Início Site Página 196

Para quê professor?

O Outubro Educador começou intenso e interessante para um grupo de 20 professores e professoras da rede municipal de Passo Fundo. Sentados, formando uma Ciranda, discutiram “Para quê professor”. Instigante, provocativo e provocante, como todo bom debate e toda Ciranda deve ser, Cleriston Petry, o cirandeiro convidado, aproveitou conhecimentos sociológicos para afirmar que o professor ideal ou o ideal de ser professor não cabe e não serve na escola que a gente tem.

[quote_box_right]A escola, segundo o sociólogo, deveria ser o tempo do não trabalho, da não produção, da não imposição de regras e vivências que remetem à organização do trabalho, que pensa a estruturação da sociedade capitalista e opressora. Disse que na escola de hoje ocorreu a “colonização da produção”, contrariando o “tempo livre” dos gregos. A escola deveria ser um “tempo de suspensão”, único espaço para todos os adolescentes e jovens terem acesso ao maior bem público: o conhecimento. O conhecimento não deveria ter a conotação da utilidade, porque a utilidade remete à dominação. Deveria, sim, permitir o prazer da convivência e das descobertas.[/quote_box_right]

Nada tranquilo este debate. Ele se confronta com a concepção utilitarista que toda a comunidade escolar e também os professores fazem da educação. Todos vão à escola com a finalidade de aprender coisas que realmente importam. Mas o que é que mesmo importa? A vida, a liberdade, a convivência, a felicidade ou o “condicionamento” para aprender? A escola é pressionada por esta visão utilitarista de educação, nem sempre podendo desenvolver ela mesma a função para a qual foi pensada.

Cleriston Petry fez grandes provocações. Sua concepção de escola e de educação pressupõe o “tempo presente”, para não ficarmos ocupados só de futuro. Pressupõe entender que escola e educação deveriam cuidar mais do pedagógico, menos do trabalho burocrático. Para Petry, professor não precisa amar sua profissão, mas deve dar importância para seus conteúdos e para a metodologia que utiliza para ver, analisar e interpretar a realidade. Os alunos deveriam perceber que a gente gosta do que faz e do que ensina (conteúdos). Assinala ainda que nós professores estamos saturados de futuro, porque não pensamos na gente e, demasiadamente, nos outros. Insistiu na ideia de que os alunos passam, mas os professores ficam (às vezes presos a estrutura da sala de aula e das dependências da escola). Restou a imagem do professor preso numa sala de aula e os alunos passeando ao redor da escola, dando-lhe adeus ou acenos pelas aberturas das janelas.

O debate mais denso cedeu lugar a reflexões sobre o verdadeiro sentido da educação. Ao constatar que professores e escolas são tratados com grande indiferença, os participantes da Ciranda reconheceram que não podemos permitir que escola e educação sejam “ lugar comum”. Que podemos, através da educação, fazer a diferença. Que precisamos, como professores, reconhecer a importância de nosso protagonismo na educação. Que a educação se faz na interação e na relação de sujeitos “aprendentes”: alunos e professores. Que não faz sentido afirmar que a escola só ensina, mas ela também educa. Que ninguém nasce professor, mas que todo professor se faz a partir de suas práticas, seus conhecimentos e suas convicções.

[quote_box_left]Saberes em Ciranda é um espaço criado para o protagonismo dos professores e professoras. Professores não são números, são sujeitos de direitos: possuem desejos, direitos e dignidade![/quote_box_left]

Nada cai do céu: a política, condições de vida e dignidade

Conversei, desinteressadamente, sobre a realidade do país numa manhã de domingo, com o dono de um supermercado de um bairro importante de minha cidade. De forma desinteressada, revelam-se grandes verdades. Contava-me o comerciante como vivia a maioria das pessoas humildes, pobres e trabalhadoras de seu bairro antes dos governos de Lula e de Dilma. Elencava suas razões para votar em Dilma e continuar votando em Tarso Genro para governador do estado do RS.

