Eu digo que se formos cancelar o pecador – e não o pecado – não sobrará uma obra sequer da vasta produção humana que não sofra cancelamento, seja ela em tela, página ou melodia. Nada restará de pé para que nossa civilização possa degustar sem culpa.
Meu pai costumava dizer “As virtudes são do sujeito e sua genialidade será eterna; já os defeitos são de seu tempo e lá devem ficar”. Com isso, procurava relativizar as falhas e defeitos encontrados nas biografias de gênios da literatura, música, artes plásticas e até da ciência. “É injusto, continuava ele, analisar o sujeito fora do seu tempo, alijado de seu contexto, sem a pressão do seu campo simbólico, no tempo e no espaço. Sem levar em conta seu tempo nosso julgamento sucumbe ao anacronismo”.
Eu digo que se formos cancelar o pecador – e não o pecado – não sobrará uma obra sequer da vasta produção humana que não sofra cancelamento, seja ela em tela, página ou melodia. Nada restará de pé para que nossa civilização possa degustar sem culpa.
Quem, dotado de genialidade criativa, estaria isento de ser seduzido pelos próprios monstros internos? Quem, diante da fama, fortuna e o poder que delas deriva, não seria chamado a se lambuzar nos sabores mundanos? Quem pode julgar o sujeito – não o delito – que podendo, errou?
Por essa razão, eu me oponho de forma veemente a todo tipo de julgamento moral de artistas e pensadores. Nada é mais danoso à cultura contemporânea do que a patrulha moralista, em especial a identitária.
Nada é mais embutrecedor do que apagar o passado por julgamentos morais do presente. A tentativa de remediar estas falhas, colocando embrulhos de celofane nos malfeitos é ainda pior; a solução encontrada por alguns de mudar as obras, fazendo “correções” para amenizar “erros” é absurda e mutilatória. “Corrigir” Heidegger, Monteiro Lobato, Picasso ou Wagner é destruir a história que circunda seus trabalhos, o que lhes veste de significados e relevâncias.
Deixem os termos racistas, antissemitas, misóginos e homofóbicos intactos e discutam esses fatos abertamente, como uma janela aberta no tempo para enxergar nossos valores mutantes no passado, assim como os erros de lá que desejamos combater aqui. Apagar da história as obras de gênios controversos é um crime de lesa-arte. Ao fim e ao cabo acabamos percebendo que a avaliação moral do artista serve sempre a interesses políticos, e libertar-se desse tipo de constrição é sempre um ato de justiça à própria arte, que será livre ou não será arte.
Adultos e crianças, ao se perderem nesse mar de cores e sentimentos, encontrarão não apenas diversão, mas uma rica tapeçaria de significados e insights que reverberarão muito além dos créditos finais. É uma dança com nossas próprias sombras, uma celebração do emaranhado de sentimentos que nos torna humanos”.
As profundezas do nosso ser no qual os mares da mente se entrelaçam com os rios do coração, ‘Divertida Mente’ convida-nos a embarcar em uma jornada encantadora pelas paisagens do inconsciente que nos foi apresentado por Freud e Jung. Não é apenas um filme, mas um mapa para o labirinto de emoções que nos compõe, um convite para navegar no oceano de sentimentos que habitam cada um de nós.
Na história de Riley, uma jovem em meio à turbulência da transição de sua vida, vemos a materialização de cinco personagens: Alegria, Tristeza, Raiva, Medo e Nojinho.
Cada um desses personagens é uma pincelada vibrante no quadro emocional que pinta o nosso mundo interior. Alegria, com seu brilho solar, nos ensina que a felicidade é uma dança de luz sobre as sombras. Tristeza, por outro lado, nos lembra que há beleza e profundidade na melancolia, como a chuva que alimenta o solo seco, preparando-o para novas florescências. Raiva, com suas chamas indomáveis, mostra-se como uma força de mudança, enquanto o Medo nos sussurra cautela, um vigia constante no castelo da mente. E, por fim, Nojinho, com seu ar de superioridade, nos protege dos perigos do mundo, seja de brócolis ou de corações partidos.
‘Divertida Mente’ nos oferece um espelho, refletindo a complexidade de nossas próprias paisagens emocionais. É um lembrete sutil de que as emoções não são simples hóspedes em nossa casa interior, mas os arquitetos de nossa experiência. Em Riley, vemos a batalha contínua para equilibrar esses habitantes, cada um lutando por seu lugar ao sol da consciência. É através de seus olhos que aprendemos que nossas emoções não apenas nos influenciam, mas tecem o tecido de nossa identidade.
A jornada de Riley é, em última análise, uma lição de empatia e resiliência.
Enquanto ela atravessa os desafios inevitáveis da mudança — uma nova cidade, uma nova escola, um novo mundo — somos lembrados de que o caminho não é fácil, mas é necessário. Assim como um rio esculpe seu caminho através de rochas intransigentes, somos convidados a enfrentar nossos próprios desafios com coragem e compaixão. A resiliência, assim, emerge como a ponte entre o que fomos e o que podemos ser.
Mais do que uma exploração do universo individual de Riley, o filme é uma porta aberta para conversas significativas. Ele nos proporciona uma linguagem universal para discutir o inefável: as emoções. Quando famílias se reúnem em torno desta narrativa, elas têm a chance de desvendar suas próprias histórias emocionais, de falar sobre o que muitas vezes permanece silencioso. As crianças, ao assistirem às aventuras emocionais de Riley, são encorajadas a expressar seus próprios sentimentos, enquanto os adultos são levados a refletir sobre as raízes e ramos de suas próprias experiências emocionais.
Visualmente, “Divertida Mente” é um banquete para os olhos, uma tapeçaria animada de cor e imaginação. A genialidade da Pixar ao traduzir conceitos abstratos em visuais tangíveis inspira-nos a sonhar além das limitações do cotidiano. Esse universo onírico, onde a criatividade não conhece fronteiras, é uma ode ao poder da imaginação, que nos convida a explorar as vastidões ainda não mapeadas de nossas mentes.
Assistir “Divertida Mente” é mais do que uma mera atividade de entretenimento; é um mergulho nas profundezas do inconsciente, uma exploração poética das emoções que nos definem. Adultos e crianças, ao se perderem nesse mar de cores e sentimentos, encontrarão não apenas diversão, mas uma rica tapeçaria de significados e insights que reverberarão muito além dos créditos finais. É uma dança com nossas próprias sombras, uma celebração do emaranhado de sentimentos que nos torna humanos”.
Autor: Prof. Dr. Mauro Gaglietti.Titular da Cadeira 31 da Academia Passo-Fundense de Letras/ Professor da Pós-Graduação em Justiça Restaurativa e Mediação por intermédio da empatia da URI [Santiago, RS] /Mediador de Conflitos e Mentor em Soft Skills nas empresas, escolas e instituições. Também escreveu e publicou no site “Chamado das rosas noturnas no sul do Brasil”: https://www.neipies.com/chamado-das-rosas-noturnas-no-sul-do-brasil/
No teatro tem-se um grupo que dialoga, organiza, experimenta e que se conecta interdisciplinarmente, potencializando a criatividade. Constantemente, o grupo e cada indivíduo exercita memória, atenção, compreensão textual, imaginação e expressividade. No acontecer do teatro há um educar-se coletivo dos que estão em cena mediatizados pelo público que também se educa.
