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Carta aos professores pela qualidade social na educação

carta aos professores - qualidade social na educação

Não sou candidato a prefeito de nenhuma cidade neste país. Mas empresto, generosamente, reflexões que me levaram a escrever texto que gostaria de ouvir dos candidatos a prefeito de todas as cidades deste país para que busquemos educação com qualidade social.

Tenho respeito aos grandes e bons discursos.

Refiro-me aos discursos de Martin Luther King (tenho um sonho que meus quatro filhinhos, um dia, viverão numa nação onde não serão julgados pela cor de sua pele e sim pelo conteúdo de seu caráter.) e “Último discurso” de Charles Chaplin (mais do que máquinas, precisamos de humanidade).

Divulgo esta carta para que possa ser lida (até copiada) por candidatos e candidatas que verdadeiramente tenham compromisso com a educação.

Caros professores e professoras de minha cidade.

“Nestas eleições municipais venho reafirmar crenças na educação e nos principais agentes dela: os professores e professoras.

Sei que a educação não é salvação para os problemas deste país, mas também sei que sem ela não avançaremos no progresso, na cidadania, no trabalho e na democracia.

Paulo FreirePaulo Freire ensinou que “a educação não muda o mundo. A educação muda as pessoas e as pessoas (se quiserem) mudam o mundo”. 

Este pedagogo brasileiro também afirmou: “se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda.” Digo-vos isso para que tenhamos a real dimensão da importância da educação em nossa cidade.

Os educadores estão dentre os maiores interessados em qualidade na educação – a escola carrega potenciais de sua satisfação-, uma vez que o fracasso dos educandos também representa o seu próprio fracasso. Quem ganha com a desqualificação da educação pública? Quem ganha quando os professores e professoras não são tratados com a dignidade que merecem?

Quem goza de alguma vantagem quando os alunos de nossas escolas saem delas sem condições de ler e interpretar o mundo, para melhor inserir-se nele? Ninguém, muito menos os professores ou os alunos, ou a sociedade. E, muito menos, o prefeito desta cidade.

Os professores exercem influência na vida das crianças, adolescentes e jovens, mas não é verdade que têm poder de formar seguidores de sua ideologia e de que a escola deve ser sem partido.

Veja meu artigo sobre: Educação pública: de qualidade social

O político na educação, todos sabem, refere-se às ações e intervenções na sociedade, ou seja, possibilidades de mudança concreta na vida das pessoas.

O verdadeiro temor dos defensores desta absurda ideia de controlar a escola pública é que ela tenha qualidade social. Qualidade social na educação é aquela qualidade que interessa a toda comunidade escolar, não de quem quer controlá-la.

Diante do que já  falei, quero afirmar meus compromissos com a educação municipal e com seus principais agentes: os professores e professoras das escolas municipais.

No meu governo, vocês terão liberdade de ensinar. Os aumentos de vossos salários continuarão respeitando, no mínimo, os reajustes do Piso Nacional dos Professores.

As deliberações do Plano Municipal de Educação serão respeitadas, porque também foram construídas junto com os professores e professoras.

Além disso, cuidarei das nossas escolas e dos professores sempre pensando no bem-estar de nossas famílias e de nossas crianças que tem na escola um lugar onde se semeiam sonhos e se colhem os frutos da cidadania, do trabalho e da participação na sociedade.

Uma educação de qualidade social se faz com participação de toda comunidade escolar, com propostas pedagógicas claras e consistentes, com escolas bem organizadas, pintadas e bonitas, com respeito e tratamento digno aos profissionais da educação.

Faremos a melhor educação que nossa cidade e as nossas crianças merecem, por direito seu, e dever do estado.

Programa UniverCidade Educadora: Circulando Cidadania

A concepção de Cidade Educadora remete ao entendimento da cidade como território educativo. Nele, seus diferentes espaços, tempos e atores são compreendidos como agentes pedagógicos, que podem, ao assumirem uma intencionalidade educativa, garantir a perenidade do processo de formação dos indivíduos para além da escola e com ela, em diálogo com as diversas oportunidades de ensinar e aprender que a comunidade oferece.

facecard_finalizado-1Iniciado no começo dos anos 1990, na cidade de Barcelona/ESP, as cidades educadoras se consolidam como uma rede mundial de experiências que acompanham um desejo emergente de reconfiguração das cidades no contexto mundial. Com mais de 470 cidades oficialmente vinculadas, a Associação Internacional das Cidades Educadoras – AICE (17 só no Brasil) está baseada em uma carta de princípios (carta das cidades educadoras ou carta de Barcelona) que orienta os rumos pactuados em cada cidade, respeitando suas identidades singulares e suas características históricas e culturais. A carta prevê dentre outros aspectos, a revitalização dos espaços públicos, o foco na formação das crianças e dos jovens, um plano municipal amplo de educação e a democratização dos bens culturais.

Neste sentido, o Fórum de Mobilidade Urbana e Educação da Universidade de Passo Fundo criado em 2011, é um espaço de debate, articulação, produção de conhecimento e ações sobre questões relativas à mobilidade urbana no Município de Passo Fundo/RS. Visando a construção de subsídios para a formulação de políticas públicas ligadas a mobilidade urbana e a promoção do direito humano à cidade, desde seu nascimento congrega inúmeras instituições e sujeitos interessados na construção de um conceito de cidade democrática, acessível, educadora e sustentável.

Durante o ano de 2015 foram realizadas reuniões sistemáticas, sendo apresentadas inúmeras ações ligadas à educação e mobilidade o que serviu de elemento motriz para a construção do Programa UniverCidade Educadora: Circulando Cidadania.

Fortalecendo a dimensão pedagógica, participativa e de controle social das políticas públicas, o Programa configura-se como um espaço de ampliação do debate da mobilidade urbana e educação. Quais saberes integram o exercício de operacionalização da mobilidade urbana numa perspectiva pedagógica de formação cidadã? Como transformar esses saberes em um “currículo da cidade, para a cidade, com a cidade”? Como pensar os sujeitos e suas diferentes necessidades de deslocamentos na cidade de uma forma dialógica e didática, promovendo o direito humano à cidade?

