As bibliotecas, antes de serem estas infinitas estantes, com as vozes presas dentro dos livros, foram vivas e humanas, rumorosas, com gestos, canções e danças entremeadas às narrativas (Cecília Meireles).
Nesse breve texto, vamos nos concentrar aos que se dedicam a contar histórias, à viva voz, a uma pessoa e/ou a um grupo, buscando estimular a fantasia criativa, a emoção e o conhecimento. A partir dos livros, os contadores e as contadeiras de histórias dão vida sonora aos textos narrativos e poéticos, introduzindo, de forma sutil, os ouvintes ao maravilhoso mundo da leitura.
A arte de contar histórias é uma das mais antigas, assim como a dança e a música. Os primeiros cenários lembram as civilizações que viviam nas cavernas. Era comum crianças, jovens, adultos e idosos participarem de rituais noturnos em torno de fogueiras, onde todos ouviam histórias contadas por sábios e comunicativos feiticeiros da palavra falada.
Os dramas narrados possuíam geralmente a marca do mítico, tendo-se em vista que buscavam dar sentido aos mistérios insondáveis da natureza, como a criação do universo e dos humanos, o casamento entre o céu e a terra, o surgimento do dia e da noite, o aparecimento e o desaparecimento do sol e da lua, dentre tantos outros enigmas até então. Esses antigos contadores de histórias, chamados Aedos, arrastavam multidões, pois elas tinham suas expectativas atendidas, dando sentido à vida que levavam. Pelo menos havia uma explicação razoável ao mundo das trevas daqueles tempos.
No entanto, o tempo agora é outro. Temos aviões a jato, foguetes interplanetários, computadores, celulares, NET, Internet, IA, dentre outros recursos tecnológicos. Mesmo assim, as histórias narradas e os poemas recitados pelos Aedos modernos ainda continuam encantando crianças, jovens e adultos e idosos, quer no berço das famílias, nas escolas, nas enfermarias dos hospitais, nas Academias de Letras, nos clubes de serviços, nas fábricas, dentre tantos outros espaços culturais.
Na verdade, tais cenários de encantamento constituem as portas de entradas ao maravilhoso mundo das fábulas, das histórias de quadrinhos, dos contos, das crônicas, das lendas e poemas, das parlendas e dos trava-línguas. Nesta perspectiva, os Aedos modernos comunicam, de forma prazerosa, três fontes de histórias: as vivenciadas, as ouvidas e as lidas a partir dos textos literários.
Para a Profa. Eliana Nunes, as histórias chamam outras histórias e nos marcam existencialmente:
As histórias, as de ficção mais que outras, quando passam de boca aos ouvidos, vão deixando em nós o gosto por mais histórias. Histórias dos homens, histórias da vida e história do mundo. Por isso, há milênios de anos, quando não havia a escrita impressa e os códigos alfabéticos estavam nas mãos de poucos, a experiência e a reflexão ganharam caminhos nas vozes dos contadores de histórias. Foi assim que não perdemos a memória e, até hoje, o que entra pelo coração não se perde mais. (São Paulo: Scipione, 2000, p.47.)
Crianças, jovens, adultos e idosos, quando ouvem histórias, tendem a se introduzir no enredo, incorporando a figura do herói, do vilão, da princesa, da fada e da bruxa feiticeira, dentre outros. Assim, usando a imaginação, os Aedos tornam-se agentes da ação e passam a interpretar mentalmente o que ouvem.
Nessa ótica, cada história narrada passa a oferecer a possibilidade de trocas de vivências e saberes de forma lúdica, transformando num jogo que, no fundo, constitui aprendizado, visto que a arte de contar histórias leva os ouvintes a encararem seus erros, a lidarem com a experiência antecipada da traição, do amor, dos sofrimentos e das realizações. Por isso é que se diz: – o Então viveram felizes para sempre!
Para BETTELHEIM, na tradicional obra A Psicanálise do Conto de Fadas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980, p. 191, revela:
Os contos de fada constituem experiências antecipadas dos fatos da vida real, cujos sujeitos leitores/ouvintes aprendem bem, com segurança e auto-respeito.
Além de resgatar a memória e estimular o imaginário, a contação de histórias exige poucos recursos materiais para sua aplicação: leitura literária, indo-se às fontes, voz, boa memória, domínios faciais e corporais.
Há que se reconhecer também que as ações de contar histórias, quer memorizadas, quer lidas, estimulam o senso de humanização entre o narrador, os receptores e o universo labiríntico dos textos literários. No entanto, não se pode minimizar a força dos modernos meios de comunicação de como suportes importantes no processo de transmissão de prazer, emoção e sabedoria.
A exemplo da princesa e contadeira de histórias Sherazade, das Mil e Uma Noites, que se salvou da fúria assassina do Rei Sharyar por contar histórias a ponto dele ficar tão encantado com a moça e não matar mais ninguém, os pais, professores e animadores também podem salvar-se e salvar seus interlocutores, contando histórias que os conduzam ao bom caminho da leitura, do discernimento e da sabedoria.
Assim, haverá um encantamento recíproco a favor da comunicação humanitária. Ademais, os novos e atualizados Aedos, ao contarem histórias e recitarem poemas, continuarão encantando multidões com frases mágicas do tipo “Abre-te, Sésamo”! E a porta se abre. E a bruxa continuará a recitar abracadices do tipo “Abracadua no meio da lua, transforma a bruxa numa perua”! Contarão a história do Reizinho Mandão e do Pirilampo, “aquele que entrou por uma porta, saiu pela outra, quem quiser que conte outra”.
Então, senhores e senhores e estimável público! Por que (não) contar histórias e recitar poemas se foram escritas para serem ditas, benditas e repetidas mil e uma vezes com absoluto encantamento?
– Conta outra vez, pedem crianças, jovens e idosos.
A seguir, algumas dicas para ser um bom contador ou boa contadeira de histórias:
1- O ato de contar histórias pressupõe amor a quem se conta;
2- o contador e/ou contadeira de histórias e poemas é antes de tudo um(a) leitor;
3- para memorizar uma história, ou um poema, é necessário que passem pelo caminho dos olhos e ouvidos para guardá-las na porta do coração;
4- selecionar as histórias do seu gosto, acreditando agradar também os ouvintes;
5- isolado(a) da agitação das pessoas, repetir as histórias e os poemas muitas vezes, falando ao espelho e às paredes;
6- durante os ensaios convidar alguém para ouvir e avaliar seu desempenho;
7- quando contar a história, ou recitar um poema, buscar o máximo de naturalidade, tal como se estivesse contando um caso que aconteceu de verdade;
8- ao contar uma história, dar entonação à voz de acordo com o clima da narrativa: se for alegre, tonalidade alegre; se for triste, tonalidade tristonha; se for suspense, faça suspense;
9- olhar sempre para os olhos dos ouvintes. Assim, a história sairá dos lábios e entrará pelos olhos, ouvidos e pele, buscando sempre concentrar os ouvintes interessados no tempo da contação ou recitação;
10- como panelas velhas, quanto mais contarmos histórias e recitarmos poemas, mais melhoradas ficarão.
O Dia Internacional da Mulher não surgiu por causa de uma tragédia, mas pela luta, mobilização e engajamento político das mulheres trabalhadoras e a relevância das causas feministas que foram acontecendo ao longo dos anos, sobretudo do século XX.
