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Cronistas em dias tensos: a realidade se impõe

[quote_box_right]“O silêncio arquiteta planos que não são compartilhados. Quando nada é dito, nada fica combinado.” (Martha Medeiros)[/quote_box_right]

M03_10_cronistas-em-dias-tensosais do que nunca, em tempos revoltos, a realidade é que se impõe aos que escrevem. Os cronistas, especialistas em retratar o cotidiano reflexivamente, veem a realidade superando as suas inspirações. Quando a realidade lhes exige opiniões e posicionamentos, obrigam-se a tomar partido: dizer a parte (ou lado) que defendem. Precisam externar seus pontos de vista.

Aparentes insignificâncias cedem lugar a temas mais duros e complexos, mais difíceis. Mas para a crônica, nada é tão insignificante que não mereça ser apreciado e traduzido para reflexão. Reflexão, por sua vez, significa pensar a ação humana, em todas as suas dimensões.

Cronistas vivem dias tensos. As crônicas, que emergem do cotidiano, obrigam a posicionar-se. Há uma fartura de pautas no atual momento histórico brasileiro: corrupção, descrédito dos políticos, fundamentalismos religiosos e políticos, manifestações de rua, crises na saúde e na educação, falta de diálogo e consensos sobre os destinos do país, juventudes que desafiam os adultos, drogas, ética na política, esperanças desperdiçadas, inércia dos governos, crise mundial…

Nestas horas cronistas assumem também uma cidadania ativa. Vivem, como todos os brasileiros, um momento de livre manifestação, de confronto acirrado de ideias, de consolidação da democracia. Mas em tempos em que nossas instituições estão fortalecidas, funcionando com independência e autonomia e sem afrontas. As instituições e poderes da República que alicerçam nossa democracia, felizmente, estão acima das pessoas.

O que falta ao Brasil é um pacto para não paralisarmos nem a economia, nem a produção e nem a política brasileira. Serve a quem paralisar o país?

Neste contexto de crises generalizadas, o bom senso e a governabilidade devem nortear a cabeça de nossos governantes, juízes, lideranças, parlamentares e líderes religiosos. O mesmo bom senso recomenda a quem se manifesta e se organiza nas ruas ou nas redes sociais que não use de violência e nem apele para baixarias ou insultos. O bom senso, também recomendado a todos nós.

Acredito que palavras tem grande poder de jogar luzes à compreensão de nossa realidade. Associo-me ao pensamento de Martin Luther King que disse em vida: “eu também sou vítima de sonhos adiados, de esperanças dilaceradas, mas, apesar disso, eu ainda tenho um sonho, porque a gente não pode desistir da vida”. Sim, porque vida é luta. E lutar é imprescindível para quem deseja viver melhor.

Tenho lado. Milito com aqueles que, desde sempre, lutaram e conquistaram direitos e dignidade para viver. Estes mesmos, nem sempre compreendidos, souberam organizar bravamente suas lutas ao longo de nossa história. Não são manifestantes oportunistas e sabem o que está em jogo nas recentes e ditas “novas manifestações” do ano 2015.

Ensino religioso: conhecimento que gera espiritualidade

[dropcap type=”3″]C[/dropcap]om orgulho da profissão e responsabilidade com o conhecimento, anuncio o meu retorno às salas de aula neste ano de 2014. Desafio-me, mais uma vez, confrontar meus conhecimentos sobre a vida humana, a busca pelo Transcendente e a vivência da fé e das crenças com os conhecimentos de meus alunos que são crianças, adolescentes e jovens: seres humanos em formação.

O Ensino Religioso ministrado nas escolas públicas não é mais catequese, não é aula de religião e muito menos lugar para rezar e orar. O Ensino Religioso é a oportunidade de conhecimento das diferentes religiões com o intuito de respeitar e reconhecer as diferentes crenças e práticas religiosas que coexistem na sociedade. O objetivo é o diálogo interreligioso como pressuposto para construção de relações de respeito, reverência e paz, solidariedade e paz no mundo.