Dizia-me que era dono do supermercado por volta de 30 anos. Que nunca antes na história deste país a população que se serve em seu supermercado comprava carne de boa qualidade, um produto antes destinado apenas para quem tinha muito dinheiro e bons salários. Que o máximo que esta população comprava era “carcaça e ossinho de porco”. Que além de carne, a maioria hoje consegue comprar mantimentos de limpeza, a cervejinha do final de semana, como também frutas e verduras. E que maioria das pessoas tem alta satisfação em comprar mais e viver melhor.

Fiquei pensando que isto sim é que valeu uma vida! Há quanto tempo a população brasileira esperou ter condições, para a partir da renda e de seu trabalho, viver com dignidade, com direitos assegurados e com uma alimentação mais saudável e em quantidade suficiente.

Há quem diga que não mexerá nem diminuirá as políticas de renda e de inclusão como Bolsa Família pelo simples fato de um dia já ter passado fome. Diz ainda que “não é discurso, mas é uma vida”. Uma vida, senhora Marina, é o tempo que o povo brasileiro já esperou para desfrutar de comida, de trabalho, de emprego, de renda, de oportunidades, a partir de políticas públicas.

Nada caiu do céu, como parecem supor os que disputam esta eleição com o propósito de “tirar o PT do poder”. Sem a presença e a forte intervenção do Estado que amplia oportunidades de renda, que promove melhor saúde, mais acesso à educação, mantém os empregos e controla inflação, não teríamos as condições relatadas por um dono de um supermercado de um bairro popular de nossa cidade.

Que o Brasil crescia mais em outros tempos é uma verdade. Em outros contextos e sem a pressão de uma crise internacional. Mas mesmo com maior crescimento, não havia nenhum benefício para as classes mais pobres, humildes e trabalhadoras. Não havia preocupação para erradicar a fome e a miséria neste país e os governos não se preocupavam com a manutenção e qualidade dos empregos e dos salários dos brasileiros. Em consolidar políticas permanentes de cidadania ao nosso povo.

Acabou-se o tempo dos “favores e dos arranjos da economia” para o mercado financeiro e bancos, com o sacrifício dos trabalhadores. Colhemos os frutos de políticas públicas que promovem direitos. O desafio do próximo governo não é de manter, mas sim de ampliar e consolidar condições para que a vida digna e as oportunidades sejam duradouras e perenes. Não vivemos mais de esperança, mas queremos que o futuro não dissolva nossas conquistas com soluções “perigosas e aventureiras”.

Verdade seja dita: quem está incomodado com os avanços crescentes da melhoria das condições da maioria do povo brasileiro, não acredita em justiça social. O Brasil consolida-se como uma nação que promove os direitos humanos, supera as desigualdades, fortalece a sua economia e oportuniza melhores condições de vida e de trabalho para todos.

Caso do Rio Grande do Sul

Quando o Governo acerta e a economia cresce, responsável é o mercado e o setor produtivo. Quando a economia não vai bem e o setor produtivo não desenvolve, responsável único e absoluto é o Governo do Rio Grande do Sul que erra.

Será jogo de cão e gato ou jogo de esconde-esconde?

Méritos e métodos da política

Em recentes conversas com colegas professores, confrontei-me, duramente, com a discussão sobre o objetivo central da política. Para que serve a política? Ela determina a vida da gente ou é determinada pelas circunstâncias de cada momento histórico?

[quote_box_right]Odeio o privilégio e o monopólio. Para mim, tudo o que não pode ser dividido com as multidões é tabu. (Gandhi, líder político e espiritual indiano)[/quote_box_right]

Vivemos, a partir das últimas campanhas eleitorais, uma miscelânea de contradições e composições que atrapalham a verdadeira compreensão da política no cotidiano de uma cidade, de um estado e de um país. Candidatos e candidatas fazem muita demagogia e confusão ideológica, criando a sensação generalizada de que todos os políticos são iguais. Que todos os partidos comungam das mesmas intenções e pretensões. Mas será que é assim? Não existe mais ideologia? Existem apenas ou mais ou menos corruptos, os mais ou menos populistas, os mais ou menos éticos?