O Dia Internacional da Mulher é um dia de luta histórica e mobilização das mulheres para terem seus direitos garantidos e contra todo tipo de violência, preconceito, desigualdade e discriminação de gênero. Está relacionado ao dia 8 de março de 1857, pela importância e construção política, relacionada à sequência de acontecimentos como momento de reflexão e de luta.
A data remonta a dois acontecimentos que macularam a cultura ocidental. O primeiro em 1857, com um trágico martírio de 132 operárias de uma fábrica têxtil, que foram assassinadas por um incêndio covarde e criminoso, praticado pelos donos dessa fábrica, da cidade de Nova York, EUA, onde elas trabalhavam. O segundo acontecimento, um incêndio intencional, no dia 25 de março de 1911, na Triangle Shirtwaist Company, em Nova York, vitimando 146 pessoas (125 mulheres e 21 homens), que no momento em que a Triangle pegou fogo, as portas estavam trancadas e as mulheres morreram carbonizadas. Evidenciou a precariedade do trabalho e a luta operária de movimentos organizados pelas mulheres.
Esta data só foi reconhecida, definitivamente, como um acontecimento negativo para a vida das mulheres que lutam por direitos humanos fundamentais, em 1975, quando foi oficializada pela Organização das Nações Unidas (ONU).
A escolha do calendário se deu antes do ano de 1975, e remonta ao dia 8 de março de 1917, com a greve geral das operárias russas.
O que comemorar nesta data?
Essa pergunta não é retórica, mas exige uma reflexão, porque o dia 8 de março é um dia de memória às vítimas da lógica perversa do capital, que não suportou as reivindicações dessas operárias por redução de horas de trabalho e por uma relação de trabalho digno. Essas tecelãs queriam dignificar o trabalho, como garantia da vida, gerando mais vida. Os donos dos meios de produção das fábricas estavam cobertos por um mantra ideológico, ao afirmarem que o trabalho dignifica o ser humano. O grito das tecelãs contrariou esse mantra liberal: como poderia ser digno esse trabalho da fábrica têxtil, que exigia delas 16 horas de trabalhos diários? A resposta dos donos da fábrica não foi de diálogo e muitos menos de escuta, mas foi pôr fim à fábrica e às operárias, ateando fogo na indústria têxtil.
É importante salientar que o Dia Internacional da Mulher não surgiu por causa de uma tragédia, mas pela luta, mobilização e engajamento político das mulheres trabalhadoras e a relevância das causas feministas que foram acontecendo ao longo dos anos, sobretudo do século XX. Todo este movimento feminista continua dando importância ao “8 de março”, agregando outras agendas, tornando um dia de reflexão, de luta e de reinvindicações, em prol das causas das mulheres.
É muito oportuno perguntar: dar flores para as mulheres, no dia 8 de março, é reconhecê-las como sujeito ético de direito?
Fazer festa e dar presentes, nesta data, para mulheres, esquecendo de fazer a memória histórica das suas lutas, pode ser um ato alienador que encobre a vida e a luta dessas operárias que foram queimadas vivas.
Neste dia 8 de março de 2024, é um momento histórico desafiador. Reforçamos o convite à reflexão de como as lutas das mulheres se ampliaram e, ao mesmo tempo, sofrem entraves quanto: a presença e a relação das mulheres no mercado de trabalho; como a nossa sociedade as trata e como as políticas são discriminatórias; como são as relações no campo do convívio afetivo, familiar e social; como se reproduz a violência de gênero e o silenciamento que normaliza desigualdades e injustiças sofridas pelas mulheres.
Juntemo-nos à luta de tantas mulheres, que no mundo todo, através de seu ativismo crítico, seja na arte, na cultura, na ciência, na literatura, nos sindicatos, nos movimentos sociais populares etc., continuam impulsionando a luta de tantas mulheres hoje, instaurando processos de transformações socioculturais.
Para nomear algumas mulheres que protagonizaram com seus discursos e práticas potentes iniciativas para a emancipação das mulheres, são elas: Angela Davis, Dandara, Malala, Frida Kahlo, Maria da Penha, Simone de Beauvoir, Margarida Alves, entre tantas outras. Eis o convite para ampliarmos esta lista de nomes que podem nos subsidiar com suas ferramentas de inclusão e apressar a justiça social e a construção de relações horizontais e equitativas de poder entre mulheres e homens.
Assim, libertar as forças produtivas é fazer um recorte de gênero, de raça e de classes para protocolar definitivamente a emancipação das mulheres que ainda reivindicam por justiça, respeito a sua dignidade humana. E fica o imperativo: enquanto as mulheres não forem emancipadas, os homens não serão livres!
Autora: Nilva Rosin [1] e autor: José André da Costa [2]
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[1] Professora de Filosofia e Musicoterapeuta. Tem atuação, estudos e pesquisas em Envelhecimento Humano, Feminismo, Direitos Humanos e Educação Popular. É membro da Congregação das Irmãs de São José.
[2] Professor de Ciências Sociais e Filosofia do Direito nas Faculdades Integradas da América do Sul (Integra), de Caldas Novas, GO. É membro dos Missionários da Sagrada Família.
Pouco se fala, mas os diferentes espaços, comunidades, templos religiosos de matriz africana e indígena, no Brasil, sempre estiveram no lugar de um primeiro degrau para a cura de problemas não só espirituais, mas também emocionais.
Recentemente, o Conselho Nacional de Saúde (CNS) reconheceu os terreiros como equipamentos promotores de saúde e cura complementares do Sistema Único de Saúde, o SUS. Essa decisão ressalta o papel histórico dos diferentes espaços, comunidades e templos religiosos de matriz africana e indígena no Brasil.
Dentro desses espaços, pais e mães de santo oferecem um ombro amigo para dores que podem levar ao adoecimento físico e mental. “Se a cabeça não está em sintonia com a vida, com as relações afetivas, o corpo adoece”, destaca Maria Heloísa de Oxum, Ialorixá e técnica de enfermagem do Ile Axé Alaketu Oju Oxum, na Zona Leste de São Paulo. A falta de suporte afetivo e espiritual, enfatiza, frequentemente leva a doenças e, às vezes, até a morte.
Contudo, como o terreiro é um corpo-território-negro, o racismo e a falta de divulgação de seu papel biopsicossocial têm impedido o reconhecimento pleno de seu poder de cura.
A Resolução 715 do CNS, de 20 de julho de 2023, destaca a importância das religiões afro como complementares ao SUS. Em alinhamento com a Constituição Federal de 88 e a Lei Federal nº 8.080/1990, a Resolução estabelece a saúde como um direito universal, ressoando com as políticas de saúde dos terreiros de diversas religiões irmãs.
A resolução aborda a ideia de que locais como terreiros têm sido portas de acesso para os mais necessitados, e define os terreiros como equipamentos promotores de saúde. Além disso, os itens 47 e 48 fortalecem o protagonismo popular nos territórios do SUS, combatem o idadismo estrutural e promovem a intergeracionalidade.
Para a cultura de terreiro, o adoecimento é uma consequência de fatores biopsicossociais. Daniel Pereira, Babalorixá da CREIA Oxaguiã, celebra a resolução como um reconhecimento das práticas terapêuticas já existentes nas comunidades de terreiro. Ele aponta que os terreiros muitas vezes preenchem lacunas deixadas pelo poder público, funcionando como verdadeiros prontos-socorros. “Seja [atendendo] filhos e filhas de santo ou pessoas que buscam o terreiro esporadicamente.”