É neste exercício de construção de um currículo de mobilidade urbana que o Programa UniverCidade Educadora visa à realização de ações que partam do pressuposto de que devemos pensar a cidade como um território pedagógico orientando suas diversas ações na perspectiva de uma cidade educadora, concebendo o meio urbano enquanto contexto, agente e conteúdo da educação.

O menino e o sapinho

Era uma vez um menino
Amigo de um sapinho
Que ninguém entendia
O seu meigo jeitinho.

Como ser amigo
De um bichinho
Que nada diz
Nem faz carinho.

Mas o menino sabia
Que aquele sapinho
Era o seu bom amigo
O mais queridinho.

Pois numa certa noite
O sapinho desapareceu
O menino procurou
Nem adormeceu.

Viu o dia raiar
Nada do sapinho
Para onde ele foi
Era só um bichinho.

O menino tristonho
Bastante chorou
Sem saber aonde
O sapinho parou.

Como é difícil
Pra gente saber
Que um amigo
Está a se perder.

Andando sozinho
Talvez o sapinho
Sentisse frio
No coraçãozinho.

O menino não
Podia imaginar
Não tinha ideia
Do sapinho a pular.

Às vezes a gente quer
Apenas encontrar
O nosso amiguinho
E dele bem cuidar.

Era isso o que queria
O menino do sapinho
Se estava tudo bem
Ou se tinha medinho.

Um dia o sapinho
Ao menino contou
Ter medo de gato
Isso logo apontou.

Era só um sapinho
Verde verdinho
Pequeno e belo
Um bom amiguinho.

Será que pulou
A janela de madeira
Ou saiu pela porta
Atrás da macieira.

Ninguém podia
O menino ajudar
Era difícil
Vê-lo a chorar.

Os dias se passaram
Muito devagarzinho
O menino sem comer
Foi ficando magrinho.

A família não sabia
Mais o que fazer
Para consolar
O menino a sofrer.

Compraram um gato
O menino não animou
Só queria o sapinho
O gato bem que miou.

É triste quando
Um amigo se vai
A gente se perde
O mundo cai.

Mas, um dia
De repente
Feito mágica
Imediatamente.

No pé do menino
Um bicho a se mexer
O que seria aquilo
Subiu o pé para ver.

Pois não é que
Lá estava
O sapinho
Que o amava!

O menino abraçou
Seu sapinho amado
Todo contente
Coração apressado!

O menino ficou feliz
Com o sapinho agora
Porque amigo nunca
Diz que vai embora.

A utilidade da internet para os sábios

Por meio da internet podemos informar que a humanização da sociedade se dará com políticas de distribuição justa e sustentável dos bens naturais, materiais e culturais, produzidos por nossa civilização. Podemos entender que a crise política vivida no Brasil tem relações com o período de 1964-1985.

Existem muitas coisas que poderiam ser feitas, mas deixam de ser realizadas por que não há tempo disponível. Por conta desta constatação, se faz necessário identificar o que pode deixar de ser feito, por ser menos importantes. A internet, por exemplo, pode fazer com que as pessoas percebam que não precisem assistir televisão. Com o uso adequado deste recurso é possível descobrir porque o Lula ainda não está preso e por que a primeira presidenta eleita do Brasil foi deposta. O conjunto das informações disponibilizadas na internet contribuem para entender a crise política vivida no Brasil, a partir de 2014, relacionando e estabelecendo conexões com 1964.

Os meios de comunicação informam que, a partir do início desta década, o Brasil tem um sério e inédito problema que é corrupção, inventado por um partido político que organizou um projeto criminoso de poder. No entanto, o sábio se dedica em estabelecer relações e percebe que a corrupção não é uma novidade e muito menos inédita, pois na década de 1960 o Brasil vivia uma crise semelhante. Naquela época um presidente, João Goulart, foi deposto por representar um projeto vinculado com a corrupção e com uma sombra, que recebia o nome de comunismo.

O fato a ser relacionado e divulgado é que na década de 1960, as classes menos privilegiadas economicamente e culturalmente, sem acesso a um salário digno ou a uma área de terra para a produção de alimentos, estavam nutrindo uma forte expectativa de melhorar de vida, por meio de intervenções do governo. Os investimentos em educação básica, com projetos para erradicar o analfabetismo e para fazer a reforma agrária, eram duas frentes de atuação estatal, lideradas por um projeto político que estava materializando benefícios para os grupos sociais menos privilegiados. No início deste século, os brasileiros assalariados passaram a ser beneficiados por ajustes em seus salários, que deram a possibilidade de adquirir bens de consumo, bens culturais como viagens aéreas, qualificações pessoais e profissionais por meio de cursos técnicos e do acesso ao ensino superior.

A exemplo do que ocorreu na segunda metade da década de 1960, a segunda metade da atual década está permeada por uma forte crise política. A proibição da manifestações, por meio de faixas e cartazes vivida na atualidade brasileira e a prisão de   um cidadão por se manifestar democraticamente, demostram que informações úteis não circulam nos canais de televisão.  Contudo, Umberto Eco (1932 – 2016) alertou para uma estatística que inclui milhões de ignorantes usando a   internet para as mais variadas bobagens. No entanto, quando analisamos as situações sociais, somos levados a crer que este canal de comunicação é útil para os sábios, pois contribuiu para que a história não se repita em nosso país.  Por meio desta ferramenta podemos informar que a humanização da sociedade se dará com políticas de distribuição justa e sustentável dos bens naturais, materiais e culturais, produzidos por nossa civilização.

UPF no Projeto Rondon

Conhecendo o  Projeto Rondon

Breve histórico

Seu nome é uma homenagem ao  Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, que teve grandes feitos na história de nosso país. Teve  papel ativo no movimento pela proclamação da República, participou da construção das Linhas Telegráficas de Cuiabá,

foi professor de Astronomia e Mecânica da Escola Militar, dirigiu a construção da  linha telegráfica, entre Cuiabá e Corumbá, alcançando as fronteiras do Paraguai e da Bolívia, construiu também  a linha telegráfica de Cuiabá a Santo Antonio do Madeira,  uma de sua obra mais importante. A comissão do Marechal foi a primeira a alcançar a região amazônica. Foi convidado pelo governo brasileiro para ser o primeiro diretor do Serviço de Proteção aos Índios e Localização dos Trabalhadores Nacionais, criado em 1910. Incansável defensor dos povos indígenas do Brasil ficou famosa a sua frase: “Morrer, se preciso for; matar, nunca”. Foi diretor de Engenharia do Exército e, após sucessivas promoções, chegou a General-de-divisão.

