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Amores de nossas mães

Escrever sobre o amor de nossas mães é um grande desafio. O amor materno é sempre sagrado, capaz de abarcar as dimensões humanas mais ricas e contraditórias. Sua pureza se confunde com amor radical, mas nem sempre compreendido por sua incondicional capacidade de perdoar, reatar, reconsiderar, reaprender a viver do jeito que é possível, apesar dos pesares.

Somente as mães conhecem realmente seus filhos e suas filhas. Por conhecê-los tanto e tão bem, são capazes de reconhecer seus desejos e potencialidades, mas também seus limites e fragilidades. Não raras vezes são mal interpretadas porque dedicam mais atenção e apoio para um dos seus filhos ou filhas que, justamente, mais necessita de sua ajuda, proteção e presença.

Somente as mães conhecem realmente seus filhos e suas filhas. Por conhecê-los tanto e tão bem, são capazes de reconhecer seus desejos e potencialidades, mas também seus limites e fragilidades.

Nossas mães aprenderam e ensinaram que ser justo é dar a todos e todas as mesmas medidas, as mesmas proporções, dividindo tudo em partes iguais. O bolo de mãe, o melhor de todos, é sempre dividido em partes iguais para cada um de seus filhos e filhas. Parece que esta é sempre a fórmula mais justa de dividir os bens e artigos que possuem materialidade. Mas valerá esta mesma regra para “distribuir” carinhos, afagos, apoio e atenções? Para as mães, não. Para os filhos, sim.

Sem perceber, nossas mães fortaleceram nossos egoísmos e caíram numa cilada que, não raras vezes, volta-se contra elas à medida que os filhos, sempre diferentes, exigem que sejam tratados de maneira igualitária. Mas como tratar de forma igual filhos tão diferentes, com diferentes necessidades de compreensão, de apoio, de ajuda de todas as ordens, inclusive ajudas financeiras?

Em toda família com mais de um filho há um que precisa de uma presença, vigilância e cuidado maior do que o outro. Não é verdade que as mães amam diferente a cada um de seus filhos ou filhas e amam em diferentes intensidades, mas é fato que as mesmas dedicam-se aos filhos na proporção da necessidade que os filhos revelam para elas. Por isso mesmo, não se justificam as birras e incompreensões para com elas.

Não adianta a gente querer esconder de nossa mãe aquilo que a gente é. A mãe da gente não precisa de faro, nem de varinha mágica para descobrir o que se passa com a gente. Seu olhar e sua presença transpassam a nossa vida, tornando-a uma extensão.

Celebremos, pois, o amor sagrado de nossas mães. Saibamos reconhecer que o bem maior, nossa vida, foi gerado por elas. Saibamos reconhecer que, com a pureza de seu amor, as mães jamais seriam incapazes de atrapalhar os nossos planos, desde que estes, uma vez verdadeiros, nos ajudem a ser o que somos.

Todas as mães são únicas e a são
a seu modo por conta de nós, seus filhos.

Todas as mães são únicas e a são a seu modo por conta de nós, seus filhos. Elas nos geraram, mas não puderam prever como a gente seria. Embora insistam em dividir o bolo em partes iguais, por força do hábito, elas nos provam que fazer justiça não é dividir em partes iguais, mas dar a cada um e cada uma conforme as suas necessidades.

Vida longa e saudável a todas as mães brasileiras!

 

Crônica publicada no livro: Conviver, educar e participar: nos palcos da vida.

Menino sonhador

[quote_box_right]Na vida nos fazemos gente, seres humanos. No encontro com os outros ampliamos as oportunidades de realização. Convivendo nos percebemos frágeis e incompletos, mas também fortes porque somos interdependentes e nos realizamos a partir do amor, do cuidado, da solidariedade e da compaixão.[/quote_box_right]

Um menino sonhador morou no interior até seus 20 anos, dedicando parte de seu tempo-criança para conversar com a lua. Inspirava-se nos seus raios e buscava luzes para seus caminhos, especialmente em noites de lua cheia. Cantarolava a esperança, para aliviar ansiedades. Dividia seu tempo entre o trabalho na roça, os estudos escolares e o acalentar de sonhos, no princípio de muitas noites. Sua família pobre e humilde, com muitas dificuldades, soube arquitetar sonhos e desejos para que todos, mais tarde, pudessem superar sua “miséria minifúndia”.

A ansiedade deste menino era descobrir como ser “reconhecido pelos outros”. Sua primeira tentativa foi pela fama: alimentou a ilusão de ser um grande cantor. Imaginava palcos, aplausos e muito reconhecimento. Começou a cantar no coral de sua igreja, mas parou por aí.  Enquanto estudava, viveu a tensão de ser querido e discriminado. Era muito gago, o que lhe rendia muitos preconceitos e discriminação. Mas como ninguém é zero em tudo, aprendeu cedo a compensar este seu limite de comunicação (falada) com leituras e boa escrita. Escrever tornou-se, então, uma grande necessidade, uma forma de se parecer bonito aos outros.