Ialorixá Nádia Ominodô de Ologunedé, historiadora, palestrante, ativista e funcionária pública, concorda com Pereira, afirmando que o reconhecimento faz justiça ao trabalho de cura promovido pelos terreiros, especialmente no campo emocional e espiritual. A decisão do CNS representa um passo significativo no reconhecimento e inclusão das práticas de cura desenvolvidas silenciosa e respeitosamente pelas comunidades e pelos povos tradicionais de terreiro. É uma afirmação poderosa de uma saúde verdadeiramente inclusiva que leva em consideração a rica tapeçaria cultural e espiritual do Brasil.
Para Ipácio Carolino, Babalorixá e Cacique de Umbanda, o reconhecimento dos terreiros como espaços de cura representa reafirmar, dar visibilidade, tornar de conhecimento público aquilo que nós, povos de terreiro, sabemos desde sempre, que a saúde deve ser considerada em três dimensões: corpo, mente e espírito.
A fé (espiritualidade) é uma ciência ancestral e não pode ser desconsiderada ou descartada, muito pelo contrário, deve somar-se à ciência médica atual no processo de promoção e manutenção da saúde, assim como numa possível cura de doenças.
Nós, adeptos das religiões de matriz africana ou afro-indígena brasileira, adoecemos e procuramos médicos, hospitais, psicólogos… Assim como esses profissionais da área de saúde, quando afetados, também recorrem aos nossos terreiros.
Proposta de atividade pedagógica
Sugerimos que, após leitura deste texto, os estudantespodem fazer uma pesquisa sobre como outras tradições religiosas desenvolvem práticas de espiritualidade em situações como vida, gratidão, alegria, tristeza, acidentes, doenças, fenômenos da natureza, de forma individual ou coletiva.
Os estudantes podem ser divididos em grupos, conforme relação de religiões ou tradições a serem pesquisadas.
Esta atividade contempla as habilidades (EF07ER02RS-01) Identificar práticas de espiritualidade vivenciadas em situações, tais como: vida, gratidão, alegria, tristeza, acidentes, doenças, fenômenos da natureza de individual ou coletivas e EF07ER02: Identificar práticas de espiritualidade utilizadas pelas pessoas em determinadas situações (acidentes, doenças, fenômenos climáticos).
Autor: Sinei Nogueira, Babalorixá da CCRIAS — Comunidade da Compreensão e da Restauração Ilê Axé Xangô (CCRIAS), doutor em Semiótica e Linguística Geral (FFLCH/USP), escritor e finalista do Prêmio Jabuti, em 2020, com o livro Intolerância Religiosa. Texto originalmente publicado no site de Carta Capital (15/08).
(do poema Meu pensamento é um rio subterrâneo, de Fernando Pessoa)
Sobre as fotos:as imagens que ilustram esta poesia foram gentilmente cedidas pelo fotógrafo de nossa cidade, Diogo Zanatta. Foram captadas por suas lentes em setembro de 2011, revelando a situação dramática que o Rio Passo Fundo estava passando, sobretudo pelo acúmulo de toneladas de lixo nele depositados ao longo de seu percurso pela cidade. À época, esta triste realidade foi retratada por diferentes formas e meios de comunicação, através de reportagens, o que gerou grande comoção e engajamento para a retirada deste lixo acumulado. O Rio Passo Fundo, hoje, continua recebendo resíduos e esgoto em seu leito, gerando preocupações ambientais e sociais. Muito longe ainda de ser um rio que é bem tratado e conservado pela população passofundense.
Em recente visita ao prefeito municipal do município de Marau, Iura Kurtz, norte do RS, foram apresentados números de acessos às publicações do site, projeções e projetos futuros, bem como foram reafirmados os compromissos desta ferramenta digital a serviço da humanização da educação.
Orgulhamo-nos pela trajetória de 09 anos projetando, construindo e publicando este site, através de muitas parcerias. Nos constituímos uma referência, uma ponte ou uma forma de conectar aqueles e aquelas que desejam publicar com aqueles/as que desejam ler e refletir sobre temas que abordam sobre educação, cidadania e espiritualidade.
Já são mais de um milhão e 10 mil acessos no site, construído com muita dedicação e responsabilidade e, com especial atenção, servindo aos interesses daqueles que lutam pela qualidade da educação e fazem de sua profissão uma missão de vida: os professores e professoras. As publicações também buscam despertar consciência cidadã e responsável junto aos estudantes (ensino médio e ensino superior), bem como junto às diferentes lideranças sociais, culturais e religiosas.
Escolhemos como símbolo do nosso trabalho um cata-ventos, pois acreditamos que devemos estar abertos à possibilidades de interação e integração dos saberes e sabores que vem da vida e da natureza, permanentemente. Cumprimos função de irradiar diferentes conhecimentos, respeitando a diversidade dos pensamentos, a riqueza das diferentes formas e abordagens, o protagonismo de cada Convidado e Convidada que escreve no site.
Na oportunidade, Iura Kurtz, prefeito de Marau em seu segundo mandato, destacou a importância de estar realizando uma gestão pública focada na resolução de problemas, no atendimento às demandas da comunidade marauense e na melhoria de condições de vida e bem-estar de toda população. Destacou a importância da Prefeitura Municipal como uma aliada da comunidade para a melhoria das condições do desenvolvimento econômico e social de cada município.
Reforçamos, também, a importância de uma educação capaz de humanizar, através dos conhecimentos críticos e reflexivos, as futuras e as atuais gerações.
Seguiremos visitando outros gestores municipais e divulgando os resultados e os impactos deste site como uma ferramenta importante para a melhoria da qualidade da educação a partir dos sujeitos envolvidos: os professores e professoras, os estudantes e as comunidades.
Ao invés de uma sociedade competitiva, individualista, consumista, xenofóbica, misógina e racista, na perspectiva de Rorty é possível esperançar uma sociedade solidária, inclusiva, tolerante e dialógica. Talvez assim tenhamos chances de não sucumbir enquanto civilização.
Richard Rorty (1931-2007) é reconhecido como um dos filósofos mais brilhantes e polêmicos da tradição americana do final do século XX e início do século XXI. Sua obra Filosofia e o espelho da natureza, publicado em 1979, vislumbrou o mundo acadêmico e foi amplamente traduzida em diversas línguas. Desde então até sua morte em 2007, desenvolveu um intenso debate em revistas especializadas em filosofia, ciências sociais e políticas, educação e teoria literária.
Para além dos trabalhos especializados, Rorty se transformou também em um dos melhores escritores dos chamados filósofo-literários dos maiores jornais do mundo, inclusive no Brasil, onde foram publicados diversos textos de sua autoria na Folha de São Paulo.
O interesse por esse autor se dá pelo fato que seus escritos revelam uma profunda e intensa capacidade de dialogar tecnicamente com as duas grandes escolas do pensamento ocidental atual: a filosofia analítica e a filosofia continental. Em suas diversas conferências, publicadas posteriormente em diversos livros, é possível ver um autor que passa com facilidade da terminologia de um filósofo como Hegel, para outros filósofos com pensamentos completamente diferentes como Nietzsche ou Sartre, Bertrand Russell ou Wittgenstein.
Ao mesmo tempo, Rorty lembra que os ideais de democracia e de justiça social, que foram sonhados por Marx e Mill no século XIX, chegaram até o século XX com John Dewey e Jürgen Habermas, e continuam sendo ideias potentes para pensar a organização da sociedade e a relação entre as pessoas.
