de mim, um tanto do papai, um tanto da mamãe e um tantão do meu cajueiro. Eu acho que ele sabia que eu gostava muito dele, não que eu tenha falado, sempre tive vergonha de falar o que sentia para as pessoas.

No dia do aniversário do meu cajueiro pendurei bolinhas de encher nos seus galhos, convidei os passarinhos para festa de aniversário e me vesti de palhaço. Mas eu não sabia que ele tinha medo de palhaços e o pobrezinho tomou um susto enorme de mim, um susto tão grande que começou a tossir sem parar. Os pássaros e eu ficamos preocupados, não sabíamos o que fazer. Um pardal, desesperado, me pediu para eu limpar o rosto e tirar a peruca. Quando meu cajueiro viu que era eu foi ficando calmo e a tosse diminuindo.

O medo é uma coisa meio desconhecida. Quem já viu ter medo de palhaço vocês podem pensar. Mas tem gente que tem medo de muita coisa, eu conheci uma pessoa que tinha muito medo de comer.

O meu cajueiro tinha medo de palhaços e pronto. Era preciso aceitar.

Em tempos de cajus eu só de propósito não chegava perto do meu cajueiro. Morria de inveja daqueles cajus bonitos, cheirosos, enormes. Eu queria ser uma castanha, ser filha do meu cajueiro.

As castanhas que cresciam rapidamente pareciam donas do mundo. Ah! Eu nem ligo! Não ligo mesmo! Você não tem seus cajus e suas castanhas então fique com eles. E eu me trancava no quarto a querer ler todos os livros do mundo numa só noite, de raiva e inveja.

Frutos do cajueiro.

Pedi ao papai para fazer um balanço de madeira pendurado no meu cajueiro e passei todas as tardes a me balançar pra lá e pra cá cantando músicas para ele. Eu me sentia uma cantora famosa!

Um dia, ele me pediu para parar de cantar, não aguentava mais a minha voz gasguita! Eu fiquei tão zangada que abandonei balanço, sandálias e tudo o mais. Saí andando apressada e tranquei a porta da cozinha na sua cara: praft!

Fiquei de mal do meu cajueiro. Como ele podia dizer aquilo de mim? Como ele ousava reclamar da minha voz? Ele também tinha um tronco tão horrível e eu nunca reclamei, tinha raízes tão feias e eu nunca reclamei. Ele era incompreensível ou sincero demais, seja como for isso não se faz com um amigo, pensei.

Para compensar sua falta diante de mim meu cajueiro começou a chorar todas as madrugadas, um choro que iniciou baixinho, depois foi aumentando, ficando alto por demais. Eu cobria minha cabeça com o travesseiro, mas aí era que ele gritava pra valer. Não aguentei mais. A saudade também já tinha comido parte do meu pé direito e se eu continuasse daquele jeito ia desaparecer em breve. Abri a porta devagarzinho e lá estava ele no meio do quintal, lindo, parecia o dono do mundo. Sorrimos um para o outro e eu corri para abraçá-lo diante do olhar da cerca do meu quintal.

Quando se tem um amigo de verdade não precisamos fazer muitas perguntas sobre a vida. Não sei se isso é bom ou ruim, porque a única coisa que me intrigava no mundo inteiro era essa história de que criança não sabe de nada.

Eu me sentia a menina mais sabida do mundo. Eu sabia onde moravam as estrelas e onde o sol dormia. Eu sabia onde os vaga-lumes brincavam e onde os pássaros escreviam poesias. Ninguém sabia que eu e meu cajueiro brincávamos de escolinha todas as tardes e que eu sempre ganhava dele nas contas de matemática.

“O mar é enorme.”, diziam as pessoas para mim. Mas, eu sabia que a maior coisa do mundo era o meu cajueiro! As pessoas não dão muita importância para um cajueiro, só quando ele dá muitos cajus gostosos para elas chuparem. Fora isso, um cajueiro é apenas um cajueiro. Uma árvore como outra qualquer. Mas, assim como as pessoas não são iguais, eu sabia que as plantas tinham cada uma algo que as diferenciava das outras. O meu cajueiro tinha a mania de dormir à tardinha e acordar no meio da madrugada com medo do escuro. A mamãe costumava apagar a luz do quintal para economizar energia. Isso era horrível nas noites sem lua cheia! O meu cajueiro entrava em pânico na escuridão. Sorte dele que, de vez em quando, apareciam bons vaga-lumes e iluminavam tudo.