Depois imaginou superar sua “pequenez” ingressando no seminário. Alimentou por alguns anos o desejo de ser padre, bom comunicador e missionário. Decepcionou-se com alguns religiosos porque estes não souberam ajudá-lo e compreendê-lo.

Embora todas estas experiências fossem insuficientes, o jovem moço descobriu que cada uma delas foi fundamental para constituí-lo forte e capaz. Descobriu-se professor, fazendo das práticas pedagógicas lugar de descobertas e afirmações de suas crenças e experiências. Passou a acreditar muito nos potenciais humanos. Passou a acreditar que não nasceu humano, nem professor e nem escritor, mas que sempre está sendo quem é.

Este menino sonhador hoje tem 41 anos. Conta sua história por reconhecer que a história de todo mundo é feita de superação. Acredita que o maior desafio dos seres humanos é sua humanização. Humanizar-se significa tornar-se um ser humano melhor, mais completo e realizado. Por isso afirma que as escolas podem ser espaços de humanização através do conhecimento, da integração e da convivência que acontecem entre os sujeitos da educação: os professores e os alunos.

Este menino sou eu. Tenho minha história, uma família e um primeiro livro. “Conviver, educar e participar” são importantes verbos da existência humana. Verbos ensejam ação humana. Conviver é importante porque não somos felizes sozinhos, embora muitos desejassem. Educar porque nunca estamos prontos e sempre devemos querer aprender. Participar porque fazemos parte do mundo e podemos contribuir para os rumos que queremos para ele. O grande palco: nossa vida. Na vida nos fazemos gente, seres humanos. No encontro com os outros ampliamos as oportunidades de realização. Convivendo nos percebemos frágeis e incompletos, mas também fortes porque somos interdependentes e nos realizamos a partir do amor, do cuidado, da solidariedade e da compaixão.

A função da literatura e as crianças

Confira a entrevista, em dois blocos:

1º Bloco – A função da literatura

Professores Eladio Weschenfelder (UPF) e Nei Alberto Pies (professor da rede pública) debateram a função da Literatura em programa Universidade Aberta da TV UPF.  Acreditam que um dos maiores desafios dos seres humanos é sua humanização. A literatura, através da escrita, leitura e comunicação das palavras, tem um grande poder humanizante. Na medida em que lemos e nos deparamos com os dramas humanos relatados na ficção literária, estamos internalizando e dinamizando os nossos próprios dramas pessoais. Por isso mesmo, não é necessário viver todos os dramas para saber sobre eles. A literatura tem a função de nos ajudar a lidar melhor com nossos desejos, sonhos, amarguras e decepções, sem necessariamente vivê-los.

2º Bloco – As crianças e a literatura

As crianças que participam do Projeto Bandinho de Letras, projeto de extensão da UPF, vinculado ao Mundo da Leitura, tem acesso à literatura clássica e desenvolvem o prazer da leitura, além de habilidades importantes como a desinibição, o contato com outros públicos leitores, a perda da timidez. Tornam-se, deste modo, propagadores da leitura e da literatura numa sociedade que nem sempre compreende o papel da leitura. Ao dizerem e recitarem poesias, pequenas histórias ou contos dão vida às palavras que estão contidas nos livros e nas bibliotecas.

Apresentação do livro “Conviver, educar e participar” na RBS TV de Passo Fundo

Professor Nei Alberto Pies participa do Jornal do Almoço na RBS TV de Passo Fundo, onde apresenta seu livro Conviver, educar e participar: nos palcos da vida, lançado na 28 Feira do Livro de Passo Fundo. Veja a reportagem.

Não estudei, e agora? Estratégias de sobrevivência!

Indiscutivelmente o ser humano é um sobrevivente. Disso não tenho dúvidas. Mas transpondo este cenário vivido em escala macro para o ambiente de sala de aula, como o homem (espécie) tem sobrevivido como aluno? É claro que ele não deixa de ser humano quando adentra uma sala de aula, mas o que queremos afirmar é que esse espaço demanda outras formas de conduta e de ação com especificidades e características próprias. A criança/adolescente/jovem se transforma em aluno, com linguagem e posturas particulares, algumas adquiridas no exercício de “ser aluno”, como estratégias necessárias para sobreviver e não ter de abandonar, ou de lá ser banido, por não conseguir assimilar as regras e leis daquele espaço.