Uma das ideias mais importante do pensamento de Rorty e a forma como ele compreende o papel da filosofia no mundo contemporâneo está focada no conceito de Conversação e na ideia de redescrição do mundo. Para ele, antes de perseguirmos a Verdade, a Razão e a Ciência (todas com letra maiúscula), devemos perseguir a liberdade, a esperança e a solidariedade, por meio da conversação a da redescrição da forma como percebemos o mundo.
Seu pensamento nas ajuda a compreender que a raça humana poderá enfrentar todos os seus desafios e desastres (a peste, a guerra, a ditadura, a fome, a miséria, a injustiça social, a violência, o mal) se se mantiver a liberdade, as esperanças e a solidariedade.
Quando defende a democracia liberal, tornada possível graças a conversação e a capacidade de redescrição do mundo, Rorty está sinalizando para um modo de pensar que deve nutrir-se da liberdade de expressão e de imaginação.
Não encontramos em Rorty uma fórmula infalível, uma plataforma doutrinal ou um sistema filosófico que indique um percurso prescritivo de como deve ser as normas pedagógicas para construir uma sociedade livre, esperançosa e solidária. Se ele fizesse isso, estaria cometendo os mesmos erros que as religiões fundamentalistas fazem quando indicam o caminho único da salvação e com isso acabam se tornando uma das principais formas de alienação das pessoas.
Em Rorty encontramos um convite à invenção de novas interpretações e descrições do mundo, a possibilidade de construir utopias de um futuro melhor, o apelo à conversação que se torna exercício de encontro com o outro, com o diferente, com o controverso. Será no interior desta conversação que podemos compreender que o que somos, o que é o real, o que foi o passado e o que será o futuro, depende da forma como nos relacionamos uns aos outros. Por isso que a liberdade, a esperança e a solidariedade são tão importantes e deveriam ser parte constitutiva central dos processos educacionais.
Ao invés de uma sociedade competitiva, individualista, consumista, xenofóbica, misógina e racista, na perspectiva de Rorty é possível esperançar uma sociedade solidária, inclusiva, tolerante e dialógica. Talvez assim tenhamos chances de não sucumbir enquanto civilização.
A exortação é clara, objetiva, suficientemente autoexplicativa e dispensaria um guia de leitura. Contudo, nem todos leram ou lerão a exortação. Para estes, esse guia pretende sinalizar seus pontos essenciais e, quem sabe, despertar o desejo de encontro direto com o texto.
A exortação apostólica Laudate Deum do Papa Francisco foi lançada, oficialmente, no dia 04 de outubro de 2023, por ocasião da festa de São Francisco e do término do “Tempo da criação”. A exortação é clara, objetiva, suficientemente autoexplicativa e dispensaria um guia de leitura. Contudo, nem todos leram ou lerão a exortação. Para estes, esse guia pretende sinalizar seus pontos essenciais e, quem sabe, despertar o desejo de encontro direto com o texto. Para os que leram, o guia pode ser uma ocasião de reavivar a memória de algo que não pode cair no esquecimento.
Decálogo orientativo:
1. Laudato Si’ 2. Tema. Problema. Destinatários. Inspiração. Laudate Deum (Louvai a Deus)pressupõe a Laudato Si’ que continua sendo a Encíclica insuperável em se tratando do cuidado da casa comum numa perspectiva sistêmica de ecologia integral. A exortação é mais modesta e trata do tema e do problema específico da crise climática. Laudato Si’, de 2015, havia tratado do problema da mudança climática, contudo, apenas como um dos problemas ecológicos atuais ao lado de outros. Agora, na exortação, esse é o tema único, pois o Papa percebeu que apesar dos alertas que vêm da ciência e que ele mesmo fez na Laudato Si’, não “estamos reagindo de modo satisfatório” para não chegarmos ao “ponto de ruptura”.
Os destinatários não são os bispos ou os fiéis católicos mas, como diz o subtítulo, a exortação é dirigida “a todas as pessoas de boa vontade”. Afinal, a situação é grave e os efeitos serão sentidos por todos em termos de “saúde, emprego, acesso aos recursos, habitação, migrações forçadas e em outros âmbitos” (n. 2). A exortação tem, novamente, São Francisco como inspirador que continua nos convidando a louvar a Deus por todas as suas criaturas.
3. Método e estrutura. A Laudato Si’ incorporou a forma latino-americana de pensar a partir do método ver-julgar-agir. O ver-julgar-agir reaparece, mesmo que de uma forma menos didática e clara que na Laudato Si’. Laudate Deum é elaborada em forma mais circular, misturando, às vezes, os momentos do método.
Contudo, os três momentos estão aí e na estrutura da exortação o método aparece nas seis partes que a compõe: 1) A crise climática global (Ver); 2) O crescente paradigma tecnológico (ver-julgar); 3) A fragilidade da política internacional (Agir); 4) As conferências sobre o clima (Agir); 5) O que se espera da cop-28 em Dubai? (Agir); 6) As motivações espirituais (Julgar). A seguir destacaremos o que nos parece ser essencial em cada uma das partes da exortação em cada momento do método.
4. Crise Climática. “Por mais que se tente negá-los, escondê-los, dissimulá-los ou relativizá-los, os sinais da mudança climática se impõem a nós de forma cada vez mais evidente. Ninguém pode ignorar que, nos últimos anos, temos assistido a fenômenos extremos, a períodos frequentes de calor anormal, à seca e a outros gemidos da terra, os quais são apenas algumas expressões palpáveis de uma doença silenciosa que afeta a todos nós” (n. 5).
Assim o Papa descreve o que chama de crise climática, não como fenômeno natural, mas como fenômeno diretamente associado à atividade humana, de origem “antrópica”, que potencializa o aumento da temperatura global. Cada vez que a temperatura média global aumenta 0,5 graus centrígrados os fenômenos extremos também mostram sua cara feia. Se ultrapassarmos os 2 graus centígrados, então “as calotas glaciares da Groenlândia e de grande parte da Antártida se derreterão completamente, com consequências muito graves para todos” (n. 5).
Alguns negacionistas tentam minimizar esses fenômenos e as causas humanas dele. Dizem que o planeta alterna períodos de resfriamento e aquecimento e que não há nada que se possa fazer. Alguns até apelam para o fato que frios extremos também acontecem a todo instante e que, portanto, a narrativa do aquecimento global seria apenas isso, uma narrativa. Não se dão conta, diz o Papa, que os eventos extremos, inclusive de frios extremos, ao lado de secas, ou excesso de chuvas, são expressões da mesma causa: o desequilíbrio global causado pelo aquecimento do planeta. Só a falta de informação pode igualar tempo e clima. O tempo descreve as previsões meteorológicas de uma região em determinado momento, ao passo que o clima é a tendência duradora das condições meteorológicas a nível local e global que só se alteram em longos períodos do tempo. Outros culpam os pobres por “terem filhos demais”.