O que é o teatro se não a arte de representar papéis? Com certeza, esta não é uma boa definição. Porém sabe-se que teatro não significa prédios/edifícios, narrativas, atores, formas e estilos. Em sua obra A porta aberta: reflexões sobre a interpretação, Peter Brook (2011) discute este problema conceitual destacando a dificuldade para definir a palavra “teatro”; por fim se satisfaz afirmando que a essência do teatro reside num mistério chamado “o momento presente” e este por sua vez é surpreendente.
Para este breve escrito fico com essa breve definição do teatro como sendo a “a arte de representar papéis”. Da peça teatral participam todos os presentes: atores, plateia e os demais envolvidos no espetáculo. No teatro a sensibilidade sai por todos os poros, pois ele é genuíno, tenso, emocionante, inteligente, envolvente. As narrativas teatrais são histórias “ao vivo e a cores”.
Teatro é vida, afirma Peter Brook (2011), mas não se pode apresentar no teatro a “vida tal como ela é” porque seria tedioso. Também não se pode deixar de mostrar a vida porque não haveria identificação com a plateia. Mas então como se faz teatro? Teatro se faz com atores, pessoas que emprestam aos personagens uma exuberante vida interior.
Nas palavras do autor, “vamos ao teatro para um encontro com a vida, mas se não houver diferença entre a vida lá fora e a vida em cena, o teatro não terá sentido. Não há razão para fazê-lo. Se aceitarmos, porém que a vida no teatro é mais visível, mas vivida do que lá fora, então veremos que é a mesma coisa e, ao mesmo tempo, um tanto diferente. Convém acrescentar algumas particularidades. A vida no teatro é mais compreensível e intensa por que é mais concentrada (Brook, 2011, p.8).
Na vida real, utilizamos muitas palavras desordenadas e repetitivas. No palco a vida está mais condensada no tempo e no espaço. Com alguns movimentos e poucas palavras, atores conseguem dizer e fazer sentir o que na vida real levaria horas e talvez meses para ser tido ou sentido. Atores não são marionetes, pois se fossem, poder-se-ia dispensá-los e deixar que bonecos traduzissem as narrativas teatrais e não importa se é a obra Hamlet ou qualquer outra narrativa comercial.
A sensibilidade dos atores é fundamental para um bom espetáculo teatral. No entanto, não é somente a sensibilidade, mas a capacidade de ao contracenarem criarem algo novo que não está no texto, não está no cenário e em nenhuma técnica experimentada para lá de “mil vezes”. Os atores experimentam a interdisciplinaridade de uma forma jamais vista em sala de aula ou em grupos de pesquisas. Porque não se trata de cooperação ou de empréstimos de um saber específico compartilhado, trata-se de criação. Precisamos ficar atentos para as múltiplas tarefas que executam. Os atores se colocam à disponibilidade para aprender e absorver outras práticas que não pertencem à especificidade de ator.
No palco eles cantam, dançam, poetizam, interpretam papeis, montam cenários, experimentam com seus personagens múltiplas profissões, vivem dilemas humanos, aprendem a brincar e tantas outras experiências encantadoras. Diz Brook (2011, p.52): “A grande pergunta que os seres humanos fazem eternamente é: ‘Como devemos viver?’ Mas as grandes questões permanecem completamente ilusórias e abstratas se não houver uma base concreta para sua aplicação na prática. O teatro é maravilhoso porque é justamente o ponto de encontro entre as grandes questões da humanidade – vida, a morte – e a dimensão artesanal, extremamente prática”.
Na vida escolar já existem experiências multidisciplinares que utilizam o teatro para reforçar conteúdo, dinamizar o conhecimento, entreter, tornar a vida mais divertida ou para aliviar o tédio causado pelos repetitivos e desconexos conteúdos escolares.
Algumas escolas possuem oficina de teatro ou artes cênicas dentro da disciplina de Artes. Outras têm o teatro com atividade extracurricular. Cabe também frisar que a longa data pedagogos e pesquisadores do ensino já mostraram pela via científica que o brincar, o jogar, o lúdico e que os jogos dramáticos são fundamentais para o desenvolvimento do ser humano.
Educa-se para sensibilidade em qualquer momento e situação. Para isso é preciso ficar atento ao mundo da vida. Certa vez, um adolescente enquanto falava sobre um assunto que nada tinha a ver com o que suas mãos faziam, estando ele próximo de uma pequena árvore cujos brotos nasciam, ficava arrancando-os sem nenhuma preocupação ou sentimento de destruição. Ele só parou de arrancar os brotos após ter sido repreendido por um adulto. Destaca-se aqui o fato do garoto não ter sido “afetado”. A chamada de atenção não o fez pensar no que estava fazendo. Para ele não havia nada de errado. Sua falta de sensibilidade com a planta era descarada e, obviamente a sua apresentação pública não havia nada de belo. É bem provável que sequer compreendia a totalidade do contexto. Talvez se este indivíduo tivesse tido experiências que envolvesse o plantar, o regar, o cuidar ele conseguisse dar-se conta do seu agir no mundo naquele momento.
Se queremos seres humanos mais sensíveis aos contextos, então precisamos educá-los e para isso é preciso vivências. O fato de alguém ter muito conhecimento não significa naturalmente que se tornou um ser sensível para todos os contextos.
Como já foi dito anteriormente, a sensibilidade tem a ver com percepção e esta é a elaboração mental das sensações. Um contexto pode oferecer inúmeros estímulos às sensações. No entanto, não prestamos a atenção em tudo que está ocorrendo ao nosso redor. Coisas nos passam despercebidas, o que na visão de algumas pessoas possa aparentar insensibilidade. Quanto maior for a percepção do ambiente maior nossa apreensão da realidade.
O ser humano precisa de uma experiência estética do cotidiano porque esta é capaz de fazer aflorar seu potencial sensível. Estética, segundo Nadja Hermann (2005, p.34) “é um termo derivado do grego aisthesis e significa sensação, sensibilidade, percepção pelos sentidos ou conhecimento sensível-sensorial”. O belo, o bom gosto, o bom humor define o ser humano tornando-o uma pessoa melhor na sua relação consigo mesma, com os outros e com as coisas.
A estética enquanto totalidade da vida sensível significa uma ampliação das percepções. Segundo Morin (2013, p. 342), “a relação estética não deve ser considerada um luxo. Ela nos remete ao melhor, ao mais sensível de nós mesmos. Ela nos envia uma mensagem de autenticidade a respeito de nossas relações com os outros, com a vida, com o mundo”.