O caminho é temerário e em “terreno movediço”, pois envolve o que muitos consideram muito sagrado: sua fé. Mas o medo não pode impor pânico, senão paralisa; nos deixa sem ação. O medo é importante para a proteção, pois faz considerar os riscos de cada ação. Quando reconhecemos os outros, suas vivências e sua fé, geramos “espiritualidade”. Espiritualidade acontece quando não temo os outros; antes, associo-me a eles para juntos descobrirmos a alegria de viver conjuntamente, apesar das diferenças.

[pull_quote_left]“O traço de união que une todas as religiões é a espiritualidade.” (Adelmar Marques Marinho)[/pull_quote_left]

Nem padre, nem pastor ou líder religioso, sou professor! Como líder religioso, falaria apenas a partir de uma religião. Como professor, posso apresentar o conhecimento acumulado de várias religiões, sem comparar e desmerecer uma em detrimento de outra. É direito dos alunos o conhecimento das diferentes religiões. É seu direito também o conhecimento dos fundamentos de cada e de todas as tradições religiosas. Conhecer as manifestações do sagrado e do transcendente nas diferentes religiões ou tradições religiosas tem o propósito de aprender a respeitá-las.

Ainda existe grande confusão sobre as práticas pedagógicas da disciplina do Ensino Religioso nas escolas públicas de nosso país. Bem verdade também que nem todas as redes de ensino preparam bem seus professores para trabalhar com Ensino Religioso. Por desconhecimento ou preconceito, nem sempre a comunidade entende o papel do ensino religioso nas escolas. O Ensino Religioso, no atual paradigma, cumpre importante papel na formação integral do ser humano, no reconhecimento das dimensões históricas, psicológicas, sociais, culturais e religiosas de cada ser humano e de todo mundo.

Mestres (os professores) ou religiosos (líderes das religiões) podem tornar-se importantes referências de vida e conhecimento para as diferentes juventudes que estão a desabrochar. Juventudes que perguntam. Juventudes que desafiam. Juventudes que buscam respostas e precisam de horizontes. Juventudes que revelam necessidade de religião e de espiritualidade.

É um desafio integrar os diferentes conceitos, habilidades e atitudes que as outras áreas do conhecimento despertam em nossos adolescentes e jovens. Igualmente, é desafiante integrar às aulas os diferentes saberes gerados na comunidade, nas famílias, nas ruas e no cotidiano de todos nós.

Não espalhemos, jamais, o medo de conviver! Perderemos oportunidades de compreender as diferentes percepções da vida, de religiosidade e de mundo que existem entre nós. Nada recomendável num mundo que se enche cada vez mais de religião e se esvazia de espiritualidade.

Democracia e diversidade no Brasil: ensino religioso nas escolas públicas a legislação

Sou professor da disciplina de Ensino Religioso de uma rede municipal de ensino. Por conta disso e por dever ao conhecimento, devo colaborar com o bom debate proposto pela defensora pública Alessandra Quines Cruz em artigo publicado pelo Zero Hora do dia 02 de fevereiro de 2015. Alessandra, ao propor a relação entre discriminação, racismo e religiões acerta em algumas afirmações, mas também revela desconhecimento da realidade do ensino religioso nas escolas públicas e da legislação que rege as mesmas.

No atual momento histórico disseminam-se muitas ideias religiosas e políticas de caráter fundamentalista. Nas salas de aula, professores de ensino religioso sentem dificuldades de trabalhar o conhecimento das diferentes religiões, particularmente as de tradição africana ou indígena. É verdade, sim, modo geral, comunidades, igrejas e algumas escolas ainda veem, por desconhecimento ou preconceito, estas religiões de forma equivocada. Verdade também que manifestações a favor ou contra cotas dos negros nas universidades e disputas e conflitos com os indígenas, por causa das terras, acabam gerando ambiente de disputa, repulsa, ódio e negação. Por tabela, pode-se concluir que a aversão aos conhecimentos e práticas religiosas das mesmas configura forma disfarçada de discriminação aos negros ou indígenas.