 

Além da ideologia, presente em todos os partidos, gostaria de aprofundar duas questões essenciais para a construção da boa política: os méritos e os métodos.

Para início de conversa, é necessário afirmar o objetivo dos partidos políticos: disputar poder. Os partidos disputam o poder político, duelando permanentemente com o poder econômico e com o poder das massas e das organizações da sociedade. Cada partido organiza a sua ideologia, um conjunto de ideias que tem por finalidade determinar o tipo de organização, de sociedade e de economia que pretendem construir. Estas ideologias, em grande medida, definem duas posições: manter o “status quo” (deixar tudo como está, mantendo privilégios de poucos e migalhas para muitos) ou, a partir da luta de classes, inverter prioridades para construir mecanismos e meios concretos para alavancar a cidadania, através da autonomia dos sujeitos e da participação das “maiorias” na vida econômica.

As posições acima relacionadas levam-nos, facilmente, a uma compreensão de que direita e esquerda são as forças que operam estas ideologias. No entanto, as contradições tornam-se mais palpáveis ao analisarmos os diversos e mais contraditórios métodos utilizados pelos partidos e agremiações políticas para obter os resultados. Os métodos também determinam as escolhas. Neste sentido, a complexidade da política atual, na medida em que, nem sempre, os méritos de muitas ações governamentais ou de partidos coincidem com os métodos que são empregados.

Nada está perdido. Vivemos num momento histórico em que se faz necessário resgatar a política como a prática do bem comum, não dos interesses comuns de quem se elegeu. É tempo de debater se determinado partido ou coligação quer chegar ao poder para deixar tudo como sempre está (ou esteve) ou se tem compromissos verdadeiros e autênticos para promover igualdade de condições e oportunidades para a maioria. É tempo de afirmar ideologias.  É tempo de vencer o descrédito na política, superando o analfabetismo político já anunciado por Bertold Brecht:

[quote_center]“O analfabeto político é tão burro que se orgulha
e estufa o peito dizendo que odeia a política.”[/quote_center]

É urgente perguntar se política no Brasil só se faz com eleição? Os brasileiros, sobretudo os mais jovens, desejam manifestar permanentemente os seus desejos e as suas necessidades. Desejam também a democracia participativa onde possam ser ouvidos (e atendidos) por seus vereadores e prefeitos, deputados e governadores, deputados, senadores e presidente da república. Quais são os espaços e as instâncias que darão ouvidos para eles?

É tempo de fundirmos república com ágora! Representação com participação. Protagonismo cidadão com política pública. Controle do estado com controle social da política.

A vida é dura, meu caro, pois não nascemos cidadãos. Vamos sendo cidadãos na medida em que nos interessam os problemas da coletividade!

Mau exemplo para a educação

[quote_box_left]Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo. (Paulo Freire)[/quote_box_left]

Uma grande rede de televisão não pode usar concessão pública para influenciar negativamente a educação de um país. Os comunicadores William Bonner e Patrícia Poeta, em rede nacional, deram um mau exemplo para a educação no Brasil pelas posturas que adotaram diante dos candidatos à presidência da República, neste mês de agosto de 2014.

Como educadores, devemos reagir para corrigí-los. Os renomados e conhecidos jornalistas estavam diante de pessoas que vem se preparando ao longo de anos de atividades públicas e políticas. São, portanto, detentores de um saber acumulado ao longo de suas trajetórias de vida. Os candidatos, mais do que os jornalistas, conhecem a fundo os problemas do país. Esforçam-se, a seu modo e a partir de suas agremiações políticas, a apresentar ideias e visões de mundo e de sociedade. Por certo, divergem nas soluções. Mas não mereciam e nem precisavam passar por esse “massacre jornalístico”.

O que os jornalistas fizeram foi uma espécie de “inquisição intencionada”. De dedo em riste, sem respeitar o tempo para as respostas, indagaram e afirmaram verdades já previamente concebidas. Em nome de que? Da informação? Do constrangimento? Do desrespeito às pessoas que se dispõem a discutir e enfrentar as soluções para este país? Em nome do prazer pela humilhação?

