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Espetáculos maniqueístas

[quote_box_right]Sei que em todas as multidões há quem sequer saiba por que esta lá e que o direito à manifestação é algo necessário e sagrado. (Sueli Ghelen Frosi)[/quote_box_right]
Vivemos espetáculos e somos midiáticos. Sem escrúpulos e sem vergonha, exibimos, instintivamente, o melhor do que carregamos, do que somos ou do que temos. Vimos, assistimos e acessamos – pelas mídias e redes sociais – conteúdos que não agregam os brasileiros no combate à corrupção como um dever cívico, permanente e sóbrio, respeitando os poderes constituídos e os regramentos da nossa Constituição Federal.  Nas mais recentes manifestações de rua pelo Brasil afora, em agosto de 2015, novamente assistimos alguns excessos e radicalismos dos que pretendem apontar mudanças para o país.

Ódio, raiva, estupidez, violência, despudor, arrogância e superioridade marcaram muitas manifestações públicas e midiáticas por este Brasil afora, mas sempre demarcando serem de “pessoas do Bem”.

[quote_box_center]“Que triste espetáculo proporcionamos para o mundo! Quero pelo menos alguns metros de distância das pessoas “de bem” que formam a massa crítica atual. Sei que em todas as multidões há quem sequer sabe porque esta lá e que o direito à manifestação é algo necessário e sagrado. Mas é preocupante convivermos com a maldade explicitada nas ruas, na medida em que se pede sangue, se legitima chacinas e enforcamentos. Estou muito mais assustada do que envergonhada. Você não?” (Sueli Ghelen Frosi)[/quote_box_center]

Acredito que o bem e o mal não estão personificados em determinados grupos ou pessoas. Por isso, preciso indagar: a) Quem não quis, não concorda ou não se manifestou é uma pessoa do Mal? b) Pode o Bem estar “encarnado” em alguém ou num grupo de pessoas? c) Combater a corrupção passa, necessariamente, por afirmar um coletivo do Bem? d) Os brasileiros já decidiram que a corrupção é um problema suficientemente sério para ser levado a sério, até as últimas consequências e em todas as instâncias e instituições?

Estou lendo a obra O maniqueísmo em nossas vidas: a bondade dos maus e a maldade dos bons, do autor Jorge A. Salton, Editora Movimento, lançada no dia 15 de agosto de 2015, em Porto Alegre. O autor joga luzes ao momento histórico que vivemos no Brasil. Em sua introdução, o autor afirma:

O pensar maniqueísta, a divisão entre nós, os bons e eles os maus, é sinal patognomônico do surgimento da maldade – no sentido de sinal ou sintoma que por si só afirma a presença de algo. Ao dissecar o fenômeno, encontraremos, em sua base, o reducionismo, a generalização, a dogmatização, uma forma de pensar que, a partir de uma suspeita qualquer, já salta para a conclusão, a ausência de autocrítica, a inexistência de empatia e a necessidade de inimigos.

O livro sobre o maniqueísmo invoca em mim a revisão de conceitos, atitudes e pensamentos. Está mexendo nos meus modos de ser, pensar e agir no mundo. Estou convencido de que deverei eliminar as tentações maniqueístas de enquadrar, julgar ou condenar os outros, até alcançar um pensar empático e pluralista, para perceber a realidade e construir vivências positivas. Por outro lado, teimo no meu direito de dizer o que penso dos recentes fenômenos públicos que insistem em aplicar um golpe na democracia brasileira, através de um impedimento (impeachment). Pelo respeito à democracia e ao sagrado voto, deixemos a presidenta Dilma governar e respeitemos os princípios democráticos e de direito que a todos são estendidos pela Constituição.

Governar não é tarefa de anjos, é tarefa de pessoas que erram e acertam; que não são inteiramente boas nem inteiramente más. Estes que se denominam “Exército do Bem” e que afirmam carregar consigo os mais nobres desejos de mudança no Brasil valem-se de ideias maniqueístas. Estas ideias não colaboram com o pluralismo e o respeito, essências da democracia.

Espaço autores passo-fundenses

Desde o mês de agosto de 2013, a Biblioteca Pública Municipal de Passo Fundo Arno Viuniski abriga estande Autores Passo-fundenses. Este espaço pretende-se parte de uma ação de incentivo à produção de cultura local e representa um compromisso com os escritores que enriquecem a história da cidade.