Nos anos 40 virou presidente do Conselho Nacional de Proteção aos Índios , cargo em que permaneceu por vários anos. Em 1955, o Congresso Nacional conferiu-lhe a patente de Marechal. E no ano seguinte, o então estado de Guaporé, passou a ser chamado de Rondônia em homenagem ao seu desbravador. Faleceu no Rio de Janeiro, em 19 de janeiro de 1958, com quase 93 anos. Rondon fez levantamentos cartográficos, topográficos, zoológicos, botânicos, etnográficos e lingüísticos da região percorrida nos trabalhos de construção das linhas telegráficas. Por sua contribuição ao conhecimento científico, recebeu várias homenagens e muitas condecorações de instituições científicas do Brasil e do exterior.

O que é o Projeto Rondon?

O Projeto Rondon foi criado em 1967, quando uma equipe formada por 30 universitários e dois professores de universidades do antigo Estado da Guanabara, conheceram de perto a realidade amazônica no então território federal de Rondônia. A primeira missão teve a duração de 28 dias. Durante as décadas de 1970 e 1980,  tornando-se conhecido em todo Brasil. No final dos anos noventa,  deixou de receber prioridade no Governo Federal, sendo extinto em 1989. Em Janeiro de 2005, ocorreu o relançamento do projeto, em Tabatinga-AM, com uma nova roupagem, voltando a figurar na pauta dos programas governamentais e universitários, sendo atribuída a sua coordenação ao Ministério da Defesa. Desde então, o Rondon já levou 19.196 rondonistas  a cerca de 844  municípios.

Atualmente, esse grande projeto de extensão brasileiro, encontra-se em processo de consolidação, com uma procura cada vez maior pelas universidades e pelos universitários. O Rondon é mais que um projeto educacional e social, é uma poderosa ferramenta de transformação social, na medida em que conscientiza jovens que terão nas mãos o destino deste país e da importância do seu papel de protagonista na busca de uma sociedade mais justa.

O Projeto Rondon, coordenado pelo Ministério da Defesa, é um projeto de integração social que envolve a participação voluntária de estudantes universitários na busca de soluções que contribuam para o desenvolvimento sustentável de comunidades com deficiências e ampliem o bem-estar da população. As ações do projeto são orientadas pelo Comitê de Orientação e Supervisão do Projeto Rondon, criado por Decreto Presidencial de 14 de janeiro de 2005. O COS, como é conhecido, é constituído por representantes dos Ministérios da Defesa, que o preside, do Desenvolvimento Social e Agrário, Educação, Esporte, Integração Nacional, Meio Ambiente, Saúde e da Secretária-geral da Presidência da República.

Esse projeto tem  por missão viabilizar a participação do estudante universitário nos processos de desenvolvimento local sustentável e de fortalecimento da cidadania nos municípios do Brasil .Seus objetivos visam  contribuir para a formação do universitário como cidadão; integrá-lo ao processo de desenvolvimento nacional, por meio de ações participativas sobre a realidade do País; consolidar no universitário brasileiro o sentido de responsabilidade social, coletiva, em prol da cidadania, do desenvolvimento e da defesa dos interesses nacionais e estimular no aluno universitário a produção de projetos coletivos locais, em parceria com as comunidades assistidas, contribuir  com  o  fortalecimento  das  políticas  públicas,  atendendo  às  necessidades  específicas  das comunidades selecionadas. Os pilares desse projeto são o Ministério da Defesa, as Prefeituras Municipais e as Instituições de Ensino Superiores (IES).

São características das operações o trabalho voluntário, no período de férias escolares, durante duas semanas, tendo dois professores (um coordenador e um adjunto) que acompanha oito alunos ,da 2ª metade do curso, duas equipes (IES diferentes) por município e a não repetição de alunos no projeto. As atividades desenvolvidas nos municípios são divididas em conjuntos. O Conjunto A: Cultura, Direitos Humanos e Justiça, Educação e Saúde, o Conjunto B: Comunicação, Meio Ambiente, Tecnologia e Produção e Trabalho, e Conjunto C com a responsabilidade da comunicação social .

UPF no Projeto Rondon

A trajetória de experiências de nossa Instituição, sempre sustentada pelo tripé ensino-pesquisa-extensão, caracterizada por ser uma Instituição Comunitária, e voltada para o desenvolvimento local  e regional de forma articulada e sustentável, nos permite propor um plano de trabalho para atender ao Convite, via Edital do Ministério da Defesa da Coordenação-Geral do Projeto Rondon , com atividades alocadas  tanto no Conjunto A , B e C.

A UPF desde 1987 tem participado de atividades semelhantes a esta. Foi uma das instituições que participou do então programa inicialmente piloto da Universidade Solidária  e do Programa Juventude Solidária (iniciativa do governo estadual.  Desde julho de 2005 tem participado de forma efetiva nos editais do Ministério da Defesa do Projeto Rondon. A IES já participou de  34  operações de norte a sul do país(AP,  SE, MT, PA, MG, PR, GO AM, RS AL, TO, RO MA PE , RN, MS), incluindo as operações do conjunto A, B, C , ASSHOP e ACISO(operações embarcadas ). Além de sua participação nas reuniões anuais de professores, promovida pelo Ministério da Defesa e do I e II Congresso Nacional do Projeto Rondon com vários trabalhos. A IES conta com o Núcleo Rondon, institucionalizado em 2010 (toda a sistemática de elaboração dos projetos, bem como a seleção de docentes e discentes para as operações é coordenada por esse núcleo).