Eu gostava muito de desenhar gatos sorrindo. Meus gatos eram todos pintados de preto. O meu cajueiro não entendia por que eu só tinha gatos pretos nos meus desenhos e me criticava. Mas, eu continuei sempre a desenhar gatos pretos. O meu cajueiro dizia também que gosto não se discute, se eu queria desenhar gatos pretos que desenhasse. A gente faz melhor quando faz o que gosta, dizia ele.

Tem planta que a gente compra para plantar e ficar bonita, tem planta que a gente ganha e tem outras que nascem no nosso quintal assim do nada.

O maior cajueiro do mundo está localizado no Rio Grande do Norte, na Praia de Pirangi do Norte, no município de Parnamirim, a cerca de doze quilômetros ao sul de Natal.
Foi plantado em 1888 pelo pescador Luís Inácio de Oliveira, sem nenhuma técnica ou cuidado especial. O cajueiro possui aproximadamente 8.500 metros quadrados de copa e foi registrado em 1994 no “Guiness Book: o livro dos recordes” como o maior do mundo.
Por que o cajueiro cresceu tanto? É incomum uma árvore ter proporções tão grandes. A conclusão que se chegou foi que o crescimento do cajueiro de Pirangi se deve a duas anomalias genéticas, que são: (1) os galhos crescem para os lados ao invés de para cima, como normalmente ocorre; (2) ao se curvar para o chão, pelo peso, os galhos começam a criar raízes e crescem novamente, de forma semelhante a novos troncos. Por isso, o cajueiro não é tão alto.
Veja mais.

Essa é a história do meu cajueiro. Ele não foi comprado, não foi presenteado, simplesmente nasceu ali. Mas e se ele tivesse vontade de conhecer outros locais, outras meninas, viajar, nadar? Eu tinha meus pés e minhas pernas que me levavam para conhecer o mundo todos os dias, mas meu cajueiro não podia andar. Perguntei a ele se tinha vontade de conhecer alguma coisa e fiquei espantada com a sua resposta: quero conhecer-me. Ora essa, e você não se conhece? Perguntei-lhe. Ele me disse que não muito. Achei aquilo tão estranho que toquei nele para ver se estava com febre foi quando encontrei o primeiro cupim dos milhões que estavam tomando conta do meu cajueiro.

Chamei papai e mamãe. Pedi pelo amor de Deus que eles chamassem o médico para tirar aqueles cupins do meu cajueiro. Mamãe disse que não era médico, mas biólogo. Seja como for médico ou biólogo chamem alguém para tirar esses cupins do meu cajueiro, por favor!

Vou lhes contar um segredo. Até hoje penso que aquilo foi invenção de papai e mamãe porque eles nunca chamaram ninguém para matar os cupins que estavam comendo meu cajueiro por dentro.

Coitado! Estava ficando oco! Por sorte, ainda não tinham chegado ao seu coração. Mas já tinham comido seu cérebro e ele nem me reconhecia mais. Para ele eu não passava de uma estranha.

Fui vestida de tristeza naquele dia. Meu cajueiro esqueceu de mim. Chorei todas as minhas lágrimas e depois as que me emprestaram os pássaros. Eu olhava para o meu cajueiro e ele olhava para mim, quieto, sem nem balançar um galho sequer.

Todas as noites, rezei a Deus para curar meu cajueiro. E todos os dias, pedia ao papai e a mamãe para salvarem meu cajueiro. E todos os dias eles me prometiam que iam fazer alguma coisa. Nunca faziam, nunca fizeram.

Eu ia à escola e ficava contando as horas para voltar pra casa rapidamente. Só queria ficar perto do meu cajueiro.

Naquela manhã, eu completava dez anos de idade, estava ficando uma mocinha, disseram. A aula terminou e corri para ver meu cajueiro. Abri a porta da cozinha da minha casa e encontrei um machado encostado à cerca de lenha, pedaços do tronco do meu cajueiro arrumados de um lado e suas folhas verdes e secas espalhadas por todo o quintal.

Morri? Não! Não!