Contudo, diz o Papa, isso é um simplismo diversionista justamente porque quem mais polui são os ricos no interno dos países e os países ricos ao redor do globo. Ou a África, onde reside mais da metade dos pobres do mundo, será responsável pelo aquecimento global? É evidente que não. Outros ainda dizem ser preciso pensar nos postos de trabalho que se perderiam caso se passasse da atual matriz energética para energias limpas. No entanto, verdadeiro é o contrário. Postos de trabalho estão sendo perdidos exatamente dentro do sistema atual agravado pelo aquecimento global. A transição para formas renováveis de energia seria, inclusive, uma esperança de mais trabalho. É preciso pois, diz o Papa, acabar com as resistências e confusões. A origem “antrópica” da crise climática já não pode ser posta em dúvida. Há evidências científicas e os cientistas atestam que a mudança climática global coincide com “crescimento acelerado das emissões de gases de efeito estufa, especialmente a partir de meados do século XX” (n. 13).
Por fim o Papa diz, meio indignado, que se vê obrigado a dizer essas coisas óbvias “por causa de certas opiniões ridicularizantes e pouco racionais que encontro mesmo dentro da Igreja Católica” (n.14). Não é prudente continuar duvidando nem do fenômeno da crise e nem da causa humana dela. Está na hora de assumirmos como definitivo que os danos do aquecimento já são realidade e que há risco evidentes de piorar. Assim, é urgente uma visão ampla, séria e responsável, pois os fenômenos não são isolados. E o Papa arremata com duas convicções que o tem acompanhado: “tudo está interligado” e “ninguém se salva sozinho” (n. 19).
5. O crescente paradigma tecnocrático. Na base da degradação ambiental, diríamos nós leigos, está o capitalismo e sua lógica de lucro e de tudo tornar mercadoria mas, o Papa, mais sutil e sofisticado, diz que na base está o “paradigma tecnocrático”. E o que ele entende por paradigma tecnocrático?
O Papa cita a Laudato Si´, que diz que se trata de “modo desordenado de conceber a vida e ação do ser humano, que contradiz a realidade até ao ponto de a arruinar” (LS n.101). E acrescenta dizendo que consiste em pensar “como se a realidade, o bem e a verdade desabrochassem espontaneamente do próprio poder da tecnologia e da economia (LS n. 105). A isso se soma a ideia de progresso infinito e ilimitado que tanto entusiasma os economistas e teóricos do mercado.
O problema, diz o Papa, é que os recursos naturais não são ilimitados. E o mais grave é o excesso de poder econômico e tecnológico nas mãos de alguns que tratam tudo e a todos como “meros recursos ao seu serviço”. Por conta disso é necessário repensar a utilização do poder para que dele advenha progressos para a humanidade e não apenas para alguns. Aumento de poder não acompanhado de valores, consciência ética sólida e uma espiritualidade não egocentrada, são um perigo para a vida humana e para o planeta (n. 24).
Contrariamente à postura do mercado, há de se reafirmar que “o mundo que nos rodeia não é um objeto de exploração, utilização desenfreada, ambição sem limites” (n. 25) e uma mudança de mentalidade em que se pense o humano e a natureza “numa relação saudável e harmoniosa” (n. 27), superando o utilitarismo antropocêntrico desordenado que a tudo torna objeto descartável, é o que a humanidade precisa conquistar para não corrermos o risco de sermos aquilo que Soloviev, ironicamente, sentenciou: “Um século tão avançado que teve a sorte de ser o último”.
6. Fragilidade da Política internacional. Neste ponto o Papa apela para que as lideranças mundiais despertem do sono dogmático da inércia e mobilizem energias, recurso e estratégia para “reagir com mecanismos globais aos desafios ambientais, sanitários, culturais, sociais e sobretudo para consolidar o respeito aos direitos humanos fundamentais, dos direitos sociais e do cuidado da Casa Comum” (n. 42). A ONU e os mecanismos atuais já não dão conta. Para tanto é urgente uma nova política internacional que o Papa chama de “multilateralismo”.
O que seria o multilateralismo? Primeiro, pela via negativa: “não é conveniente confundir o multilateralismo com uma autoridade mundial concentrada em uma só pessoa ou em uma elite com excessivo poder” (n. 29). Pela via positiva: trata-se de pensar ‘organizações mundiais mais eficazes, dotadas de autoridade para assegurar o bem comum mundial, a erradicação da fome e da miséria e a justa defesa dos direitos humanos fundamentais’ (n. 35).
Não há tempo a perder. Os desafios atuais requerem esforços para superar os interesses imediatos e individuais para garantir “a realização de alguns objetivos irrenunciáveis” como é o caso da erradicação da fome e do enfrentamento da crise climática. Para tanto, o multilateralismo proposto pelo Papa conta com a sociedade civil e as organizações não governamentais para que, dentro do “princípio de subsidiariedade”, junto com organismos internacionais de real autoridade e democratizados, se enfrentem os desafios globais e locais com colaboração e eficácia.
A velha diplomacia poderá ter sua relevância, mas será necessário unir esforços multipolares para dar conta da complexa realidade contemporânea. O Papa não tem a preocupação de dizer exatamente quem comporia e como seria o organismo multilateral, mas insiste na necessidade que surja. Provoca a sua criação e apresenta critérios para sua realização. O que importa é que o organismo multilateral seja dotado de real autoridade e represente o conjunto da humanidade para que se efetive uma maior ‘democratização’ na esfera global. Num tom crítico conclui dizendo que os velhos organismos precisam ser revistos e “deixará de ser útil apoiar instituições que preservem os direitos dos mais fortes sem cuidar dos direitos de todos” (n. 43).
7. As conferências sobre o clima: avanços e retrocessos. Há décadas que os representantes de mais de 190 países se reúnem para tratar da questão climática. O documentário Uma verdade Inconveniente, de 2006, é uma boa síntese do debate para quem se interessar. O Papa não o cita, mas cita a história recente das conferências do clima e seus resultados. Tudo começou na conferência do Rio de janeiro em 1992. Foi a partir da Eco-92 que começaram a tomar corpo as conferências das partes (COP), o mais alto organismo mundial de decisões em torno à crise climática. De lá para cá, todos os anos, os 197 países membros, reúnem-se exclusivamente para tratar do clima. Algumas conferências foram um fracasso. Outras avançaram na consciência e em propostas para o enfrentamento do problema.
O Papa destaca a COP-3 de Quioto (1997) como uma conferência bem-sucedida. Dela surgiu o protocolo de Quioto que fixou como objetivo a redução das emissões de gases de efeito estufa. Além disso as partes se comprometeram a implementar políticas de redução dos efeitos da alteração climática, com investimentos por partes dos países mais ricos, pois são os que mais poluem. A COP-21 de Paris (2015) também foi um momento significativo pois estabeleceu “manter o aumento de 2 graus centígrados relativamente aos níveis pré-industriais, apostando em toda caso a ficar abaixo de 1,5 grau” (n. 48). Em linhas gerais o Papa diz que a questão fundamental é que os acordos não são efetivados porque os países ricos pensam mais em si do que no globo e, também, porque falta mecanismo “de controle, revisão periódica e sansão das violações” (n. 52).
8. O que se espera da COP-28 em Dubai? A bem da verdade, o Papa escreveu a exortação como uma profética e dramática sensibilização para a COP-28 (realizada em DUBAI de 30/11 a 12 de dezembro de 2023). De alguma forma ele queria convocar, motivar e exortar para a necessidade da COP-28 dar certo. Diz o texto: “Adotar uma atitude de renúncia a respeito da COP-28 seria auto-lesivo, porque seria expor toda a humanidade, especialmente os mais pobres, aos piores impactos da mudança climática” (n. 53). A história das COP tem sido de pouco avanço real e o Papa se mostra preocupado pois, bem ou mal, é a instância internacional que pode dizer e fazer algo e propor estratégias que a sociedade civil e os governos possam levar a diante.