A defensora Alessandra desconhece, no entanto, que existe uma legislação federal instituindo o Ensino Religioso como parte integrante da formação integral do educando, como área do conhecimento, que se fundamenta no conhecimento das diferentes religiões como pressuposto para respeitá-las. Trata-se da Lei 9394, de 20 de dezembro de 1996, que assim define o Ensino Religioso:

[quote_center]”O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.”[/quote_center]

Pela atual legislação, é inverdade afirmar que o “ensino religioso é largamente tolerado para religiões cristãs” nas escolas. Por outro lado, há que considerar que nem todas as redes de ensino (municipais ou estaduais) preparam bem seus professores para atuar nesta tão importante área do conhecimento.

O Ensino Religioso ministrado nas escolas públicas não é mais catequese, não é aula de religião e muito menos lugar para rezar e orar. O Ensino Religioso é a oportunidade de conhecimento das diferentes religiões com o intuito de respeitar e reconhecer as diferentes crenças e práticas religiosas que coexistem na sociedade. O objetivo é o diálogo interreligioso como pressuposto para construção de relações de respeito, reverência e paz, solidariedade e paz no mundo.

Acreditamos que o direito à diversidade precisa ser consolidado no Brasil e que religiões não devem colaborar para a “naturalização do preconceito” contra indígenas e negros. Os conhecimentos religiosos, acumulados pelas diferentes religiões, podem ajudar na construção de relações fraternas e livres. Acreditamos que, na medida em que conhecemos melhor os fundamentos e crenças de cada e de todas as religiões, seremos capazes de respeitá-las. Religião não é motivo para disputas, guerras e discriminação!

Natal em família

[quote_box_right]Que é o Natal? É a ternura do passado, o valor do presente e a esperança do futuro. É o desejo mais sincero de do que cada xícara se encha com bênçãos ricas e eternas, e de que cada caminho nos leve à paz. (Agnes Pharo)[/quote_box_right]

A festa de Natal permite que revivamos os dramas, as alegrias, os encontros e os desencontros familiares. As festas natalinas e de final de ano são um convite para celebrar a mágica dos nascimentos e renascimentos de nossas vidas. Quantas de nossas famílias, hoje, buscam um novo sentido e uma oportunidade para renovar os laços que as mantém ou as constituem? Quantos lares esperam que a celebração de mais um Natal harmonize as suas relações e renove as esperanças de que a vida pode ser melhor? Quantos filhos, pais e mães não desejariam renovar suas vidas, reinventando os seus papéis e as suas responsabilidades? Quantas coisas, num só Natal, em um único dia do ano.

Vivemos num tempo em que a afirmação exagerada de nossas individualidades gera vazios existenciais muito grandes, levando à depressão, desgosto e desilusões. Não valorizamos como deveríamos a memória, a coletividade e a convivência. Conta hoje sermos livres: sem vínculos com nada e com ninguém. Será que vale a pena acreditar nisso? Existe outro caminho?

As famílias são cobradas por uma responsabilidade que nem sempre sozinhas conseguem arcar. As relações na família, como na sociedade, estão fragilizadas, exigindo de cada um e cada uma de nós um maior zelo, cuidado e proteção de uns para com os outros. Por isso mesmo que as nossas famílias serão melhores na medida em que investirem mais tempo, mais amor e mais energia nas suas relações. A experiência das famílias é sempre comunitária, de compartilhamento de sabores e dissabores.

As famílias estão desafiadas a fortalecer as relações de convivência por todos os que as compõem. O Natal, com sua energia e inspiração, pode ser uma grande oportunidade de reconciliação das famílias. A família não é uma ideia e nem uma fórmula para a gente oferecer como solução para os problemas do ser humano e da humanidade, mas ainda revela-se o mais completo “porto seguro” e lugar de intensa convivência e humanização. A família é a maior referência para a vida pessoal e comunitária, portanto, lugar para a realização de nossa felicidade.

O amor é a mais revolucionária das armas que a humanidade já construiu para gerar seres humanos livres, solidários, abertos, comprometidos com a permanente defesa e promoção da vida. O amor precisa ser reinventado, assim como as formas como convivemos e nos promovemos gente/ser humano. Promovamos, neste Natal, as famílias como o melhor lugar para nos fazermos gente. Acreditemos na magia que só o amor é capaz de mudar. O Natal, esta festa cristã, pode comprometer o nosso coração, a nossa alma e as nossas energias para uma vida na dignidade.