Este projeto retomou também as ligações da Academia Passo-fundense de Letras e a história da Biblioteca Pública, na perspectiva de um esforço conjunto para fomentar a leitura e reconhecer Passo Fundo como a Capital Nacional da Literatura.

Escrevo porque acredito que as palavras escritas, lidas e recitadas, podem colaborar imensamente no nosso principal desafio: humanizar-se. Humanizar-se é tornar-se melhor ser humano. O poder das palavras consiste em nos libertar dos sofrimentos e das angústias que teimam em nos deixar menos felizes e menos livres.

Passo Fundo busca, há muitos anos, ser referência em educação, cultura e formação de leitores. Este é um caminho que se consolida a cada dia, com ações de diversos atores e personalidades que desafiam o paradigma estabelecido para construir uma cidade leitora.

A partir do dia 12 de agosto de 2015, meu livro Conviver, educar e participar: nos palcos da vida também está disponível no espaço dedicado aos autores passo-fundenses podendo ser visto, acessado e manuseado pelos leitores nas dependências da Biblioteca Pública de nossa cidade.

Filhos humanizam

[quote_box_right]“Os anos deixam rugas na pele, mas a falta de entusiasmo deixa rugas na alma” (Michael Lynberg)[/quote_box_right]

A paternidade e maternidade estão permanentemente submetidos à avaliação e análises, feitas por todos nós. Pais e mães são homens e mulheres que assumiram um compromisso denso com filhos e filhas. E em tempos em que nem sempre eles conseguem compreender as mudanças culturais que operam neste mundo de ligeiras transformações. Ser pai e ser mãe é mais do que um ofício; é assumir uma missão, criando condições de aconchego e de vôo, como fala Padre Zezinho. Somos pais e mães menos presentes na vida cotidiana de nossos filhos. Por isso mesmo, a convivência com eles pode e deve ser, por excelência, um convite e uma oportunidade para a humanização (nossa e deles).

O ser humano não nasce lapidado, não nasce pronto. Faz-se no tempo, na experiência e na vida concreta. Esta vida concreta é feita de oportunidades. Umas nós mesmos as construímos, sobretudo em nossos espaços de convivência familiar. Outras, o mundo as oferece, de forma permanente. E fogem do nosso controle e da nossa vontade.

Certas coisas somente aprendemos a partir da experiência concreta. Quando éramos apenas filhos, não possuíamos noção da ideia de “pertença” e proteção, tão intrínsecas à vida dos verdadeiros pais e mães. Achávamos que éramos superprotegidos, que nossos pais desperdiçavam tempo e cuidado para com a gente. Finalmente, achávamos que o que nos faltava era a liberdade. Mas somente com a paternidade e a maternidade pudemos compreender o valor dos “investimentos” afetivos, culturais, emocionais e porque não econômicos que pais e mães fazem em função de seus filhos. Filhos não têm mesmo condições para compreender estes valores, mas deveriam supor e tolerar a ideia de que pais e mães só os querem proteger, porque ainda os consideram seres frágeis e suscetíveis a muitos perigos que os rondam enquanto forem crianças, adolescentes ou jovens. E que estes perigos são reais, e existem.

Filhos a gente não cria para a gente. Filhos, a gente cria para o mundo.

Por sua vez, a sabedoria popular encarregou-se de nos ensinar que “filhos a gente não cria para a gente. Filhos, a gente cria para o mundo”. Diz Padre Zezinho que “não dá para ninar um filho a vida inteira. Um dia a aguiazinha fica madura e precisa voar sozinha e fazer seu próprio ninho. Tem que haver mais do que asas de mãe naquela vida. Existe vento forte lá fora e alguém tem que empurrá-las para voarem sozinhas. Filho que não entende isso chega aos 32 anos dependendo da mesada do pai. Pai que não entende isso vai amar errado. Há um tempo para o aconchego e outro para o vôo para longe. Ou isso, ou não haverá mais águias..”.

O ambiente familiar é um espaço privilegiado de promoção de vida, dignidade e de humanidade. Aqueles e aquelas que, convivendo, compõem uma mesma relação afetiva, podem construir a mais rica experiência do amor. Mas há que se considerar ainda os filhos e filhas dos outros e outras. Aqueles que não possuem um ambiente familiar que os promova e os proteja. De quem a responsabilidade? Se filhos do mundo, também filhos nossos. São de nossa responsabilidade também.