Nossos resultados são de grande monta, desde 2005  a UPF já  certificou mais de 18 mil munícipes que passaram pelos cursos, oficinas e seminários oferecidos nas mais variadas atividades  propostas. Para tanto as ações foram pautadas no comportamento e no espírito  democrático, da solidariedade, da cooperação e da compreensão. Dessa maneira podemos “atender” o lema do Projeto Rondon – uma lição de vida e cidadania, de forma a colocar em prática a teoria vivenciada em sala de aula. Sala essa que tem mais 8 mil km2, permitindo aos rondonistas conhecer um Brasil além dos livros. Já participaram, por volta de, 400 alunos da UPF, das mais variadas áreas do conhecimento (saúde, educação, ciências biológicas e matemáticas, engenharias, comunicação, letras, música, pedagogia,) das operações do Projeto Rondon.

As propostas de trabalho  enviadas ao Ministério da Defesa , são  sustentada por um desenho pedagógico consistente,  que visa estimular e promover a formação de facilitadores e multiplicadores para fomentar o desenvolvimento local sustentável e a qualificação da gestão pública, valorizando o saber local das comunidades e estimulando o desenvolvimento de estratégias e ações autossustentáveis que  possam melhorar a qualidade de vida. Para tal, várias dinâmicas são utilizadas no período das Operações com vistas a atender as ações do CONJUNTO A ou B. São Metodologias dialogadas, discutidas e refletidas com a prefeitura nos contatos realizados na viagem precursora. São privilegiadas metodologias ativas e proativas de ensino-aprendizado, numa abordagem construtivista e centrada nos sujeitos que aprendem e apreendem, que pensa e reflete, que reconheçam e valorizem os conhecimentos mobilizados, e as experiências vivenciadas pela comunidade local. Não temos a pretensão de impor modelos prontos, ou “receitas mágicas” ou verdades absolutas, mas a intenção de facilitar processos e contribuir para a sistematização das experiências locais, colaborando para a formação ampliada dos sujeitos (comunidade, acadêmicos e professores).

A lição aprendida  no Projeto Rondon  foi de que a carência material não é nada diante da riqueza natural e moral, sendo que esta convida a uma reflexão do respeito e do valor que se tem na sociedade e da forma pela qual enfrentamos as adversidades do jeito egocêntrico de levar a vida. As demonstrações de satisfação depositadas, por sua vez, nos certificam de que os objetivos foram superados e que as “mudanças” ocorreram ou poderão ocorrer ao longo dos dias, pois ao recordarmos de fatos e histórias, às vezes realizamos mudanças imperceptíveis sem saber de onde veio essa mola propulsora para a ação. Aprendemos que simplicidade e pobreza estão muito próximas de miséria e que  pessoas são felizes mesmo sem ter tantos recursos quanto nós do sul. Deixamos um pouco de nós, mas trouxemos muito mais em nossa bagagem  de vida e de cidadania.  Não temos a pretensão de mudar o mundo, mas nos realizamos na possibilidade de mudar o mundo de alguém em especial  – o nosso.

Na bagagem de volta, de cada operação, não trouxemos apenas os números e o entendimento da missão cumprida , mas aprendemos que  ouvir as pessoas, entrar na casa delas, conhecer suas crenças e entender como elas vivem com tão pouco, é compreender o processo de dor pelo qual pessoas passam e vivem e também ficar maravilhados com as soluções que são capazes de realizar em prol de sua qualidade de vida que ora dá bons resultados ora leva a perdas irreparáveis no bem viver dessas populações. É verificar o valor que a ajuda de vizinhos tem em uma comunidade, é sentir e verificar que a pessoa que nos relacionamos  é um todo e que deve ser sujeito de sua vida, de sua saúde e  de sua cidadania. As impressões de uma mesma viagem para cada pessoa são diferentes, por isso talvez outros rondonistas tenham expressões e sentimentos diferentes, mas com certeza a lição de vida é similar e mesmo gratificante quanto foi a nossa. Em fim foi choque de cultura, de cidadania e principalmente de humildade. Como costumo falar rondon não se  explica , rondon se vive! O Projeto Rondon nos remete á nossa essência de humanidade e respeito ás pessoas, mas principalmente á vida em toda a sua plenitude, ou seja ,  um intenso programa de “brasilidade”.

Quer saber mais sobre o UPF no Projeto Rondon? Faça-nos uma visita!

 

Registros visuais  Maranhão/2012

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Palestra sobre Saneamento Básico

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Entrega de Clorador Coletivo para escola municipal

Picture3 Picture4 Picture5

Tratamento de Esgoto Por Evapotranspiraçã

Picture6Operação ASSHOP( Rio Amazonas, 2013)

Registro Visuais Pará/2013
Atividade cultural entre rondonistas e comunidade

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Picture9Trabalhado a leitura

Picture10Dialogando com a população indígena

Picture11Integração entre Rondonistas e Militares (2014)

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Picture13Noite Cultural (2014-Porta do Sol )

Picture14Pará 2015

Picture15Pará 2015

Picture16Experiência de Selva/Pará-2015

Picture17Experiência de Selva/Pará-2015

Picture18Atividade de Encerramento da operação

 

Escrito pela Prof. Dra AnaM.B.Migott. Coordenadora de Projetos Especiais, Divisão de Extensão UPF.

Transformar através da arte: crianças em busca de um novo significado para a vida

“Temos dois caminhos: o caminho do bem e o caminho do mal. A escolha é nossa! Escolhemos o caminho do bem participando do projeto. Antes tinha gente que queria nos ensinar coisas ruins, mas escolhemos vir para cá e aprender a ser alguém na vida. ”

Em 2009 o projeto Transformação em Arte passou a se mostrar a principal alternativa para muitas crianças da Vila Popular, em Passo Fundo. Resultado de uma parceria entre a Cáritas Diocesana, Notre Dame, Assec, ISAFA e Instituto Menino Deus o projeto atende dezenas de crianças e adolescentes no turno inverso da escola. Com idades entre 6 e 14 anos e vivendo em situação de vulnerabilidade social, os pequenos não titubeiam para responder o que o projeto é para eles: uma segunda casa.