Imaginem comigo se algum professor ou professora deste país ainda adotasse estratégia semelhante, humilhando seus interlocutores (os alunos) para que estes lhes comprovassem algum saber. Em tempos que se massacra os professores por qualquer motivo ou razão, este professor ou professora seria repreendido e denunciado pela comunidade escolar ou sociedade. Seria duramente questionado e teria de se explicar.

Atitudes desrespeitosas, que promovem agressão e desrespeito para com os interlocutores, sempre serão maus exemplos. Podemos até ser ideologicamente contrários às opiniões e propostas dos outros, mas é injustificável que sejamos mal educados. A mídia tradicional, infelizmente, mostra todos os dias posturas como estas. Muitas pessoas, por ainda acreditarem cegamente na imprensa, acham estas atitudes corretas e as imitam.

Por fim, desejo afirmar que a educação, saúde e corrupção serão prioridades neste país quando a população, a partir de uma cidadania ativa, juntamente com as suas organizações e lideranças, prefeitos, vereadores, governadores dos estados, deputados e senadores tomarem a decisão de enfrentá-las. Simples assim. Cada um, com sua responsabilidade. Não acreditamos mais em salvadores da Pátria.

Depois da superação da fome e da miséria, da elevação de patamares de inclusão social, é tempo sim de fazer outras e novas mudanças. Mas não será com arrogância e prepotência que chegaremos lá. O Brasil fará estas mudanças, mas se fosse caminho fácil, já estaria feito! Nem tudo se resolve hoje, pois precisamos superar primeiro as nossas carências mais imediatas.

A educação, o respeito aos cidadãos e às autoridades e a democracia são os caminhos para o fortalecimento de relações verdadeiramente democráticas. O povo brasileiro sabe disso!

Conselheiros de Marina Silva

Acompanho, com certo interesse, os desdobramentos políticos após a morte trágica do presidencial Eduardo Campos e as implicações da principal envolvida na sucessão dos fatos: Marina Silva. Ela não é minha candidata a presidente, mas considero muito a sua importância na conjuntura atual da política brasileira.

Muitos analistas e conselheiros homens, neste momento, desejam compartilhar pontos de vista que possam influenciá-la, embora suas decisões ainda tenham de passar pelo crivo e aprovação do partido a qual hoje pertence: o PSB. Sou mais um homem que gostaria que meu ponto de vista chegasse a seus ouvidos. Eu lhe diria: Marina, siga a tua intuição de mulher e de mulher militante. Ouça a todos, mas na dúvida, aconselhe-se com outras mulheres.

Nós, homens, temos uma estranha mania de “querer dizer às mulheres o que elas devem fazer, sobretudo na seara da política e da ocupação dos espaços públicos”. Penso que as mulheres devem libertar-se desta nossa imposição e autogovernar-se, vivenciando seus jeitos e trejeitos de fazer a vida e a política. Caso contrário, continuarão sempre exercendo papel de coadjuvantes, quando seu papel deve ser de protagonistas.

Boa sorte, Marina. O seu futuro político está em suas mãos. Se for o caso, mude de ideias, mas não abra mão de seus princípios e da sua intuição feminina. As suas decisões podem encorajar e incentivar outras mulheres do Brasil a serem elas mesmas.

Campanha: promova a compaixão

[quote_center]Se você pratica a bondade, quem deve saber disso é você e quem se beneficiou de sua ação. Quem faz promoção de sua bondade promove o seu egoísmo, não a sua compaixão![/quote_center]

Pobreza e compaixão

[quote_box_right]“Se eu dou comida a um pobre, chamam-me de santo, mas se eu pergunto porque ele é pobre, chamam-me de comunista.” (Dom Helder Câmara)[/quote_box_right]

A defesa das causas dos pobres é uma tarefa muito árdua. Exige-nos mais do que compreensão, discursos e teorias sobre a pobreza, mas, sobretudo, compromisso e compaixão. Somos muito preconceituosos para com o sofrimento e a situação indigna como vivem os pobres. Desconhecemos a sua realidade e não queremos mexer na raiz dos nossos problemas: a nossa forma de organizar o mundo. É muito forte entre a gente a ideia de que pobres são coitados, desprovidos de sorte e de bens. Se não lutam, são preguiçosos. Se lutam e exigem mudanças tornam-se perigosos. Mesmo quando passam fome, insistimos em dizer que eles ainda deveriam ser capazes de sonhar.