O Papa apela para que os líderes e estrategistas mundiais presentes na COP-28 tenham “coragem de efetuar mudanças substanciais” (n. 55), e que não confiem somente em “remédios técnicos” superficiais, que podem se reduzir à lógica “do consertar, remendar, retocar a situação, enquanto no fundo avança um processo de deterioração que continuamos a alimentar” (n. 57).
O Papa provoca a mudança de mentalidade: “De uma vez por todas, acabemos com a atitude irresponsável que apresenta essa questão apenas como ambiental, ‘verde’, romântica, muitas vezes ridicularizada por interesses econômicos. Admitamos, finalmente, que se tata de um problema humano e social em sentido amplo e em diversos âmbitos” (n. 57). E finaliza dizendo aos dirigentes da COP-28 que sejam responsáveis e eficazes: “Se há sincero interesse em fazer com que a COP-28 seja histórica, que nos honre e enobreça enquanto seres humanos, então só podemos esperar por fórmulas vinculantes de transição energética e facilmente monitoráveis, a fim de se iniciar um novo processo que seja drástico, intenso, e que se possa contar com o empenho de todos” (n. 59). Só na medida em que se pense mais no bem comum do que nos interesses contingentes de alguns países e empresas é que se pode restaurar a credibilidade da política internacional.
9. As motivações espirituais. Aos fiéis católicos, a exortação recorda as motivações espirituais que brotam da fé. E encoraja que outras religiões façam o mesmo.A fé, quando autêntica, não é fuga do mundo, mas imersão no mundo, comprometida em transformá-lo.
Do ponto de vista da fé o Papa destaca cinco pontos:
a) A criação é obra de Deus e a terra é Dele e “tudo o que nela há (Gn 1, 31). “A terra não será vendida definitivamente, porque a terra é minha, e vós sois moradores migrantes junto de mim” (Lv 25, 23). Disso brota a responsabilidade do humano inteligente para que respeite as leis da natureza e os “delicados equilíbrios entres os seres deste mundo” (LS, n. 68).
b) O conjunto do universo com suas múltiplas relações mostra a riqueza inesgotável de Deus. Preservar os indivíduos e espécies é, então, mostrar-se sábios, responsáveis e respeitosos com o Criador.
c) Jesus viveu plenamente o encontro com a natureza e a todo instante “detinha-se para contemplar a beleza semeada por seu Pai”. As criaturas não são apenas natureza, são antes sinais do amor do Criador que no filho Ressuscitado suscita em nós uma mudança de percepção, envolvendo misteriosamente cada um dos seres criados. “As próprias flores do campo e as aves que ele, admirado, contemplou com os seus olhos humanos, agora estão cheias da sua presença luminosa […] O mundo canta um Amor infinito, como não cuidar dele?” (n. 65).
d) Superar o antropocentrismo desordenado que compreende o humano isolado do restante da criação e pensar um “antropocentrismo situado”, reconhecendo que estamos todos “unidos por laços invisíveis e formamos uma espécie de família universal […] Assim, acabamos com a ideia de um ser humano autônomo, onipotente e ilimitado (n. 67, 68).
e) Não é sem importância a mudança de hábitos pessoais, familiares e comunitários, mesmo sabendo que os grandes e principais responsáveis pela crise climática são as empresas, os setores políticos e administrativos dos Estados e as grandes corporações. Os exemplos que “vêm de baixo”, podem criar um processo de mudança que transforme nossa relação com os outros, com a natureza e com os animais (n. 69, 70, 71).
10. Apreciação. A exortação do Papa é um alerta e apelo para que a humanidade acorde. A acomodação e os interesses imediatos dos agentes econômicos, sociais e eclesiais têm feito ouvidos moucos à voz profética do Papa Francisco. Ele tem feito a sua parte. Tem falado e insistido e com isso ele salva a sua alma. Não basta, contudo, que o Papa “salve sua alma”, pois “ninguém se salva sozinho”, além do que, é preciso salvarmos os corpos de todos, enquanto estivermos vivos. Para tanto, o que podemos e devemos fazer?
O valente e guerreiro cacique da guerra guaranítica acabou virando santo da causa missioneira. São Sepé, portanto, é o primeiro santo dos gaúchos.
O índio missioneiro Sepé Tiaraju nasceu na Redução de São Luiz Gonzaga/RS. Como era órfão de pai e mãe, foi adotado pelo padre jesuíta Antônio Sepp – por isso o nome Sepé – e transferido para a redução de São Miguel Arcanjo, atual Ruínas de São Miguel. Lá estudou e aprendeu a ler, escrever e guerrear. Quando crescido foi nomeado Alferez por demonstrar ser um líder guerreiro valente, forte, sábio e bom.
Lutou bravamente contra os exércitos unidos da Espanha e Portugal para defender as terras dos Sete Povos das Missões, que diziam pertencer a Deus e a São Miguel, tanto que um dia proferiu a famosa frase:
– Esta terra tem dono!
Na verdade, as terras pertenciam aos índios guaranis, posto que lá viviam, educavam seus filhos, produziam seus alimentos e criavam gado. Dizem que Sepé Tiaraju foi predestinado por Deus e por São Miguel para nascer com um lunar (luz) na testa.
Em 1750, quando a guerra guaranítica dos índios contra os intrusos espanhóis e portugueses começou, por causa do um acordo secreto chamado Tratado de Madrid, o qual expulsou do Rio Grande do Sul mais de 30 mil índios, o lunar (luz) de Sepé Tiaraju começou a brilhar ainda mais forte nas noites escuras. Ele guiava os soldados de Sepé na guerra de armas de fogo contra arcos e flechas do exército guarani.
Nessa luta, o exército luso-espanhol dizimou grande parte dos índios guaranis do RS, matando também Sepé Tiaraju, em 1756, na famosa Batalha de Caiboaté, hoje distrito de Tiaraju, situado nos arredores de São Gabriel/RS.
A propósito, o poeta do Arcadismo brasileiro, Basílio da Gama, buscando livrar-se da perseguição jesuítica empreendida por Marques de Pombal, escreveu um poema épico denominado O Uruguai (1769). Narra a luta dos índios contra os dois exércitos de Portugal e Espanha. O poema, constituído de 05 cantos, partes, registra os desdobramentos da troca das terras de Colônia do Sacramento, que eram de Portugal, pelas grandes áreas de terra dos Sete Povos das Missões, que eram da Espanha. Assim, hoje a Colônia do Sacramento pertence ao Uruguai e os Sete Povos das Missões pertencem ao Brasil.
Na obra aparecem importantes heróis, especialmente os guaranis Sepé Tiaraju, Lindoia, Tatu-Guaçu e Cacambo. Sem dúvida, Sepé e Lindoia constituem importantes personagens da literatura brasileira e do folclore gauchesco. Lindoia é a grande heroína da Literatura Brasileira.
Finda a guerra guaranítica, dizem que Deus retirou o lunar da testa de Sepé e o colocou no céu do pampa para ser o guia de todos os gaúchos. Hoje o lunar de Sepé é conhecido como a Constelação do Cruzeiro do Sul. Foi por isso e muito mais que o valente e guerreiro cacique da guerra guaranítica acabou virando santo da causa missioneira. São Sepé, portanto, é o primeiro santo dos gaúchos.