Com quase uma década de existência o trabalho desenvolvido é desconhecido de muitos passo-fundenses. No bairro de casas humildes um grande pavilhão chama a atenção de quem passa: no início dos turnos é possível ver dezenas de alunos, sorridentes, chegando ao local. Das 8 às 9hs é o momento para as crianças relaxarem antes da aula. Um copo de achocolatado com bolachas ou pão é servido, já que como relatado pelos pequenos “sem energia a gente não consegue aprender”. O cardápio varia de acordo com as doações que recebem.

O restante do turno é dedicado ao aprendizado. Durante a semana são oferecidas aulas de música, capoeira, inclusão digital e dança além das atividades casuais, oferecidas por voluntários. Antes de irem para casa mais um lanche é oferecido aos jovens e se as doações estiverem de vento em popa, cada aluno leva para casa uma sacola com pão, bolachas ou outro alimento. As ações desenvolvidas e organizadas pelo projeto que atende no nº 99 da Rua Havaí são coordenadas pela Irmã da Congregação Salvatoriana, Inês Sartori.

A religiosa que trabalhou mais de três décadas no ensino privado conta que com o tempo começou a sentir falta de ajudar a comunidade de forma direta. Quando surgiu a oportunidade não teve dúvidas e pediu redirecionamento para o TransformAção em Arte, no qual atua desde a criação. Com o passar dos anos ela virou referência na Vila Popular, lugar ao qual se dedica de coração. Os moradores retribuem esse carinho e a consideram uma mãezona não só das crianças, mas também das famílias que passaram a contar com as doações arrecadadas por ela.

Um novo caminho

As aulas não são a única forma de conhecimento que Irmã Inês e sua equipe oferecem aos pequenos. A religiosa afirma que ali eles estão aprendendo a ser alguém na vida. Valores são discutidos com as crianças a todo momento e conforme Inês a maior preocupação não é o assistencialismo, mas prepará-los para o trabalho e para a vida. “Queremos que eles possam andar com suas próprias pernas. Que percebam que é possível uma outra vida”, diz. Lembra ainda que o reforço escolar oferecido se torna fundamental para atingir esses resultados.

Cristopher, Bianca, Wesley, Bruno e Nataly tem entre 11 e 13 anos e acordam cedo para acompanhar as atividades oferecidas. Eles que não titubeiam ao dizer que o TransformAção é a sua segunda casa. A parte mais legal do projeto? A Irmã Inês! – Dizem os pequenos enfatizando que suas vidas de pouco mais de uma década mudaram muito desde que começaram a frequentar o projeto. “Queremos ser alguém na vida, trabalhar, sermos bem-sucedidos e com os pés no chão. Antes do projeto ninguém aqui pensava nisso, só ficava pela rua sem fazer nada”, afirmam.

A leitura e a escrita melhoraram depois das aulas em que trabalham textos. Sonhadores, pedem para “colocar na matéria” que gostariam muito de ter aulas de reforço em português e matemática, matérias que mais sentem dificuldade para aprender. Querem saber todas as coisas, como são, como deve ser ou não ser, são curiosos! E são novas pessoas desde que começaram a frequentar o espaço. Sonham ainda com um professor de educação física e oficinas de dança de rua, grafitti e artes.

Suas perspectivas de vida mudaram completamente e se antes passavam o tempo vago atirando pedras em casas, hoje passam ajudando no planejamento e na leitura dos salmos e preces da celebração que acontece na igreja da comunidade. Veem a religiosa como referência “a Irmã Inês é uma pessoa muito gentil, uma segunda mãe. Ela puxa nossas orelhas, mas a gente sabe que é para o nosso bem. Para nos educar e sermos alguém na vida”, confessam.

Após completarem 14 anos os jovens são inseridos no mercado de trabalho. Atualmente 18 ex-alunos estão trabalhando com a indicação da Irmã Inês e tendo uma vida completamente diferente da que a realidade em que estavam inseridos lhe oferecia.

Aprendizado para quem ensina

As aulas oferecidas no turno inverso da escola buscam não só formar artistas, mas educar e preparar essas crianças para enfrentar o mundo que os espera. A experiência com os alunos é engrandecedora para quem se doa nessa troca de vivências. O estudante de filosofia Vinicius Luiz Balbino dá aulas de inclusão digital e conta que as lembranças da própria infância em um bairro periférico de Minas Gerais fizeram com que se interessasse pelo projeto.

Ele acredita que através da educação e da ajuda do próximo é possível mudar a vida dessas crianças e fazer a diferença no futuro delas. “Vi que estava fazendo a diferença no dia que eu dobrei na esquina do pavilhão e vários alunos vieram correndo para me receber e gritando -professor! Professor! ”, conta.

Para Vinícius a felicidade deve ser compartilhada e ajudar o próximo tem muito mais valor do que coisas materiais. “Eu acho que a felicidade não está só em mim, está em todos. A felicidade é compartilhada e quando a gente chega aqui e vê que está fazendo a diferença na vida deles, dá para chegar em casa e dormir tranquilo”, confidencia sorrindo.

Todo dia no projeto é uma evolução na vida das crianças da Vila Popular. Conforme o professor de música Eduardo Augusto da Silva a permanência deles faz com que o projeto cresça cada vez mais e o número de crianças na rua seja cada vez menor. Trabalhando com materiais diferentes do que estava acostumado, já que no TransformAção em Arte a percussão é feita com materiais recicláveis, Eduardo pontua que suas aulas contam com planejamento, pratica e teoria. As aulas de música expandem, proporcionam concentração, coordenação motora, além da criatividade e o trabalho em equipe.

O músico vê como fundamental a realização do projeto na comunidade. Para ele as atividades oferecidas podem transformar a vida das crianças “Dentro dessas oficinas é possível descobrir talentos. No tempo que estou aqui já pude perceber que evoluíram no aprendizado sim, mas principalmente no comportamento. Esse projeto é essencial para eles. O futuro dessas crianças depende do que acontece aqui”, elucida.

Geração de renda para as famílias

O projeto também se preocupa com as famílias da Vila Popular e em parceria com a Cáritas mantém uma oficina de costura em que os produtos vendidos complementam a renda de mulheres da comunidade. O Grupo de Geração de Renda São Francisco é unido pela solidariedade e ajuda mútua. A equipe é coordenada pela professora aposentada Vilma da Veiga, de 77 anos.