A lucidez da razão e a sensibilidade podem tratar bem das questões da existência e convivência humanas. Na visão ocidental, no entanto, desenvolvemos a ilusão de que só a razão nos dará respostas aos problemas humanos. Nem a razão ornamental (que serve de ornamento), nem a razão instrumental (ferramenta para transformar a realidade) são capazes de justificar o sofrimento e a realidade daqueles que excluímos socialmente (os pobres). Os pobres não são invenção, não são uma ideia. Os pobres são reais. Os pobres existem e sofrem a violação da sua vida e dignidade.

Leonardo Boff, defensor incansável das causas dos pobres e oprimidos, afirma que são três as compreensões que se tem da pobreza. Uma primeira, clássica, é a ideia de que o pobre é aquele que não tem. A estratégia então é mobilizar quem tem para ajudar a quem não tem, através de ações assistencialistas, sem reconhecer a potencialidade dos mesmos. A segunda ideia, moderna, é aquela que descobre os potenciais do pobre e compreende que o Estado deve fazer investimentos para que ele seja profissionalizado e potencializado, com vista à inserção no mundo produtivo. Ambas as posições desconsideram, na visão de Boff, que a pobreza é resultado de mecanismos de exploração, que sempre geram enormes conflitos sociais. Boff acredita que é preciso reconhecer as potencialidades dos pobres não apenas para engrossarem a força de trabalho, mas principalmente para transformarem o sistema social. Os pobres, organizados e articulados com outros atores da sociedade, são capazes de construir uma democracia participativa, econômica e social. “Essa perspectiva não é nem assistencialista nem progressista. Ela é libertadora.”

Só a compaixão se reveste de libertação. A compaixão não é sofrer pelos outros, mas sofrer com eles. O sofrer com os outros permite colocarmo-nos no seu lugar. Ver a partir dos seus pontos de vista e das suas realidades. É também deixar-se transformar, permitindo que os nossos mais nobres sentimentos se traduzam em ações concretas a favor dos pobres, fracos e marginalizados.

Poucos vivem a compaixão. Muitos perderam a sensibilidade, o que os impossibilita de viver a caridade e o amor ao próximo. Outros preferem atribuir aos pobres a culpa pela sua situação de miséria e vulnerabilidade. Outros discursam democracia, não perguntando se esta propicia as mesmas condições e oportunidades a todos, como ponto de partida. Porque o ponto de chegada depende de cada um de nós. E muitos, em grande número, tratam como crime a atitude de quem luta por causas humanitárias, quando estas exigem uma mudança na estrutura e organização da sociedade.

“As pessoas são pesadas demais
para serem levadas nos ombros.
Leve-as no coração.”,
disse Dom Hélder Câmara.

Este é o sentido maior da compaixão para com os pobres: não os defendemos por serem bons ou anjos, mas porque são parte de uma sociedade desigual, que não sabe lidar com eles.

Partido do bem

Constatei que há cada vez mais gente querendo ser “uma pessoa de bem”. Em busca de explicações e razões de ser deste desejo, comecei a conversar com colegas e amigos. Para minha surpresa, muitos concordaram na percepção de que há uma multidão querendo “ser do Bem”.  Confessaram-me que muitos necessitam dizer-se do Bem, para diferenciar-se dos demais.