Rugas no corpo são inevitáveis com o passar do tempo. Rugas na alma não colam naqueles que são entusiastas da vida, do amor e do ambiente familiar. Nossas famílias devem ser lugares de aconchego e de vôo. Aconchego e vôo são da essência humana; constroem felicidade.

Diego Vitor: ensaísta e escritor

Diego Vitor Dalmagro é bacharel em Filosofia e Contador. Seu amor pela literatura, por romances e pela riqueza da diversidade cultural da sociedade, lhe acompanha desde a adolescência. Há muitos anos vem ensaiando para concluir uma obra literária e publicá-la, porém, infelizmente, sua inserção no mundo profissional o tornou mais uma “vítima da liquidez do tempo”. O mundo da correria e dos prazos o consome e o seu sonho de ser escritor ficou para trás, porém a sua busca pela escrita permanece através de publicações em seu blog Além da Lenda. São escritas curtas, mas bem consistentes, na forma de afirmações (frases).

Abrimos espaço em nosso site para publicar alguns de seus escritos, no intuito de estimular o amigo e colega a continuar “brigando com as letras e as palavras”.

Alguns textos de Diego Vitor Dalmagro:

“Quando há estrelas, bússolas são dispensáveis.” (2015)

“Forçam-se indignamente a ser igual à massa, mas decidi ser eu mesmo.” (2014)

“Vê-se que vivemos numa sociedade de descartes, onde tudo é brevemente útil, independente se ainda há valores atrelados.” (2015)

“A esperança reside na brisa suave do amanhecer.” (2014)

“Se por natureza não tenho asas, as tenho por imaginação.” (2014)

Vida na roça

[quote_box_right]”Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo. Não é. A coisa mais fina do mundo é o sentimento. Aquele dia de noite, o pai fazendo serão, ela falou comigo:  — Coitado, até essa hora no serviço pesado. Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente. Não me falou em amor. Essa palavra de luxo”. (Poema Ensinamento, Adélia Prado)[/quote_box_right]

Muitos, como eu, nasceram e viveram a infância na roça. Eu sinto orgulho de ser um filho da roça, porque a vida no “interior” me ensinou valores muitíssimo finos e refinados. Na companhia de árvores frutíferas, animais, nascentes, riachos e lavouras, as pessoas que lá residem formam verdadeira comunidade. Comunidade quer dizer comunhão, integração, relação. Esta comunhão se perdeu na vida urbana atribulada e estressante. Todo o tempo na cidade tem que ser um tempo ocupado. Não temos mais tempo para curtir o próprio ritmo (do tempo).

Roça é um lugar de fartura, mas também de muito trabalho. Iludem-se aqueles que pensam que uma “chácara” é um lugar maravilhoso sem dar muito trabalho. Para quem não pode oferecer seu trabalho, terá de ofertar dinheiro para que alguém cuide, zele e organize o ambiente, para poder desfrutá-lo lindo, aconchegante e organizado. Neste sentido, não podemos romantizar o trabalho de quem cuida da terra; é preciso reconhecê-lo e valorizá-lo com a grandeza que ele merece.

Quantos, como eu, matam saudades de sua terra visitando propriedades que ainda resistem em levar adiante um estilo de vida interiorano! Colhem, no inverno abundante das frutas, o sabor de suas saudades e recordações. Visitam matas, riachos, casas, salões comunitários, em busca de algo que um dia deixaram para trás: a simplicidade e a compaixão pela terra.

Como ilustram os versos acima, os valores da roça confundem-se com as necessidades mais imediatas de quem lá reside e faz de seu trabalho e suor o próprio modo de vida. Os pequenos agricultores ou camponeses ainda preservam os valores da gratuidade e da reciprocidade que aprenderam na relação com os outros, com a natureza e com o mundo. Nem tudo na roça tem preço, mas tudo na roça tem o seu valor.

As relações com a natureza, particularmente através das semeaduras, reservam ao homem e à mulher do campo a noção do tempo, que é a mesma noção da paciência. Quem espera colher, precisa saber esperar. Quem espera colher, precisa pacientemente acompanhar a renovação da vida em cada amanhecer e em cada anoitecer. Quem deseja recuperar a terra, precisa investir insumos, cuidados e tempo.

Só podem sentir saudades aqueles e aquelas que já experimentaram a vida da roça. Para estes, são necessárias brechas em sua conturbada agenda urbana para cultivar flores, frutas, hortaliças, chás, verduras. Não há nada mais contagiante e gratificante do que o alvorecer de vidas que dependem de terra, de ar, de água e de cuidados pacientes e permanentes.