O grupo confecciona estopas que são comumente utilizadas em postos de gasolina e oficinas mecânicas no valor de R$4 o quilo, além de camas para cachorros que variam entre R$50 e R$90. A venda dos produtos é feita direto na Vila Popular, além da Feira do Bourbon e da Cáritas. O pagamento das participantes é feito de acordo com a produção realizada no mês.

O trabalho é realizado em conjunto aceita doações de tecidos do tipo Oxford ou Gorgurinho e linhas de costura. Vilma atua voluntariamente no grupo e diz sentir-se muito bem ajudando o próximo. “O evangelho prega a solidariedade, a ajuda, a partilha, do jeito que a gente pode. O voluntariado faz parte do meu ser e acho que todo mundo devia procurar um espaço desses para ver que a vida tem muito mais sentido. Vale a pena ficar velha trabalhando para ajudar os outros”, confessa.

Campo de Futebol

Dos planos para 2016 a construção de um campo de futebol em frente ao pavilhão que abriga o projeto é o mais comentado pelas crianças. O terreno foi cedido por um amigo do projeto e agora Irmã Inês passa a arrecadar doações e mobilizar voluntários para que o sonho se torne realidade. “Queremos fazer um campo de futebol e futuramente, quem sabe, uma praça. Já temos o terreno, agora só falta o resto”, comenta a religiosa que não mede esforços para melhorar a Vila Popular.

AJUDE O TRANSFORMAÇÃO

Doações são sempre bem-vindas no TransformAção em Arte, sejam de alimentos, tecidos para costura, para o campo de futebol ou até mesmo o tempo de quem tem algo para ensinar aos pequenos. Os interessados em conhecer melhor a proposta ou em adquirir as caminhas de cachorro e estopas produzidas pelo projeto pode entrar em contato pelo telefone (54) 9912 1807 (Irmã Inês) ou direto no local (Rua Havaí, 99, Vila Popular).

Júlio Perez: um autor que conjuga rotina de trabalho e prazer de escrever

Júlio Perez, filho de Achiles e Geni Perez, nasceu em 27/03/1968, em Gaurama, norte do RS. É o quinto de seis filhos, sendo ele o mais novo dos quatro filhos homens. Cursou o ensino fundamental e secundário em Gaurama.

Em 1987, mudou-se para Passo Fundo para estudar – um ano de Direito e um ano de Letras -, abandonando ambas as faculdades em 1989, desiludido com o ensino superior. Para ser escritor, afinal, não precisava da formação.

É pai de Guilherme, Júlia e Sofia.

Em 1990, ingressou na Caixa Econômica Federal, decidido a escrever nas horas vagas.

Em 1995, retomou seus estudos de Direito, insatisfeito com a falta de perspectiva que o trabalho lhe oferecia. Justamente quando havia despertado para a escrita, após o depoimento do amigo Jorge Salton sobre seu início como escritor: “Sempre quis escrever, mas nunca dava jeito. Até que cheguei aos 40 anos e então eu decidi: é agora ou nunca”. Com 27 anos, então, o autor decidiu que não ia esperar até os 40 pra chegar à mesma conclusão.

Influenciado, sobretudo, por Kafka, pela filosofia existencialista de Sartre e Camus e extraindo inspiração da sua rotina como bancário em Passo Fundo, Júlio começou a escrever muitos dos contos que depois vieram a compor o seu livro de 2012 – A Bolsa da Minha Mãe e Outros Contos.

Em 1999, integrou o grupo Momento Poético, o que fez com que a poesia entrasse definitivamente na sua vida. Os poemas dessa época deram origem ao seu primeiro livro – Expresso Instante, de 2006 – e ao segundo – Fugaz Idade, de 2010.

Influenciado pela objetividade de João Cabral de Mello Neto; pelo lirismo de Bandeira e pela metafísica de Pessoa – ele mesmo e pelo heterônimo Álvaro de Campos -, o autor foi aprendendo a falar mais das coisas do que dos seus sentimentos.

O primeiro livro compila criações que abarcam um período mais amplo – em torno de 10 anos –  com poemas de muitas épocas – próprio dos poemas ainda de formação; já o segundo evidencia um estilo mais seguro e característico.

Em 2012, com o apoio do Projeto Passo Fundo, o autor lançou o seu livro de contos – A Bolsa da Minha Mãe e Outros Contos -, com as histórias de 1995 e outras mais recentes. Um livro, portanto, de estilo muito diversificado, como seu primeiro livro de poemas.

Desde 2004, o autor trabalha no Tribunal de Contas do Estado, em Passo Fundo, como Auditor Público.

É membro da Academia Passo-Fundense de Letras, colaborador do sítio na internet do Projeto Passo Fundo e um dos fundadores do grupo de escritores autodenominados Sociedade dos Poetas Vivos, o qual tem por principal objetivo contribuir para o aprimoramento da escrita literária em Passo Fundo, promovendo oficinas literárias, cursos e palestras com escritores de daqui e de fora e a troca permanente de experiências entre os autores.

Humanos direitos?

Duas coisas impossibilitam avanços nos direitos humanos: a imbecilidade e o egoísmo. Defender os direitos humanos significa defender os humanos, todos os humanos, mas, sobretudo, os que são mais vulneráveis e mais propensos a serem tratados como fora do círculo dos direitos.

Gosto de uma frase de efeito. Admiro os frasistas e poetas, esses que dizem o que todos nós gostaríamos dizer, mas chegam antes. Uma boa frase vale mais do que um discurso inteiro. É como um gesto ou uma imagem que valem mil palavras, ou uma obra de arte que condensa universos paralelos. Ah uma bela e boa frase, todo escritor anda em busca de uma.

Há algumas belas frases que me encantam. Exemplo: quando duas pessoas pensam iguais, uma é dispensada; viva todos os dias como se fosse o último, um dia tu acertas; não importa o que fizeram de ti, o importante é o que tu fizer do que fizeram de ti; só sei que nada sei; a saudade é a presença da ausência; o que não mata, fortalece; a esperança é o sonho do homem acordado, etc.