[quote_box_right]“Certamente todos pronunciam a palavra Bem, mas não percebem o que ela pode ser.” (Hermes, sábio do Antigo Egito)[/quote_box_right]

Decidi sugerir a organização de uma Irmandade ou um “Partido do Bem”. Num país que já tem 33 partidos, estes poderiam ajudar na democratização das ideias, representando o Bem como uma poderosa ferramenta para combater todo o mal, principalmente as sofisticadas “maracutaias” que teimam em “tomar nosso dinheiro público”. Tal ação favoreceria todos que desejam ser do Bem agrupar-se, criando uma Plataforma de Intenções, talvez um debate mais amplo sobre o que vem a ser o próprio Bem. Talvez pudessem, com urgência, registrar esta organização na Justiça Eleitoral, para concorrer a cargos eletivos nas mais diferentes esferas de organização política da sociedade, representando e argumentando pelas ideias do Bem.

Em busca de razões mais consistentes sobre o desejo de ser do bem, pensei comigo: como pode alguém querer ser do Bem? O que é o Bem? O posicionamento a favor do Bem é em contraposição ao Mal? Quem poderá ser do Bem? Afirmar-se do Bem não é contrariar a nossa condição humana, de pessoas incompletas, que convivem com as mais variadas contradições de pensamento e de ação? Não é muito tênue a linha que nos separa do Bem e do Mal?

Pensei ainda se conseguiríamos, de fato, conviver harmoniosamente com uma pessoa absolutamente boa. Da mesma forma, se conseguiríamos suportar uma pessoa absolutamente má em tudo o que pensa e faz. Percebi então que não suportaríamos, por óbvio, nem os absolutamente bons e nem os absolutamente maus. Seria chato e perigoso demais conviver com estes.

Conclusão: somos, por natureza humana, pouco bons e pouco maus. Nem tanto ao céu, nem tanto ao inferno, estamos em busca do necessário equilíbrio. As religiões sabem disso, por isso sua insistência em nos ajudar a equilibrar os pensamentos e as ações cotidianas.

Os que precisam diferenciar-se dos outros devem sofrer por seu perverso egoísmo. Só o ego pode explicar a razão de ser daqueles que necessitam se declarar pessoas de bem. O reconhecimento do bem e da maldade que a gente faz, pelas palavras e pelas ações, sempre é prerrogativa dos outros. Não pode ser jamais prerrogativa subjetiva, para alguém achar-se superior ou mais importante do que os outros.

Rendo-me aqueles que desejam ser do Bem, mas não posso concordar com eles.

Derrota da Seleção Brasileira, não do Brasil

Na Copa do Mundo de 2014, o povo brasileiro está jogando um bolão! Como nenhum povo e cultura no mundo, soube acolher e aplaudir os milhares de turistas que aqui vieram se divertir, comemorar e integrar-se com nossa cultura. Soubemos, como ninguém, aplaudir o bom futebol, cultivar os melhores relacionamentos e respeitar a diversidade cultural do mundo que passou por aqui.

Soubemos valorizar a nossa cultura e a nossa história. Sem medo de expor as nossas contradições, mostramos o melhor que temos e manifestamos ao mundo o orgulho de ser brasileiros.

A Seleção brasileira não jogou o melhor futebol e, no jogo com a Alemanha, decepcionou geral. Mesmo assim, com esportividade, os jogadores e o técnico Felipão souberam reconhecer os erros e admitir o fracasso.

O Brasil sairá desta Copa muito maior do que entrou nela. Revigoramos as nossas esperanças e, podem apostar, o futuro pertencerá a todos aqueles e aquelas que verdadeiramente acreditam no Brasil e que se dispõem a lutar por mais conquistas e cidadania.

As aventuras de uma má escalação e formação da Seleção brasileira deixemos na conta de Felipão. As escalações da política, no advento das eleições gerais de outubro, os brasileiros saberão fazer, sem sobressaltos e sem falsas ilusões.

Nossa democracia se consolida com o orgulho, a coragem, a luta e a disposição dos brasileiros que querem fazer o Brasil avançar sem retroceder. O povo é sábio porque não deixa que lhe tomem a esperança. Quem viver, verá!

“Brasileiros não desistem nunca!”

Veja também