A natureza nos permite a compreensão da própria existência. A vida na roça nos fornece importantes aprendizagens sobre os próprios desafios do ser humano. Valorizando a terra, estaremos sempre valorizando a nossa dimensão de humanidade e dignidade.

Muitos ideais: uma imagem

As dependências da Câmara de Vereadores de Passo Fundo ficaram pequenas para acolher a diversidade de ideais, numa noite chuvosa deste inverno: dia 08 de julho de 2015. Acontecia mais uma audiência pública, desta vez para ouvir a comunidade, através de suas organizações, sobre a Proposta do Plano Municipal de Educação de Passo Fundo, enviada pelo Executivo Municipal e que vigorará para os próximos dez anos.

Assista a audiência:

Algumas conclusões sobre a concorrida audiência:

  • os debates desfocaram questões centrais para a qualidade da educação quando supervalorizaram as temáticas da ideologia de gênero, sexualidade e família tradicional. Pouco se falou da valorização dos professores, da gestão democrática, dos investimentos financeiros para a educação, das metas específicas para os próximos dez anos;
  • a escola pública é laica, e ponto. Não serão as leis e nem os fundamentalismos religiosos que impedirão a mesma de continuar acolhendo, respeitosamente, as crianças independente de suas condições sociais, econômicas, de gênero ou de organização familiar (as realidades sempre se impõem quando as leis são burras);
  • por desconhecimento, cegueira ou falta de entendimento, o debate torna-se perigoso quando colegas professores manifestam-se pelo apoio à retirada ou supressão das questões de gênero e sexualidade, desprezando as suas próprias dificuldades em lidar com questões que envolvem as diferentes vivências e experiências da vida e da sexualidade dos seus educandos;
  • o palco de discursos da audiência serviu para demonstrar o que está em curso na sociedade, sobretudo quando argumentos religiosos são utilizados na contramão da cultura de tolerância, de inclusão e de direitos humanos que pensávamos já fosse melhor compreendida pela sociedade.

Esta bela imagem, captada por Erviton Quartieri Junior, traduz a grandeza do lugar e o interesse pelos debates em torno da educação passofundense. Ao que concluímos: ainda bem que nossos pensamentos, atitudes e ações não ficam confinadas em um cubo como este da fotografia! Viva a democracia que sempre transcende as muralhas que alguns tentam impor!

Escolas, poder e democracia

[quote_box_right]Os homens constroem paredes demais e pontes de menos (D. Pire).[/quote_box_right]

A escola pública e democrática é hoje uma conquista institucionalizada mas, na prática, ainda está longe de ser realidade plenamente vivenciada na escola. A escolha democrática das direções escolares ainda não permitiu condições democráticas de organizar as escolas a partir de uma base curricular, de propostas pedagógicas, de metas e da organização do quadro dos professores (distribuição da carga horária e disciplinas). Há que se considerar ainda, por vezes, a forma autoritária como os gestores da educação organizam suas redes de ensino, sem o protagonismo da comunidade escolar e dos professores.

O exercício do poder democrático é um dever da escola e um legado que ela deve deixar para seus alunos e para a sociedade como um todo; esta é sua contribuição para a consolidação da democracia no Brasil.

A escola, lugar de significativas e distintas aprendizagens, é também um grande laboratório de exercício de poder. Cotidianamente, através das relações interpessoais, ela administra as suas tensões internas, fortemente influenciadas pelo poder externo (dos governos e da comunidade). E o professor, uma peça fundamental, nem sempre é considerado em sua dimensão de pessoa humana e de sujeito, portador de desejos, direitos e dignidade.

Além de sua estrutura administrativa, a escola é um lugar onde se constroem vínculos. Estes vínculos determinam a qualidade das relações entre professores, funcionários, equipe diretiva, alunos e pais. A maior diferença da escola pública, em relação às demais, reside no fato de sua gestão ser pública e democrática. Por isso mesmo, torna-se mais exigida e exigente para todos os que convivem nela. O professor, peça chave desta engrenagem, “deve ser um verdadeiro educador. Um mestre da vida e do saber.” (Maximiliano Menegolla).