A gente pensa que vai morrer quando perde alguém que ama, mas não morremos. A gente nasce para outro sol. Vivo à espera de um novo amigo e a única coisa que faço é pintar cajueiros para meninos e meninas há quase cinquenta anos.

O amor no tempo eterno do agora

 

A pressa nos trai, nos incomoda,
nos atormenta, nos persegue, nos escraviza.
A oportunidade de amar liberta do tempo e também do espaço.
Viva o amor no tempo do agora e se eternize no agora permanente.

 

Um dia, há alguns anos atrás, escrevi em algum lugar assim, nalgum tempo e espaço, sobre o amor no tempo presente:

“Nosso amor não está apenas no espaço, devendo estender-se a todos os seres humanos, como tarefa de realização, mas também está no tempo. Nosso tempo caracteriza-se pelo amor: leva a amar. Por isso São Paulo nos garante que ele tem um peso de eternidade. O amor que agora conseguirmos vivenciar será o que marcará nossa vida eterna.

O tempo, visto na perspectiva do amor, torna-se extraordinariamente precioso. Por ele construímos nossa eternidade. Trata-se, pois, de um dom de Deus: o talento que recebemos, para trabalhar com ele.

Nosso amor tem a dimensão do nosso tempo e o tempo adquire o valor do nosso amor: quando o amor cresce e se exerce, o tempo ganha em importância; quando, ao invés, não se ama ou até se odeia, perde-se o tempo. Não importa o que se faça, se for sem amor, será tempo perdido”.

“Nossa civilização “encaixotou” o afeto. Sim, logo o afeto que estimula a criarmos as condições para nossa plena realização humana. O ser humano é um ser em construção e, por isso mesmo, demanda e exige investimentos afetivos a vida toda. O cuidado, como algo essencial e que constitui a nossa condição humana, deve ser resgatado se quisermos devolver à humanidade o verdadeiro sentido de sua existência”.
Nei Alberto Pies, professor e escritor

 

Não lembro em que contexto e por meio de que fonte escrevia esses pensamentos. De fato, resgato esse tema, essas ideias, para reafirmar de que quem ama não morre e de fato se eterniza. O momento presente se torna perene no amor vivido e celebrado a cada momento como único e irrepetível.

O tempo é perene para quem ama de verdade e na verdade. “Foi o tempo que dedicaste a tua rosa que fez a tua rosa tão importante”, escreve Antoine de Saint-Exupéry, na obra clássica “O Pequeno Príncipe”. Percebemos que o mundo não nos dá mais tempo para amar.

Fabricamos a pressa, a velocidade das coisas, do tempo, perdendo-nos no espaço onde habitamos. Não nos permitimos mais perder tempo para celebrar o amor verdadeiro, para parar no tempo. Não queremos mais perder tempo nas pequenas coisas mais simples e cotidianas. Temos grandes negócios a resolver, a decidir, e precisamos correr atrás de uma máquina. Somos robôs de uma engrenagem que nós mesmos criamos.

Gosto de uma música de minha terra gaúcha, de João Chagas Leite que canta assim: “Só temos pressa, e mais pressa pra ter pressa, receita louca que inventamos pra morrer, de neuroses e calmantes pesticidas, matando a vida que esta doida pra viver”.

 

 

A nossa neurose inventou a pressa, parecendo que estamos perdendo grandes coisas quando diminuímos a marcha ou não fazemos absolutamente nada. Curto muito a frase de outra canção, agora sertaneja, de autoria dos compositores Almir Sater e Renato Teixeira:

“Ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso, porque já chorei demais, hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe, só levo a certeza de que muito pouco eu sei, ou nada sei, conhecer as manhas e as manhãs, o sabor das massas e das maçãs, é preciso amor pra poder pulsar, é preciso paz, pra poder sorrir, é preciso a chuva para florir”.

 

 

O problema é que o ontem não volta mais, verdade. Mas o amanhã não chegou ainda. Por que me preocupar (pré-ocupar) tanto com o que não chegou e ainda não veio ou naquilo que já passou?

O momento presente é o melhor e posso vivê-lo na intensidade, celebrando o hoje com projeção para que o futuro seja melhor do que o passado e o já vivido.