O Natal em família não é uma festa de ocasião, mas uma oportunidade para as famílias revisarem as suas relações, projetos e perspectivas. Aproveitemos o Natal para nos humanizar. Humanizar é nosso maior trabalho e desafio como ser humano. Viver sozinho e só não vale a pena! Que o Natal tenha a força para nos inspirar para a vida que se faz sempre solidária.

Artigo publicado originalmente no livro Conviver, educar e participar: nos palcos da vida.

Professores ensinam lutando por direitos e dignidade

Crianças, adolescentes e jovens percebem com facilidade quando um professor lhes aponta caminhos para construir sabedoria, viver o amor e lutar pela dignidade. Percebem, também, quando os educadores os encorajam para engajar-se socialmente pela garantia dos direitos humanos. A ocupação pacífica das ruas feita por educadores pode ensinar-lhes muito mais do que através de discursos e teorias sobre como viver em sociedade e como sobreviver de forma organizada, em defesa de interesses da coletividade.

Oferecemos, todos os dias, nas salas de aula, o melhor do que somos e o melhor do que temos por amor aos alunos. Oferecemos a eles luzes de esperança, forjadas na cotidiana luta de nossa superação pessoal e profissional. Se os adolescentes sonham em transformar o mundo, apontamos caminhos de saudável rebeldia, capaz de arrebatar causas, sonhos e desejos que movem a cada um e a coletividade. Se jovens e adultos acreditam no poder do conhecimento, os estimulamos a fazerem suas buscas na vida pessoal e profissional, através do estudo.

Apoderar-se de sensibilidades afetivas, sociais e políticas constitui um grande legado para aqueles que escolheram ser professores. Por obra de uma paixão ensinante, fazemo-nos compreensivos com os outros, e sofredores com eles, crentes que cada ser humano possui as mais ricas e únicas possibilidades de superar-se, individual e coletivamente. Como na educação, também na política, só deveriam atuar aqueles que, acima de vaidades e interesses, são capazes de somar na crença que todo ser humano é sempre capaz de superar-se em todos os seus contextos, singularidades e peculiaridades.

Daqueles que assumem posições de poder, espera- se que sejam abertos ao diálogo, mesmo que na dureza das críticas dos outros. Que se interessem pela coletividade, sem desfazer-se de suas motivações e convicções políticas.

“Quem luta, também educa”. Quem ama, também educa. Quem não anula e menospreza sua consciência, ganha mais vida na dignidade, justamente por assumir-se como é. Para nós, educadores, a educação não é um fim, mas sempre um meio para estimular as condições subjetivas, materiais e sociais para que toda pessoa possa sonhar e conquistar sua felicidade. Para que a felicidade aconteça, é claro, sempre é preciso muita coragem para viver e lutar por nossos direitos e nossa dignidade.

Jovens que ensinam

Como educador, já vivi muitas experiências significativas. Uma das últimas foi ouvir experiências de protagonismo juvenil, relatadas por jovens estudantes, numa sala de aula do Ensino Médio Politécnico. Tales, Henrique, Gabriela, Anderson e Simone são jovens que resolveram agir para melhorar a nossa cidade de Passo Fundo. Ambos agem com a convicção de que não basta reclamar, que é possível mudar o mundo a partir de nosso mundo pequeno (da família, da rua, da escola). Eles resolveram fazer história.

[quote_box_right]“A melhor forma de viver é lançarmos nossas próprias decisões e seguirmos nossas próprias convicções. Cada qual deve sentir-se livre para ser o que é.” (Daisaki Ikeda)[/quote_box_right]

Podemos esperar desânimo, descrédito e preguiça dos adultos para mudar a realidade, mas quando a maioria jovem se acomoda estamos numa sociedade doente e alienada. O jovem se manifesta muito, mas age pouco. Vemos a juventude agir digital e virtualmente, mas é fato que a vida e as relações humanas se fazem na rua, no contato, na prática cotidiana de viver a cidadania e a democracia. Em outras palavras, para além de nos comunicar, precisamos nos encontrar em relações de face a face, reais e contraditórios como somos.