Professores não são números. Professores são sujeitos, seres humanos, com suas opções pedagógicas e ideológicas. Aliás, o exercício de seu ofício não lhes permite neutralidade, pois a educação é, por natureza, um ato político. Suas práticas pedagógicas resultam de suas trajetórias pessoais, de seus compromissos com o ser humano e de seus conhecimentos e aperfeiçoamento profissional.

Algumas instituições de ensino público, por suas práticas contraditórias e autoritárias, minimizam o alcance e a importância das conquistas democráticas. É claro que exercitar cotidianamente a democracia, como se faz na escola, não é uma tarefa fácil. Por isso que, para muitos, ela não passa de verborragia. Para outros, incansável exercício, prática de inclusão e respeito a todos, mesmo enfrentando as contradições do discurso e da prática.

Espera-se dos diretores que serão eleitos competências técnicas, mas também que construam menos paredes e mais pontes . Que usem o poder que lhes foi delegado para valorizar e promover seus professores, com ampla participação de toda comunidade escolar. Como profetiza Menegolla, “o lugar onde o professor não é visto como pessoa, mas simplesmente como um profissional qualquer, deve ser chamado de pensionato, refeitório…, mas não chamem de escola, onde se educa e se ensina “.

O exercício do poder democrático é um dever da escola e um legado que ela deve deixar para seus alunos e para a sociedade como um todo; esta é sua contribuição para a consolidação da democracia no Brasil. Qualidade na educação será uma realidade quando tratarmos gente como gente deve ser tratada e quando tomarmos a democracia como a base de nossas vivências e relações. Qualidade de educação se mede pelo tipo de relações que acontecem entre todos os sujeitos da educação (alunos, professores, pais e comunidades que cercam a escola). Estas relações devem buscar a humanização de todos através do conhecimento. Tornar-nos seres humanos melhores é o nosso maior desafio!

Direitos humanos: tudo a ver com nossa vida!

[pull_quote_right]Como seres humanos a nossa grandeza reside não tanto em ser capazes de refazer o mundo… mas em sermos capazes de nos refazermos a nós mesmos. (Mahatma Gandhi)[/pull_quote_right]

O conceito de direitos humanos faz-se historicamente, assumindo diferentes abordagens e perspectivas, gerando diferentes posturas e compreensões. Nasce, contudo, a partir da consciência e necessidade de preservar a vida e tudo o que nela está imbricado. Ao longo dos tempos, o conceito foi sendo construído culturalmente como se os sujeitos destes direitos fossem os outros, aqueles que estão numa situação de extrema indignidade,  e nunca a gente (eu, você e nós). Há, então, a necessidade de compreender melhor o conceito de direitos humanos para que dele nos sintamos parte.

Sob o ponto de vista da compreensão histórica, os direitos humanos constituem-se a partir do reconhecimento, muito antes de constituírem faculdade de um ou de outrem. A defesa da vida, que também defesa da dignidade humana, engloba o que a humanidade, através de muita luta e conquista, reconheceu como direitos humanos. O que vem a ser dignidade humana? É difícil definir, mas entendemos quando ela falta a alguém (como aquilo que define a própria noção de humanidade, enquanto condições mínimas, básicas e elementares para sermos gente). O nosso cotidiano está repleto de infinitas realidades de indignidade, basta ativar a nossa sensibilidade e o nosso olhar.

A mesma cultura que nos fez acreditar que direitos humanos não são os nossos direitos de ser gente (de ser humano) também alimentou a falsa ideia de que, ao afirmamos os direitos das pessoas, estaríamos abrindo mão de seus deveres. Sempre nos foi dito, mesmo que não explicitamente, que temos mais deveres a serem cumpridos do que direitos a serem gozados, usufruídos. Muitas vezes entenderam-se direitos como privilégios de uma classe social, povo ou nação, em detrimento dos demais. Ocorre que, a cada direito que conquistamos, naturalmente, sem dizê-lo, está imbricado um dever. Direitos e deveres chegam juntos, não existem separados como muitos supõem.

Mas como criar identidade com direitos humanos? É preciso considerar a si mesmo e aos outros sujeitos de direitos, de liberdade, de dignidade: ao mesmo tempo diferentes e iguais uns em relação aos outros. O que todos temos em comum é que somos humanos e comungarmos das mesmas necessidades. Todos como eu e você são seres humanos, portadores de algo sagrado e inegociável: a vida da gente.