 

 

O que passou me ajuda a viver o agora para pode eternizar meu presente para um futuro melhor que virá se celebrar com amor o agora precioso. Vou parar aqui esse artigo, porque você talvez já pense perder algo que está na pauta do dia. A nossa pressa nos trai, nos incomoda, nos atormenta, nos persegue, nos escraviza. A oportunidade de amar nos liberta do tempo e também do espaço. Viva o agora no amor e se eternize no agora permanente.

 

De Moçambique, mulheres nutrem esperança de dias melhores

Foto: Victória Holzbach

Ventre, braço, cabeça, corpo,
coração de mulher que carrega a vida
que brota do amor e da esperança de
dias melhores em Moçambique e em todo o mundo.

 

Sabemos que em 1975 a ONU reconheceu 08 de março Dia Internacional da Mulher. Em Moçambique, a grande celebração para elas acontece quase um mês depois, em 07 de abril. A data marca o Dia da Mulher Moçambicana e o aniversário da morte de Josina Machel segunda esposa do primeiro presidente de Moçambique, Samora Machel. Josina, que é considerada um ícone da emancipação da mulher moçambicana, se juntou ainda muito jovem à luta armada pela libertação nacional.

Em Moçambique, a busca das mulheres por igualdade em suas famílias, profissões e comunidades é ainda mais intensa do que a que vivemos no Brasil.

As moçambicanas, especialmente as moradoras de áreas rurais e de periferias urbanas, ainda estão distantes das conquistas dos movimentos ocorridos ao redor do mundo nas últimas décadas. A dupla jornada de trabalho, o acesso precário a informação e a ausência de documentação são verdadeiras barreiras que as impedem de alcançar sua autonomia.

 

Vídeo que apresenta as diferenças das realidades africanas, particularmente do papel da educação como forma de superação das desigualdades e a forma com que as mesmas vivem a sexualidade.

 

Essa desigualdade significa que elas têm menos dinheiro, quase nenhuma proteção contra a violência e o mínimo acesso à educação e à saúde. Este processo faz com que continuem sendo cada vez mais discriminadas e oprimidas por uma sociedade que insiste na desigualdade de gênero como forma de dominar.

 

Gerar a vida é resistir

Por outro lado, a vida das mulheres aqui ganha ainda mais valor e se torna sinal de resistência perante as poucas possibilidades que têm. O esforço necessário para dar a luz não é o mesmo que conhecemos, com nossos exames pré natais, dietas específicas para grávidas e todo o descanso necessário.

Nas poucas condições que têm, nas incertezas da gravidez e do parto, se esforçam não só pelo filho que levam na barriga, mas também para garantir vida aos que já trocaram o ventre pela terra.

Além disso, na cultura de Moçambique, 80% da população vive das machambas (pequenas plantações familiares), as mulheres são responsáveis pelo trabalho com a terra. São elas que acordam antes mesmo do sol nascer e partem para semear, regar e colher o alimento.

De lata na cabeça atravessam a fronteira entre o céu e a terra.
A mulher não transporta água, ela carrega os rios todos dentro.
Mia Couto

 

Das mãos femininas na enxada saem os alimentos e em cima de sua cabeça, outras vidas vão de lá para cá. Armazenada em baldes e galões, a água chega às casas e sacia os sedentos. No caminho de ida e volta até o poço, o suor nascido do esforço vai alimentando a terra para, no destino, dar de beber aos que têm sede.

Ventre, braço, cabeça, corpo, coração de mulher que carrega a vida que brota do amor e da esperança de dias melhores em Moçambique e em todo o mundo.

 

Escolas desencantadas

Escolas estão desencantadas porque falta arte. Com pouca arte,
há pouco humanismo nas escolas, há pouco afeto, há pouca ternura.
Este desencanto resulta de uma visão da educação “para vencer”, para ter sucesso.
Escolas são lugares para a gente se humanizar.

 

Bartolomeu Campos de Queirós é um escritor da ternura e das metáforas. Estou lendo a conta-gotas o livro com seu nome, feito de inéditos selecionados por Ninfa Parreiras. Nos primeiros textos do livro, derrama-se de encantamento por sua infância e, na infância, a escola, a professora.

A gente lê Bartolomeu e vai montado em seu cavalo de palavras. Sentimos o perfume das flores de mato, levadas pelos alunos, sobre a mesa da professora. E acompanhamos o ditado, as “composições” corrigidas, a sua saudade da escola nos finais de semana.