Das possíveis medidas experimentadas no curso de uma trajetória acadêmica quero falar de algumas adotadas em um momento específico: a hora da prova. Como se portam ou comportam-se os alunos durante o período de aplicação de uma prova? As atitudes variam: cabeça baixa procurando lembrar tudo que foi estudado para conseguir a melhor nota possível e fugir do exame, da recuperação ou até da reprovação; olhar vago procurando alguma resposta que possa vir do além, quem sabe uma inspiração divina nessa hora? Nada mau; folhar a prova, ler as questões, talvez, por acaso, alguma resposta pode estar no enunciado de alguma outra; fazer “caretas” para mostrar ao professor que aquela questão foi estudada e a resposta virá à memória a um tempo oportuno; demonstrar tiques nervosos como passar a mão sobre os cabelos, esfregar o rosto, coçar as bochechas, fazer trejeitos com a boca…

Enfim, poderia descrever uma variedade de outras práticas presenciadas durante a realização da temida prova, mas quero ater-me às estratégias adotadas quando o estudante não estuda, quando não sabe o que responder, busca a ajuda de um companheiro ou de mecanismos não autorizados e “ilícitos” para sobreviver à sala de aula. O desespero daquele momento obriga, pouco importa se é arriscado ou pode ser pego com a “boca na botija”.

Em outros tempos os recursos eram menos sofisticados e com menor aparato tecnológico. Hoje, aqueles comportamentos tradicionais de pedir uma resposta ou passar uma informação(enquanto o professor distrai-se ou vira-se para atender a um colega), fazer a “famosa” cola (denominada também de resumo estratégico para horas inesperadas), cochichar com o colega ao lado, “escrever” na mão ou na classe, passar bilhete, fazer de conta que está lendo a prova com ela bem levantada para o outro aluno ver as respostas, cederam lugar a outros mecanismos carregados de potencialidade tecnológica, verdadeira estratégia de guerra.

O senso comum tomou conta da escola e da universidade, aboliu uma das verdades fundamentais: conhecer exige trabalho, estudo e dedicação, o que para muitos, não se constitui mais tarefa do aluno.

Como a tecnologia demorou a chegar à sala de aula, trazida pelo professor, os estudantes introduziram-na de maneira rápida e efetiva com outras finalidades, menos nobres do que o ato de aprender. Ela passou a ser a inseparável estratégia de sobrevivência nas horas das provas. Aquilo que sempre se profetizou a respeito das tecnologias naquele momento torna-se a pura realidade: socialização do conhecimento, espírito de equipe, trabalho coletivo, divisão de tarefas para cumprir um objetivo, solidariedade, ideias inovadoras.

O lamento a respeito de tudo isso é que não possui finalidade educativa, nem se constitui em oportunidade de aprendizagem. Serve única e exclusivamente para sobreviver àquele momento, depois disso segue-se o curso “normal” sem transpor tudo isso para a vida cotidiana como verdadeiro aprendizado. Usa-se para encobrir a mais triste das realidades: a crença de que se pode ter competência sem conhecimento. O senso comum tomou conta da escola e da universidade, aboliu uma das verdades fundamentais: conhecer exige trabalho, estudo e dedicação, o que para muitos, não se constitui mais tarefa do aluno.

Combate à corrupção com reforma política

Reconheço legítimas todas as manifestações, mas preciso discordar de que elas não tiveram foco. Tiveram sim um foco golpista: o Impeachment de Dilma. Impeachment é golpe por não termos razões objetivas e concretas de improbidade contra a presidente. Impeachment é golpe por atentar a democracia em um de seus pilares mais importantes: a vontade da maioria, através do voto. Eu acredito que deveríamos combater corrupção como um dever cívico de todos os brasileiros e combatê-la também através uma ampla e irrestrita reforma política. O sistema político, infelizmente, está podre e colabora com a corrupção institucionalizada que o país acaba de descobrir. A maldade ou a bondade não estão personificados numa única pessoa ou num único partido.

[quote_center]Combate à corrupção se faz com uma ampla
reforma política e com dever cívico dos cidadãos.[/quote_center]

Estamos perplexos pela maneira simplista e obsessiva com que alguns tratam da questão do impeachment! Não discutem nem apresentam as consequências de tal hipótese nem propõem nada de objetivo para combater a corrupção, como por exemplo, uma ampla e abrangente reforma política.

Minha opinião: combate à corrupção se faz com uma ampla reforma política e com dever cívico dos cidadãos (passando da passividade para cidadania ativa). O dia em que a Justiça condenar e punir os corruptos com rigor e a sociedade não tolerar mais nenhuma forma de corrupção, avançaremos no seu combate. Eliminar a corrupção é muito difícil, pois desde sempre a humanidade demonstrou-se vulnerável e corruptível!