As pulsões são eventos naturais, mas precisam ser educadas e neste quesito concordamos com Schiller (1991) “as pulsões naturais” emanam da vida e por vezes são opostas. O sensível é corpóreo, parte da existência física do homem. Essa sensibilidade pode levar o sujeito a seguir as inclinações das paixões. Porém, viver apaixonadamente o tempo todo pode ser destrutivo. Por isso Schiller (1991) vai insistir no equilíbrio destacando a importância do impulso racional. O belo, para o filósofo, é justamente o encontro entre a sensibilidade e a racionalidade. Quem sabe a tarefa de uma educação para sensibilidade possa ser religar o sensível ao racional.
Sendo o teatro uma arte, sem dúvida, a experiência dele permitirá ao ser humano uma autocompreensão de seu “ser e estar no mundo”, além da expressão cênica e da narrativa que fazem a dramaturgia e que, por si só, já revela valor estético e educativo. Atividades dramáticas liberam a criatividade revigorando a potencialidade imaginativa do ser humano e sua capacidade para a improvisação. Que ser humano não brincou de “faz de conta”? Na infância representar papéis é algo espontâneo e revelador da situação interna e afetiva da criança. “As capacidades de expressão – relacionamento, espontaneidade, imaginação, observação e percepção – são inatas no ser humano, mas necessitam ser estimuladas e desenvolvidas, por meio de atividades dramáticas, musicais e plásticas” (Reverbel, 2009, p. 23).
Não significa dizer que teatro é um “faz de conta”.
Sabemos que teatro é feito por atores “com vivacidade intelectual, emoção verdadeira e corpo equilibrado” (Brook, 2011, p.14). Uma criação artística teatral requer pensamento, sentimento e corpo em perfeita harmonia. No espetáculo teatral alguns elementos são indispensáveis: ator, diretor, texto (personagem) e espectador. Para unir estes elementos exige-se trabalho duro. Muito estudo, ensaio, talento, dinamismo e comunicação.
O que nos interessa aqui é entender que desde muito cedo o ser humano cria personagens para revelar-se e para comunicar algo ao mundo. Que possui grande capacidade imaginativa e que por meio de narrativas consegue envolver-se e envolver o espectador de tal forma que este se torna peça fundamental para o valor do espetáculo. Para Peter Brook (2011), a plateia é cumplice dos atores. Se isso não acontecer o espetáculo não faz sentido.
Podemos ler um texto sem uma conexão sensível com a história; podemos escrever um artigo sem nenhum envolvimento afetivo; podemos participar de uma brincadeira de grupo superficialmente; podemos viver até mesmo um relacionamento amoroso sem uma entrega; no entanto, arriscamos afirmar que não podemos fazer teatro sem envolvimento total dos participantes. Tal envolvimento se traduz em emoções, afetos, sabedoria, conhecimento, responsabilidade, colaboração, entrega, sentimentos, atitude, aprendizagem, humanidade. Por isso, o acontecer do teatro é uma profunda prática da sensibilidade, assim como uma visceral e instigante experiência interdisciplinar, pois mobiliza nossos sentidos, nossos sentimentos, nossas emoções, nossas faculdades cognitivas, nossas compreensões e percepções do mundo.
No acontecer de um jogo dramático, não importa se o método de aprendizagem ou a possibilidades de mensuração são para fins avaliativos ou estatísticos; o que importa é o acontecer da experiência total, o relacionamento, a criação, os afetos, as parcerias, a compreensão da realidade e as experiências vivenciadas.
Em sua conhecida obra Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire (1987, p.68) já dizia que “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si mediatizados pelo mundo”. Encontro nesse anúncio freireano não só uma profunda visão coletiva de formação, mas também uma concepção interdisciplinar de educação. Da mesma forma, me arrisco a afirmar que o teatro é uma experiência coletiva e, poderíamos complementar o anúncio freireano dizendo que somos afetados constantemente no encontro de um com o outro.
No teatro tem-se um grupo que dialoga, organiza, experimenta e que se conecta interdisciplinarmente potencializando a criatividade. Constantemente, o grupo e cada indivíduo exercita memória, atenção, compreensão textual, imaginação e expressividade. No acontecer do teatro há um educar-se coletivo dos que estão em cena mediatizados pelo público que também se educa.
A arte de representar papéis exige do ator despojamento de si mesmo para se colocar no lugar do outro. Ao viver um personagem, o ator experimenta “outra vida” que lhe permite um aprendizado do sensível. Além desse ganho pessoal do ensimesmar-se, existe o envolvimento dos sujeitos entre si, com a narrativa, com a plateia e isso os afeta emocional e cognitivamente. Por todas estas razões, o teatro se apresenta como uma estratégia formativa da sensibilidade de primeira grandeza.
As reflexões apresentadas neste escrito fazem marte de um escrito maior que desenvolvi a seis mãos com minha filha Camila Fávero e minha esposa Alcemira Maria Fávero num capítulo intitulado “A vivência teatral como experiência interdisciplinar formativa” (Fávero; Fávero; Fávero, 2018). Foi Camila que nos apresentou os escritos de Peter Brook e nos ajudou a compreender a grandeza do teatro como experiência formativa da sensibilidade. Sua vida de artista, sua sensibilidade em capturar as dores e as alegrias da existência servem de inspiração constante para nossas vidas e para pensar essa comunhão entre teatro e educação. Para os que desejarem ler o capítulo na íntegra, segue o link para acessar todos os capítulos da coletânea Interdisciplinaridade e Formação Docente (Fávero; Tonieto; Consaltér, 2018).
Em tempos de crise climática iminente, “A civilização em risco” é um chamado para que cada um de nós participe da luta pela sustentabilidade e pela habitabilidade do planeta.
Um alerta sobre as riquezas do mundo, a finitude dos recursos naturais, e como o sistema econômico atua de modo ininterrupto para o destruir. “Vista objetivamente, a crise global que bate à nossa porta, afetando diretamente o sentido de viver em sociedade, é crescente, intensa, assustadora. Acima de qualquer outro motivo, ainda que entre nós haja quem não a leve a sério, é uma crise que produz ameaças por todos os lados.”
Em um mundo cada vez mais moldado pelas demandas incessantes do mercado e pelo consumismo desenfreado, o livro “A civilização em risco: a humanidade na contramão do equilíbrio ecológico”, do economista Marcus Eduardo de Oliveira, surge como um alerta urgente e necessário.
Com uma narrativa envolvente e fundamentada, o autor nos conduz por uma reflexão profunda sobre o impacto devastador das ações humanas no meio ambiente. A partir de uma perspectiva crítica, o livro expõe como a obsessão pelo crescimento econômico tem levado a uma imensa degradação ambiental.
Citando especialistas como Albert Jacquard e Christian de Duve, Thomas Lovejoy e Stephen Hawking, a obra destaca a incompatibilidade entre a busca por crescimento infinito e os limites finitos do nosso planeta. O livro também aborda a responsabilidade das nações mais ricas e consumistas, enfatizando como a lógica do lucro imediato ainda sobrepõe-se à preservação ambiental.