*Esta lenda compõe coletânea de 10 histórias reunidas em livro “Histórias Preciosas”, publicado em 2016.
Enquanto não virarmos a chave na direção da sustentabilidade (que deve ser entendido como sinônimo de sobrevivência e equilíbrio planetário), ou mesmo enquanto não buscarmos novos esquemas produtivos, nosso destino maior será o de conviver com um colossal desastre coletivo que atende pelo desonroso nome de devastação do planeta. É esse o ponto que mais nos condena.
Empurrada pela globalização contemporânea que vincula o alcance de bem-estar ao que se compra e se consome, pela primeira vez a sociedade humana se encontra diante dos limites da biosfera – sistemas de suporte à vida da Terra.
Falando o óbvio, o que mais se vê aí não são apenas impactos, mas riscos e impasses ecológicos levados à nossa civilização. Temos agora uma emergência em escala global. Quer dizer: o colapso ecológico chegou.
Tal e qual, nessa atual sociedade de dominação, cada um sabe, o saldo é muito desfavorável à causa ambiental. Difícil de negar, estamos marcando a mais complexa ruptura climática que já nos convida, agora mesmo, a trocar o termo aquecimento por ebulição global.
Nesta altura, enfatizando o que não é segredo algum, à medida que o modelo econômico dominante força quase tudo para além dos limites físico-ecológicos, paisagens e ambientes do mundo vivo (terrestres e marinhos) estão sendo castigadamente modificados.
De saída, vale lembrar: dois terços dos maiores rios do mundo tem sido moderadamente e severamente fragmentados pela construção de represas ou reservatórios. Já decuplicamos a produção de lixo e já conseguimos produzir, desde os últimos tempos, quase 9 bilhões de toneladas de plástico – 70% disso virou lixo.
O detalhe pernicioso é que boa parte desses plásticos (restos de rede, linhas de pescas e assim por diante) já atingem 92% dos recifes de corais rasos do planeta e levam, todos os anos, 100 mil animais marinhos à morte.
Assim sendo, há algo de muito errado aí.
Contemporâneo ao avanço do modo capitalista claramente obcecado pelo lucro imediato e alheio à preocupação ambiental, corremos o risco de “normalizar” o absurdo, isto é, todo o descompasso socioambiental/devastação ecológica provocados em larga extensão pela dominante economia destrutiva.
Para todos os fins, de acordo com a organização não-governamental Wildlife Conservation Society (WCS), a humanidade já conseguiu modificar dois terços da área terrestre e 87% dos oceanos e das áreas úmidas (zonas de fronteira entre os sistemas terrestres e aquáticos), lar de 40% de espécies em todo o mundo.
Dura realidade, desde o começo dos anos 2000, a pesca industrial reduziu o número de peixes oceânicos grandes para apenas 10% de sua população pré-industrial. Hoje em dia, 80% dos recursos pesqueiros estão sobrepescados, o que leva a uma estimativa desabonadora: até 2048, todas as pescarias do mundo poderão entrar em colapso.
E tem mais. O relatório State of the Rainforest 2014, publicado pela Rainforest Foundation Norway, nos informa que metade das florestas tropicais do mundo (mais de 9 milhões de km2 da superfície terrestre) desapareceram de nosso campo de visão nos últimos tempos, eliminando imenso armazém de carbono.
Assim, em tempo real, a eliminação de cobertura florestal desde há muito tem sido considerado como a marca mais evidente da profunda alteração ecológica diante de nós.
Ponto importante, sabemos hoje que até 20% das florestas tropicais foram desmatadas apenas desde a década de 1990, enquanto outros 10% desses ecossistemas foram diretamente afetados devido às temperaturas mais altas, períodos mais longos sem chuva e secas mais frequentes ocasionadas pelas mudanças climáticas.1
Verdade indigesta, o mundo vem perdendo todos os anos aproximadamente 10 bilhões de árvores.2 São quinze bilhões removidas contra cinco bilhões plantadas (30% de perda global anual). Dos 64 milhões de km2 de florestas existentes antes da expansão demográfica e tecnológica dos humanos, restam menos de 15,5 milhões, ou 24%. Desde o início da civilização humana, o mundo perdeu 46% das árvores conhecidas.
E não faz muito tempo que a organização ambiental Fundo Mundial para a Natureza (WWF) anunciou que a Terra perdeu mais de 60% dos seus animais selvagens (mamíferos, aves, peixes, anfíbios e répteis).
Dito e feito, o ritmo atual de perda de espécies provocada pela primeira vez por forças humanas (antropocentrismo dominador) é cerca de 100 a 1.000 vezes maior do que há alguns séculos.
Fria matemática, das nove milhões de espécies3 de animais e plantas que habitam o planeta, 1 milhão delas estão hoje em dia sob risco de extinção. Mais precisamente, 20% das espécies de vertebrados estão atualmente em situação limite; e, pesarosa estimativa, “30% das espécies poderão desaparecer até a metade do corrente século”.4
Balanço apresentado, na mesma Casa Comum onde compartilhamos a vida com milhões de espécies catalogadas, 10% dessas são eliminadas a cada década. Conta fácil de assimilar, “a cada dia desaparecem 74 espécies de nosso planeta. Três por hora”.5
Síntese mais expressiva de uma crise global, com o modelo de economia impositivo que nos guia e determina destinos, a verdade dita sem cerimônias é que estamos abrindo grande vulnerabilidade.
Nesse sentido, os fatos comprovam que essa grave crise já saiu de controle. Afinal, em detrimento da biodiversidade, dos corpos d´água, da energia, da terra/solo, do mundo selvagem, dos habitats do planeta (em terra e no mar), enfim, frente ao quadro capitalista que gesta e alimenta o desequilíbrio planetário, às próximas gerações estamos deixando um planeta bastante vulnerável do ponto de vista socioambiental.
O curioso, contudo, é que nem sequer conseguimos perceber o básico: “ao atacarmos a biodiversidade”, para falar como Edward O. Wilson (1929-2021), “atacamos a nós mesmos”.
Como parece lógico, diante de um sistema baseado no valor, na produtividade e na mercadoria e que, por razões óbvias, não leva em conta a restrição ecológica (limite de recursos), já atingimos um ponto em que não mais conseguimos disfarçar o impacto ecológico, tampouco (e muito menos) conseguimos aliviar nossa pegada ecológica.
Amarga constatação, as mais variadas marcas de devastação do meio ambiente e de degradação ecossistêmica que seguimos deixando ao longo dos tempos tem sido cada vez mais difíceis de serem apagadas.
Causa e efeito, para piorar, enquanto a rentabilidade e a ideia de crescimento ocupam o centro da questão, não conseguimos enxergar num horizonte próximo a emergência de uma sintomática sentença de morte: o comprometimento dos ecossistemas terrestres e de água doce, fundamentais à saúde humana.
Falando de forma rasteira: diante da escala de efeitos (eco)destrutivos sobre o meio ambiente e, claro, visto no todo, sobre os serviços ambientais, sequer estamos respeitando o tempo naturalmente necessário de o planeta se restaurar.
Assim falando, quem faz uso crítico da razão sabe bem que a resposta é curta: por conta do modo de produção e consumo (indicadores do crescimento) que nega os limites ecológicos e faz a regência dos conteúdos capitalistas, deixamos o planeta que nos acolhe em condições de colapsar.