Desconhecemos outra maneira de mudar culturalmente conceitos ou ideias senão pela educação. A educação em direitos humanos significa educar para a democracia, oportunizando que os cidadãos tenham noção de seus direitos e deveres e que lutem por eles. É papel da escola, e da educação, contribuir para a compreensão do mundo, para uma melhor inserção nele. A cultura de direitos humanos promove condições em que ocorram a tolerância, o diálogo, a cidadania, a diversidade. Deve também permitir a liberdade de organização e luta aos grupos organizados em torno de seus direitos. Deve exigir um Estado protetor e promotor de direitos humanos, e não violador da vivência da cidadania e das liberdades. A consciência, quando transformada em luta (diária, cotidiana, permanente), é quem garantirá a exigibilidade de nossos direitos.

[quote_center]Educação em direitos humanos não é somente um conteúdo a ser ensinado, mas pressupõe, antes de tudo, a vivência de valores e atitudes que cultivem a preservação da vida, das singularidades e das diferenças. Para mudarmos atitudes e conceitos precisamos ser motivados, sensibilizados e estimulados a compreender o ser humano em suas diferentes situações e realidades.[/quote_center]

O reconhecimento de nossas diferenças e das múltiplas formas de ser, pensar e agir abrem horizontes para perceber e acolher a necessidade do outro. Eu, você e nós conquistaremos felicidade quando pudermos compartilhar vida plena, na humanidade que reside em cada um e cada uma de nós. Por isso mesmo, direitos humanos sempre tem a ver com a nossa vida.

Amante da natureza e da fotografia

Gerson Soares é fotografo autodidata, formado em Administração de Empresas. Em 2011 migrou de sua atuação em área administrativa para a fotografia, a convite do Grupo da Foto, ONG sem fins lucrativos que reúne fotógrafos profissionais e amadores de Passo Fundo. Esta entidade é um espaço de pesquisas e trocas sobre diferentes técnicas e linguagens fotográficas.

Trabalha em diversas áreas, mas explora principalmente a fotografia de natureza, em especial rios, campos e serras, registrando o que acredita que deve ser preservado para o futuro.

A nosso convite, escreveu e falou sobre a sua vida relacionada à fotografia e aos desafios que a vida e a natureza nos impõem. A sua relação com a fotografia de natureza, em especial os canions, está relacionada aos desafios do nosso cotidiano, em todas as áreas.

“Seja você um vendedor, um gerente ou empresário, precisa sempre se reinventar para continuar vivo no mundo globalizado. Na natureza e no trekking de montanha, esporte que se utiliza a caminhada para conhecer lugares, podemos encarar as dificuldades com muito mais serenidade. Ao superarmos as dificuldades que a montanha nos impõe, vamos criando uma força interior de “sobrevivência” e coragem que nos ajuda a superar dificuldades e crises também na vida cotidiana. A montanha nos dá uma perspectiva privilegiada da vida e nos ajuda a distinguir o essencial do não essencial, o medo real do medo do ego… Superar as reais dificuldades da montanha nos ajuda a perceber que aquele “medinho” de mudar de emprego, de mudar de cidade, de declarar-se para alguém, etc. não é nada diante da possibilidade de perder as oportunidades da vida (ou a própria vida).

Conhecemos aquela ideia de que faríamos isso ou aquilo se soubéssemos que temos apenas “x” dias de vida… Mas a verdade é que temos mesmo apenas “x” dias de vida para viver intensamente e fazer escolhas corajosas. O mundo é cheio de riscos que precisamos correr para que a vida valha a pena! Na montanha, como na vida, encontramos as dificuldades, desafios, medo, etc. Mas lá em cima é só você, não tem escape fácil, não tem muito como se refugiar de si mesmo (TV, vícios, depressão, etc), a não ser encarando e resolvendo os problemas. Afinal, a gente sempre quer voltar para casa íntegro!

Ao falar de montanhas, assim Gerson se declara:

Por isso as montanhas são uma escola de vida e por isso eu amo as montanhas! Todo montanhista de verdade já encarou um ou vários “perrengues” montanha acima (ou abaixo!): ficar sem água, ficar perdido por um tempo, tempestades, frio, escassez de alimento, dificuldade com o grupo, estafa física, etc. O risco calculado é parte inerente dessa atividade e temos que aprender a lidar com isso.

Gerson Soares publica suas imagens e produções fotográficas na página panoramio.com, como também nas redes sociais. Por sua parceria com a gente, passaremos a utilizar imagens captadas por sua câmara para ilustrar artigos ou crônicas de nossa autoria neste site.

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