Bartolomeu me leva de volta para perto da minha escola, das histórias, dos poucos livros, da paixão pela professora, das tarefas feitas à luz do lampião de querosene.

Nem eu, nem Bartolomeu, conseguiríamos entender o debate sobre o parecer do Conselho Estadual de Educação que pretende proibir a expulsão dos alunos da escola. Acho que toda a nossa geração, já longe dos bancos escolares, também não conseguirá entender. Também não conseguimos entender a violência contra os professores, a violência contra os alunos, os muros que rodeiam as escolas, policiais rondando os pátios escolares.

 

O que aconteceu com a escola que perdeu o encantamento?

Uma pergunta difícil de responder.

O que eu posso dizer é que não agredimos o que amamos. E os alunos, em geral, não amam a escola. A pergunta poderia ser refeita. Por qual razão se detesta tanto a escola a ponto de se precisar ser expulso dela? De se precisar ir obrigado.

Eu sempre vi a escola como espaço de criatividade, de arte, de liberdade, de sonho. Parece que as escolas de hoje se tornaram apenas espaço para se cumprir obrigações. O professor, com a obrigação de cumprir uma carga horária, de estar lá para cumprir o programa. O aluno com a obrigação de demonstrar o que aprendeu de modo quantitativo.

Nas escolas públicas, o foco passou a ser o desenvolvimento de conteúdo. Nas escolas privadas, a preparação para a aprovação no vestibular.

Falta sensibilidade nas escolas porque falta arte. E quando a arte está presente, é mais como conteúdo, não como fruição. Com pouca arte, há pouco humanismo nas escolas, há pouco afeto, há pouca ternura. E isso é resultado de uma visão da educação “para vencer”, para ter sucesso. Isso acontece desde a família, que espera de seu filho ser bem s sucedido socialmente.

A escola, então, vê-se obrigada a corresponder ás expectativas dos pais. E o que dizer da reforma do Ensino Médio, contrária ao que sempre se pensou sobre educação, focada na (de)formação para o mercado e não para ser pessoa?

O professor e escritor Nei Alberto Pies pensa que “muito antes de escolher sua profissão, o jovem estudante deveria ter o direito de conhecer o mundo do trabalho e as oportunidades profissionais que o mesmo poderá buscar para si. Deveria, também, ter o direito de direcionar os seus estudos a partir de suas habilidades e necessidades, sem abrir mão dos conhecimentos universais e fundantes da nossa civilização”. Veja mais.

Professores e alunos, em geral, parecem estar em campos opostos. Já não são parceiros, já não são companheiros de propostas. E de outro lado, temos uma sociedade que não valoriza o conhecimento estético, mas apenas o conhecimento funcional, para se ter resultados.

Falta afeto na escola e fora dela. Não acho que a escola deva expulsar um aluno. Se o aluno precisa ser educado dentro da escola, retirar da escola é uma punição que deseduca. Temos que repensar a escola destes tempos e para onde ela está indo.

Com certeza, os adolescentes não estão errados. Estão errados os adultos que inventaram uma escola que já não encanta mais.

Pablo Moreno fala da importância de Passo Fundo, Capital Nacional de Literatura. Veja.

Sobre o autor

Pablo Morenno vive em Passo Fundo, RS. Graduou-se em Filosofia e Direito. É servidor público do Tribunal Regional do Trabalho. Escreve literatura para crianças e jovens, com dez livros publicados. Escreve para jornais, revistas e páginas da internet.

Recebeu o Prêmio Mário Quintana em Crônica/2006 e Poesia/2007. Seu livro Flor de Guernica foi finalista do Prêmio Açorianos de 2010 e recebeu o Prêmio Livro do Ano de 2010 da Associação Gaúcha de Escritores. O mesmo livro, em nova edição, foi selecionado para o Catálogo da Feira do Livro de Bolonha de 2017, entre os 30 melhores livros para jovens publicados no Brasil em 2016.

 

Das trevas para a luz

A humanidade se salva,
graças a um Deus que não
abandonou o homem em suas noites.
Deus disse: “Faça-se a luz” (Gn 1,3).
Tudo se transformou em plenitude de vida e amor.