Com textos de Eduardo Suplicy, Dal Marcondes, José Carlos Carvalho, entre outros, este livro é mais do que uma simples denúncia: é um convite à ação e à reflexão. A obra desafia-nos a reconsiderar nossa relação com a natureza e a reavaliar os fundamentos da economia moderna. Em tempos de crise climática iminente, “A civilização em risco” é um chamado para que cada um de nós participe da luta pela sustentabilidade e pela habitabilidade do planeta.
SOBRE O AUTOR:
Marcus Eduardo de Oliveira é economista e ativista ambiental. Mestre em Integração da América Latina pelo Programa de Estudos Latino-Americanos (prolam), da Universidade de São Paulo (usp). Nos últimos anos tem se dedicado a estudar a relação da economia com o meio ambiente. Suas publicações mais recentes: Economia destrutiva e Civilização em desajuste com os limites planetários (ed. CRV, 2017 e 2018).
O autor também é Convidado do site, com 28 textos publicados.
Como conhecer o perfil mais adequado para um governante de uma cidade?
Nas campanhas eleitorais, os candidatos/as a pais ou mães da cidade apresentam-se como os/as melhores, bons/boas, maravilhosos/as, competentes. Infelizmente, estas características ou qualidades de cada governante só serão conhecidas e reconhecidas pelos cidadãos e cidadãs no exercício do mandato. Ainda bem que, de quatro em quatro anos, a população manifesta-se sobre aprovação ou reprovação dos mandatários, considerando, principalmente, a sua forma de governar, cuidar e a maneira de resolver os problemas de uma cidade.
Não escolhemos nossos pais e mães mas, numa cidade, escolhemos o prefeito ou a prefeita por votação e é uma decisão muita séria, tendo em vista que a família de uma cidade são todos os que ali moram e que precisam, de algum modo, apoio e guarida de um pai ou de uma mãe.
Mas como conhecer o perfil mais adequado para um governante de uma cidade?
O caráter democrático ou autoritário destes pais ou mães (prefeitos e prefeitas) são manifestados pela forma de atuação política destes/as junto à população. Não é verdade que o poder corrompe as pessoas; ele apenas oportuniza a revelação do caráter delas. Por isso, também, pessoas com trajetórias reconhecidas e boas experiências de gestão tendem a levar vantagens na definição dos votos.
Um dos aspectos a considerar nesta tarefa de governar a população de uma cidade é a idade dos prefeitos e prefeitas. Será que um jovem ou uma jovem conseguiria representar e administrar uma cidade, considerando todos os papéis e funções que o cargo de prefeito ou prefeita envolve?
Observe e repare, querido leitor, que muitas candidaturas a prefeito e prefeita das nossas cidades se consolidam por duas hipóteses. Vejamos.
Se o candidato a prefeito ou prefeita é mais experiente, busca-se um candidato ou candidata a vice-prefeito/a mais jovem, com a ideia de aliar a experiência com renovação. Se o candidato/a for mais jovem, busca-se um vice-prefeito/a mais experiente para contrabalancear a pouco idade do prefeito ou prefeita. Neste último caso, o vice-prefeito ou vice-prefeita é uma espécie de avalista do prefeito/a mais jovem. Em suma, candidatos mais experientes ou muito jovens tendem associar-se para aliar experiência com renovação política (ou vice-versa).
A sabedoria popular ensina que o prefeito ou prefeita é uma espécie de pai ou mãe de uma cidade.
Consideramos pertinente e interessante pensarmos que a função ou representação de um prefeito ou prefeita pode estar associada com a figura de um pai ou de uma mãe. Este pai ou mãe que imaginamos é responsável, tem visão de futuro, sabe conciliar desenvolvimento econômico com inclusão social, sabe valorizar o meio ambiente e sustentabilidade, demonstra capacidade de diálogo e escuta com a população, projeta a cidade em direção ao futuro, aposta em educação e valorização dos professores, pensa e projeta obras estruturantes para viabilizar mudanças significativas para a maioria da população.
Este ideal encontra-se num perfil de governante que não se fecha em gabinetes e nem se cerca de gente para afastar a comunidade. A voz, a conversa, a reclamação, as críticas, a escuta e a proximidade são as estratégias daqueles que querem e tem necessidade de serem vistos, ouvidos e atendidos. Um pai ou uma mãe sempre terão disposição de servir, pois conhecem e reconhecem as necessidades de cada um e do conjunto da população.
As ágoras da maestria acadêmica encontram-se em crise e com elas a identidade do professor e os projetos políticos que aí se construíam e alimentavam. Por falar de projeto, talvez deva ser esta uma pauta a ser defendida pelos órgãos de classe, justamente a luta pelo estímulo e reinstalação desses espaços sagrados da docência, a sala de professores.
Há poucos dias assisti ao filme premiado A sala dos professores, obra intrigante que reúne uma série de elementos sociais, emocionais, éticos e morais… mas é de uma sala de professores que já foi bem mais presente que pretendo falar.
Das grandes perdas que marcaram o período da pandemia, um vazio sensível, embora pouco dizível, restou nas salas dos professores.
Recordo-me delas em seus momentos de glória, em momentos que precediam as aulas, ou no intervalo delas, tantas conversas leves, revigorantes, boas risadas e, outras tantas vezes, agitada por profundos debates, das mais diversas áreas. Por vezes comentários sobre as dificuldades com turmas, ou alunos. Enfim, um oásis existencial onde as identidades se construíam, afirmavam, renovavam.
Garanto que não é preciso esforço aos colegas docentes para recordarem-se das primeiras vezes em que foram acolhidos pela sala dos professores. Inquestionável a sua importância na construção do “ser professor”, projeto existencial que nunca termina e que, naquele espaço, encontrava moldes a serem seguidos.
Mas vieram os tempos diferentes, de isolamento, nos reinventamos, nos reconstruímos… e ainda estamos em processo de adequação. O discurso tem sido da necessidade de sermos mais adaptáveis, mais resilientes, mais tecnológicos. São muitos os cases a serem seguidos, mas todos tão artificiais quanto a “inteligência” que cada vez ganha mais espaço, muito distantes da materialidade da sala de professores.
De outra parte, escola e universidade têm buscado se situar, entre aquilo que historicamente representou e a liquidez dos novos tempos. Tempos de virtualidade, de ceder para sobreviver.
Neste novo contexto, das dificuldades econômicas das escolas e universidades, das salas virtuais, distanciamo-nos do glamour daquele espaço sagrado da docência. Agora, apesar das salas desocupadas que se multiplicam, não há espaço para a sala dos professores.
Isso me leva a, pelo menos, duas constatações.
Primeira, é que retornamos da pandemia mais tendenciosos ao isolamento, menos identificados uns com os outros, mais preocupados com nossos próprios espaços e conceitos, mais líquidos nas relações e na perspectiva de futuro. Decorre daí, conforme pesquisas têm demonstrado, o fato de os novos professores universitários, por exemplo, não se virem nesta atividade a longo prazo, não almejando o magistério como atividade definitiva, apesar de, quase sempre, gostarem muito de estarem como acadêmicos.