Combate à corrupção: dever cívico – TV Câmara

O professor e ativista de direitos humanos Nei Alberto Pies defende o combate à corrupção como um dever cívico de todos os brasileiros e brasileiros. Reconhece a corrupção endêmica, sistemática e fruto de um sistema político falido e que não representa o conjunto de interesses da população brasileira.

Discorrendo sobre a história do Brasil, afirma que o país vive de 3 estigmas: bola, bunda e bumbo e agora descobre-se também “como país de corrupção”. O professor levanta dúvidas sobre a consciência de que a corrupção no Brasil é um problema suficientemente sério para ser levada a sério, uma vez que a cultura brasileira caracteriza por uma grande permissividade, o que leva ao jeitinho brasileiro, a Lei de Gerson e à certeza da impunidade.

Revela-se ainda um grande otimista pelo Brasil e afirma que corrupção se combate com uma ampla e verdadeira reforma política.

 

Raiva, ódio e agora estupidez!

Primeiro estimularam raiva contra um partido e governo que praticavam a inclusão e promoviam distribuição de renda. Não nos importamos porque achávamos que não seria contra a maioria dos brasileiros pobres e trabalhadores Pensávamos também que seria algo passageiro e que seríamos poupados do que poderia ser bem pior.

[quote_center]A paz e a democracia neste país não se faz por guerras.
Basta de raiva, ódio e estupidez![/quote_center]

Depois estimularam e disseminaram o ódio contra todos aqueles que, historicamente, demonstraram compromisso com a promoção dos direitos e o exercício da cidadania. Suportamos o ódio, mas começamos a nos acordar e nos defender, temendo o pior.

Agora atentam contra a integridade de pessoas, ameaçando todos aqueles que continuam acreditando na força do poder popular e na força das ideias progressistas. Incitam a violência e não respeitam a vida de quem sempre lutou por mais liberdade, justiça e direitos humanos. Agora, antes tarde que mais tarde, chegou a hora de reagir para preservar o que de mais sagrado existe na democracia: a liberdade de pensar, sem ameaças.

Sejamos, mais uma vez, protagonistas de uma história sem fundamentalismos: “os lutadores sociais deste país merecem respeito.” A paz e a democracia neste país não se faz por guerras. Por isso mesmo, continuemos acreditando no diálogo como a melhor mediação para a democracia. Antídoto contra estupidez não é estupidez!

Manifestações no Brasil

Artistas do Grupo Ritornello de Passo Fundo em espetáculo "Faixa de Graça", que versa sobre a importância da política, do voto e da cidadania num país.

Todos tem direito de manifestar-se, seja no dia 13 ou 15 de março ou qualquer dia que resolver paralisar para tornar públicas suas reivindicações. O que sempre está em análise pelo conjunto da população são as razões e motivações para manifestar-se. Se fosse para manifestar repúdio e insatisfação pelas recentes descobertas de corrupção e para exigir uma grande Reforma Política, eu também estaria nas ruas no dia 15 de março. Mas como a motivação é Fora Dilma, tô fora!

O Brasil não resolve a corrupção que grassa nossas instituições, poderes da república, empresas e governos com o Impeachment de Dilma. Este é o caminho para não resolver nada e para deixar tudo como está. A corrupção revela-se endêmica, sistemática e será enfrentada, de fato, quando os brasileiros encararem a mesma como um dever cívico, mudando suas posturas passivas e desafiando-se à vigilância e denúncia permanente e sistemática, em todas as esferas em que ela possa ocorrer. Também exigindo que as investigações possam prosseguir e os culpados sejam punidos com os rigores de nossas leis. Também avançando em mecanismos de combate e controle, aumentando a transparência da aplicação dos recursos que envolvem o dinheiro e os interesses coletivos da nação.

[quote_center]A corrupção tem de ser vista como um problema suficientemente sério para ser levado a sério.[/quote_center]

Tenho dúvidas se brasileiros tem esta consciência ou se já tomaram para si a corrupção como um “problema suficientemente sério para ser levado a sério”. No meu modesto entendimento, temos hoje uma percepção maior dos males que a corrupção nos causa, mas ainda disputamos o combate à corrupção como uma bandeira ou plataforma de disputa do poder (dos que apóiam ou dos que são contra o governo). Esta situação agrava ainda mais nossa descrença na política e na democracia como formas de resolver e encaminhar os problemas da coletividade (bem-comum).

O debate, desta forma, está mal posto, dando margem à ideias errôneas de uma crise generalizada de corrupção. Sou da opinião de que precisamos de um pacto, cuja maior base é o bom senso: deixemos o Judiciário, o Executivo e o Legislativo trabalhar no aperfeiçoamento do controle para o combate à corrupção. Deixemos também a economia e a produção funcionarem neste país.

Não sei a quem interessa paralisar o Brasil!

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