Uma frase é bela quando ao ser pronunciada ou escrita o pensamento festeja. O que não faz rir e não faz pensar não pode ser uma bela frase. A bela frase desata o pensamento das cadeias do óbvio. De repente alguém junta as palavras como ninguém tinha feito até então e, bingo, eis a frase que estava esperando para se dita.

Gosto da frase que diz: os direitos humanos não são só para os humanos direitos. Essa frase dá o que pensar. Há uma narrativa conservadora e elitista que teima em se opor aos defensores dos direitos humanos dizendo que estes só defendem marginais, homossexuais, pobres, negros e excluídos. Os supostos críticos vêm com uma conversinha de que é necessário defender os “humanos direitos”, os que se comportam bem, os que não pressionam, os que não transgridem as normas da boa convivência e do status quo, as normas da tradição. Claro, eles, os conservadores, estão bem posicionados na escala social e por isso querem a todo custo manter o que tem. Nada há nada de incorreto nisso, se os seus direitos forem direitos e não privilégios.

Os direitos humanos são direitos que temos simplesmente por sermos humanos e por isso, claro, mesmo os ricos, bem constituídos e conformes com as tradições e os bons costumes, têm. Defender os direitos humanos significa defender os humanos, todos os humanos, mas, sobretudo, os que são mais vulneráveis e mais propensos a serem tratados como fora do círculo dos direitos.

Os estudiosos costumam classificar os direitos humanos em quatro gerações. A geração dos direitos individuais e civis, a geração dos direitos políticos, a geração dos direitos sociais e econômicos e a geração dos diretos de solidariedade e ecológicos.

Das quatro gerações, a menos garantida é a geração dos direitos sociais e econômicos. É aí que reside a maior parte da violação dos direitos humanos. São os direitos dos pobres e os direitos de reconhecimento das parcelas da sociedade que estão à margem por razões de sexo, cor e condições econômicas.

Os liberais conservadores não gostam que se diga, mas eles são conservadores e liberais exatamente por terem parado na primeira geração dos direitos e não se atualizaram e não incorporam as conquistas e avanços do século XX.

Pararam no século XVIII e por isso pensam que defender os homossexuais ou os pobres e negros é coisa de comunista. Quem para de ler, continua dizendo que direitos humanos é somente para os “humanos direitos” e para os direitos de propriedade. Duas coisas impossibilitam avanços nos direitos humanos: a imbecilidade e o egoísmo.

Deficiência e inclusão: vamos inverter um pouco os critérios?

Vivemos em uma sociedade onde a “normalidade” é vista como um ideal a ser buscado. Ser “normal” é tão impositivo, que acabamos por construir visões de mundo baseados neste critério. Porém, o que definiria a normalidade? Existe uma máxima que define: “de perto, ninguém é normal” (principalmente se tivéssemos acesso ao que as pessoas fazem quando estão sozinhas em seus espaços privados. Assim, em linhas gerais, quem seria normal de tivéssemos acesso aos seus pensamentos e vontades reprimidas?).

art1Em grande medida, o espaço público é um espaço onde tentamos manter uma aparência de “normalidade”. Tentamos nos manter invisíveis na multidão, agindo como a maioria e fazendo aquilo que esperamos que façam com a gente. Um entendimento inicial de normalidade segue a linha de se tornar invisível na multidão, como diria o sociólogo George Simmel, ser mais um na multidão das grandes cidades.

Ao final temos a impressão de que a “normalidade” realmente existe e toda a pessoa que foge deste princípio, deve ser rapidamente corrigida. Porém, esse entendimento que parece ser uma máxima organizadora do convívio social, possui consequências absurdas para qualquer pessoa que não tenha meios de se inserir dentro deste padrão socialmente estabelecido.

art2Esse é o caso dos deficientes, que possuem algum tipo de característica que os impedem de passar desapercebidos em meios aos demais. Assim, deixam rapidamente de serem considerados “pessoas normais”, invisíveis, passando a serem tratados como pessoas especiais (no sentido de pena e infantilização mesmo), tratadas como pessoas portadoras de algo (como se pudessem escolher portar algo ou não), pessoas que são vistas pelos demais comumente como “coitados” (o olhar, o gesto e até mesmo o tom de voz muda quando querem se dirigir a um deficiente). Uma ótima dica de filme francês que retrata bem desta postura indico a comédia Intocáveis (2012 – Direção Eric Toledano, Olivier Nakache).

art3As pessoas que pautam suas vidas pelo padrão de “normalidade” tem a tendência de olhar para as pessoas que possuem algum tipo de deficiência como se a vida daquela pessoa estivesse limitada e condenada a uma eterna dependência dos ditos “normais”. Mas ao contrário do que se pode pensar, os “normais” nem por isso deixam de estacionar seus lindos carros em vagas para deficientes. Quando interessa ao dito “normal”, ele muda rapidamente a lógica a seu favor, e questiona os privilégios que os idosos e deficientes possuem (afinal, é bem rapidinho, né?).

A minha proposta neste texto seria de romper essa normalidade moralista e altamente preconceituosa. Como discuto com meus alunos em aula, quem disse que as inúmeras deficiências existentes são necessariamente algo negativo? Quem definiu que ser “normal” é ter sorte, e quem nasceu com qualquer característica que fuja deste padrão é ter azar?

Como provocação intelectual dos padrões, proponho uma inversão de mentalidade, ou seja, uma quebra radical de PARADIGMA. Passamos agora a pensar que todas as pessoas que destoam do padrão de “normalidade”, serão consideradas pessoas de MUITA SORTE, pois possuem poderes que as pessoas normais não tem acesso. (Claro que corro o risco de ser romântico e passar um discurso de ilusão, ou mesmo de inverter de forma ingênua de que nascer diferente seja melhor em uma sociedade que descrevi acima como altamente preconceituosa), mas pretendo inverter o paradigma, na mesma forma com que está ocorrendo essa inversão na área da saúde infantil.