Uma segunda conclusão a que chego é que pode haver o interesse em não fomentar, ou mesmo desconstruir, esse espaço poético, mas também político, de articulação e fixação de pautas e posições.
Não é difícil entender que, se cada vez menos os professores se articularem em grupos, também a pressão exercida sobre as entidades mantenedoras das instituições que lhes empregam, sejam públicas ou privadas, diminuem, situação que agrada a esses grupos.
Resulta disso a maior fragilização dos trabalhadores e trabalhadoras e das relações de trabalho. Obviamente que, no mesmo contexto da fragilização dos órgãos de representação de categorias, como os sindicatos, também o desestímulo, ou dificuldade, em manter as salas dos professores, faz parte de um projeto.
Enfim, as ágoras da maestria acadêmica encontram-se em crise e com elas a identidade do professor e os projetos políticos que aí se construíam e alimentavam. Por falar de projeto, talvez deva ser esta uma pauta a ser defendida pelos órgãos de classe, justamente a luta pelo estímulo e reinstalação desses espaços sagrados da docência, a sala de professores.
Os professores e professoras reclamam e querem de volta a sala de professores como um espaço de acolhida, descanso, amparo e liberdade (individual e coletiva). Querem também que este lugar acolha sentimentos, ideias, críticas e angústias que envolvem sua vida profissional, justamente com quem convive sob as mesmas condições: seus pares. (Nei Alberto Pies) Leia mais:https://www.neipies.com/sala-de-professores-e-professoras-que-lugar-e-este/
Autor: Jean Menuzzi, graduado em Filosofia, mestre e doutor em Direito, é professor da Universidade Regional Integrada (URI), campus Frederico Westphalen, e policial civil.
A educação de “buraco de minhoca” que vivenciamos nos dias atuais em muitas realidades públicas e privadas do Brasil faz menção a este processo midiático de prestação de contas eleitorais de práticas mínimas e para demonstração de poder.
Na teoria da relatividade de Einstein, entre outros conceitos, encontramos a teoria do “Buraco de Minhoca”, uma estrutura de duas bocas e um túnel (por isso buraco de minhoca), que permitiria dobrar o espaço tempo possibilitando viajar acima da velocidade da luz, uma teoria de viagem no tempo.
Considerando a aprendizagem através do sistema educativo como um elo de ligação entre passado, presente e futuro podemos observar aí uma práxis da teoria de Einstein do ponto de vista cognitivo. Porém, é necessário que, para o efetivo desenvolvimento deste conceito, sejam considerados alguns elementos fundamentais: ciência, desenvolvimento teórico-prático e valor humano.
Outro fator relevante e não menos importante é a gestão deste processo educativo. Não se chega ao espaço para contemplar um “Buraco de Minhoca” sem planejamento e investimento nas necessidades corretas. Também não se faz educação sem investimento no cientista, na pesquisa e no público alvo.
Assim como boa parte das viagens ao espaço foram de ordem especulativa e midiática, somente para a queda de braço dos impérios terrenos, isso desde a guerra fria até o boom tecnológico da atualidade, também uma educação midiática que somente alimenta o poder político não nos levará a esperada evolução, assim como ainda não conseguimos viver experiências de viagem no tempo.
A educação de “buraco de minhoca” que vivenciamos nos dias atuais em muitas realidades públicas e privadas do Brasil faz menção a este processo midiático de prestação de contas eleitorais de práticas mínimas (apenas para a prestação de contas) e para demonstração de poder. Isto quando não ridicularizam a própria teoria educacional dando “as minhocas” (literalmente)a função de escavar o futuro, enquanto ao educador a repressão do Império, e as viagens espaciais (educacionais), talvez sejam apenas um sonho para a maioria esmagadora, como viajar no tempo.
Você tem o poder de fazer de sua vida uma bênção, ou uma maldição. A escolha é sua.
Ela se chama X, mas poderia ser Y e até mesmo Z. Ela tem uma avó super idosa. Uma senhora que muito lhe ajudou. Coisa que ela esqueceu. Por isso, a maldição de que vai ver e sentir a velhice não é uma praga, é uma possibilidade.
No último Natal e no Ano Novo não se deu o tempo para ligar; para um “alô”. Estava ocupada com as redes sociais, fazendo “selfies” com amigas deslumbradas.
Porto Alegre acaba de sofrer sua maior enchente, com prejuízos sem precedentes. Amigos, parentes e conhecidos ligavam com aperto no coração para ter notícias. Porém, nem todos agiram assim. Teve gente que não se importou com os seus parentes. Nem de seus parentes idosos. A solidariedade foi fantástica, todos falam. É verdadeiro. De uma parcela da população; mas houve quem nada lhe tocou. O infortúnio era dos outros. E a perversidade veio acompanhada de “fake news”, de pix falsos, de desvios de doações, de politicagem.
Afinal, há pessoas que têm os velhos como um estorvo, não se importam com eles, são descartáveis. Descartáveis; invisíveis como os pobres que circulam, que esmolam, que estão nas frias calçadas das cidades. A escravidão contemporânea não lhes toca, como a História é apenas um livro esquecido do ensino médio.
Ah, mas se tiverem acesso ao cartão bancário dos seus parentes aposentados metem a mão. É a escumalha da sociedade, são os sanguessugas das pessoas idosas, quando não as maltratam, largando-as e deixando muitas ao abandono.
Temos no Brasil uma “cultura” às avessas, beirando ao comportamento amoral, algo entre o Estado da Natureza e o perverso da pós-modernidade. Quais seriam as razões para termos criado esta monstruosidade comportamental? Não foram nem os índios nem os negros africanos que nos legaram esta maldição. Pelo contrário.
A pessoa idosa, os tempos, as diferenças.
Os atenienses, na época de Aristóteles, não gostavam de pessoas idosas e, muitas vezes, revoltam-se contra eles. Até nos dias atuais, parece que, por lá, ainda estão nas suas próprias mãos e na dos familiares. Na Idade Média, a velhice era retratada como uma fase de vida cruel. Thomas Morus, autor de Utopia, era uma voz discordante. Pouco mudou no Renascimento. Já no pensamento oriental – com a influência do confucionismo – vemos uma abordagem mais coletivista, onde o valor das hierarquias da família, do idoso tornava-se cada vez mais importante.
Nas culturas ocidentais modernas, o status cultural dos idosos diminuiu. Os idosos, muitas vezes, se encontram deslocados por restrições financeiras ou por incapacidade de viver independentemente. Muitos são obrigados a mudar para “lares”. Na sociedade prevalece a busca da “juventude eterna” e da beleza. Pouco se valoriza o hábito de se alimentar bem e as formas saudáveis de se viver. Há exceções, é claro.
Nunca se pode esquecer que vivemos numa sociedade de classes, de ricos, remediados, pobres, desvalidos. Há quem tenha moradia, outros tem a favela ou a rua, mesmo na velhice.