A natureza da juventude é a rebeldia. A rebeldia é a atitude saudável da juventude. Todos os jovens desejam mudar o mundo, mas apenas uns poucos fazem algo para mudá-lo. A maioria prefere reclamar, mas não toma atitudes que sejam capazes de desencadear e provocar reações de mudança em toda sociedade.

Os jovens realizam intervenções urbanas em nossa cidade, chamando atenção para o lixo no chão, para a correria cotidiana da cidade, para a necessidade de boas motivações para viver e sonhar. Organizam ações de “Amor no Cabide”, distribuindo roupas pelas praças para quem precisar usá-las. Praticam o amor ao próximo e a verdadeira solidariedade. Organizam intervenções que permitam aos cidadãos passofundenses viver uma atmosfera mais vibrante com música, arte, entretenimento e diversão.

Tales escreveu para não esquecer, de falar. Escreveu para pensar melhor, mas esqueceu de consultar a folha na qual havia impresso as suas ideias na hora de falar. Esqueceu a folha em cima de uma classe. Na folha, o jovem explica suas razões de agir. Conta que estudou em escola pública há 2 ou 3 anos atrás. Tomei posse da folha copiei:

[quote_center]“…eu estudava no Cecy, eu já pensava que durante nossa jornada no Planeta Terra temos um propósito, precisamos fazer algo que seja bom, que ajude as pessoas, que mude o mundo, não necessariamente o mundo inteiro, mas o mundo em que nós vivemos , o mundo dentro da escola, o mundo dentro da família, o mundo dentro do bairro em que a gente vive. Não precisamos de muita coisa para fazer isso, simples ações podem mudar muito o dia ou o futuro de alguém”.[/quote_center]

Foi pura intuição minha convidá-los e juntá-los para uma conversa com estudantes do Ensino Médio Politécnico da Escola Estadual Professora Eulina Braga. Foi uma experiência rica de trocas de vivências e de saberes. Ficou o desafio dos próprios jovens da escola bolar alguma ação na escola, na rua ou na cidade. Ou não: cada jovem estudante pode começar a mudar primeiro seu próprio mundo.

Os professores estudam a juventude. Leem sobre a juventude e estão desafiados a entendê-la. Precisam oportunizar espaços para reflexão que leve ao protagonismo e a vivência da cidadania juvenil. Quando os jovens desejam protagonizar estão dizendo “eu faço acontecer”. Quando os professores abrem as salas de aula para que os jovens conversem entre si passam a mensagem de que estes façam e aconteçam. O pacato, pessimista e desacreditado mundo de hoje precisa da força jovem para promover as verdadeiras mudanças.

Ciranda da chuva e dos saberes

[dropcap type=”1″]D[/dropcap]ia 06 de novembro de 2014. Chovia na praça central de nossa cidade. Os livreiros, autores e leitores faziam esforço enorme para não serem abalroados pela intensa chuva de final de tarde. Os livros, sujeitos com vida preciosa e frágil, precisavam de muitos cuidados para não molhar. Outros sujeitos, professores, fizeram um grande esforço para estar na terceira Ciranda dos Saberes, uma obra do CMP (Centro Municipal de Professores) de Passo Fundo. Chovia muito, por isso esta foi uma Ciranda da Chuva.

O tema da Ciranda era o Cuidado. A pergunta: Por que cuidar?

Sueli Frosi, uma conhecida cirandeira, escritora e participante da Escola de Pais do Brasil há 51 anos, resolveu contar parte de sua história, acompanhado por seu querido esposo Mingo. Uma história de uma mulher cuidadora que aprendeu, por experiência, que ninguém cuida se não a pessoa inteira. Por isso, começou dizendo:

“Crianças precisam, fundamentalmente, amor e segurança. Professores que não são cuidados não conseguem cuidar de outros.”

Como boa perguntadeira, disparou:

“O que a sociedade tem para dar para a escola na perspectiva do cuidado, da compaixão e da alteridade dos outros?”

Contou que trabalhou, por muitos anos, no Comitê de Valorização da Família, um grupo de apoio às escolas, organizado por entidades, Ministério Público e Judiciário. Desta experiência, relatou a percepção sua de que os professores precisam ser ajudados. Relatou como é importante pensar estratégias para a gente se fortalecer e se ajudar. Lembrou, com provocação, que os pais são cidadãos e precisam ser apoiados e amparados diante dos desafios imensos de educar seus filhos hoje. Estão pedindo ajuda e reclamando compreensão deste mundo difícil e complicado.