Prova disso: os ciclos vitais estão sendo desarticulados ao mesmo tempo em que vemos empobrecer a diversidade biológica da Terra.
Mas, convenhamos: nada tem sido mais estúpido do que o overshoot ecológico – o estouro do “orçamento natural” do planeta para sustentar a não menos estúpida lógica de acumulação.
De modo geral, o raciocínio em torno do overshoot ecológico (para além dos limites) é simples de entender: a partir de certo tamanho (queremos dizer, aumento produtivo) da economia, há mais custos (perdas) socioambientais que benefícios (ganhos) sociais.
Por sinal, perdas e supressões de natureza, em maior ou menor grau,vão compondo, modo próprio, um cenário sombrio.
De resto, os especialistas seguem apontando que somente 3% da superfície terrestre – e não 25%, como se acreditava até recentemente – pode estar ecologicamente intacta, permanecendo da mesma maneira como era há mais de 500 anos.7
Esse baixo percentual que permanece isento da ação antrópica, vale o destaque, está representado por desertos (Saara, em especial), algumas regiões frias (Groenlândia e o norte do Canadá) e as partes mais inacessíveis das florestas tropicais.
Problema de primeira ordem, o fato é que também não dá mais para disfarçar que já fomos longe demais com a quebra de equilíbrio na relação sociedade-natureza. E, nesse caso, na era do Antropoceno em que vivemos, a sobrevivência de nossa espécie, como é previsível, não está garantida.
Pelo sim, pelo não, se é verdade que somos produtos do que produzimos, convém enfatizar agora o que parece mais óbvio ainda: enquanto não virarmos a chave na direção da sustentabilidade (e isso deve ser bem entendido como sinônimo de sobrevivência e equilíbrio planetário), ou mesmo enquanto não buscarmos novos esquemas produtivos, nosso destino maior será o de conviver com um colossal desastre coletivo que atende pelo desonroso nome de devastação do planeta. É esse o ponto que mais nos condena.
Em breve, esta história estará disponível em livro “A saga de Pedrinho Pequeno e sua caminhada em busca de fé”.
Pedrinho não crescia. Sua Mãe o levou em uma aventura de fé que transformou sua vida. Não rezava Pedrinho, mas à sua Mãe ouvia.
Como se aventurar nestes dias de crescimento, em um mundo de crescente desinteresse pela fé? Quem falará aos jovens sobre a importância em se viver com fé, quando a realidade se apresenta contrária?
Desejamos, por ora, deixar uma mensagem aos pais leitores do site.
Aos adultos que experimentaram a fé em sua caminhada, aos que sempre acreditaram, aos que enfrentaram todas as batalhas ao longo de uma vida de dúvidas e resignação, de altos e baixos, sempre há uma reconciliação possível, uma tragédia percebida e superada, um perdão a seu dispor, um renascer. Esperança, portanto!
Amanhecer, crendo em segurança, agradecer por todas as coisas, pedir e receber, é a rotina dos que andam na paz da sua fé. Porém, cair e levantar, sem demora, nem sempre são situações que lhes aumentam o discernimento de que seus tropeços podem ser o resultado de escolhas e atitudes erradas − embora sua aceitação e compreensão evitem pensamentos porosos, vulneráveis, menos claros e enfraquecidos. Para isso, bastará aceitar e entender que cair é normal, mas permanecer caídos, jamais.
Mas quem avisará esses pré-adolescentes de que tem de ser assim? De que a dúvida não é uma perda de outro mundo, pela qual seus pais já não tenham passado?
Levantar-se é o alvo, sempre! Mas isso para todos nós que já caminhamos um pouco nessa estrada. Para os pequenos que veem apenas o portão de onde ela se inicia, nem tudo está tão evidente.
Nosso Pedrinho partiu pequeno para essa jornada, e retornou muito grande de sua aventura. Gigante, na verdade. Teve a graça de ser filho de Fátima, assim como todos podem sentir-se filhos e filhas de Maria, se dessa forma acreditarem.
Caminhava na vida difícil, pela qual milhares de meninos e meninas andam pelo mundo, justamente em seus dias de descobertas, quando em seus anos iniciais tudo pode acontecer para desviar a sua atenção e direcioná-los a promessas de falsas alegrias, a outras aventuras, longe de Deus, de seu Filho e sua Mãe.
Ser menino ou menina, ouvir o que sua mãe fala, ouvir a voz de seu pai, quando presente, ou de seu próximo, pode ser a redenção de uma vida para todos, um recomeço a cada manhã, nessa beirada cheia de riscos e ausências, a qual todos os dias temos de retomar.
Muitas vezes, as famílias que vemos constituídas são assim mesmo. Mãe e filho, mãe e filha… Sozinhos, sozinhas, enfrentando um mundo de desafios e dores. Mas a fé, em sua essência, pode ser o complemento vital para que a vida se descubra maravilhosa e cheia de sentido. Afinal, nem sempre estaremos onde estamos, limitados aos nossos dias, em uma sucessão deles, em que se precisa demais e se tem de menos. Poderemos crescer e ter em vida tudo o que sonhamos, e a fé será a nossa aliada, uma vez que não há idade, tamanho ou época para ser invocada.
Em um mundo de incompreensões e intolerância, a amizade verdadeira é um bálsamo que alivia todos os nossos esgotamentos e cansaços. Assistimos, de nossas portas e janelas, ao sofrimento e à indiferença que nos são apresentados por uma sociedade que abandona cada vez mais a aceitação entre pais e filhos, a tolerância em si mesma, e que não rejeita por completo a violência que ameaça a todos. Então, a fé, que sempre vem acompanhada de boas pessoas, torna-se nossa melhor amiga e confidente.
Podemos ver que em locais em que há pobreza e onde falta quase tudo, que ali mesmo recebe-se muito afeto dos que nada ou pouco possuem, quando dividem seus nadas com os demais. As mãos vazias, de quem nada tem a ofertar, entre um abraço fraterno e um sorriso amável, fecham o ciclo da generosidade e empatia, entre a divisão e a acolhida do pouco que é possível compartir.
A dor de Maria, a Mãe de Deus e dos homens, ao ver seu Filho morrer no desamparo, em meio a ladrões crucificados por homens brutais, repete-se a cada esquina, em que tantas Marias cruzam as ruas todos os dias, em nome de sua sobrevivência e de seus pequenos e pequenas. É nessa força que devemos nos assentar, na certeza de que jamais houve abandono de seu amor e de sua presença, e que, em todos os lamentos e em todas as ausências que esses jovens venham a sentir, mediante seu apoio, sempre haverá solução, perdão, cura e crescimento espiritual e material.
Pela razão do que Maria viveu e sentiu, em momentos de dor profunda na perda de seu Filho, hoje ela vive a amparar e acolher os que nela depositam a sua espera, mesmo que em fiapos de fé, como fios soltos pelas calçadas deste mundo, mas que, juntando-os, podem tecer um manto de confiança e transformação.
Pedrinho Pequeno voltará à sua rotina completamente mudado. Irá crescer, em altura e sabedoria, em convivência e empatia. Sua mãe já o sabia, pois é Maria. Ver seu filho sendo revelado a um novo mundo, em que foi preciso crer, para então mudar, é um milagre que está ao alcance de todas as crianças e jovens, o tempo todo, e que pode se repetir ao início de cada oração. Basta pedir, basta confiar!