 

A humanidade não era. Tudo era um caos, vazio, não existência, um nada. Só Deus havia. Só Deus era, existia. Deus disse: “Faça-se a luz”(Gn 1,3). E houve luz, estrelas, firmamento, natureza… Pelo poder de Deus, tudo se fez. A primeira noite da existência se fez dia. O vazio se fez preenchimento… no ar, na água, na terra.

E o homem se fez pela potência do Criador. Perdendo o homem a luz, o reflexo e a semelhança de Deus, o Criador quis aniquilar sua criatura disforme. Fez-se segunda noite na humanidade: houve tempestade, chuva por 40 dias e noites, um dilúvio…voltou o caos primordial. Tudo vendaval, morte, trevas.

Uma pomba e um arco-íris anunciava o porvir de um novo dia da trégua de Deus aos parcos sobreviventes que restaram. A família de Noé eram oito na Arca. Deus prometeu nunca mais destruir o ser humano pelas águas. As águas seriam então instrumentos de salvação, promessas que se cumprirão no decorrer dos dias e das noites da humanidade.

Aquele peregrino Abraão contemplava outra noite dessa história humana.

Deus prometera a ele uma posteridade maior que as estrelas do céu que admirava, incontável como os grãos de areia na praia que pisava. Seria pai de um povo infindável. Preencheria o Criador seu vazio, esterilidade e fracasso com inúmeros filhos. Não tinha nenhum. Confiou no hálito de Deus.

O Deus da esperança disse e cumpriu. E assim a luz de novo se fez. E Abraão riu o seu riso, contemplando, no seu filho, a promessa do Messias, que um dia haveria de chegar.

Uma terceira noite a humanidade atravessou. A vida era trevas no Egito. Tudo morte, choro e escravidão por 400 anos. Deus ouviu o clamor e grito do povo escolhido e oprimido. Convocou o gago Moisés para tirar o povo desse inferno, desde vazio e caos. Foi numa noite que o povo saiu de lá…num grande triunfo da mão operosa de Deus. A travessia noturna do mar vermelho foi assombrosa.

Foi uma verdadeira Páscoa da morte para a vida, da escravidão para a liberdade, das trevas para a luz. Jamais esse povo hebreu se esqueceria dessa narrativa, transmitida de pai para filho, a cada liturgia solene do cordeiro pascal, que rememorava essa noite solene. Na grande noite que se transformou em dia, celebrariam no dia 14 de Nissan, como memorial perpétuo.

 

História da Páscoa na versão das crianças.

 

Mas a mão de Deus não secou a não parou de se manifestar como sol da justiça. Haveria uma outra noite a ser vencida: as trevas do coração do homem. Não conseguindo sucesso no envio de profetas para arrumar a casa, endireitar o ser humano, Deus mandaria o seu ungido (do grego: Cristós). Ele mesmo viria pessoalmente resgatar nosso duro coração. E assim se fez.

O Verbo Eterno de Deus se fez carne, humanidade, e fez cabana em nosso meio (cf. Jo 1,14). Mas não foi aceito pelo coração malvado, vazio e sem piedade. Foi morto no madeiro de uma cruz, no lugar do crânio. A humanidade matou a vida, a luz, a promessa da alegria. Fez-se noite e treva novamente. O homem aniquilava quem proclamava ser Deus. O caos voltou novamente ao planeta.

Mas Deus não morreu e não está morto. Nunca estará. Houve uma noite definitiva que se transformou em dia sem ocaso. Na noite das noites, o Verbo ressuscitou, numa manhã radiosa. E a Páscoa Judaica se transformou em Páscoa cristã.

O Cristo ressurgiu dos infernos, do sheol, da morte, dos abismos das sombras. Tudo ressurge com nova cor e luz. A vitória de Deus foi vitória do homem, porque Deus se fez gente, carne e se fez humano. Então no planeta se fez claridade perfeita, verdadeira e multiforme, mais que na criação, quando a noite se fez dia, mais que em qualquer outra treva-luz da história. Tudo se transformou em plenitude de vida e amor.

A humanidade se salva, graças a um Deus que não abandonou o homem em suas noites. No coração humano reinou a esperança diante do abismo da morte. Ainda podemos crer no amor. Cristo Ressuscitou em nós, aleluia. Celebremos, pois, a Páscoa!

 

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