É forçoso aqui assinalar que há tratamentos diferenciados entre povos. Os indígenas primam pelas tradições. Para eles, a pessoa idosa é a mais respeitada e importante do seu meio. São responsáveis pela orientação aos mais jovens. Não vivem para acumular riquezas. O que possuem tem sentido coletivo. Que diferença!
Na África, nem tudo é igual, há diferenças. Mas o poeta do Mali, Amadou Hampaté-Bâ, diz que “quando morre um africano idoso é como se queimasse uma biblioteca”. Ainda na tradição africana, os “griôs” são contadores de histórias, muito sábios e respeitados onde vivem.
Você vai ver e sentir a velhice
A neta que não liga para a avó, o filho que não trabalha e pega o cartão dos pais para benefício seu, o que larga seus velhos numa Instituição de Longa Permanência duvidosa ou na maior “cara de pau” tenta deixar o pai ou a mãe numa asilo vai ver e sentir a “sua” velhice. Talvez por comer hambúrguer, batatas fritas e refri vá antes… A escolha de vida é sua, pois a vida poderá ser uma benção ou uma maldição!
Para que mudemos o atual quadro da velhice no Brasil é preciso educar as crianças com uma mentalidade cooperativa, com uma visão inclusiva, sem preconceitos. Quais são as perspectivas por ações públicas e de sociedade para os jovens da geração Z, “nem nem”. Os poderes públicos têm que reagir contra o “status quo”, pois é esta uma das razões de ser governo.
Não basta uma Lei como o Estatuto do Idoso, criação de Conselhos Municipais “para inglês ver”. Ou a norma é uma letra viva, com conteúdo aplicado, numa interação entre lei e realidade, ou não passa de uma enganação.
Vai esperar para ver? Ou vai agir?
Na sociedade – seja nas instituições de ensino, nos governos, nas instituições, nos movimentos sociais – ou se faz ou se paga. O custo será alto, se não mudarmos nossos comportamentos.
Os governos estão, regra geral, desmoralizados. Com as enchentes e o desdém com a pessoa idosa, este contingente de pessoas não vai querer votar, se votar vai votar contra o prefeito que lhe virou as costas. E fará bem. A atual geração de pessoas idosas, regra geral, é mais politizada, menos conservadora que muitos jovens atuais.
Não se pode ter mais as ilusões românticas as quais nos levavam a sonhar com uma revolução social de igualdades, pois o capitalismo financeiro e imobiliário determina a exploração, a submissão e a exclusão. Este mesmo que enterrou o Estado de bem estar social. E com a sua forma fascista tenta enterrar o Estado democrático de direito. Ou seja, novas formas de organização e de lutas sociais terão que ser construídas. As armas são outras. A mídia, as mídias sociais determinam comportamentos. O idoso diante das novas tecnologias se torna um ser mais dependente, mais vulnerável, suscetível a crimes nunca antes imaginados.
É bom “não pagar para ver”!
Um novo movimento social
Numa de nossas rodas de conversa, Afonso Escosteguy mostrou que temos que encarar os vários tipos de idosos, os pouco ricos e remediados, os que em quaisquer circunstâncias tem proteção à saúde e ao bem estar, e aquela legião de desamparados, pobres, periféricos. Quase todos eles, não importa a condição social, não têm a mesma mobilidade e condições de agir como se eles fossem o próprio movimento de suas defesas, como foi e é a luta antirracista, contra a homofobia, o feminismo. Por isso, as pessoas idosas precisam de uma sociedade civil mais consciente, governos mais comprometidos com a sustentabilidade social, econômica, cultural e ambiental para buscar meios inclusivos das imensas populações de idosas que só crescem pelo mundo afora.
Há poucos grupos organizados em ação, apesar de termos pequenos agrupamentos que, às vezes, são lembrados como capital eleitoral por alguns prefeitos, dando-lhes condições de alguns passeios e alguns bailinhos. Isto não se despreza, mas é totalmente insuficiente.
O habitar
A moradia seja um apartamento no Centro de uma capital, uma casinha compartilhada com a família na favela, os velhos se agarram ao seu habitat como a última raiz que os vincula à vida, creio que foi a arquiteta Elenara Stein Leitão que disse algo assim numa de nossas reuniões. Como vocês podem observar não falo a partir de mim apenas, falo de um coletivo que pensa e repensa o transcorrer da vida. Graças a amiga Claire Abreu que em um café, ah os cafés… fez-me pensar mais na temática dos 60+ como se falava. Destes papos surgiu o livro “Metamorfose da Vida”, volume 1, com 21 autores falando do tema, fugindo de ser um livro acadêmico, ou de autoajuda. É um livro sobre o “envelhecer”.
Com as enchentes, com novos agregados ao grupo, surgiu a necessidade de falar do abandono, dos resgates malfeitos, da falta de políticas públicas, surgindo o livro “Perdi Tudo, e Agora?”.
No momento em que escrevo (julho de 2024) vamos para o prazo fatal de entrega de textos para o volume 2 de “Metamorfose da Vida”, escritos sobre o envelhecer.
No tema “do habitar” ainda estamos engatinhando. Os “asilos” estão sendo substituídos por “casas de repouso” – que nome horroroso – casas geriátricas, clínicas, ou qualquer outra designação. Muitas vezes não passam de um “depósito de idosos”. Ainda há casas em que há convívios de pessoas com Parkinson, Alzheimer e outras doenças neurodegenerativas com pessoas com dificuldades de locomoção ou apenas mais velhas (porém com saúde). Nem sempre tem sido uma prática fácil ou salutar.
Os custos destes espaços são inacessíveis para muitas famílias.
Logo, impõe-se o estudo e a proposição de políticas públicas ou comunitárias que deem cabo destas demandas por habitação para as pessoas idosas.
Ah, você que não liga para sua avó, prepare-se porque amanhã haverá mais idosos, e será que a sociedade saberá lhe ajudar ou tratar melhor? Vai ter o “seu cantinho”?
É hora de “cutucar a onça com vara curta”. Afinal, a escolha é sua!.
Autor: Adeli Sell. Professor, escritor, bacharel em Direito, vereador em Porto Alegre. Também escreveu e publicou no site “O velho e a enchente”: www.neipies.com/o-velho-e-a-enchente/
Quem ainda não percebeu das horas que nos consomem, é porque não parou e olhou demoradamente seu ponteiro dos segundos.
Quem não olhou ainda para os ponteiros dos segundos de um relógio e não sentiu a fragilidade da sua vida, não se atentou para a corrida do tempo, contra os seus próprios dias. Não há como não amar um relógio de pulso. Ainda mais quando se tem 10 anos.
E não há como não o odiar, igualmente, vendo em seus segundos, um instante que nos consome, num girar sem fim, sem retorno e sem paradas. Triste destino este, dos relógios, condenados que são a denunciar o tempo todo, em todas as horas, a nossa vida fragmentada.
Entretanto, que alívio ao vermos um relógio quebrado! Inerte, sem ação, como nos lembrando do delírio de um tempo que não importa mais e que a tudo parou.