Crianças com câncer, que viviam em ambientes hospitalares e eram tratados como doentes, hoje se inverte esse pressuposto, e começam a tratar as crianças como se fossem heróis de revistas em quadrinhos:

A simples modificação de uma entendimento, faz toda a diferença em relação a auto-estima e postura frente as dificuldades. A realidade pode ser tão cruel para alguns, quanto mágica para outros, bastando uma simples inversão na forma com que vemos o mundo.

Assim, um simples exame que antes a criança precisava ser amarrada ou sedada para ficar calma, pode se transformar em uma experiência de máquina do tempo, ou mesmo a entrada em um campo de força que a fará mais forte e rápida em seus movimentos.

Nesta linha, começaremos a pensar essa inversão com as pessoas que nascem com limitações físicas, que nos ajudam a buscar sempre os elementos mais legais e dons especiais que resultam dessa inversão de perspectiva – do drama ao protagonismo do dom:

Deficientes auditivos

art4Acredito que esse poder seja muito interessante, já que todo o tipo de stress e violência de músicas, barulhos e gritos estão fora do seu cotidiano. O poder de focar sua atenção nas imagens e nos gestos e excluir do seu cotidiano a imensa quantidade de barulhos que nos despertam e nos dispersam. Elas podem ler um bom livro ou assistir um filme legendado ou traduzido em libras em meio a um caos de gritos, barulhos e distrações.

Alguns ainda possuem a possibilidade de usar um implante ou aparelho auditivo que os permite uma escolha altamente seletiva: Escolhem ligar ou desligar seu aparelho. Podem ter o poder de escutar ou não o mundo, tendo o poder de silenciar os chatos, os idiotas e deixar seus pensamentos livres de interferências externas. Além do poder do foco, possuem como dom a expressão corporal, seu rosto e postura falam e sentem em uma potência infinitamente mais sensível que as pessoas ditas “normais”.

Além disso, possuem o poder de comunicação das mãos. Suas mãos danças e comunicam o que muitas vezes as palavras deixam de dizer. Os movimentos formam palavras, frases e colocam qualquer Italiano no “chinelo” quando expressam tudo sem emitir um som, onde os olhos e a boca acompanham as mãos que em Libras traduzem o mundo de uma forma mágica.

Deficientes visuais

art5Também chamados de “cegos”, percebem o mundo pelo toque, pelo som e possuem um dos poderes mais especiais que posso pensar: São os únicos que não se deixam enganar pela aparência, não valorizam os elementos superficiais do mundo. Buscam a essência de tudo que conhecem, já que as formas são detalhes pequenos se comparados com o conteúdo manifesto das coisas.  Você está procurando sensibilidade? Esse é um dos maiores poderes de quem não vê o mundo com os olhos, mas com o ouvido, mãos e coração.

Já provaram que são heróis por vocação, explorados pela mente genial dos criadores dos heróis MARVEL, ilustra quadrinhos, séries e filmes com o nome tupiniquim de DEMOLIDOR:

Deficientes físicos

art6Tem o poder de utilizar a tecnologia das cadeiras para economizar energia para finalidades cerebrais e de contato humano. Também representado como líder mutante dos X-Man, reforçam a ideia de que a MARVEL é muito mais que uma simples empresa, ela descobriu que essa inversão de mentalidades é genial, ao corporificar a figura do professor Xavier:

Além disso, possuem o poder do UNIVERSAL. Transformam o entendimento de toda a sociedade em relação a palavra: Acessibilidade, que antes bastava um porta e uma escada, com o poder manifestado, agora precisamos entender que acesso deve sempre vir acompanhada da palavra: UNIVERSAL. Acesso Universal amplia a inclusão, um poder que poucos possuem.

Outro poder incrível é o momento em que levantam das cadeiras e utilizam a tecnologia para superar seus desafios. Recebem incrementos que os fazem correr mais rápido que os “normais”, causando medo nos recordistas olímpicos (Até chegar ao ponto de se negarem a correr com os deficientes, quem diria, não é?)

Ou mesmo, unem forças e desbravam os mares, que muitos ditos “normais” tem medo e insegurança de conhecer. Superam desafios, para provar cotidianamente que a vida só tem sentido quando superamos nossas próprias limitações (E quem não tem as suas próprias, não é?).

Enfim…

Poderíamos listar aqui uma infinidade de tipos de deficiências, e inverter esse paradigma. Mas da mesma forma que faço em minhas aulas, prefiro deixar que vocês que estão lendo, criar novos entendimentos sobre a deficiência. De forma autônoma, desafio você ser também capaz de identificar os poderes que todos os que não podem ser incluídos neste padrão superficial de “normalidade” possuem e oferecem ao mundo. Deixem seus comentários, críticas e opiniões sobre novas formas de encarar as deficiências… vamos romper as dualidades simplistas e tão pesadas para os que estão fora do comum.

Para os que ainda teimam em achar argumentos para defender a “normalidade”, fica o recado do Contardo Galligaris.

art7

Rosângela Trajano: uma filósofa poeta

Rosângela Trajano é poetisa, escritora e filósofa. Licenciada e bacharel em filosofia pela UFRN e mestra em literatura comparada também pela UFRN. Com mais de 20 (vinte) livros publicados para crianças, ministra cursos de filosofia para crianças à distância. De sua autoria conta com 10 (dez) desenhos animados para crianças, também.

FILOSOFIA E POESIA

A filosofia anda junto com a poesia no que concerne ao mundo imaginário que as pessoas desenvolvem em seus pensamentos, criando um ambiente próprio e determinado por cenas e personagens que são só seus, porém compartilhados com o mundo. A filosofia está na poesia do menino que faz perguntas com a sua inocência assim como o adulto que se alimenta das palavras que extraem a seiva do crepúsculo do ser enquanto personagem de um mundo líquido e colonial do seu intercâmbio entre realidade e subjetividade.
Para Gaston Bachelard, “a poesia é, antes de ser uma fenomenologia do espírito, uma fenomenologia da alma”, ou seja aquilo que se apresenta interno dentro do ser se propaga na investidura do imaginário poético enquanto metafísico. Atribuir à poética uma cidadela cheia de casas com versos que deslumbram o além mundo possível é tarefa do poeta.

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