Cuidar, na sua concepção, é respeito e consideração com o outro. Quem não cuida e não é cuidado, desumaniza-se! Por outro lado, assumir toda a carga e responsabilidade pelo cuidado, torna os professores doentes e desanimados.

Sua fala mais provocadora e envolvente foi a de que “o professor não pode ser preconceituoso e deve ter espírito aberto”. Muitos questionamentos vieram à tona:

  • Como não ser preconceituoso numa sociedade altamente preconceituosa?
  • Não seria culpabilizar o professor, não permitindo mesmo nenhuma forma de preconceito?
  • Existem professores preconceituosos? Como evitar os preconceitos da gente?
  • Quem ainda é uma referência de vida e de atitudes para os estudantes não pode ter nenhum preconceito?

Nem todo debate e troca de saberes gera respostas ou verdades, até porque elas não existem, definitivamente. Por isso mesmo, o debate não esgotou, mas apontou a importância da escola educar e ensinar, em tempos em que os estudantes passam muito tempo na escola e menos tempo com seus pais ou familiares.

Fica sua profecia, cirandeira Sueli Frosi:

[quote_center]“A primeira vez, em nossa evolução de humanidade,
estamos aprendendo e nos relacionando com amor.” [/quote_center]

O amor e a compaixão são a base do cuidado. Deixemo-nos envolver se quisermos nos humanizar.

Depois das eleições: o que pensar?

[dropcap]A[/dropcap]inda não me manifestei sobre o resultado das eleições de 2014. Neste sentido, quero dizer que me sinto muito à vontade para afirmar que estou feliz pela eleição da Presidenta Dilma e que passei meses de angústia e agonia, vendo o sonho de uma geração correndo riscos de retroceder.

Tenho 41 anos e vivi momentos nada favoráveis à classe trabalhadora. Vivi tempos de inflação alta e muito desemprego. Não tive as oportunidades que a juventude de hoje tem para estudar e se qualificar.

Participei da criação de um importante movimento para combater a fome e a miséria no Brasil, protagonizado por Betinho, Herbert de Souza: Comitê da Fome e da Cidadania. Hoje, vejo que o Brasil saiu do mapa da fome.

Semelhante à inflação e à fome no Brasil, a corrupção endêmica e sistemática precisa ser enfrentada no Brasil. A exemplo da inflação e da fome, a corrupção já está sendo enfrentada e divulgada, por isso a sensação de que só há corrupção. Felizmente, o Brasil caminha a passos largos para enfrentá-la. Só assim, deixará de ser uma “chaga nacional”.

Aprendi, mais recentemente, que a principal reforma que deverá ser feita no Brasil é a reforma política. A reforma política é a mãe das outras reformas que este país precisa enfrentar.

Compreendi, ainda, que a população brasileira ainda não conseguiu traduzir pelo voto suas demandas de mudanças ao eleger um Congresso Nacional reacionário e nada renovado. O Brasil precisa afirmar o Estado laico e democrático, para não ceder ao avanço dos radicalismos e fundamentalismos. A nossa democracia ainda está se consolidando e o Brasil não está rachado ou dividido. O Brasil, mais do que nunca, por vontade da maioria, afirma-se como uma nação que quer e precisa vencer as desigualdades sociais construindo maiores oportunidades para todos os brasileiros e brasileiras.

Que a valentia das ideias que moveram esta eleição possam continuar movendo corações e mentes abertas, sinceras e comprometidas com as mudanças que todos nós esperamos do Brasil. Sinto um imenso orgulho de ser brasileiro!

Livro – Conviver, educar e participar: nos palcos da vida

Estou vivendo um misto de ansiedade e alegria, por lançar meu primeiro livro: Conviver, educar e participar: nos palcos da vida. O livro será lançado na 28ª Feira do Livro, dia 28 de outubro, às 18 horas. O livro compõe 85 artigos e crônicas, selecionadas para esta publicação. Possui 183 páginas.