Nos meus 10 anos incompletos, meu pai tinha uma mesa de cabeceira junto a sua cama. Uma portinhola para seus calçados e, logo acima, uma gaveta.
Quando aberta, via-se três relógios. Uma descoberta maravilhosa para uma criança e um sonho inesperado que nascia naquele momento; vestir meu pulso com um relógio e sair pela cidade. Nem precisaria funcionar!
Mas não o ganhei. Foram anos tentando e até a chave da gaveta pensei em descobrir. Como meu pai viajava muito, teria todo o tempo do mundo para sentar ao lado do móvel, muito próximo…e esperar. E conspirar.
Minha Mãe, que temia mais meu Pai que a Deus, possuía uma cópia da gaveta do móvel infame. Mas nunca se permitiu a abrir, mostrar ou mesmo falar, como por exemplo:
_ Tome, é seu. Mas por um dia! Logo que anoitecer o relógio deverá voltar ao seu lugar. Para o descanso das horas e para o retorno do mofo que abraça sua pulseira.
O que queria um menino em seus 10 anos? Comer chocolate escondido? Tomar banhos nos rios? Expiar fechaduras? E o que um relógio faria de diferença em uma trinca deles, todos abandonados ao fundo de uma gaveta ignóbil?
Sendo óbvio o que um analista falaria, e economizando centenas de sessões, aos 50 anos vi a minha própria gaveta cheia, com 40 deles. Relógios de várias marcas e tamanhos, formatos, cores e lembranças dos dias em que os arranquei das vitrines dos vários lugares onde passei.
Todavia, a gaveta da minha infância permanecia na memória, ainda fechada, com a sua chave escondida.
_O que custava me emprestar, que fosse, o dito relógio suspirado? Murmurava.
_Que mal poderia fazer, senão sofrer o massacre do ponteiro dos segundos, nos 10 anos iniciados, tempos aqueles em que não se tinha qualquer pressa?
Bem, um dia desses, resolvi desapegar dos relógios para chamuscar a nuvem da velha gaveta que me assombrava. Contei 43.
_Vamos vender todos, falei. Menos os três.
Eu explico: Quando meu saudoso Pai nos deixou, herdei de sua misteriosa gaveta, documentos, um porte de arma vencido há 60 anos, carteira de fundador do clube local, papéis, jornais…quanta coisa! E claro, fui presenteado com os três relógios. Mas aí já era tarde para as armadilhas da mente.
Sequer me interessei em saber seus nomes e reservei a eles o fundo escuro, de uma nova gaveta, moderna que os abrigava. Foi a vingança!
Mas era amigo todos, admirando-os de quando em vez, desinteressado na sua pontualidade. Muito amigos, na verdade, pois não há amigo melhor do que um relógio parado, incapaz de denunciar o tempo e de lembrar a você o tempo todo… da sua extinção.
Quem ainda não percebeu das horas que nos consomem, é porque não parou e olhou demoradamente seu ponteiro dos segundos. Ali, vê-se um spoiler da vida que caminha para o fim.
E fui ao joalheiro!
_Senhor! Preciso trocar as pilhas de 40 relógios, mais três.
Eis que encontrei um novo amigo no tempo, e que não usava qualquer relógio em seu pulso, apesar de sua teimosia em consertá-los. Ter um amigo joalheiro é uma espécie de garantia pelos anos. A figura de um guardião da passagem das horas.
Combinando preços e prazos, o bom homem, inimigo das eras, imagina-se, perguntou:
_Por que você não procura por um automático?
_Há, que desejo oculto esse, respondi.
Isso porque os relógios automáticos são como nossos melhores sonhos; basta sacudi-los um pouco e logo tornam a funcionar.
_O que você me indica?
_Indico um Tissot. Tenho a sua máquina, basta encontrarmos uma caixa adequada.
Retornando à casa, errei pela cidade com este curto diálogo na cabeça. E à noite, sempre à noite, há surpresas…e abri a gaveta esplendorosa, onde escondia meu desconsolo e meu vazio dos 10 anos ou mais. A negação vestida com pulseira. A indignação oculta por tudo o que marca o tempo…
Fui até o seu fundo… e quase caí!
Entre os três relógios que meu Pai deixou, estava um Tissot.
E foi o Universo me passando um pano no rosto, lembrando que, em se tratando de sincronia, somos homens disformes e desafinados. Caminhei pela casa com o relógio em mãos e ao meu gosto; com ele devidamente parado.
Mas ao fim dos primeiros passos, o ponteiro dos segundos se mexeu. Quase caí novamente! E então dei mais passos, mais uns, outros mais e o relógio automático mostrou a que veio: funcionou perfeitamente!
Coração disparado, com um nó de marinheiro malfeito a ser engolido, ajustei os ponteiros sem graça das horas e ele trabalhou a noite toda. Isso após 13 anos de descaso. Pois é: eu sabia que as coisas que mais importam estão próximas a nós, sem a necessidade de mover o mundo para conquistá-las. Mas precisava receber um recado tão claro?
Vou deixar em meu testamento incógnito, uma ordem expressa! Ao fechar a tampa do ignominioso esquife, certifiquem-se todos que em minha mão esquerda o Tissot esteja funcionando. Ele agora não terá forças para muito tempo; benfeito! Que ironia, aliás. Ditou o tempo nesses anos todos e agora, logo mais, a sua morte será programada.
Preciso partir com ele no meu braço, pois tenho muitas perguntas a fazer ao meu estimado pai. E de respostas, que divã algum poderá me oferecer. Em seu erro, ou, em seu acerto, ao não me presentear, evitando a corrida dos dias e anos e ensinando que a espera também pertence ao seu tempo.
Voltando à gaveta, sem qualquer interesse nos demais, encontrei a abominável chave que abria a outra, a antiga, nos anos em que eu pensava, que um relógio poderia me elevar e despender o tédio nos passeios das minhas tardes de domingo.
_Que ela fique onde está. Não abrirá mais nada! Pensei aos gritos.
Se bem que há muitas outras gavetas trancadas a vasculhar, para justamente abrir, conhecer, entender, libertar-se de tantos desejos menores de nossos primeiros anos, muitos deles negados, e, em seguida, jogar fora todas as chaves.
A engorda é tirar a areia de uma praia e colocar em outra para alargar a sua faixa de área litorânea. Os homens de negócios costumam dizer que assim vão dar mais trabalho aos comerciantes das praias e os turistas terão uma faixa mais larga de areia para se bronzearem e passearem.
Os homens! Sempre eles! E agora inventaram um negócio meio esquisito e que pode causar grande impacto no meio ambiente, mas como é para o bem do povo e da boniteza das praias eles dizem ser necessário o feitio deste trabalho chamado de “engorda”. Mas que raios é essa tal de engorda? É pra engordar ou deixar a praia magrinha como as modelos brasileiras? Brincadeiras à parte, vamos ao importante.
A engorda é tirar a areia de uma praia e colocar em outra para alargar a sua faixa de área litorânea. Os homens de negócios costumam dizer que assim vão dar mais trabalho aos comerciantes das praias e os turistas terão uma faixa mais larga de areia para se bronzearem e passearem.
No entanto, devemos pensar primeiro naquele local de onde será retirada a faixa de areia mexendo com o habitat e com a alimentação dos peixes e outros animais marinhos. A engorda pode ser boa para os turistas e os comerciantes das praias, mas não é uma boa ideia nunca mexer com o meio ambiente.
Não se deve mexer com o meio ambiente desse jeito. É preciso um grandioso estudo de profissionais e técnicos em meio ambiente para saber quais consequências teremos no futuro de onde foi retirada esta areia e no local onde ela foi colocada.
Aumentar a área litorânea de uma praia pode ser boa ideia para quem costuma ver as coisas com ambição e necessidade de comércio local, mas para os peixes e animais marinhos isso pode causar grandes danos inclusive as mortes desses animais.
Fazer a engorda de uma praia não é coisa fácil. Tudo o que mexe com o meio ambiente deve passar pelo crivo de técnicos especializados naquilo que se está em questão, pois poderemos causar um grande desastre ecológico num futuro breve.
Especialistas costumam afirmar que a engorda de uma praia pode evitar a erosão de morros e dunas, como é o caso do que se está sendo visto na praia de Ponta Negra em Natal, Rio Grande do Norte. Realmente, o morro vem se desmanchando aos poucos e criando falésias ao seu redor com o movimento das marés.
Contudo, proteger uma parte ambiental tão linda que são os morros para modificar a paisagem de outras que são os habitats dos animais marinhos pode não ser uma ideia tão boa assim como pensam os especialistas. É preciso cautela.
Há de se pensar que o meio ambiente não resiste ao movimento desnecessário dos homens e que ele foi feito conforme às mãos de um criador qualquer dentro das suas bonitezas de regularidades e capacidades naturais.
O Brasil perdeu quase 70 mil hectares de dunas, praias e areias entre 1985 e 2020, há 36 anos, eram 451 mil hectares; em 2020, apenas 382 mil hectares, segundo o MapBiomas (rede composta por ONGs, universidades e empresas). Os motivos dessa perda vão desde o crescimento de vegetação inapropriada nos locais, devido a ação dos homens, a ocupação imobiliária e o grande crescimento de prédios de frente às praias mais belas do país. Vendo por este lado a engorda parece necessária, sem dúvidas, mas tudo exige cuidados.
Segundo a grande maioria dos biólogos, a engorda é menos prejudicial do que a colocação de barreiras físicas nas praias, mas podem causar mortandade de fauna e flora na área doadora da areia quanto na que vai receber, além do problema que pode vir a ser acarretado com o efeito estufa.
Por esta razão, é que para se fazer a engorda em uma determinada praia é necessário a licença de órgãos públicos ambientais que geralmente pedem uma série de documentos com perguntas às autoridades que devem ser respondidas de forma técnica e com coerência para que o serviço possa ser autorizado. Não é tão simples fazer uma engorda, como já disse, há uma série de fatores que podem complicar o meio ambiente quando se mexe com ele sem os devidos cuidados.
Do ponto de vista urbanístico, toda praia necessita de uma engorda com o tempo, devido ao movimento das marés que causam a erosão nas suas dunas, e que podem trazer a água do mar para os calçadões e avenidas de frente às praias. Mas, se estamos precisando engordar as praias, como diz mamãe, é porque elas estão famintas e precisando de alimentos, estes que foram alterados pelo abuso da destruição das florestas, do aumento de veículos e dos seus combustíveis que agridem o meio ambiente causando os desastres climáticos mais diversos que o mundo tem visto nos últimos tempos.
Quando construímos prédios, shopping centers e outros prédios residenciais ou não, mexemos com o meio ambiente e consequentemente as cidades litorâneas sofrem com essas intervenções que vão desde a construção de avenidas, muros, derrubadas de árvores, devastação de vegetações nos morros e costas, logo as praias começam a sentirem a erosão e não têm para onde se expandirem.
O mar vai tomando conta daquilo que já foi seu, ou seja, o mar vai buscar o alimento que lhe foi tirado uma vez o deixando magro e sem a sua boniteza. Na verdade, era para o homem não interferir tanto no meio ambiente, mas como se desenvolver e crescer sem fazer isso? Eis a grande questão. As nossas cidades litorâneas são as mais bonitas e as que mais sofrem com as erosões das suas dunas e morros.
Para continuarmos, a área que doa a areia pode sofrer diversos problemas com a sua fauna e flora passando por desequilíbrios da cadeia e teia alimentar até a sua morte. A engorda, também, pode introduzir cistos de algas nas áreas de onde saíram a areia, por exemplo. Isso é só alguns dos problemas mais comuns que podemos citar, mas na verdade podem acontecer muitas outras coisas.
O engordamento das praias pode fazer com que o carbono que fica no fundo do mar possa subir e se constituir nos gases de efeito estufa, causando diversos impactos ao meio ambiente. Todos nós estamos sofrendo com um clima desordenado.
Não é que eu seja contra o desenvolvimento das cidades. O que exijo e peço das autoridades são cuidados técnicos e responsáveis por esses tipos de serviços que mexem com o nosso meio ambiente, pois não sabemos até quando a natureza vai resistir a tantos impactos negativos causados pelos homens.
As cidades litorâneas exigem mais cuidados ainda, pois as suas belezas naturais são maravilhosas e mexermos com o que foi criado por uma divindade suprema, um Bem maior do que nós, pode não ser coisa boa, pois acabamos prejudicando a natureza quando não nos atentamos para regularizar serviços e obras necessários para os nossos crescimentos e desenvolvimentos.
Vamos engordar as praias que apenas necessitarem desse tipo de serviço, mas sem exageros, pois no país já temos várias cidades fazendo isso. Mexendo com a nossa natureza e alterando a paisagem natural que vai se degradando por falta de sensibilidade dos homens que constroem casas e prédios aonde chegam sem se preocuparem com o meio ambiente.
Assim, deixo vocês hoje com a minha reflexão sobre o serviço da engorda e com o poema “Mar” da grande poetisa Sophia de Mello Breyner Andresen que nos diz
“Mar, metade da minha alma é feita de maresia/Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,/Que há no vasto clamor da maré cheia,/ Que nunca nenhum bem me satisfez. /E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia/Mais fortes se levantam outra vez,/Que após cada queda caminho para a vida,/Por uma nova ilusão entontecida./E se vou dizendo aos astros o meu mal/É porque também tu revoltado e teatral/Fazes soar a tua dor pelas alturas./E se antes de tudo odeio e fujo/O que é impuro, profano e sujo,/É só porque as tuas ondas são puras.”
Embarquemos na pureza das ondas do mar, permitindo que ele viva até ficar velhinho sem engordas, sem intervenção humana, apenas sendo o que ele é, lindo e bonito com um barquinho à deriva e um pescador a contar as suas histórias.