Sinta-se convidado para participar da atividade de lançamento do livro e para apreciar o mesmo nas melhores livrarias de nossa cidade a partir desta data.

Agradeço a parceria de muitas pessoas que nesta caminhada de escritor foram presença e estímulo para a minha criação literária.

Professores de todos os dias

[quote_box_left]As verdadeiras questões da educação resultam de que nas escolas há pessoas jovens, que devem ser ajudadas, tanto quanto possível, a serem felizes. E em que a felicidade dessas pessoas, como a de todas as outras, consiste em satisfazerem a ânsia profunda que têm de verdade, de bem e de beleza. Não em terem coisas e conforto. (Paulo Geraldo)[/quote_box_left]

[dropcap type=”3″]N[/dropcap]ós, professores e professoras de todos dias, mergulhamos no complexo desafio de humanizar crianças, adolescentes, jovens e adultos a partir da construção do conhecimento. Os tempos mudam, mas não mudou o papel da escola. A escola é o grande laboratório onde se geram a socialização e convivência interpessoal, bem como a construção do conhecimento, a partir das ideias e iniciativas inerentes à criatividade humana

Abençoada seja a nossa missão de educar. Abençoados sejam nossos propósitos, mesmo nem sempre compreendidos pelos alunos, pais e comunidade. Abençoadas sejam nossas famílias que se geram neste contexto que exige ousadia, paciência, preparo e persistência, em resumo, em doação à vida dos outros. Abençoada seja a nossa saúde física e mental, pois não podemos adoecer e nem fraquejar. Abençoados sejam todos aqueles e aquelas que, por nossas mãos, mentes e coração aceitaram e aceitam o desafio de fazer-se gente, a partir dos seus potenciais e da superação de seus limites. Abençoados todos aqueles que acreditam no trabalho do professor.

Nada mais gratificante em nossa profissão do que o reconhecimento de alunos e alunas que, mesmo tardiamente, fazem questão de afirmar que a gente fez diferença em suas vidas. Não há como medir, no cotidiano da vida escolar, quando e como realizamos ações ou atitudes que marcaram positivamente a vida de um de nossos alunos. Afinal, a gente nunca foi e nunca será gênio para adivinhar; sempre seremos visionários para arriscar, mudar e ousar. Nisto, sempre fomos mestres.

O que entristece a nossa vida é que tanto cuidamos da vida, dos sonhos e dos problemas dos outros, mas nem sempre somos bem cuidados. Queríamos, sim, reconhecimento por nosso maior feito: preservar a importância da educação e da escola para o nosso país, para o mundo.

Muitos falam de educação, mas não são professores. Arriscam palpites sobre melhorias na educação, mas não perguntam sobre o que a gente tem a dizer. Não se importam com nossos baixos salários, muito menos com nossas dificuldades de lidar com as múltiplas dimensões e necessidades presentes nos nossos alunos. Nestes últimos quesitos, lutamos solitários. Embora não tenha mudado o papel da escola e da educação, mudaram as exigências para que possamos construir uma boa aprendizagem. Temos observado que nem todo aluno e nem todos os pais veem a escola como uma forma de inserção na vida social e científica. Que as necessidades dos nossos alunos estão muito além para aquilo que a escola consegue oferecer. Que escolas e professores nem sempre estão em condições de dar conta de tudo o que está “depositado” neles.

O fato é que, a complexidade de nosso mundo é a complexidade da nossa escola; esta complexidade está nos distintos recantos de nosso país. O que muda de uma escola para o outra é o modo de conduzir os processos de aprendizagem e de interação social, mediados pelo conhecimento. A especificidade de cada escola e de cada contexto é que precisam ser sempre avaliados, reconhecidos e apoiados.

O professor, neste contexto, está fragilizado, exposto e pressionado por resultados e expectativas que não dependem somente de sua atuação. Mas professores e professoras resistem bravamente. Sabem que a dureza dos desafios cotidianos supera-se na disposição de lutar por melhores dias na educação, mas também na sua disposição de amar e sentir compaixão. Como escreveu Paulo Freire,

[quote_center]“não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda.”[/quote_center]

Nossos dias se chamam “muito trabalho”. Nosso alento, “esperança de dias melhores”.

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